Teológico Pastoral

Teológico Pastoral

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Novena de Pentecostes

O Tempo Pascal completa-se com a Festa de Pentecostes. É tradição da Igreja Católica unir-se em oração, durante os nove dias que a antecedem, para implorar a graça de acolher os dons do Espírito Santo.
Cada dom do Espírito Santo tem um fruto, isto é, uma virtude correspondente.



Introdução para todos os dias – com um canto ao Espírito Santo:

Dirigente: Como os Apóstolos em Jerusalém, entremos no Cenáculo de nossa Comunidade,
                  na expectativa da vinda do Divino Espírito Santo. Com Maria, invoquemos:

Lado 1: Ó Espírito de Luz, abre os nossos corações para que tenhamos fé nas verdades divinas!

Lado 2: Move os nossos corações para vivermos de acordo com nossa fé!

TODAS: Derrama, ó Deus, por toda a extensão do mundo os dons do Espírito Santo e realiza
 o coração de todos as maravilhas que operaste no início da pregação do Evangelho.

Dirigente: Expressemos a nossa Fé com a recitação do CREIO:


1º DIA DA NOVENA: Dom da SABEDORIA - Fruto: AMOR

Canto: Senhor, vem dar-nos Sabedoria que faz ter tudo como Deus quis. E assim faremos da Eucaristia o grande meio de ser feliz.  Dá-nos Senhor estes dons, essa luz e nós veremos que Pão é Jesus!

Com.: O rei Salomão ao iniciar o seu reinado, em Israel, pediu a Deus o dom da SABEDORIA para bem dirigir o povo, e Deus lhe concedeu este dom.
Pelo dom da Sabedoria buscamos não a sabedoria do mundo, mas aquela Verdade que se identifica com o Sumo Bem e que nos torna felizes, porque enche de alegria o nosso coração, como disse Jesus: “Quando fordes presos não vos preocupeis nem com a maneira com que haveis de falar, nem pelo que haveis de dizer. Naquele momento vos será inspirado o que haveis de dizes. Porque não sereis vós quem falareis, mas é o Espírito do vosso Pai que falará em vós” (MT. 10, 19-20). 
Para refletir:  1 Reis 3, 4-15.


2º DIA DA NOVENA: Dom do ENTENDIMENTO – Fruto: ALEGRIA

Canto: Senhor, vem dar-nos Entendimento, que tudo ajuda a compreender. Para nós vermos como é alimento o Pão Vinho que Deus quer ser. Dá-nos Senhor estes dons, essa luz e nós veremos que pão é Jesus!

Com.: Os discípulos têm dificuldade de entender algumas coisas que vivenciaram com Jesus; não entendem os anúncios da Paixão. A Ressurreição e a luz do Espírito é que mostrarão aos discípulos quem era mesmo esse Jesus com quem conviveram tão de perto. Jesus disse: “Estas coisas vos tenho dito estando entre vós, mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu disse.” Pelo dom do ENTENDIMENTO aceitamos as verdades reveladas por Deus; mesmo não compreendendo todo o mistério, entendemos que ali está a certeza de nossa salvação, porque a Verdade procede de Deus infalível. Disse Deus pelo Profeta; “Eu vos darei um coração capaz de conhecer-me e de saber que sou eu o Senhor. Eles serão o meu povo e eu serei o seu Deus, porque de todo coração se voltarão para mim” (Jr. 24,70).       Para refletir:  Jo. 14,24-26


3º DIA DA NOVENA: Dom do CONSELHO - Fruto: PAZ 

Canto: Senhor, vem dar-nos o teu Conselho, que nos faz sábios para guiar: homem, mulher, jovem e velho, nós guiaremos ao santo altar. Dá-nos Senhor estes dons, essa luz e nós veremos que pão é Jesus!

