Teológico Pastoral

Teológico Pastoral

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A Beleza da Santidade

No inicio do mês de novembro celebramos todos os santos. Antes de tudo, é bom lembrar que há santos entre nós, perto de nós, convivendo conosco. A santidade refulge em todos os credos e povos. Não é privilégio de uma religião.
Patriarcas, profetas, apóstolos, mártires, confessores, virgens, monges, santos, santas compõem aquela multidão de homens e mulheres de Deus nos quais resplandece a multiforme graça divina. Eles cantam o poder, a riqueza a sabedoria, a força, a honra, a gloria e o louvor do cordeiro (cj. Ap.5,12). Os santos apontam para Cristo, glorificam a Deus e servem a humanidade.
         Os santos acendem em nós o desejo de sermos melhores, de sermos de Deus, cheios da graça divina, enfim, o desejo de sermos parecidos com eles. Mais que pedirmos graças pela intercessão dos santos, precisamos seguir seu bom exemplo, seu testemunho, sua santidade. Desejemos ser como aqueles que nos desejam o bem e tudo façamos para participar de sua felicidade.
Os santos movem a Igreja, transformam o mundo, cuidam dos pobres, têm compaixão dos pecadores, servem a todos. Neles a graça de Cristo é vencedora, o evangelho se faz carne, o amor de Deus tem seu primado e o amor fraterno chega à perfeição. Nos santos refulge a luz do sol que é Deus. A maior aventura da vida é sermos santos, ou seja, sermos melhores do que somos.
O santo não cai do céu. Ele cresce no cotidiano. É alguém extremamente humano, frágil e simples. Por outro lado, o santo é totalmente outro, é diferente, porque se reveste de Cristo. Santidade e amor são sinônimos. Sem o amor o evangelho não é anunciado, a missão enfraquece, a Igreja decai, o mundo se desagrega. Nos santos o amor chega ao seu auge e por eles somos atraídos ao amor. Entre nós e os santos há um intercâmbio de bens. Eis o tesouro da Igreja, ou seja, os santos atraem todos ao Pai, colaboram com o bem da sociedade, incentivam a santidade da Igreja. Pela santidade de seus fieis a Igreja aumenta, cresce e se desenvolve.
O santo se dedica inteiramente à gloria de Deus e ao serviço ao próximo. Não há santidade sem cruz e sem o combate espiritual, caminho pelo qual o santo chega à mais perfeita humanização e a à mais sublime elevação. Quanto mais se diviniza, mais humano o santo se torna. Amemos, pois estes nossos amigos e benfeitores. Quantas pessoas se tornaram santas lendo a vida dos santos.
Há santos que conquistaram culturas e religiões como Tereza de Calcutá, João Paulo II, Francisco de Assis, Irmã Dulce, Gandhi e tantos outros, tendo sempre presente o primado de Deus em suas vidas. A santidade está ao nosso alcance, mas, tem um alto preço a pagar, porque os santos contradizem as certezas comuns, combatem o que é considerado normal, têm a coragem da resistência, libertam da ditadura da moda e da arbitrariedade. Os santos são homens e mulheres livres do mal e em constante libertação.
Para os santos o bem, a verdade, o amor estão acima de qualquer vantagem pessoal, sucesso, aprovação, simpatia. O santo é autêntico, transparente e radical. Num mundo que nos sufoca com bens materiais e distrações, os santos lançam o alerta do “coração ao alto” e nos convocam a agir contra tudo o que envenena nossa vida. Santo quer dizer, saudável, sadio, são. Santidade é sanidade, saúde, salvação. Eis a beleza da santidade que nos torna bons, sadios, melhores, alegres, sensíveis, portanto, verdadeiramente humanos e cristificados. A maior tristeza e frustração é a de não sermos santos.

Dom Orlando BrandesArcebispo de Londrina
Folha de Londrina, 5 de novembro de 2011



terça-feira, 29 de outubro de 2013

Dia de todos os santos

SANTIDADE: capacidade ilimitada de paixão.


“Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5,12)

No dia em que a Igreja faz memória de todos os Santos e Santas, a liturgia escolhe sabiamente o evange-lho das Bem-aventuranças. A sabedoria deste texto, surpreendente e genial, está no fato de apresentar um projeto de realização total, de felicidade sem limites. O Evangelho que nos foi confiado é um pro-grama para alcançar a felicidade, a vida ditosa, prazerosa, bem-aventurada.
Na boca de Jesus brilha sempre a palavra chave: “Felizes”.
As nove bem-aventuranças apresentam nove promessas de felicidade plena, nove situações que conduzem a essa felicidade, já a partir desta vida. São nove promessas de esperança. O que está em nossas mãos são as situações de fato, as nove condições para viver o Reino de Deus.
Trata-se, com efeito, de uma felicidade que transcende este mundo. E que, por isso, é para sempre e sem limitação alguma. É essa a condição daqueles que a Igreja considera e venera como santos(as).

Também é preciso levar em conta que as bem-aventuranças falam da felicidade, não no singular, mas no plural. Ou seja, Jesus não fala da felicidade do indivíduo, mas da felicidade relativa à comunidade.
A felicidade não é uma questão meramente individual, mas essencialmente social; a felicidade não se consegue isoladamente, mas comunitariamente.
Em outras palavras, o que Jesus afirma é que a felicidade de cada um está em intima relação com a felicidade dos outros, com quem cada um convive.

Mas, o que mais nos surpreende é que, re-lendo e saboreando as nove bem-aventuranças, nos encontra-mos com o inesperado: nenhuma delas indica práticas relacionadas com a religião. Elas indicam condutas relacionadas com a vida, com esta vida, com as condições e atitudes a partir das quais se pode fazer algo eficaz para que esta vida seja mais humana, mais leve, mais feliz.
Aqui está a surpreendente novidade do projeto oferecido por Jesus. Ele não promulgou mandamentos, nem um código de moral, muito menos uma lista de proibições; simplesmente anunciou bem-aventuran-ças. Ou seja, passamos de uma ética de “deveres e obrigações” para uma ética de “felicidade e ventura”.
Joaquim Jeremias disse que o Sermão da Montanha não é Lei, mas Evangelho, de tal forma que a diferença entre um e outro é esta: “A Lei põe o ser humano diante de suas próprias forças e pede-lhe que as use até o máximo; o Evangelho situa o ser humano diante do dom de Deus e pede-lhe que converta verdadeiramente esse dom inefável em fundamento de sua vida. Dois mundos”.

Jesus compreendeu que o meio mais eficaz e mais direto para nos aproximar de Deus, e para que cada um se realize como ser humano que é, não é estabelecer proibições, mas fazer propostas que mais e melhor se harmonizem com nossa condição humana, com aquilo que mais desejamos.
A experiência histórica nos ensina que os mandatos e as proibições tem cada vez menos força para modificar a vida das pessoas.  Todo mandamento e toda proibição tem certos limites, aos quais alguém se ajusta e assunto encerrado. Enquanto que a proposta da felicidade contém em si uma busca sem limites.
E é aí que se constata até onde chega a generosidade de uma pessoa, a fé e a entrega de alguém a uma causa que se leva a sério.
As bem-aventuranças vão muito mais além de tudo o que os mandamentos significam; elas não se fixam em alguns limites que não podem ser transgredidos, mas marcam algumas metas que nunca chegaremos a alcançar em plenitude. Não são a negação que estabelece o que não se pode fazer, mas a afirmação que nos dá vida e nos deixa profundamente felizes.
Por não serem leis, nem mandamentos, as bem-aventuranças não despertam sentimentos de culpa.

Aqueles que se deixam conduzir pela dinâmica das bem-aventuranças nesta vida, tem garantida a pro-messa de felicidade sem fim, à qual denominamos vida eterna. É, em definitiva, a Vida de todos os san-tos(as). Ser  santo(a) é fazer das Bem-aventuranças a pauta de seu viver.
Por isso, ser santo(a) é ser humano por excelência, é ter a audácia de reinventar o humano;  é resgatar a paixão por um ideal de vida e por um sonho; paixão pela vitória da esperança; paixão pela humanidade, paixão pelo mundo, paixão pelo Reino...enfim, paixão por Deus.

A festa de hoje realça uma forma de santidade, muitas vezes esquecida: a santidade da vida comum, da resposta à Providência divina em meio às rotinas do tempo, uma caridade tecida nos pequenos gestos...
Diante de uma realidade que ameaça o ser humano pelo anonimato, pelo artificialismo, pela massificação, o(a) santo(a) injeta no interior das “veias” deste mundo a Graça transfiguradora do Amor.
O chamado universal à santidade nos faz confiar profundamente na vida cotidiana, ou seja, no dia-a-dia da vida familiar, no exercício da profissão, nas relações da vida social, nas decisões éticas, na ação cidadã, no campo dos direitos humanos, no campo da economia, na presença ativa da política, no mundo da cultura, no diálogo com os meios de comunicação, na navegação pela internet... como “lugares agraciados” de encontro com Deus e manifestações explícitas de compromisso cristão.

