Teológico Pastoral

Teológico Pastoral

quinta-feira, 27 de março de 2014

HOMILIA DOMINICAL - 30 DE MARÇO DE 2014

SER HUMANO: argila modelada e dinamizada pelo sopro do Espírito

“Jesus cuspiu no chão, fez lama com a saliva e ungiu os olhos do cego” (Jo 9,6)

O evangelho de hoje nos coloca diante de um cego de nascimento: não conhecemos seu nome, só sabe-mos que é um mendigo, que pede esmola nas proximidades do templo.
Estava sentado, imóvel, não podia caminhar nem orientar-se por si mesmo, dependendo sempre dos outros. Sua vida transcorre nas trevas. Trata-se de um ser humano quebrado na sua dignidade.
Este ponto de partida é chave para ressaltar o ponto de chegada. Jesus vai lhe dar a mobilidade e a independência, o reconstruirá como ser humano por inteiro.
Jesus vê na cegueira uma ocasião para a manifestação da atividade salvífica de Deus. As obras que Deus realiza consistem em libertar o ser humano de sua inatividade, dar-lhe mobilidade, capacidade de acção…
Repetindo o gesto do Criador, Jesusmistura a terra com sua saliva, simbolizando a criação do homem novo, composto pela terra-carne e pela saliva-Espírito. Com o uso do barro, Jesus reproduz simbo-licamente a Criação do ser humano. Ao“amassar o barro”Ele prolonga o sexto dia da Criação.
Com o gesto de “ungir os olhos com o barro” Jesus recria o homem, reconstrói o“vaso quebrado”.

O que era cego revela a nova identidade de ser humano reconstruído pelo Espírito: ele agora é um ungi-do, encontrou-se a si mesmo – “Ele afirmava: sou eu”. Ao afirmar “sou eu”, ele descobre a transforma-ção que se realizou em sua pessoa e quer que os outros a vejam.
O que na verdade importa é que este homem estava limitado e carecia de toda liberdade antes de encon-trar-se com Jesus. Agora descobre o que significa ser pessoa e se sente completamente realizado. O Espí-rito o capacitou para desatar todas as possibilidades de ser “humano”.
O horizonte que se abre para ele é indescritível. O mundo mudou radicalmente. Sua vida, escondida e dependente, agora está cheia de sentido. Perde todo medo e começa a ser ele mesmo, não só em seu interior, mas também na relação com os outros.

A espiritualidade quaresmal possibilita a transformação do eu, e o faz mergulhando a pessoa em sua própria condição humana, sob a ação do Espírito.
Constituída de argila, como vaso nas mãos de um ceramista, a criatura humana recebe o sopro ou hálito divino. É a própria Vida de Deus, o seu sopro vital, que faz surgir o humano do húmus da terra. É o Espírito de Deus, inspirado no ser humano, que o torna realmente humano.
Cada pessoa é portadora deste sopro de Deus e desta força amorosa que o impulsiona à plenitude.
O sopro de Deus impresso no mais profundo de nosso ser, está enfaixado pela fragilidade da argila.
Somos a grande combinação resultante do sopro de Deus e a argila que nos configura.
Cada um de nós é a força criativa de Deus impressa em cada coração.
O respiro ou hálito é o símbolo da presença do Criador em nós. Pelo sopro do próprio Deus, somos“elevados” à condição de imagem e semelhança d’Ele. Então, tornamos“criaturas abertas ao Espírito” e, mais ainda, “criaturas habitadas pelo Espírito”; somos argila, mas argila aberta ao céu.
Somente a ação criativa e contínua de Deus é capaz de costurar novamente os pedaços de nossa história; ao mesmo tempo ela nos faz descobrir a beleza e a harmonia desses mesmos pedaços.
Tal qual o oleiro, o Senhor nos cria e nos re-cria continuamente. Nada é desperdiçado. Suas mãos de artista não jogam fora nenhum pedaço de nossa existência vivida, e sim, compõe e re-compõe continua-
mente, num desenho novo, o que nos foi dado viver.
A experiência de nossa própria fragilidade pode converter-se em experiência de Deus, do Deus rico em misericórdia, e até o passado mais fragmentado está aí para dizer que Ele desenhou nosso ser na palma de suas mãos.

Assim, o passado em pedaços adquire um significado totalmente diferente, e cada acontecimento se torna fragmento de um plano amoroso, escrito no coração do Criador.O ato divino de costurar os pedaços de nossa história não significa somente juntar os cacos, como se no passado existissem somente derrotas e fracassos a serem anotados e aceitos. Deus acolhe e dá um sentido a todas as vivências e experiências; só Ele consegue juntar até as contradições e inconsistências da vida, dando coerência e unidade ao todo existencial e, com isso, fortalecendo a identidade e originalidade de cada um.
A partir da ação livre e amorosa de Deus, nós nos tornamoslivresà medida que damos um significado ao nosso passado, que está sempre aí presente, à espera de um novo olhar e de uma nova luz.
Aqui se expressa exatamente a liberdade responsável, sinal da dignidade altíssima do ser humano, quando ele se torna sujeito de sua própria existência, reapropria-se da sua vida já vivida, inclusive as fragilidades e limitações, inserindo-as num contexto harmonioso de sentido.
Essa “leitura” da vida com um olhar marcado pela contemplação, significa colocar toda a vida dentro da totalidade de Deus, deixando que ela seja iluminada por esta Presença capaz de explicar cada realidade. Tudo o que está envolvido pelo mistério é banhado pela Luz do Criador.
É um contínuo re-nascer; é um prolongamento da Criação: “faça-se a luz”, “façamos o ser humano”.