Com: O dom do CONSELHO é necessário em nossas comunidades, em nossa vivência pessoal. O dom do Conselho é a luz que o Espírito Santo nos dá para distinguirmos o certo do errado, o verdadeiro do falso, e assim, orientarmos nossa vida e a de quem nos pede uma orientação. Como nos faz bem quando estamos num impasse e alguém, cheio do Espírito Santo, fala-nos aquilo que Deus quer que ouçamos. Jetro orientou seu genro, Moisés, na liderança do Povo de Deus.  Para refletir: Ex. 18, 1-27



4º DIA DA NOVENA: Dom da FORTALEZA - Fruto: PACIÊNCIA

Canto: Senhor vem dar-nos a Fortaleza, a santa força do coração. Só quem vencer vai sentar-se à mesa, para quem luta, Deus quer ser Pão. Dá-nos Senhor estes dos, essa luz e nós veremos que pão é Jesus.

Com: O dom da Fortaleza é dado ao fiel, para que não esmoreça nas lutas da vida. Quando a força de Deus está em nós, o inimigo é vencido, porque Deus combate em nosso favor. Esse dom dá coragem para se viver a fé até diante do martírio. Viver bem o cotidiano e alcançar a meta final, apesar de todas as dificuldades e obstáculos que encontramos no caminho, eis o fruto principal deste dom.
Para refletir: Ef. 6, 10-20


5º DIA  DA  NOVENA: Dom da PIEDADE - Fruto:  BENIGNIDADE

Canto: Dá-nos Senhor, filial Piedade a doce forma de amar enfiam; para que amemos quem na verdade, aqui amou-nos até o fim. Dá-nos Senhor estes dons essa luz e nós veremos que Pão é Jesus.

Com: Pelo dom da PIEDADE o Espírito Santo nos dá o gosto de amar e servir a Deus com alegria. A Piedade é uma virtude muito nobre, que exprime serviço e respeito aos pais, aos parentes e irmãos. O dom da Piedade conduz-nos à experiência da filiação divina em Cristo Jesus. O homem piedoso tem relações de fraternidade com o mundo que o rodeia e o Espírito Santo lhes dá o gosto de amar e servir a Deus com alegria.  Para refletir: Tobias 4, 1-23


6º DIA DA NOVENA: Dom da CIÊNCIA - Fruto: TEMPERANÇA

Canto: Senhor vem dar-nos divina Ciência que como o eterno faz ver sem véus. Tu vês por fora, Deus vê a essência, pensas que é pão, mas é o nosso Deus. Dá-nos Senhor estes dons, essa luz e nós veremos que pão é Jesus.

Com.: O dom da CIÊNCIA nos torna possível discernir e julgar retamente. Não é a ciência do mundo, mas a ciência de Deus, a Verdade que é Vida. Por esse dom, o Espírito Santo nos indica o caminho a seguir na realização de nossa vocação. O dom da Ciência torna possível discernir e julgar retamente sobre as coisas criadas, permitindo-nos penetrar-lhes o sentido à luz de Deus. Assim as ciências não afastam as pessoas de Deus, mas ao contrário, elas lhes falam Dele. Aqui a ciência se coloca a serviço da fé. Com este dom, o Espírito nos abre para o novo mundo científico, que não abala nossa fé, mas a reforça.     Para refletir: 1 Cor. 12, 1-11


7º DIA DA NOVENA:  Dom do TEMOR DE DEUS – Fruto: BONDADE

Canto: Dá-nos enfim, Temor sublime de não amarmos como convém. O Cristo-Hóstia que nos redime, o Pai celeste que nos quer bem. Dá-nos Senhor estes dons essa luz e nós veremos que Pão é Jesus.

Com: Temer a Deus não é ter medo dele, mas sim amor reverencial. Esse dom nos ajuda a termos para com Deus uma relação filial, amorosa e respeitosa; uma confiança reverencial, temor filial; implica docilidade ao Espírito que nos move a reverenciar Deus Pai e a Ele nos submetermos. O temor filial dá-nos certeza da fidelidade de Deus, como o revelou no Antigo e no Novo Testamento.
Para refletir: Sl 24


8º DIA DA NOVENA: O Espírito Santo autor da Santidade  -  Fruto: MANSIDÃO

Canto: “Vem, vem, vem! Vem Espírito Santo de amor. Vem a nós, traz à Igreja um novo vigor.” (bis).