Não tem porque a santidade ser aquela que está acompanhada de virtudes heroicas, mas aquela que se expressa numa vida cotidianamente heroica; os santos vivem intensamente e colocam em prática o chamado de Deus para viver e dar vida a outros. Quer-se dizer, com isso, que santa é a vida e santo é defendê-la; fascinante é ver enormes esforços para propiciá-la.
O santo(a) sente-se cativado, envolvido, amado, entusiasmado, sintonizado, habitado por Deus de tal maneira que seus olhos, gestos, suas atitudes, palavras, seu coração, sua existência transbordam Deus.
Para humanizar nosso tempo, os(as) santos(as) revelam atitudes e critérios que nos fazem mergulhar de cheio nos desafios e problemas que afligem grande parte da humanidade. Os santos, de hoje e de sempre, não são encontrados nos pacíficos ambientes dos templos ou dentro dos limites da instituição eclesial, mas nas encruzilhadas da pobreza e da injustiça, nas “periferias existenciais”, em perigosa proximidade com o mundo da violência e da marginalidade, em situações de risco, onde a luz do amor  brilhará mais do que nunca.
Num mundo em que nem todos são capazes de grandes façanhas ou de alcançar sucessos, Deus nos deu a aptidão de encontrar a grandeza no dia-a-dia. Temos apenas que ser santos o bastante para que possa-mos reconhecer o milagre no ritmo da vida.
“Os santos são muito corriqueiros, eles são absolutamente encardidos nas suas vidas.
O que às vezes chama a atenção são dons especiais, de milagres, de levitação,
mas fora disso a santidade é um passeio no cotidiano” (Adélia Prado).

A santidade, portanto, como paixão expansiva, implica uma pitada de santa loucura capaz de romper com o que é considerado “normal” ou aceito pela sociedade excludente e desumanizadora na qual vive-mos. O santo(a) é, na essência, uma presença transgressora, subversiva e inesperada... que denuncia e interpela as barreiras e fronteiras impostas pela sociedade.
Somos santos(as). Não somos santos porque sejamos irrepreensíveis, senão simplesmente porque so-mos, e vivemos, nos movemos e somos sempre em Deus e Deus em nós, também quando nos sentimos mediocres e inclusive fracassados.
Esta é a vocação fundamental à qual somos todos chamados, enquanto seguidores de Jesus Cristo. Ser santo(a)  é ser dócil para “deixar-nos conduzir” pelos impulsos de Deus, por onde muitas vezes não sabemos e não entendemos. Seus caminhos não são os nossos caminhos.

Texto bíblicoMt 5,1-12

Na oração: Rezar as dimensões da vida que estão paralisadas, impedindo-lhe viver a dinâmica das bem-aven-
                       turanças. Viver a santidade no cotidiano  é “arriscar-se” em Deus; é navegar no oceano da gratui-
                      dade, da compaixão, da solidariedade, da justiça...


sábado, 26 de outubro de 2013

Homilia dominical = 27 de outubro de 2013

 Fariseu ou Publicano?

No domingo passado, refletimos
sobre a necessidade da Oração perseverante:
Um apelo muito atual ao homem moderno,
tão ocupado e preocupado com tantas coisas,
que quase não sobra tempo para si mesmo.
E o tempo que sobra gasta na TV ou outras diversões.

Mas não basta rezar, precisa rezar bem...
- E qual é o espírito que deve animar a nossa oração
   para que seja agradável a Deus e proveitosa para nós?

As leituras da Liturgia de hoje nos dão uma resposta.

Na 1ª Leitura, Deus afirma que escuta as sua súplicas os HUMILDES:
"A oração do humilde penetra as nuvens..." (Eclo 35,15a-17.20-22a)

* A nossa oração só tem valor e é acolhida por Deus,
   quando parte de um coração pobre, humilde e justo
   e é solidária com todos os oprimidos e empobrecidos.

Na 2ª Leitura, Paulo, velho, preso, condenado à morte,
medita e reza sobre a sua VIDA... (1Tm 4,6-8.16-18)
"Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé..."

* É o testamento de alguém que está com a consciência do dever cumprido
   e aguarda com humildade e confiança  a recompensa de Deus.