Repetir o gesto criativo de Deus significa tomar nas mãos os “fragmentos” daquilo que foi vivido, trazê-los das profundezas onde sempre estiveram confinados, colocá-los sobre a mesa, tocá-los, revirá-los, con-templá-los, aceitá-los, revivê-los, re-criá-los... Com a argila de nossa existência, aquecida pelo calor do Espírito de Deus, podemos transformá-la em material de uma nova experiência de vida.
Não se trata de sufocar a vida, mas de torná-la leve e luminosa, mantendo límpida a sua fonte, livrando-a da camada de sentimentos negativos.
Na vivência do tempo quaresmal, temos de levar a sério e acolher compas-sivamente a nossa própria condição humana, a nossa fragilidade de argila, para que o Sopro de Deus, sem encontrar resistências, possa nos modelar segundo sua promessa. Aqui o caminho para Deus é “descer” em direção à nossa própria realidade e viver a comunhão universal.

Texto bíblico:Jo 9,1-41

Na oração: Na experiência espiritual nos é pedido que mergulhemos no “chão
da vida”, como as raízesnaobscuridade da terra, na presença do silêncio. O movimento de enterrar profundamente as raízes possibilita alcançar a seiva, o pulsar da vida e o equilíbrio.  Somos terra. Temos a Terra dentro de nós. Somos a própria Terraque na sua evolução chegou ao estágio de sentimento, de compreensão, de vontade, de responsabilidade e de veneração. Vivificados pelo Espírito, somos Terra que pensa, sente e ama.
Sentir que somos Terra faz-nos ter os pés no chão e viver em comunhão com a comunidade das criaturas.


sexta-feira, 21 de março de 2014

O MANANCIAL QUE NOS INSPIRA

“A água que eu lhe der se tornará nele um manancial que jorra para a vida eterna” (Jo 4,14)

O tempo quaresmal possibilita redescobrir as profundezas da pessoa humana, as coisas ocultas no seu interior, para assim poder ajudá-la a conhecer-se, crescer e gerar novos modos de se relacionar consigomesma, com os outros, com o meio ambiente e com Deus.
Em outras palavras, diríamos que este tempo des-vela, por um lado, uma realidade interna machucada, ferida, vulnerada, mas também, por outro lado, um potencial, um dinamismo, um “poço” de possibilida-des, um conjunto de forças positivas... São os dois rostos do coração da pessoa humana.
Isso quer dizer que a pessoa toda é movida, no seu viver, por uma mistura dessas duas faces do seu coração: a ferida e o poço, o medo e os desejos...
É a mistura dessas duas realidades que faz que cada pessoa seja ela mesma. É o interagir da parte vulne-rada com o potencial de possibilidades que vai dando identidade à pessoa e onde ela pode ir descobrindo qual é o sentido da sua vida e qual é a sua missão na história.
Por isso, quandoa pessoa se faz mais consciente dessas realidades do seu interior, quando se dá conta daquilo que brota da sua parte vulnerada e a integra, quando se dá conta da riqueza que existe no seu poço e a potencializa..., passará a se conhecer, a crescer e a descobrir a sua verdade mais profunda e, ao mesmo tempo – ao se tornar uma pessoa modificada por dentro – a modificar as estruturas da história.

O evangelho de hoje é um relato eminentemente teológico. É uma catequese que convida a um seguimen-to de Jesus que traz a ‘água viva”, o dom capaz de saciar o desejo humano. Essa água a encontramos em nosso próprio interior, como um manancial que brota incessantemente.
No texto aparece um significativo jogo de palavras: sempre que a mulher fala, ela fala de “poço”;no entanto, Jesus e o próprio narrador se referem ao poço como “manancial”.
Jesus faz a mulher cair na conta que é preciso abrir-se a esse “manancial” novo, que lhe vem através d’Ele e que “jorra em seu interior” de um modo permanente.
O encontro com Jesus fez a samaritana viver uma verdadeira“páscoa”, passando de sua vida trivial e dispersa à responsabilidade de anunciar a outros Aquele com quem havia se encontrado. Como uma água que jorra, uma torrente de gratuidade percorre a cena e transfigura a mulher. Ela foi sendo conduzida até sua própria interioridade através de um paciente processo que a fez passar da dispersão à unificação, da exterioridade à interioridade, da solidão à comunhão com os outros.
Ela entra em cena como “uma mulher da Samaria” e sai dela como conhecedora do manancial de “águaviva” e consciente de ser buscada pelo Pai para fazer dela uma adoradora. Sua identidade transformada a converte em uma evangelizadora.
Como bom pastor que conhece suas ovelhas, Jesus faz a mulher sair do deserto da superficialidade e vai guiando-a para a profundidade e autenticidade, para a terra do dom da água viva.
Como “expert” em humanidade, Jesus mostra-se profundamente atento e interessado pela interioridade de sua interlocutora, lhe faz descobrir o manancial que pode brotar do mais profundo dela mesma e lhe revela também a interioridade de Deus como Pai que busca adoradores em espírito e em verdade.

Vamos agora, a partir do encontro de Jesus com a samaritana, percorrer a nossa parte brilhante, essa rica interioridadeque pouco conhecemos, pois, lamentavelmente, poucas vezes nos permitimos entrar nela e, inclusive, poucas vezes temos alguma consciência de que existe, de que é a mais profunda, valiosa e autêntica de nós mesmos.
Abre-se, então, a possibilidade de reconhecer e fazer um caminho de redenção, acolhendo e potencializan-do o poço da positividade e das energias vitais. Este é o caminho que leva a desenvolver plenamente a dimensão humana: limpar a ferida a partir do próprio manancial.
Isso significa que o crescimento pessoal é um compromisso que só é possível quando se nutre com a água do próprio poço, a água que nasce do manancial interior.
O nosso manancial interior alimenta o poço das nossas qualidades, das nossas potencialidades e faz que se revele, no exterior, o rosto positivo do nosso coração.