Com: No crescimento espiritual é Cristo que cresce em nós. O Espírito se manifesta em nós levando-nos a um compromisso de tudo o que é nobre, justo, verdadeiro e puro, instaurando o Reino de Deus entre os homens e sendo um fator de paz, perdão e esperança no mundo. Não existe outra receita para tornar eficaz nossa vida apostólica a não ser a santidade e o testemunho.
Para refletir: 1Pd 1, 13-24;  Fil. 2, 14-16

Canto: Cantar a beleza da vida, presente do amor sem igual: missão do teu povo escolhido, Senhor vem livrar-nos do mal. – Vem dar-nos teu Filho, Senhor, sustento no pão e no vinho e a força do Espírito Santo, unindo o teu povo a caminho.
Falar do teu Filho às nações, vivendo como Ele viveu: missão do teu povo escolhido, Senhor, vem cuidar do que é teu!


9º DIA DA NOVENA: Maria, a mulher acolhedora do Espírito Santo  -  Fruto: HUMILDADE

Canto: Maria cheia de graça não teme o que possa vir. Palavra de Deus não passa sem antes tudo florir.
Na casa de Nazaré um SIM ecoou sereno. Na casa de Nazaré, Deus mesmo se fez pequeno!
José não temeu agrura, Maria foi sempre forte e Deus encontrou ternura, o povo uma nova sorte.

Com: Onde está Maria está o Espírito Santo e onde está o Espírito Santo há novidade, de onde desabrocha a vida. É na presença de Maria, na vida quotidiana de Nazaré, que Jesus cresce forte e cheio de sabedoria. A Mãe de Jesus ensina-nos a reconhecer o tempo de Deus, o momento favorável em que Ele passa em nossa vida e pede uma resposta imediata e generosa. Maria, Mãe da Igreja, nos ajuda-nos a sermos fiéis à presença do Espírito Santo em nós. Para refletir: Lc 1, 26-38

Canto Final:  Estaremos aqui reunidos, como estavam em Jerusalém, pois só quando vivemos unidos é que o Espírito Santo nos vem.
- Ninguém pára esse vento passando, ninguém vê ele sopra onde quer;
   força igual tem o Espírito quando faz a Igreja de Cristo crescer...

- Feita de homens a Igreja é divina, pois o Espírito Santo a conduz,
   como um fogo que aquece e ilumina, que é Pureza, que é Vida, que é Luz.

- Sua imagem são línguas ardentes, pois Amor é comunicação.
  E é preciso que todas as gentes, saibam quanto felizes serão.

ORAÇÃO FINAL para TODOS OS DIAS:

Oração do Manual  – pág. 48

Canto: - Veni Creator (latim) manual – pág. 144


Ladainha ao Espírito Santo

Senhor, tende piedade de nós!
Cristo, tende piedade de nós!
Senhor, Tende piedade de nós!
Pai Onipotente e Eterno, tende compaixão de nós!
Jesus, Filho Eterno do Pai e Redentor do mundo, salvai-nos!
Espírito do Pai e do Filho, Amor Eterno de um e de outro,  santificai-nos!
Espírito Santo que procedeis do Pai e do Filho - Vinde a nós!
Divino Espírito, igual ao Pai e ao Filho - Vinde a nós!
Dom de Deus Altíssimo - Vinde a nós!
Raio de Luz celeste - Vinde a nós!
Autor de todo o bem - Vinde a nós!
Fonte de Água viva - Vinde a nós!
Fogo consumidor - Vinde a nós!
Unção espiritual - vinde a nós!
Espírito de Amor e Verdade - Vinde a nós!
Espírito de Sabedoria - Vinde a nós!
Espírito de Conselho e força - Vinde a nós!
Espírito de Ciência e Piedade - Vinde a nós!
Espírito de Temor do Senhor - Vinde a nós!
Espírito de Graça e Oração - Vinde a nós!
Espírito de Confiança - Vinde a nós!
Espírito de Doçura e Humildade - Vinde a nós!
Espírito de Paz e paciência - Vinde a nós!
Espírito de Modéstia e pureza - Vinde a nós!
Espírito Consolador - Vinde a nós!
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Livro Os Dons do Espírito Santo, Martinez, Ed. Paulinas