No Evangelho, Jesus mostra a ORAÇÃO HUMILDE de um pecador,
que se apresenta diante de Deus de mãos vazias,
mas disposto a acolher o Dom de Deus. (Lc 18,9-14)

- Os destinatários da Parábola do Fariseu "santo" e do Publicano "pecador"                   
  são: "alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros".
- Os dois rezam no Templo: um espera a recompensa e o outro a misericórdia...
  O modo de rezar dos dois é bem diferente:
  O Fariseu pelo caminho do orgulho, o Publicano pelo caminho da humildade.

+ O FARISEU: na frente... "de pé"... reza satisfeito pelo que é e pelo que faz:
- Sua oração é longa: é uma arrogante exaltação de si.
  Agradece a Deus por não ser como os demais, nos quais só vê erros e pecados.
- É auto-suficiente: não precisa de Deus e despreza os irmãos.
  A sua Salvação não é dom de Deus, mas conquista de suas "boas obras".

+ O PUBLICANO: no fundo... de cabeça baixa... batendo no peito...
   Reconhece com humildade a soberania de Deus e a própria pequenez...
   Ele precisa de Deus e aceita a salvação que Deus lhe oferece.
  
   - Sua oração é breve: resume-se em pedir perdão:
     "Meu Deus, tem piedade de mim, que sou um pecador..."

+ À primeira vista, daria a impressão que o fariseu era mau e o publicano bom. No entanto, o fariseu era "bom praticante" e o publicano praticava injustiças. Mas, quem se comportava bem foi condenado e o pecador voltou "justificado".
O fariseu ofereceu suas obras, o publicano sua miséria e seus pecados...

- E Jesus conclui:
  "Quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado".

A Parábola nos fala de DOIS TIPOS de Pessoas:


+ O Fariseu é modelo do homem "justo", cumpridor de todas as leis,
que leva uma vida impecável. Ninguém o pode acusar de ações contra Deus,
nem contra os irmãos. Está contente por não ser como os outros.
Vai à missa todos os domingos... Paga o dízimo... Confessa de vez em quando... Mas na confissão "não tem pecados". Só tem boas obras a declarar...
Na Oração, ao invés de louvar a Deus, louva-se a si mesmo...
Umas práticas religiosas bem observadas lhe dão a segurança da salvação.

   * CRISTO quer uma religião em espírito e verdade, com o mandamento do amor.
 E ele a reduz a umas obrigações, para estar em dia com Deus...

+ O Publicano é modelo do homem humilde, que se reconhece pecador.

Sente necessidade de Deus, confia nele e lhe oferece seu pobre coração abatido.

* Aceita com humildade os meios da Confissão, da Missa e da Comunhão.
   Não se considera melhor do que os outros... Nem os julga...

+ Os novos Fariseus...

O FARISAÍSMO é uma atitude religiosa que nos impede de ver-nos como somos
e deturpa nossa relação com Deus e com os irmãos.
Ninguém está isento da contaminação dessa perene soberba humana.

PUBLICANOS são todos aqueles que tomam consciência de seus erros
e pedem perdão.

+ Quais são os sentimentos que animam o nosso coração na oração?
   - Do Fariseu ou do Publicano?
   - Como pretendemos voltar para casa?

- Será que muitas vezes não imitamos a posição de suficiência do fariseu?
- Ao invés de escutar Deus e suas exigências,
  preferimos convidá-lo a que admire a boa pessoa que somos?
- Não seria melhor, nos colocar ao lado do publicano,
  reconhecendo com humildade nossa condição de pecadores,
  confiando na misericórdia de Deus.

Assim voltaremos para casa participando mais perfeitamente
de sua justiça e de sua santidade.

Com este espírito, continuemos a nossa oração,
para que ela seja realmente agradável a Deus e proveitosa para nós.

                                   Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 27-10-2013

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Homilia Dominical - 20 de outubro de 2013

De Braços erguidos

A Liturgia de hoje nos convida a manter com Deus
uma ORAÇÃO PERSEVERANTE.
Só assim será possível aceitar os projetos de Deus,
compreender os seus silêncios,
respeitar os seus ritmos e acreditar no seu amor.