E o que é o manancial?
O seu manancial é aquilo que existe em você que é inalterável, inesgotável, o que o(a) salva nos momentos mais difíceis, o que lhe dá mais intimidade. Se você entrar no seu manancial encontrará, além do seu potencial máximo, outras duas realidades que seguramente passam despercebidas no cotidiano de sua vida: a consciência e a água viva.
Em primeiro lugar, no manancial que o(a) identifica se encontra uma voz que é a voz do seu ser que está crescendo, uma voz que lhe indica o que lhe faz bem, o que lhe ajuda a ser verdadeiro, o que o(a) empurra para a integração e, ao mesmo tempo, o(a) leva a gerar o bem, a veracidade, a integridade...
Isso é a sua consciência.
Por outro lado, nesse manancial se encontra também uma água viva, que é a presença atuante e transfor-mante do próprio Deus, lá no âmago da sua intimidade mais profunda.
Essa dupla descoberta faz você ser capaz de levar a sério a sua vida e dar-se conta de como, na vida mesma, na sua própria vida, está inscrito, no mais fundo do manancial, algo que tem a ver com a solidariedade, algo que se refere à metáfora da “água” e do “poço”: a água não serve para si mesma; é para as outras realidades, para as outras pessoas.
É isso que significa “ser pessoas para os demais”.

Há qualidades que nos identificam: a cor da pele, a altura, a cor dos olhos... o nosso gênero, inclusive a nossa profissão. Mas o manancial nos oferece aquilo que nos faz únicos em meio à caravana humana com a qual caminhamos pela vida.
O que nos faz pessoas únicas são essas forçasno nosso interior que nos tornam capazes de superar os piores momentos das nossas vidas; essas forças que nos tiram das piores trevas e nos devolvem à existên-cia. Essas forças não são as mesmas para todos.
Para algumas pessoas será o desejo de viver e ser livre. Para outras, será o desejo de servir, o amor a alguém, a atenção aos necessitados... Essa combinação de um punhado de qualidades, de potencialidades, de “desejos” é o que fundamentalmente nos faz ser nós mesmos.
Essa experiência do manancial se faz não com idéias, mas vivenciando-a; não porque nosdisseram, mas porque verificamos que, na realidade, essas forças e potencialidades constituem, de fato, o nossomanan-cial. De tal modo que se faltasse alguma dessas forças, ou dinamismo, nós não nos reconheceríamos.
Nossos desejos nos constituem, ou melhor, fazem-nos seres inusitados, distintos, únicos.
Devemos prestar muita atenção à força que os desejos profundos têm na descoberta do nosso manancial.
Texto bíblico:Jo 4,5-42

Na oração: como a samaritana, também diante de nós se

apresenta uma alternativa: continuar buscando água e justificação em poços secos e esgotados ou eleger “vida eterna” e deixar-nos arrastar pela oferta de trans-formação proposta pelo Jesus que nos busca. Eledeseja ampliar nossa existência e comunicar-nos alegria e plenitude. De quê tenho sede? Onde busco saciar minha sede?

quarta-feira, 19 de março de 2014


ORAÇÃO A SÃO JOSÉ.

A vós, SÃO JOSÉ, recorremos em nossa tribulação, e depois de termos implorado  o auxílio de vossa SANTÍSSIMA ESPOSA e cheios de confiança, solicitamos também o vosso patrocínio. Por esse laço sagrado de caridade que vos uniu à VIRGEM IMACULADA, MÃE de DEUS, e pelo amor paternal que tivestes ao MENINO JESUS, ardentemente vos suplicamos que lanceis um olhar benigno sobre a herança que JESUS CRISTO conquistou com Seu Sangue, e nos socorrais nas nossas necessidades com o vosso auxílio e poder.
Protegei, ó guarda providente da SAGRADA FAMÍLIA, o povo eleito de JESUS CRISTO. Afastai para longe de nós, ó Pai Amantíssimo, a peste, o erro e o vício que aflige o mundo. Assisti-nos do alto do Céu, ó nosso Fortíssimo Sustentáculo, na luta contra o poder das trevas, e assim, como outrora salvastes da morte a vida ameaçada do MENINO JESUS, defendei também agora a Santa IGREJA de DEUS, conta as ciladas dos seus inimigos e contra toda a adversidade.
Amparai a cada um de nós com o vosso constante patrocínio, a fim de que, a vosso exemplo e sustentados com o vosso auxílio, possamos viver virtuosamente, piedosamente morrer e obter no Céu a eterna bem-aventurança. Amém.
São José, rogai por nós e pela Igreja.

segunda-feira, 17 de março de 2014

MINISTÉRIO DA BENÇÃO

Gostaria de saber se um leigo pode dar uma bênção?

Comprei uma estátua de Santa Rita para minha devoção pessoal e fui até a portaria de um Convento para pedir a bênção do sacerdote. Ao ser recebida pelo irmão porteiro, ele me disse que no momento não teria nenhum sacerdote ali para a bênção, uma vez que estavam atendendo confissões. Disse-me também que ele poderia dar a bênção na Santa, desde que eu aceitasse. Aceitei, mas fiquei em dúvida: seria válida esta bênção, dada por um irmão leigo?