Pentecostes é a Festa dos dons do Espírito Santo. Continuemos a pedir os dons:
Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade, Temor de Deus!    
E os FRUTOS desses dons: Amor, Alegria, Bondade, Benignidade, Continência, Humildade, Mansidão, Fidelidade, Modéstia, Paciência, Paz, Temperança...




quinta-feira, 14 de maio de 2015

Homilia dominical -

ASCENSÃO: “para uma Igreja em saída

“Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte” (Mc 16,20)

Esta cena final do Evangelho de Marcos está em íntima sintonia com todo o seu evangelho. De fato, os versículos hoje propostos à nossa oração falam do mandato de Jesus aos discípulos: “ide pelo mundo inteiro”. Em outras palavras, não há ruptura entre a missão de Jesus e a dos discípulos. O ministério de Jesus se prolonga no testemunho dos seus seguidores. E é importante não esquecer que Jesus continua caminhando nas estradas da humanidade, nos passos e ensinamentos dos seus discípulos. Isso nos leva a afirmar que a Ascensão de Jesus não nos priva de sua presença; pelo contrário, oferece-nos novos modos de senti-Lo e de encontrá-Lo. Começa, assim, definitivamente o tempo da comunidade cristã.
Os discípulos, portanto, darão sequência ao que Jesus fez, ampliando o campo de ação: Jesus anuncia o evangelho na Galileia; os discípulos, por sua vez, deverão fazê-lo pelo mundo inteiro e a toda criatura.

O seguidor de Jesus é impelido continuamente a uma vivência “fronteiriça”: arrancar-se, desinstalar-se, abrir-se a situações novas, assumir novos riscos, renovar-se sem cessar, adaptar-se às condições de tempo e lugar, tenacidade com uma boa dose de paixão…
A fronteira é espaço tenso e conflitivo; ali o Evangelho se faz mais transparente, o seguimento de Jesus se faz mais radical, a vivência cristã deixa de ser neutra e começa a ser conflitante.
Dizer “fronteira” é como dizer novidade; fronteira significa lugares novos, experiências novas, desafios novos.  Comporta emoção e descoberta, com sabor do risco, do perigo, da ousadia...
Na história da Igreja muitos homens e mulheres viveram em atitude de permanente êxodo e disponibili-dade, numa espécie de itinerância interior e exterior que os converteu em vanguardas da história.
Os grandes desafios atuais exigem 'uma Igreja missionária toda em saída', reafirmou o Papa Francisco.
 “A Igreja ‘em saída’ é a comunidade de discípulos missionários que ‘primeireiam’, que se envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam. A comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor e, por isso, ela sabe ir à frente, tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar ás encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos. Vive um desejo inesgotável de oferecer misericórdia, fruto de ter experimentado a misericórdia infinita do Pai e a sua força difusiva (...) Com obras e gestos, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta as distâncias, abaixa-se até à humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo”. (Evangelli Gaudium).

O evangelho de hoje conclui que os discípulos saíram e anunciaram por toda parte o que o Mestre anunci-ou: a boa notícia do mundo novo inaugurado com Ele. Este anúncio será acompanhado de “sinais”:
- os dois primeiros sinais (expulsar demônios em nome de Jesus e falar novas línguas) mostram que a ação dos discípulos é libertadora e comunicadora do mundo novo, eliminando tudo o que despersonaliza, oprime e marginaliza as pessoas, e libertando as pessoas de todo tipo de alienação.
- o terceiro e quarto sinais (pegar serpentes ou beber veneno mortal) falam dos confrontos e conflitos que aparecerão no caminho daqueles que, a partir da fé no Ressuscitado, vivem o compromisso com a vida: quem anuncia e realiza o projeto de Deus sofre oposições imprevistas e veladas (serpentes) ou evidentes e abertas (tentativa de matar os discípulos por envenenamento).
- o quinto sinal (impor as mãos sobre os doentes, curando-os); os discípulos, em estreita comunhão com a ação de Jesus, prolongam Suas mãos, curando, abençoando, levantando os caídos, sustentando os fracos.