Na 1a Leitura, MOISÉS não desiste de rezar. (Ex 17,9-13a)

O Povo de Deus está a caminho da Terra Prometida...
- Josué organiza seus homens para lutar contra os inimigos com as armas.
- Moisés, no alto da colina, de "mãos erguidas", faz uso da arma da Oração.
  Duas pessoas sustentam os braços cansados de Moisés.
  A vitória foi alcançada muito mais pelo auxílio de Deus,
  do que pelo valor dos combatentes.

* Nas duras batalhas da vida, devemos contar com a ajuda e a força de Deus.
   Devemos manter, como Moisés,  as "Mãos sempre erguidas" em oração,
   sem nos deixar vencer pelo cansaço.

Na 2a Leitura, PAULO indica uma fonte preciosa que alimenta a Oração:
A Sagrada Escritura:
 "Toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para refutar,
   para corrigir, para educar na justiça... Por ela, o homem de Deus
   se torna perfeito, preparado para toda a boa obra". (2Tm 3,14-4,2)

* A Bíblia é o fundamento da fé e o vigor das comunidades.
A Instrução bíblica constitui o equipamento vital do homem de Deus,
aos ministros da Palavra, uma preparação conveniente,
para que ela se torne atraente e chegue ao coração dos ouvintes.
O Documento de Aparecida afirma:
"Uma maneira privilegiada de ler a Bíblia
é a LEITURA ORANTE DA BÍBLIA...
Bem praticada, conduz ao encontro com Jesus-Mestre,
ao conhecimento do mistério de Jesus-Messias,
à comunhão com Jesus-Filho de Deus e
ao testemunho de Jesus-Senhor do universo". (DA 249)

No Evangelho, a VIÚVA não desiste de implorar. (Lc 18,1-8)

"Para mostrar a necessidade de REZAR SEMPRE, e nunca desistir":
Jesus contou aos discípulos uma PARÁBOLA:
- Uma viúva injustiçada pede justiça... mas o juiz não lhe dá ouvidos...
   Ela tanto insiste, que o juiz acaba atendendo.
   A insistência da viúva vence a indiferença do juiz iníquo.
- Se até um homem mau cede diante de um pedido incessante,
  quanto mais Deus, que é justo e santo, nos atenderá e salvará...
  A Oração deve ser um Diálogo insistente e contínuo...

* Deus está sempre atento aos nossos pedidos,
   mesmo quando "parece" insensível aos nossos apelos,
   aos nossos clamores por justiça. Geralmente temos pressa...
   Ele sabe a hora e o momento para cada coisa.
   A nós resta moderar a impaciência e confiar totalmente nele.

+ "REZAR SEMPRE"...

- Significa nunca interromper o DIÁLOGO com Deus,
   mesmo no aparente silêncio de Deus.
   "É a presença silenciosa de Deus na base
   do nosso pensamento, da nossa reflexão e do nosso ser,
   que impregna toda a nossa consciência". (Bento XVI)

- Nesse diálogo, Deus transforma os nossos corações e
  aprendemos a nos entregar nas mãos de Deus e confiar nele.
  Se interrompermos esse contado, se deixarmos "cair os braços",
  logo fracassaremos.

+ A Oração não é uma fórmula mágica
   para levar Deus a fazer nossa vontade ou até nossos caprichos.
   Não é um simples ato de piedade, ou expressão do sentimento;
   mas antes um ato de fé e de amor,
   que nos abre ao DIÁLOGO COM DEUS.

+ Rezar é CONVERSAR com Deus: Falar e Escutar...
   As Orações não precisam de palavras complicadas.
   Existem orações escritas que rezamos, mas também as orações
   que são feitas quando queremos conversar com Deus do nosso jeito.
   Deus é o nosso melhor amigo e gosta de nos ouvir.

+ Rezar é fazer SILÊNCIO profundo
   para ouvir Deus, acolher a sua Palavra
   e assim nos dispor a fazer a sua vontade...

+ Rezar é uma RESPOSTA vivencial e verbal,
   que poderá assumir várias FORMAS: Ação de graças... Contemplação...    
   Profissão de fé... Declaração de entrega... Pedido...

+ UM DESAFIO: (convite):           
    Nesta semana: encontrar todos os dias um tempo sagrado
    para uma Oração (conversa) pessoal com Deus...
    A Oração perseverante ajudará a ser "Discípulos-Missionários"

Nesse Dia Mundial das Missões, recordemos o compromisso missionário
da Igreja, rezando pelos missionários e dando a nossa oferta pelas missões.
Lembremos mais uma vez o tema "Juventude em missão"
e o lema "A quem eu te enviar, irás" da Campanha missionária.