1. Na Igreja católica existem os sete sacramentos (batismo, crisma, eucaristia, penitência, ordem, matrimônio e unção dos enfermos) já cristalizados pela sã tradição e pelo magistério da Igreja e que, via de regra, dependem dos ministros ordenados (clérigos). Os clérigos são os diáconos, presbíteros (sacerdotes) e bispos, isto é, aqueles que foram ordenados pela Igreja para prestar um serviço ao inteiro Povo de Deus. Paralelamente, também existem os sacramentais, definidos no Código da Igreja como sinais sagrados, mediante os quais, imitando de certo modo os sacramentos, são significados principalmente como efeitos espirituais que se alcançam por súplica da Igreja (cânon 1166). Para a sua eficácia, é necessário que sejam administrados pelos devidos ministros. Em si, o ministro dos sacramentais seria o clérigo, pelo fato de ser ordenado para este e outros serviços na Igreja. Porém, certos sacramentais, de acordo com os livros litúrgicos, podem ser também administrados por leigos (cânon 1168).

2. O ordenamento da Igreja afirma que certos sacramentais, de acordo com os livros litúrgicos, podem ser também administrados por leigos dotados das necessárias qualidades, a juízo do Ordinário local (cânon 1168). Porém, urge observar alguns requisitos fundamentais (cf. M. DEL MAR MARTÍN, Comentario (can. 1168), in: Comentario exegético al Código de Derecho Canónico, vol. III/2, p. 1653):
1) Para exercer o seu ministério com qualidade e competência, os leigos devem haver a devida formação pastoral e litúrgica;
2) Nem todos os leigos são ministros dos sacramentais. Alguns leigos exercem esses ministérios, enquanto ministros extraordinários, numa peculiar função dentro da Igreja, a exemplo dos catequistas e religiosos, que não são ministros ordenados;
3) Os livros litúrgicos servem de critério para determinar os sacramentais que os leigos podem administrar;
4) As faculdades que lhes são confiadas para determinados sacramentais ficam a critério do Ordinário do lugar (bispo);
5) Se houver a presença de um clérigo na celebração, o leigo deve ceder-lhe a presidência.

3. Eis abaixo alguns sacramentais que podem ser confiados aos leigos, de acordo com o Ritual das Bênçãos:
1)Bênção dos esposos no aniversário de seu matrimônio fora da missa;
2)Bênção de seus filhos;
3)Bênção de uma mulher antes e depois do parto;
4)Bênção dos anciãos que estão impossibilitados de sair de casa;
5)Bênção dos enfermos;
6)Bênção das exéquias;
7)Bênção antes de empreender uma viagem;
8)Bênção de casa ou apartamento;
9)Bênção dos instrumentos técnicos, de trabalho;
10)Bênção dos animais;
11)Bênção dos campos, terras e terrenos de cultivo;
12)Bênção da colheita e apresentação dos novos frutos;
13)Bênção de ação de graças;
14)Bênção de coisas (objetos) que favorecem a devoção do povo.

4. E quem faz a bênção da água?
A água, a ser aspergida sobre as coisas e pessoas, depois de proferida a bênção, via de regra, deve ser benta pelos clérigos, como seus ministros ordinários. Amiúde, os leigos pedem a bênção da água aos ministros ordenados e a levam consigo nas bênçãos a serem administradas nos sacramentais que lhes são confiados. Porém, tendo como base o sacerdócio comum de Cristo, onde houver necessidade e, sobretudo pela escassez de clérigos, os leigos podem administrar essa bênção sobre a água. As palavras a serem usadas, encontram-se no Ritual das Bênçãos.

5. Portanto, onde houver falta de diáconos, sacerdotes ou bispos, os leigos e os irmãos leigos, desde que devidamente preparados, podem dar a bênção às pessoas ou coisas de devoção popular, porque estes sacramentais independem, em sua origem da ordem sagrada e de seus ministros ordenados.
Postado por Frei Ivo Müller


sábado, 15 de março de 2014

HOMILIA DOMINICAL - 16 DE MARÇO DE 2014

A TRANSFIGURAÇÃO NOS HUMANIZA

“E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e suas roupas ficaram brancas como a luz” (Mt 17,2)

O ritmo frenético e estressante da sociedade atual, e sobretudo o culto à novidade, ao efêmero, ao superficial, impedem recuperar a dimensão de profundidade em nossa vida diária. Vivemos mergulhados num contexto caracterizado pelo imediatismo, pragmatismo, interesse e voracidade. Em tal contexto há tanta superficialidade e tanto narcisismo que a vivência da profundidade, do silêncio, da admiração... se tornam estranhos para nós. Tal situação nos des-figura e nos desumaniza.
A festa daTransfiguração vem nos dizer quem somos realmente no nível mais profundo. Ela nos revela nosso verdadeiro ser essenciale nos faz caminhar em direção à nossa própria humanidade.
Ao mesmo tempo, transfigurar é descentrar-nos e expandir-nos na direção do outro.
A Transfiguração possibilita cultivar um “olhar” que sabe ver em profundidade, descobrindo em cada ser humano, para além de suas aparências, um ser transfigurado, porque somos capazes de vê-lo em sua beleza e bondade originais; um olhar que sabe deixar-se impactar por tudo aquilo que nos cerca e é capaz de render-se diante do Mistério.
Tal experiência também nos confere um “olhar contemplativo” que nos faz descobrir que toda realidade já está “transfigurada”. Seguramente reacenderá em nós a capacidade de admiração, de assombro e de contemplação, para ver as pessoas e “todas as coisas criadas” para além do meramente superficial.