Como o pe. Vitor Codina sj, podemos também nós, sonhar e permitir que a festa da Ascenção desate em nós um profundo dinamismo pascal e eclesial:
- passagem de uma Igreja poderosa, distante, fria, endurecida, medrosa, reacionária, da qual as pessoas se afastam e abandonam... a uma Igreja pobre, simples, próxima, acolhedora, sincera, realista, que promove a cultura do encontro e da ternura;

- passagem de uma Igreja moralista, legalista, doutrinária... a uma Igreja que vai ao essencial, que se centra em Jesus Cristo contemplado e seguido, que difunde o bom odor do Evangelho e convida a que todos coloquem Jesus Cristo no centro de suas vidas;

- passagem de e uma Igreja centrada no pecado e que fez do sacramento da confissão uma tortura e converteu o acesso aos sacramentos em uma alfândega inquisitorial... a uma Igreja da misericórdia de Deus, da ternura, da compaixão, com entranhas maternais, que reflete a misericórdia do Pai, uma Igreja sobretudo hospital de cam-panha que cura feridas, que cuida da criação, na qual os sacramentos são para todos, não só para os perfeitos;

- passagem de uma Igreja centrada nela mesma, autorrefencial, preocupada com o proselitismo... a uma Igreja dos pobres, preocupada sobretudo com a dor e o sofrimento humano, a guerra, a fome, o desemprego juvenil, os anciãos, onde os últimos sejam os primeiros, onde não se possa servir a Deus e ao dinheiro; uma Igreja profética, livre em relação aos poderes deste mundo;

- passagem de uma Igreja fechada em si mesma, relíquia do passado, com tendência a olhar para o próprio umbigo, com cheiro de mofo, que espera que os outros venham até ela... a uma Igreja que sai às ruas, que vai às margens sociais e existenciais, às fronteiras, aos que estão longe, mesmo sob o risco de sofrer acidentes; uma Igreja que seja semente e fermento, que abra caminhos novos, que vá sem medo para servir, uma Igreja ao ar livre, que sai às sarjetas do mundo, uma Igreja em estado de missão;

- passagem de uma Igreja que discrimina os que pensam diferente, os diversos, os outros... a uma Igreja que respeita os que seguem sua própria consciência, as outras religiões, os ateus, dialoga com não crentes... uma Igreja de portas abertas, atenta aos novos sinais dos tempos;

- passagem de uma Igreja com tendência restauracionista e que tem saudades do passado... a uma Igreja que considera que o Vaticano II é irreversível, que é preciso implantar suas intuições sobre a colegialidade, desclericalizar-se, evitar o centralismo e o autoritarismo no governo, caminhar em meio às diferenças, confiar maiores responsabilidades aos leigos, dar maior protagonismo à mulher...;

- passagem de uma Igreja com pastores fechados em suas paróquias, clérigos de despacho, que buscam fazer carreira, que estão no laboratório e às vezes acabam sendo colecionadores de antiguidades...a pastores que “cheiram a ovelha”, que caminham na frente, atrás e no meio do povo;

- passagem de uma Igreja envelhecida, triste, com gente com cara de velório, a uma Igreja jovem e alegre, fermento na sociedade, com a alegria e a liberdade do Espírito, com luz e transparência, sem nada a ocultar, com flores na janela e cheiro de lar, onde os jovens sejam protagonistas, pois são como a menina dos olhos da Igreja;

- passagem de uma Igreja ONG piedosa, clerical, machista, monolítica, narcisista... a uma Igreja Casa e Povo de Deus, mesa mais que estrado e tapete, que respeita a diversidade, onde os leigos, as mulheres, as famílias jogam um papel relevante. É a Igreja de Aparecida, de discípulos e missionários para que os nossos povos em Cristo tenham vida, uma casa eclesial onde reina a alegria.