                                     Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 20.10.2013

domingo, 13 de outubro de 2013

sábado, 12 de outubro de 2013

Homilia dominical - 13 de outubro de 2013

"Obrigado, Senhor"

Vivemos num mundo em que a vida humana
ficou transformada num grande comércio,
onde tudo se compra e tudo se paga ...
Diante dessa realidade, muitos perderam
o valor da GRATUIDADE e da GRATIDÃO.

A Liturgia de hoje nos apresenta o pensamento de Deus:

Na 1ª Leitura: O Profeta Eliseu cura o leproso Naaman. (2Rs 5,14-17)

O general sírio apresenta-se ao Profeta para ser curado...
Eliseu, sem acolhê-lo, manda lavar-se sete vezes no Rio Jordão.
O General humilhado está decidido a desistir e voltar para a sua terra...
Mas a comitiva insiste e ele obedece... e fica curado...
Reconhecido, proclama sua fé no Deus de Israel
e, como sinal de sua gratidão, leva consigo de Israel um pouco de terra,
a fim de cultuar na própria terra o Deus verdadeiro.

Na 2ª Leitura, Paulo, bem consciente de ter sido um "leproso",
em meio aos sofrimentos e privações da prisão,
encontra motivos de alegria, de esperança e de gratidão a Deus,
pelos favores recebidos, chegando a afirmar:
"Estou algemado como um prisioneiro,
 mas a palavra de Deus não pode ser algemada". (2Tm 2,8-13)


No Evangelho, Jesus, a caminho de Jerusalém, cura dez leprosos. (Lc 17,11-19)

Os leprosos deviam morar fora do povoado, longe do convívio humano
para não contaminarem os outros com a sua impureza física e religiosa.
- Eles gritam de longe: "Jesus, mestre, tem compaixão de nós..."
- Jesus se "compadece" e os manda se apresentarem aos sacerdotes,
  que eram os responsáveis para comprovar a cura e
  liberar a reintegração na Comunidade.
- Os dez obedecem e "no caminho" se vêem curados.
  mas só um volta para agradecer...  e era um samaritano,
  considerado estrangeiro e desprezado pelos judeus...
- Cristo questiona: "Não foram 10 os curados? Onde estão os outros nove?"
  E acrescenta: "Levanta-te e vai. TUA FÉ te salvou".

* O episódio ilustra o CAMINHO DA FÉ:
A fé nasce da esperança em Jesus que cura, se concretiza "a caminho"
na obediência à Palavra de Jesus e se manifesta plenamente na gratidão.

Pormenores significativos da narrativa do milagre:

- "A Lepra" representa o mal que atinge toda a humanidade,
  gerando exclusão, opressão e injustiça (número 10 significa "totalidade").
  A todos os que se sentem "leprosos", Deus faz encontrar a vida plena,
  a reintegração total na família de Deus e na comunidade dos homens.
- Judeus e Samaritanos juntos e solidários:
  Dois povos adversários, unidos pela desgraça e pela dor.
  A luta pela vida supera as diferenças religiosas, políticas ou raciais.
  E em conjunto vão à procura de Jesus: "Tem compaixão de NÓS".

- A Lepra desaparece "no caminho":
  A Ação libertadora de Jesus é um processo progressivo,
  no qual o crente vai descobrindo e interiorizando os valores de Jesus,
  até à adesão plena às suas propostas e à efetiva transformação do coração.

- Só um volta para agradecer:
  O Leproso curado volta "glorificando a Deus em alta voz".
  Reconhece Jesus como libertador e está disposto a segui-lo.
  Agradece e acredita, por isso recebe mais: "Vai a tua fé de salvou".
  A fé dos demais chega até a cura; a sua fé chega até a Salvação.

- "E é um Samaritano" (estrangeiro)
Os "de casa" não sentem necessidade de agradecer.
O estrangeiro volta para agradecer.
* A graça de Deus é mais valorizada por quem não pertence à Comunidade...
   - O que nos diz esse fato?

+ Quem são os leprosos de hoje,
que marginalizados e discriminados pela comunidade, continuam ainda hoje sofrendo na própria pele as conseqüências das feridas da lepra do pecado?

+ A gratidão: é uma das virtudes que enobrecem a pessoa humana. 
Desde criança, fomos educados a agradecer os favores recebidos.
A gratidão é a atitude que brota do coração
de quem se sente amado pelo amor de Deus...