O relato da Transfiguração não é crônica de um fato histórico; é, muito mais, a experiência de fé dos discípulos que, com toda certeza, perceberam em Jesus uma “transparência”  ou “profundidade” que os impactou profundamente.
Podemos expressar numa frase o significado do relato: “Jesus é transparência do divino”. Por isso, podemos dizer também que Ele é um homem transfigurado. Jesus viveu constantemente transfigurado.  A transfiguração não foi um fato isolado na vida do Mestre de Nazaré, mas o ‘estado habitual de seu ser’. Não tem sentido pensar que essa plenitude de ser tinha que manifestar-se externamente (até nas vestes) com sinais mirabolantes; não quer dizer que Jesus precisou fazer espetáculo de luz e som pelos montes para provar quem Ele era.
Quê fazia de Jesus um “homem transfigurado?” E em quê se notava? Era sua bondade, sua compaixão, sua autenticidade, sua integridade e coerência, sua liberdade, seu projeto de vida, sua relação com o Pai...Ou seja, o que há de divino em Jesus está em sua humanidade. Sua humanidade e sua divindade se expressavam toda vez que se aproximava das pessoas, especialmente as mais excluídas e sofredoras, ajudando-as a reconstruir a própria humanidade ferida. A única luz que transforma Jesus é a do amor, e só quando manifesta esse amor ilumina. É no humano que Deus se deixa transparecer.

A raiz da mensagem do evangelho de hoje está em apresentar a Jesus como a presença de Deus entre os homens; por isso é preciso escutá-Lo. Sua humanidade levada à plenitude é Palavra definitiva.
Escutar o Filho é transfigurar-sen’Ele e levar uma vida como a sua, ou seja, empapar-nos do “modo” como Ele humanamente viveu e sermos capazes de descobrir a voz de Deus no grito desesperado de cada um dos seres humanos que encontramos em nosso caminhar.
Jesus continua se “transfigurando” na montanha interior de cada um.
Nesse sentido, “subir” ao Tabor implica “descer” em direção à nossa própria humanidade. A Montanha nos “transfigura” , revelando nosso ser essencial.Todos estamos dispostos a “subir”, mas nos custa muito “descer”. Não haverá plenitude de humanidade enquanto os de cima não decidam descer, e os de baixo não renunciem subir passando por cima dos outros.

Este é o desafio: “subir” para “descer”, descer aos duros vales da vida com a luz do evangelho eencon-trar-se com a vida real, com os pobres e sofredores de turno; descer e sentar-se na planície, dialogar, com-partilhar... parapoder acompanhar e curar os que mais sofrem neste mundo, ajudando àqueles que perde-ram o horizonte de sentido em suas vida.
Uma “Igreja do monte” não tem sentido se permanece fechada em si mesma, em seu legalismo, ritualismo, encerrada em seus sonhos de poder e de glória. Os três de cima (Pedro, João e Tiago) precisam descer ao vale obscuro da realidade para conhecer, por experiência real, direta, imediata, a dor real daqueles que vivem nas “periferias existenciais”.
Na “descida comprometida” ouvimos o diálogo de Jesus com seus discípulos. Não permaneceram “acima”, como queria Pedro. O voz do Pai os despertou do sonhoe os colocou a caminho; a exigência da entrega de Jesus os faz descer da montanha e, à medida que se aproximam do vale do drama humano, eles vão crescendo na consciência de sua profunda missão: participação da missão e do caminho de Jesus.

Os visionários do monte pensam que encontraram a Deus, que viram seu mistério; por isso querem per-manecer ali, fazendo três tabernáculos sagrados onde possam descansar para sempre com o Cristo transfi-gurado, sem mergulhar na paixão do mundo, sem passar pela complexidade da história, distanciando-se de todos os problemas deste velho mundo.
Quão fácil é cair na tentação de Pedro! Construir cabanas em um mundo sonhado, fora da realidade, para desfrutar de privilégios egoístas. É fácil seguir o Jesus glorioso, distanciando-se do fazer caminho com Ele junto aos mais sofridos.
No Jesus transfigurado encontramos, portanto, indicações que nos conduzirão a essa descoberta: a vivência do amor, a compaixão, a liberdade, a confiança, a experiência de Deus, a consciência unitária... Uma pessoa transfigurada é uma pessoa profundamente humana. Tudo o que é autenticamente humano é transparência de Deus. Somos todos “pessoas transfiguradas”, mas desconhecemos essa realidade surpreendente.
A transfiguração não é a condição de um “ilumina-do”, mas a realidade de toda pessoa que se desapegou de seu ego, até o ponto de descentrar-se e abrir-se à realidade do outro. Aqui ficam superados os velhos dualismos e as enganosas dicotomias que o divino e o humano se enfrentavam como realidades antagônicas.

Texto bíblico:Mt 17,1-9

Na oração: Há gestos cotidianos que nos ajudam a descobrir em profundidade quem realmente somos: um
abraço, uma mão que se estende, uma escuta atenta, um olhar sereno... São gestos humanizadores que nos recordam que somos seres transfigurados. Essa sensibilidade gestual deixa transparecer a luz que nos habita.Sem dúvida, esta é a linguagem de Deus, não a das palavras, mas a dos gestos, que dão conteúdo a tantas palavras já desgastadas. Ser transfigurado é prolongar e fazer chegar a todos os mil gestos do amor de Deus que nos fazem descobrir irmãos.