Texto bíblicoMc 16,15-20

Na oração: É Ele o Senhor que com seu chamado planta a Igreja em cada coração, filialmente configurado por
                    e com seu Espírito. O seguidor descobre n’Ele o centro de sua vida e Ele o vai  levando à Igreja, como os seus primeiros  discípulos. Essa identificação progressiva com Ele desemboca na comunidade eclesial. Por isso, a Igreja é o lugar dos identificados com Cristo. Ser de Cristo, trabalhar para Cristo, é não só ser da Igreja, senão ser Igreja, sentir-se Igreja.
Rezar a sua pertença e seu compromisso na comunidade eclesial



terça-feira, 5 de maio de 2015

Homilia Dominical - 6o. Domingo da Páscoa

SOMOS ALEGRÍA

”Eu vos digo isto para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena” (Jo 15,11)

É profundamente sábia a afirmação acima, feita por Jesus no contexto da Última Ceia. E é profundamente significativo que Ele pronuncie estas palavras no contexto de seu “único mandamento”. Alegria e Amor são dois nomes da Realidade que somos. E não podem andar separados. Não se trata de nenhuma crença, nem tampouco de uma exigência moral. A Vida é Alegria e Amor.
O evangelho de hoje parece nos indicar que a alegria, junto com o amor, é um dos sentimentos mais tera-pêuticos: nos centra e nos descentra, nos resitua, nos abre a dimensões de infinito, tirando-nos de meca-nismos egocentrados, que nos fazem girar sobre nós mesmos de um modo doentio.
Todos nós podemos fazer a experiência de que, quando nossa capacidade de amar se encontra liberada, a alegria flui espontaneamente. E quando nos sentimos conectados à alegria, o amor flui na mesma medida.
Por isso, caminhamos na direção adequada na medida em que permanecemos conscientemente conectados a ambas realidades. E não por uma exigência moral, mas porque descobrimos que se trata de nossa verdadeira identidade.
Como dom do Espírito, a alegria brota do interior da pessoa e se expande; nesse sentido, a alegria é mais que um estado de ânimo; é o estado da pessoa inteira. Por isso, a alegria não é algo que acontece na pessoa: é a pessoa mesma acontecendo. A alegria é gerúndio: é a pessoa alegrando-se.
A alegria se dá na mesma medida que a vitalidade; de fato, ela é seu primeiro sinal. Quando não há nada que “deprima” a vida da pessoa, automaticamente experimenta a alegria de viver. Só quando a vida se vê bloqueada – geralmente por falta de amor – a alegria de apaga, até o ponto de se crer que ela desapareceu.

Nossa alegria é Cristo ressuscitado. Ele é a causa de nossa alegria. Ele nos dá vida em plenitude.
A alegria é um elemento central da experiência cristã. Nisto consiste a verdadeira alegria: em sentir que um grande mistério, o mistério do amor de Deus, visita e plenifica nossa existência pessoal e comunitária.
 “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Com Jesus Cristo sempre nasce e renasce a alegria” (Ev. Gaudium).
Jesus é um homem vital e alegre. Não é um moralista que busca algum tipo de comportamento específico, nem é um legalista que controla a vida das pessoas. Só lhe interessa que as pessoas possam experimentar a Alegria profunda.
Os Evangelhos nos revelam que Jesus vivia sereno, feliz ,alegre . As bem-aventuranças são o fiel reflexo de sua vida; seu íntimo trato com o Pai, sua paixão pelo Reino, suas relações pessoais, suas amizades, seu estilo de vida, sua vivência sob a ação do Espírito... são vividos na paz e na alegria.
Diante dos sinais e prodígios que realiza Jesus exulta de alegria no Espírito Santo; revela-nos que Deus é alegria em si mesmo e para nós e que a salvação definitiva é “entrar na alegria do seu Senhor” (Mt 25,21).