Nem todos sabem agradecer. ("Nem obrigado recebi!")
- Não basta na hora da necessidade gritar: "Senhor, tem piedade de mim!".
É preciso também manifestar a nossa gratidão pela libertação
que faz acontecer em nós, comprometendo-nos com ele.

- Saber agradecer a tantas pessoas, que tornaram nossa vida mais feliz:
nossos pais, nossos professores, o padre, o médico, o catequista,
os colegas de estudo, de trabalho, de esporte e tantos outros.
- Não basta sentir... É importante também manifestar...

- "Obrigado" é uma palavra tão simples, mas tão esquecida por muitos.
   Ela valoriza o dom recebido e dispõe ainda mais o doador.

+ EUCARISTIA quer dizer: "ação de graças".
Aproveitemos esse momento privilegiado para agradecer a Deus
de todos os favores recebidos em nossa vida,
e partamos daqui dispostos a reconhecer agradecidos
também os inúmeros favores recebidos de nossos irmãos...

                                        Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 13.10.2013

Oração do Evangelho dominical - 13 de outubro de 2013

SALVAI-NOS DA RIGIDEZ!

“Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus...” (Lc 18,2)

Na tradição bíblica, as viúvas são, juntamente com os órfãos e os estrangeiros, o símbolo das pessoas mais indefesas, as mais pobres entre os pobres. A viúva, de modo especial, é o símbolo por excelência da pessoa que vive só e desamparada; ela não tem marido nem filhos que a defendam e não conta com nenhum apo-io social. É nesta situação de total abandono que sua vida se converte em um grito: “Faze-me justiça!”.
A conduta e o ensinamento de Jesus foram radicalmente “contraculturais” com relação à mulher. Ele foi um autêntico reformador e inclusive revolucionário. Com sua presença e sua linguagem Jesus visibiliza o mundo vital das mulheres; ao tirá-las do seu anonimato e trazendo-as à luz, Jesus realça e louva os traços característicos da mulher. Na parábola, a viúva é apresentada como modelo de atitude diante de Deus pela sua persistência, pela sua coragem frente a um juiz surdo à voz de Deus e indiferente ao sofrimento dos oprimidos. Ela não desiste, continua lutando por si mesma e por seu direito à vida, indo ao juiz dia após dia.

Lucas apresenta a parábola como uma exortação a orar sem nunca desistir. O Mestre conta a parábola de forma tão envolvente que as pessoas, sobretudo aquelas que perderam toda esperança por ajuda e cura, são novamente encorajadas. Ao despertar nos ouvintes a alegria sobre o poderoso juiz, cuja resistência é vencida pela viúva, convida as pessoas a lidarem de forma diferente com uma situação aparentemente desesperadora. Deus não é surdo aos seus gritos.
Nesse sentido a oração do seguidor de Jesus é “eficaz” porque nos faz viver com fé e confiança no Pai e em atitude solidária com os irmãos. A oração é “eficaz” porque aumenta nossa fé e nos faz mais humanos; abre os ouvidos do coração para escutar a Deus com mais sinceridade, vai purificando nossos critérios e nossa conduta daquilo que nos impede ser irmãos. Ela sustenta nosso viver cotidiano, reanima nossa esperança, fortalece nossa fragilidade, alivia nosso cansaço.
Aquele que aprende a dialogar com Deus e a invocá-Lo “sem nunca desistir”, vai descobrindo onde está a verdadeira eficácia da oração e para quê “serve” rezar. Simplesmente para viver.

Podemos interpretar também a parábola do juiz e da viúva  como uma imagem do nosso interior: lugar da nossa intuição que nos diz que possuímos um brilho divino, que somos seres originais, filhos e filhos de Deus. Nosso interior representa os sonhos que carregamos durante nossa vida, que nos diz que nossa vida é preciosa e que nele se expressa algum aspecto de Deus.
Mas, nosso interior carrega também um tribunal com um juiz frio e insensível, que, numa postura arro-gante, nos julga de forma excessivamente dura, e, às vezes nos condena e rejeita constantemente; ele emite juízos taxativos, cortantes, condenatórios, alimentando em nós sentimentos de culpa e impotência.
Ele tem o catálogo de leis nas mãos e é implacável mesmo diante dos mínimos deslizes, distribuindo prêmios (poucos) e castigos (abundância).
Em cada um de nós o instinto de julgar está enraizado profundamente; podemos até dizer que todos nascemos portadores de uma cátedra de juiz. Muitos cultivam ardorosamente esta vocação de juiz e encontram abundantes ocasiões para praticar juízos, sobre si mesmos e sobre os outros, submetendo-se a um horário esgotador. Daí a proliferação de “tribunais ambulantes e permanentes”.
No Evangelho, nos encontramos com algumas expressões categóricas que nos convidam a abandonar este ofício bastante perigoso. Muitos, com seu amadurecimento, ficam persuadidos de que existem coisas mais importantes a fazer do que dedicar-se a serem juízes.
Embora se trata de uma grave enfermidade, esta “síndrome de juiz” é curável. Existem muitas terapias que podem arrancar a cadeira do juiz e desalojá-lo de seu ofício.