Papa Francisco

365 dias com Francisco: Um pontificado marcado por ineditismos

Em um ano de Pontificado, Papa Francisco surpreendeu o mundo com seu carisma e debateu  temas considerados tabu na Igreja
Atualizado em 13/03/2014 às 09h

Larissa Alves do RS21
Papa Francisco no dia em que foi eleito Pontífice

13 de Março de 2014. Em apenas um ano, Jorge Mário Bergoglio, o argentino mais conhecido como  Papa Francisco conquistou a simpatia de diversos católicos e não católicos ao redor do mundo. Mais do que popularidade, o novo Pontífice conseguiu por meio de reformas eclesiásticas, debates de temas considerados tabus pela Igreja e a escolha de novos cardeais retirar a Igreja do alvo de escândalos de corrupção e abusos em que estava inserida em 2012.
Primeiro destino internacional do novo Pontífice, o Brasil também marcou presença no Vaticano durante esse primeiro ano com a escolha de Dom Orani Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro, como um dos novos Cardeais de Francisco. Junto com ele, mais 18 religiosos integram o time de confiança do Papa. “É um serviço importante porque tem uma dimensão universal. Continuo como arcebispo do Rio de Janeiro, tendo a mais essa responsabilidade de um cardeal: participar dos consistórios, do Pontifício Conselho para os Leigos (PCL), ao qual foi nomeado. Peço que rezem por mim para bem desenvolver este trabalho”, comenta Dom Orani.
O novo Cardeal também chama a atenção para a importância que Francisco teve durante seu primeiro ano como Papa. “Desde que assumiu o Pontificado, Papa Francisco mostrou uma Igreja próxima do povo, com uma capacidade de inovação. Todos sentiram esse contágio da presença do Papa.”, ressalta o Arcebispo.

A escolha

Após 598 anos da última renúncia Papal feita por Gregório XII, católicos do mundo inteiro foram surpreendidos pelo anúncio dado no dia 11 de fevereiro de 2013 pelo então Papa Bento XVI de que iria renunciar.

Para escolher o novo Papa, o conclave teve início no dia 12 de março e após 25 horas , o argentino Jorge Mário Bergoglio foi eleito o novo Santo Padre. O nome escolhido, Francisco, representa uma homenagem a São Francisco de Assis. Pela primeira vez na história do catolicismo um Jesuíta latino-americano chegou ao posto de Papa.  “E agora quero dar a Bênção, mas antes… antes, peço-vos um favor: antes de o Bispo abençoar o povo, peço-vos que rezeis ao Senhor para que me abençoe; é a oração do povo, pedindo a Bênção para o seu Bispo. Façamos em silêncio esta oração vossa por mim”, pediu o novo Papa.

Com o desafio de assumir o comando de uma Igreja que estava marcada por escândalos envolvendo corrupção e pedofilia, Francisco surpreendeu o mundo com seu carisma. Ao ser eleito, brincou dizendo “Caros irmãos, que Deus lhes perdoe”. Em mais uma prova de humildade, o papa pagou a conta de sua estada no hotel durante o período em que ficou em Roma e escolheu a Casa Santa Marta como sua residência. Em um ano de ineditismos, O papa também realizou a tradicional cerimônia do lava-pés em um presídio, fugindo da tradição de celebrar o ato nas basílicas romanas.



Reformas da Igreja
Foto: Rádio Vaticano
Como uma das reformas do Vaticano, em agosto de 2013 Francisco nomeou o arcebispo Pietro Parolin, 58 anos, como o novo secretário de Estado do Vaticano. A função tem como intuito comandar a relação do Vaticano com os outros Países. A escolha de Pietro, rompe com o mandato de Tarcisio Bertone, que estava no cargo desde 2006 e foi acusado de abuso de poder, favoritismo, entre outras denúncias.

No final de 2013, um dos momentos mais aguardados pelos católicos era a divulgação da primeira exortação apostólica do Papa Francisco “Evangelii Gaudium” (A Alegria do Evangelho). O documento de mais de 100 páginas traz as reflexões e planejamentos para a Igreja feitas pelo Pontífice. O Papa criticou o comodismo de alguns religiosos e cobra uma maior participação das mulheres na Igreja. Francisco também continua defendendo a visão da Igreja contra o aborto. “Não é progressista pretender resolver os problemas eliminando uma vida humana”, relata o Papa.

Outra crítica feita pelo Pontífice foi sobre a corrupção e a pobreza existente no mundo. “Alguns simplesmente deleitam-se em culpar os pobres e os países pobres de seus próprios males, com generalizações indevidas, e têm como objetivo encontrar a solução em uma ‘educação’ que os tranquilize e os converta em criaturas domesticadas e inofensivas. Isso se torna ainda mais irritante se os excluídos veem crescer esse ‘câncer social’ que é a corrupção em muitos países, governos, empresas e instituições, seja qual for a ideologia política dos governantes.”, relatou o Santo Padre.

Proclamações
Os primeiros Santos proclamados por Papa Francisco foram a freira colombiana Laura Montoya e Upegui  e a mexicana Guadalupe García Zavala, conhecida como mãe Lupita. Em março de 2013, Francisco aprovou as beatificações de 63 católicos e em setembro do mesmo ano, o Papa anunciou algumas das canonizações mais aguardadas pelos católicos: os Beatos João Paulo II e João XXIII serão canonizados em 27 de abril de 2014. No Brasil, a beatificação de Nhá Xica, a “Mãe dos Pobres” de Baependi (MG), alegrou os devotos brasileiros em maio. Nhá Xica é a primeira negra, analfabeta e filha de escrava a ser beatificada pela Igreja Católica no Brasil.

Internet
Outra novidade durante o pontificado de Francisco  foi o Vaticano ter disponibilizado os primeiros 256 manuscritos da Biblioteca dos Papas em uma plataforma online. A ação faz parte de um projeto que irá facilitar o acesso a mais de 80 mil documentos da Igreja. Ainda na internet, a conta @Pontifex foi reativada no twitter no dia 13 de março de 2013, data da escolha do novo Pontífice, e ao final do ano atingiu 11 milhões de seguidores.

Homem do ano
Antes mesmo de completar um ano de Pontificado, Francisco foi eleito pela revista norte- americana Time como “Homem do Ano” em 2013.