A alegria, sentimento pascal, é um sinal palpável de saúde mental-emocional-espiritual, tanto nas pessoas como nas comunidades. A ausência da alegria, ao mesmo tempo que revela algum mal-estar não resolvido, costuma traduzir-se em rigidez e dureza para com os outros. É como se, ao não poder estar eu alegre, não posso permitir que ninguém esteja.
Esta alegria não está livre da presença de dificuldades, problemas, conflitos... Tudo isto faz parte de nossa condição e da porção da existência. Mas a Alegria de que fala Jesus é aquela que abraça os “bons” e “maus” momentos, do mesmo modo que a calma profunda do oceano permanece estável, haja serenidade ou tormentas em sua superfície. Trata-se de uma alegria unificadora que experimentamos quando estamos em contato com nossa verdadeira identidade.

“Somos Alegria”, embora nos toque passar por momentos de obscuridade, dor, aflição...
Cristãos tristes? Talvez, pela presença da dor, da injustiça, da prepotência, do mal humor, dos sorrisos su-perficiais e irônicos..., por tantas coisas contrárias ao amor. Mas alegres no Senhor, seguros de seu triunfo, tranquilos por não ter que aparentar o que não somos, sem medo de fracassar, prontos para conversar como autênticos irmãos. Quê alegria saber-se salvos! Que sabor infinito poder ser simplesmente humanos!
Traços característicos desta Alegria Cristificada. Quando a experimentamos ela transforma a vida; ela é o estado de espírito onde seguramente Deus habita. É o melhor presente: produz contágio e atração; é sintoma evidente de uma vida sadia; é a que ativa a confiança e segurança a tudo o que está ao redor. Ela é opção para que os outros respirem, descansem. Requisito imprescindível é que alargue horizontes, que seja compartilhada com outros. Acompanha toda pessoa aberta que assume o futuro com ombros largos onde cabem outros. É o termômetro do tempo doado, de uma cruz assumida e que pode libertar a muitos.
 É a linguagem da novidade, a oferta irrenunciável e, talvez, o desafio mais necessário: recordar ao mundo que Pai se diz sorrindo, que Filho se pronuncia rindo e que é o rastro indiscutível de um Espírito que só pode ser Santo.

A Igreja, por vocação e missão, deve ser alegre. Toda ela é profecia de alegria e esperança.
Na Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho”, do papa Francisco, aflora um sentimento vivo da alegria do evangelho que enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus, em contraste com o risco da tristeza individualista, busca de prazeres superficiais e o isolamento do mundo atual. O Evangelho é fonte de alegria e de vida, um contentamento que brota do encontro com o Cristo ressuscitado. É genial que a primeira experiência do Ressuscitado tenha ficado associada ao regozijo extremo, ao júbilo irrefreável e à animação incontrolável. Alegria com sabor de reencontro, satisfação por uma vitória (nada menos que frente à morte), glória bendita.
Esta alegria é a que impulsiona os cristãos a evangelizar, a anunciar a boa e sempre nova notícia da salvação e do amor de Cristo. Por isso, os cristãos não devem ter cara de funeral, nem de quaresma sem Páscoa, mas irradiar ao mundo a alegria de Cristo.
Páscoa é passar de uma Igreja envelhecida, triste, com rosto amargo a uma Igreja jovem e alegre, fermento na sociedade, com a alegria e a liberdade do Espírito.

Texto bíblicoJo 15,9-17

* A aceitação da própria condição humana lhe ajuda a celebrar a vida  em todas as circunstâncias e a saborear a realidade,  cheia de riscos, incerta e insegura para todos, mas,  ao mesmo tempo, única e irrepetível para sempre.
* Reze de coração alegre uma oração nova, a “oração do sorriso”.  Chore os seus pecados, mas ria do pecador que você é. A partir de então, o ruído do riso solto, inexplicável e explosivo, lhe avisará de que Ele está por perto. Abra-se à presença misteriosa do Ressuscitado que quebra a rigidez da vida e desata a alegria contida.





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