Na parábola da viúva e do juiz injusto Jesus nos mostra como podemos conviver com o juiz interior. Como a viúva, nós nos vemos ameaçados por um inimigo – pode ser um inimigo interior ou exterior ou um padrão de comportamento que não nos permite viver com serenidade e paz.
Nesse contexto, o juiz representaria nosso juiz interior, que nos despreza continuamente e nos julga desprezíveis por termos ideais tão altos ou exigências tão ambiciosas para nós mesmos.
Nessa interpretação, a oração também passa a ser o lugar onde nosso interior encontra justiça, onde o juiz interior é desapoderado. Na oração nos tornamos cientes da nossa dignidade como seres humanos, que fomos criados por Deus e que Ele julga capaz de realizarmos nossos desejos. Por meio dela, entramos em contato com a imagem única e singular que o Pai tem de nós, toda auto-depreciação e auto-condenação se dissolvem durante esse momento.

Se orarmos com essa parábola em mente, a nossa oração adquire uma força diferente.
Nesse sentido, a oração é o espaço onde a dimensão feminina é despertada através do seu clamor, da sua insistência e perseverança.

O ser humano carrega em si amor e agressão, razão e emoção, gentileza e dureza, juiz e viúva, animus e anima – parte masculina e parte feminina da alma.
Muitas vezes vivemos apenas um polo e recalcamos o outro. Enquanto este permanecer nas sombras terá um efeito destrutivo. A arte da humanização consiste na reconciliação da viúva com o juiz interior. Muitos ficam chocados quando, apesar de todo esforço para serem pessoas amáveis e gentis, descobrem em si lados insensíveis, antipáticos, julgadores, ofensivos...
Jesus nos apresenta a oração como caminho para esvaziar o ofício do nosso juiz interior. No espaço da oração experimentamos nosso direito à vida; ali encontramos paz, ajuda e cura. Ao mesmo tempo, a oração nos leva ao espaço interior do silêncio, onde o juiz  é desarmado de sua arrogância.
Com o juiz silenciado, acabam-se os ressentimentos, as violências interiores, os sacrifícios, os juízos, os sentimentos de culpa...  Morre o “juiz” das proibições, das ameaças, dos castigos e da perpétua vigilância sobre nossos atos e intenções. Com isso, nossa vida torna-se mais leve, os medos se vão e a harmonia toma assento em nosso coração.

A parábola nos causa uma transformação, questiona nossa vivência, abrindo espaço para experiências novas. Jesus descreve essa viúva sem perspectivas, como mulher que não desistiu de si mesma. Orar, por-tanto, significa: não desistir de si mesmo.
Ao mesmo tempo, Jesus revela a imagem de um Deus desprovido de dogmatismos, um Deus desprovido também de controle e arbitrariedade. O Deus de Jesus não é um juiz com um catálogo de leis que tem necessidade de mandar, controlar, verificar... Basta-lhe a misericórdia, a compaixão...
A misericórdia de Deus constitui a resposta à indigência e ao clamor do ser humano. Ela oferece a possibilidade de pôr de lado o julgamento e a condenação. O passado de erros e fracassos é substituído pelo presente de aceitação e perdão.
Onde não há misericórdia, não há sequer esperança para o ser humano.
Enquanto o Reino de Deus estiver no nosso meio, o juiz interior não tem nenhuma chance, estamos sãos e salvos, livres dos seus juízos, de suas expectativas e exigências, de suas acusações e sentenças. Nesse espaço ninguém pode nos ferir, nenhum inimigo tem acesso, seja ele interior ou exterior.

Texto bíblico:  Lc 18,1-8

Na oração: “tomar consciência” dos momentos em que o “juiz interior” emite
                        seus “pareceres de morte”, seja na relação consigo mesmo ou com os outros.


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