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quarta-feira, 12 de março de 2014

QUARESMA, UM CAMINHO DE FÉ

Quaresma é um tempo especial porque nos coloca em contato com o centro, o coração, a essência da fé cristã. “Deus amou tanto o mundo a ponto de dar o seu Filho Unigênito” (Jo 3, 15). Na quaresma somos convidados a percorrer o caminho da paixão do Senhor e realizar uma romaria para dentro de nós mesmos. É uma via-sacra, uma procissão, uma peregrinação da fé e de conhecimento interno do amor de Deus. Trata-se de um retiro espiritual.
São muitas as maneiras de vivermos espiritualmente a quaresma. A primeira delas está em ter olhos fixos em Jesus, através dos santos evangelhos da paixão do Senhor. Eles mexem com o nosso pensar, sentir e agir. São uma catequese que nos faz perceber mais profundamente quem somos nós, quem é Deus, o que é o pecado e a liberdade, o que é fé e salvação. Tudo isso está consignado na confissão de fé do centurião romano: “Este homem era realmente o Filho de Deus.” (Mc 15,39).
Outra maneira de vivermos cristãmente a quaresma consiste na prática da oração, do jejum, da esmola, que nos levam a confessar e reparar nossos pecados e a amarmos Deus de todo coração e a nossos irmãos como Cristo nos amou. A quaresma nos atrai para o alto, para o bem, para a graça, para a mudança de vida, para uma  nova mentalidade e novo jeito de viver. Quaresma não significa tristeza, sisudez, culpa, mas, descoberta, encantamento e seguimento do caminho de Jesus. Acertar nossos passos com os seus passos, nossos pensamentos e sentimentos com os seu.
Este tempo quaresmal nos conceda a chance de entrarmos em contato mais consciente com a “paixão do mundo”, o sofrimento humano, diante do qual não podemos nos omitir e nem somente protestar. A paixão de Jesus continua na história da humanidade e isso suscita em nós sentimento de compaixão pelo mundo. Somos tocados, afetados e envolvidos pela dor humana. Tornamo-nos solidários dos irmãos e nos propomos a ser seus Cirineus, carregadores de seus fardos.
A espiritualidade quaresmal é um remédio que cura, uma luz que transforma, aquece e ilumina, uma fonte inesgotável e transbordante de misericórdia e esperança e esperança, um verdadeiro útero regenerador. Colacamo-nos frente a frente conosco mesmos, com os outros, com Deus. Quaresma é um caminho que leva a estes encontros. O coração transpassado do Senhor simboliza o oceano do amor de Deus, a fonte, o rio, a cascata que testemunham a ternura, o carinho, a bondade de Deus e sua compaixão. Nossos corações também se dilatam, nossos olhos se abrem, nossos braços se erguem tocados por tanto amor.
Como seria bom se a quaresma aumentasse em nós o amor do discípulo amado, as lágrimas de arrependimento de Pedro, a sensibilidade de Verônica, a conversão do centurião, a solidariedade das filhas de Jerusalém, o desejo do bom ladrão, a compaixão de Cirineu, a fé de Maria, a nobreza de José de Arimatéia. Todavia a maior graça da quaresma é a fascinação por Jesus Cristo. Como não sentir arrebatamento diante de sua atitude filial na paixão, sua delicadeza com as pessoas, seu conselhos e palavras consoladoras, seu humanismo e seu jeito tão humano de expressar os sentimentos e emoções ao Pai e às pessoas.
Estamos no Ano da fé. Toda a vida de Jesus foi uma confissão de fé no amor do Pai, uma obediência filiar, um cumprimento das Escrituras, uma realização da vontade de Deus. Jesus é o caminho que encontramos através da porta da fé. Uma quaresma vivida na fé é um caminho que nos leva longe, muda rotas, abre horizontes, recria vidas.

Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina
folha de Londrina, 1º de março de 2014
Nos braços da Misericórdia
É tempo de quaresma, de conversão, oração, amor fraterno. Fixemos nosso corações na misericórdia divina. Deus nunca renuncia à sua misericórdia. Desde os tempos do profeta Oséias diz Deus: “quero a misericórdia e não o sacrifício” (cf Os 6,6). Misericórdia é a essência de Deus, é sua lógica, seu sistema, sua política. Não fosse a certeza da misericórdia, a vergonha, o remorso, nos levariam ao desespero e até à loucura. Quem descobre a misericórdia não continuará justificando seus pecados, mas, terá forças para saltar e soltar-se dos laços do mal.
A misericórdia divina não deve ser confundida com a permissividade o que seria tentar a Deus. Não podemos pecar na certeza de que a misericórdia tudo perdoa. Eis uma grosseira ignorância e uma maldosa manipulação de Deus. Pelo contrário, graças à fé na misericórdia nós batemos no peito dizendo perdão Senhor, vem em meu auxilio, cura e converte nosso coração, não queremos mais ser aliados do mal nem presos nas cordas do abismo e do mal. “Imploramos a misericórdia de Deus, não a fim de que ele nos deixe em paz em nossos vícios, mas para que nos livre deles” (Pascoal).
Por outro lado, a misericórdia nos torna misericordiosos, compassivos, compreensivos para com os outros. É a melhor resposta que damos a quem nos ofendeu. Ela quebra a espiral da violência, não permite que sejamos envenenados pela vingança, ódio, rancor que são destrutivos. A misericórdia nos faz abrir o coração e os braços a quem nos humilhou, injuriou, prejudicou. Pela misericórdia saberemos estar do lado dos órfãos, das viúvas, dos pobres, dos estrangeiros.
Ainda mas, a fé na misericórdia divina reaviva aquele artigo do credo onde rezamos: “creio na remissão dos pecados”. A misericórdia nos enche de esperança em sermos novos e melhores, nos ajuda ordenar nossa vida, nos torna sensível ao sofrimento alheio, nos dá sabedoria para discernir o bem e o mal. A mais dura das guerras é aquela contra o pecado, pois, as tentações nos iludem e arrastam apresentando-nos vantagens, prazeres, sucessos, luzes que na verdade são iscas para nos destruir. As tentações vêm sempre sob aparência de bem, de luz, de glória. “Não nos deixeis cair em tentação” rezamos no Pai Nosso.
Graças à misericórdia bloqueamos a violência, colaboramos com a paz, convivemos com pessoas difíceis e respondemos ao mal com o bem. Amar os inimigos é a mais pura expressão da misericórdia e o caminho decisivo para a fraternidade e a paz. É próprio da misericórdia abrir os braços à miséria pessoal e alheia. Estes braços se abrem para nós de modo especial no sacramento da penitencia, onde a ovelha ferida é acolhida pelo Bom Pastor, cujo coração é rico em misericórdia.
Enfim, a misericórdia é uma bem-aventurança, isto é, é o caminho da alegria, da convivência familiar e social, da felicidade e do bem estar interior. A misericórdia nos permite adormecer profundamente, viver sadiamente, conviver alegremente, morrer docemente. Fixando os nossos olhos nos santos evangelhos descobrimos que a vida de Jesus é uma manifestação da misericórdia de Deus com os pecados, os pobres, os excluídos. Olhemos também para Deus, suspenso numa cruz, seu corpo perfurado pelas cinco chagas, seu coração aberto, tudo isso é o preço da misericórdia que nos resgatou.
Os médicos, os psicólogos, os advogados e pastores sabem que a misericórdia é remédio, é cura, é solução dos piores problemas da humanidade. Os sacerdotes, nos confessionários, são testemunhas do poder da misericórdia e dos milagres da conversão e o início de uma vida nova. Nesta quaresma do Ano da Fé, entreguemo-nos nos braços da misericórdia, experimentemos a ternura e o calor do amor de Deus. Procuremos retribuir amor, abrindo nossos braços aos irmãos.
Dom Orlando Brandes
Quaresma, encontro com Jesus

