Teológico Pastoral

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sábado, 21 de janeiro de 2012

Homilia do Evangelho do Domingo - 22 de janeiro de 2012

POR QUE SEGUIR JESUS?
(Liturgia do Terceiro domingo do Tempo Comum)

A reflexão sobre a Palavra de Deus na liturgia deste terceiro domingo do Tempo Comum nos permite fazer algumas perguntas: o que é que nós, cristãos, temos em comum? Isto é, qual é o denominador comum dos cristãos? O que é tão próprio dos cristãos, sem o que eles não poderiam ser identificados como tal?
Obviamente, podemos levar em consideração muitas coisas que responderiam mais ou menos a essas perguntas, mas as leituras deste domingo conseguem abrir uma janela sobre um fato importante nesse sentido.
Em primeiro lugar gostaria de enfatizar o menor denominador comum, ao qual acabei de referir-me, que parece próprio da lógica de ser cristão. O que seria dos cristãos se estes não encontrassem a sua ligação natural com o próprio Jesus no Seu seguimento? Não acredito que seja possível ou imaginável, o ser cristão que não ponha o seguimento de Jesus como vínculo natural à Profissão de Fé Trinitária. Os três primeiros versículos do início do Evangelho de São Marcos neste domingo são imperativos neste processo. Na verdade é uma das memórias mais vivas e importantes do chamado de Pedro. Este chamado ao seguimento de Jesus torna-se para os demais cristãos uma condição “sine qua non”. Eu quero dizer que é somente se a pessoa está disposta a seguir Jesus, ela pode ser considerada um(a) apóstolo(a), um(a) discípulo(a), um(a) cristão(ã), de fato.
Importante também é a condição em que a escolha é feita. A escolha é feita naquela Galileia. Aqui no início da pregação e depois como um lugar de encontro com o ressuscitado. Portanto, na vida cotidiana daquele povo. Ou seja, a condição tanto do chamado como do seguimento é o viver humano de cada dia. Este é o “lugar” e o tempo do encontro com Deus. A Galileia é, de fato, para Jesus, o lugar do cotidiano, do comum vital que extraordinariamente, apenas como Deus sabe fazer, torna-se lugar-tempo melhor.
Penso que a tarefa de recuperar a cotidianidade como o tempo e o lugar comum da nossa fé e do encontro com Deus é uma das urgências do nosso tempo; e ao mesmo tempo, um desafio para vencer o extremo subjetivismo ao qual muitas vezes, nós cristãos, somos tentados a ceder, diante das propostas do mundo. Porque a tentação começa por “dar uma espiadinha” nos reality shows tornando importante o que não tem importância, tampouco onde se possa encontrar a Deus. Muito pelo contrário. O que se pode encontrar nesse cotidiano artificial da “música” sem conteúdo e sem nenhuma mensagem, como também no cotidiano produzido na telinha para ensinar a ganhar sem esforço, e pior, usando a mentira, a falsidade, os conchavos e os acordos imorais, sem dúvida, não é Deus.
O quotidiano de cada cristão, além do lugar natural onde pode encontrar e viver a experiência de Deus,  deve ser também o terreno onde pode colocar-se no seguimento de Jesus Cristo. Alguns, como Jonas, que recebeu a missão de falar aos ninivitas (primeira leitura). É quando se descobre que é Jesus que nos abre o caminho e não o contrário; que Ele é a Palavra que converte e salva; que nós podemos continuar a realizar os grandes milagres de misericórdia quando dizemos o nosso “sim” ao seu chamado, para segui-Lo. Isso se dá na nossa “Galileia”, isto é, no lugar onde estamos, na vida que vivemos, nas relações que temos, com nossas lutas, alegrias e sofrimentos, sem artificialismos, ou “realidades” fabricadas.
Muitas vezes e por muito tempo o “viver no seguimento de Jesus Cristo” tem significado apenas responder a uma vocação especial de consagração, com uma consequente associação equivocada: “eu não quero ser nem padre, nem freira. Sigo a Jesus no domingo, indo à missa”, na melhor das hipóteses.
Esta associação equivocada torna vão o seguimento, bem como o tempo, que “urge, na primeira leitura, se faz curto, segundo o Apóstolo Paulo na segunda leitura, e que se completou, de acordo com o Evangelho”, como salvação no cotidiano de todos os cristãos. “O que vos digo, digo a todos! Convertei-vos”!
Outra pergunta pode surgir espontaneamente naqueles que compreenderam que devem viver no seguimento de Jesus Cristo, mas que ainda, talvez, fazem pouco esforço para cumprir esse ideal: por que segui-Lo? Todos os cristãos deste mundo, espero, devem ter feito, algum dia esta pergunta a si mesmos. Sem esta, bem como sem a pronta resposta, são inúteis todos os discursos sobre a fé.
Jesus, no Evangelho de Marcos, no ensina que - “O tempo se cumpriu e o Reino de Deus está próximo! Convertei-vos e crede no Evangelho”! – palavras que deveriam motivar-nos ao Seu seguimento, mas que temos que aprofundar também. O que é a Boa Nova que eu tenho que acreditar e à qual devo converter-me? Por quê? O que é o Reino de Deus que está próximo?
Para responder não devemos esquecer que a intenção dos Evangelhos não se destina a fazer meras reportagens históricas, cronologicamente justificáveis, nem de ser um amontoado de palavras em favor de uma teoria religiosa. Não, os Evangelhos são a verdadeira narração do maior evento humano-divino que é a paixão, morte e Ressurreição de Jesus, a Boa Nova, com uma longa introdução, escritos à luz da Ressurreição.
O Reino de Deus advém, portanto, assim, inteligível como a própria ressurreição (salvação), à qual todos os cristãos pertencem, e deveriam querer pertencer com todas as suas forças. Com relação ao cumprimento do tempo para a salvação, não é possível, portanto, relativizar a Ressurreição. É algo tão importante, que São Paulo hoje, chega a dizer, nas entrelinhas: “Ignorais tudo aquilo de bom que estais vivendo, em nome e por causa da urgência maior (a urgência evangélica) de acolher o Reino de Deus (a Ressurreição/salvação), de vivê-lo como realidade mais importante da vossa vida, de usar da vossa liberdade para converter-vos a ele, de deixar-vos fascinar e envolver profundamente por este projeto, seguros e certos de que todo o pobre humano que existe em nós será transformado em divino; fato diante do qual não há nada que possa nos assustar ou prender, nem mesmo a morte”?
A urgência, portanto, não está na pressa, porque o tempo está próximo. Por isso mesmo, o seguimento é rumo à salvação e o discipulado é do Ressuscitado. O tempo já se completou, e não há tempo melhor do que este. Todas as outras formas de vida que não sejam no discipulado e no seguimento de Jesus Cristo, podem nos empurrar perigosamente para fora da vida eterna e para longe da salvação-ressurreição. É por isso que eu sigo a Jesus! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos).
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