Quaresma não é tristeza, é decisão de vida. Não é rosto fechado, melancolia, senso de culpa, é oportunidade de encontro, de olhar para cima através da oração, olhar para o lado através da esmola, olhar para dentro de si por meio do jejum. Quaresma é chance de encontro consigo mesmo, com os outros, com Deus. Toda, a liturgia e espiritualidade quaresmal é cristocêntrica, é tempo especial para um encontro vivo decisivo, definitivo com Jesus Cristo.
A paixão de Jesus oportuniza uma vinculação com Ele e a causa pela qual morre executado. Aumenta nossa fascinação por Ele, o Inocente condenado, aquele que passou fazendo o bem e foi rejeitado. No tempo da quaresma nos é dado fazer uma experiência única de conhecimento e apaixonamento quando contemplamos o sangue, as chagas, o coração transpassado, as injurias, a tortura, o rebaixamento pelos quais Ele passou. Podemos fazer uma experiência que se torna um acontecimento inesquecível em relação à cruz de Jesus, a nossa cruz e a cruz da humanidade.
Quaresma não é muito pensar, mas, muito amar, muito crer, muito meditar. O Evangelho da paixão do Senhor cativou a humanidade e transformou perversos em santos, fracassados em reabilitados, perdidos em renascidos. A Paixão do Senhor nos torna apaixonado por Ele e pelo próximo, porque o Pai revela o máximo de seu amor misericordioso.
A paixão causa assombro, impacto, descobertas e faz crescer nossa amizade com o Filho de Deus, que experimenta o silêncio do Pai, as tentações do Maligno, a grandeza dos discípulos, a zombaria do poder religioso, a prepotência do poder político. Tudo, isso, cria afinidade, sintonia, simpatia, atração por Jesus, verdadeiro Deus, verdadeiro homem, benfeitor da humanidade.
A paixão de Jesus convence, porque Ele é o amor de Deus, é o rosto e a personificação do amor de Deus. Nele temos um potencial de luz e esperança. Sem Jesus o mundo seria mais desumano do que é. O seu sangue arrebatou um exército de mártires, confessores, virgens, profetas, missionários e santos. Jesus é atraente e surpreendente. Não teve medo do conflito e pagou alto preço para nos libertar de enganos, egoísmos, medos.
A quaresma facilita maior familiaridade e intimidade com Jesus de Nazaré. Conquistados e cativados por Ele, cheios de admiração assumimos seu estilo de vida, seus pensamentos e afetos, seus critérios e valores. Mais ainda, nos propomos a aceitar o destino de Jesus, a morte de cruz. O bom ladrão, o centurião romano, Cirineu, Verônica, os filhos de Jerusalém, deixaram-se tocar e transformar vendo o jeito sereno, filial, obediencial de Jesus. Sempre fiel ao Pai e sempre compassivo e solidário com os outros. Jesus é a vitima que vai vencer, é o perdedor que vai ganhar, é a pedra rejeitada que se torna a pedra angular. Ele é o último que se tornou o primeiro.
Na quaresma podemos meditar sobre esta pergunta. Que fiz que faço, que farei por Jesus? Que bom se conseguirmos confiar no Pai que Ele confiava, crer no amor que Ele acreditava defender a vida como Ele defendia. Jesus marcou a história da humanidade, trouxe mais humanismo, mais sentido, mais esperança. Deixemo-nos surpreender sempre de novo por Jesus de Nazaré e teremos mais razões para lutar pela justiça, para usar de compaixão com os fracos e viver com alegria.
A quaresma quer nos mobilizar e entusiasmar por Jesus Cristo, despertar o desejo de segui-lo porque Ele mesmo é a melhor noticia a melhor pessoa, a melhor estrada. Ele é a verdade, caminho e vida, ontem, hoje e sempre.



Dom Orlando Brandes
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