Teológico Pastoral

Teológico Pastoral

sábado, 31 de agosto de 2013

Homilia Dominical - 1 de Setembro de 2013

 Os Primeiros lugares

Estamos no mês da BIBLIA.
Ela sempre é uma luz em nossa caminhada.
Hoje ela nos fala de uma virtude muito admirada
por Deus e pelos homens: a HUMILDADE.

Na sociedade de hoje, é muito comum a procura dos PRIMEIROS LUGARES,
no campo político, social, profissional e outras atividades,
Isso cria muitas vezes um clima de concorrência e competição,
de ódio e conflitos. O que vocês pensam a respeito disso?

As leituras bíblicas nos propõem um caminho diferente:
o caminho da HUMILDADE e da GRATUIDADE...

A 1a Leitura fala da virtude da HUMILDADE,
para ser agradável a Deus e aos homens,
para ter êxito e ser feliz. (Eclo 3,19-21.30-31)

* O texto propõe o caminho da humildade
como forma de "encontrar graça diante do Senhor. 
A humildade nasce da constatação de que "o poder de Deus é grande".
Fazer-se pequeno é reconhecer a grandeza de Deus e confiar nele.

A 2ª Leitura afirma que a vida cristã exige de nós
determinados valores e atitudes, entre os quais
a humildade, a simplicidade, o amor... (Hb 12,18-19.22-24a)

o Evangelho mostra que Jesus veio criar uma nova humanidade,
fundamentada no espírito da humildade. (Lc 14, 1.7-14)

Jesus é convidado a um banquete na casa de um fariseu... e aceita...
Mas fica profundamente impressionado com duas coisas, que observa:
a corrida pelos primeiros lugares e o tipo de pessoas que foram convidadas.
E conta duas pequenas PARÁBOLAS:

+ A 1ª é para os convidados que escolhiam os primeiros lugares:
Aquele que ocupou o primeiro lugar teve de cedê-lo a um mais importante. Aquele que ocupou o último lugar foi convidado para um lugar melhor.
E Jesus conclui:
"Quem se exalta será humilhado e aquele que se humilhar será exaltado".

+ A 2ª é para quem convidara:
   "Quando deres uma refeição,        não convides os que poderão te retribuir...
    Pelo contrário, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos...
   Terás uma recompensa na ressurreição dos justos..."

= Resumindo: Jesus propõe duas atitudes:
     - Na escolha dos lugares:        HUMILDADE...
     - Na escolha dos convidados: GRATUIDADE: Amor sem interesses...

1. O que Jesus observaria hoje?

Na Sociedade, há ainda hoje pessoas correndo atrás dos primeiros lugares?
- Escolhendo o trabalho que lhes dê mais lucro...
- procurando lugares que dêem destaque, status e importância;
- preferindo ocupações onde possam ter poder sobre os demais;
- ou ficando decepcionadas, quando ninguém lhes dá o "devido lugar?"

 Na Igreja, também existe a corrida pelos primeiros lugares?
A Igreja deve ser a comunidade onde se cultivam a humildade,
a simplicidade, o amor gratuito e desinteressado.  - Mas de fato, é assim?
Ou assistimos às vezes uma corrida desenfreada pelos primeiros lugares:
pessoas cuja ambição se sobrepõe à vontade de servir…
Buscam títulos, honras, homenagens, lugares privilegiados,
e não o serviço humilde e o amor desinteressado.

- Na catequese, que Lucas nos propõe hoje, fica claro que as relações
entre os membros da comunidade de Jesus não se baseiam
em "critérios comerciais", mas sim no amor gratuito e desinteressado.
Só assim todos, inclusive os que não têm poder, nem dinheiro para retribuir,
terão aí lugar, numa verdadeira comunidade de amor e de fraternidade.

- Como é bonito numa Comunidade, onde há humildade... solidariedade... sintonia entre as diversas Lideranças, Pastorais e Movimentos...
Não gastaríamos então tantas energias em pequenas implicâncias
e disfarçado espírito de competição...

Na Política, existe também a corrida pelos primeiros lugares?
E essa corrida é um desejo sincero de serviço pelo bem do povo
ou uma busca de vantagens para pessoas ou grupos?
- Para garantir os primeiros lugares, podemos fazer uso de qualquer meio?

2. Quem são os NOSSOS convidados?

- Na Sociedade de hoje, costuma-se convidar quem garanta
  lucro... recompensa... poder... fama... posição social... elogios...
- Jesus nos convida a uma atitude de GRATUIDADE...

* Quando prestei um favor a gente simples,
   sempre gostei de ouvir de uma expressão: "Deus lhe pague!"
   Sim, o próprio Deus se torna o nosso grande FIADOR...

Mês da Bíblia
Com o lema "Alegrai-vos comigo, encontrei o que havia perdido", somos convidados a celebrar mais um mês da Bíblia. O tema desse ano é o Evangelho segundo Lucas sob o prisma do discipulado-missionário, conforme o enfoque do Projeto de Evangelização: O Brasil na missão Continental e os cinco aspectos fundamentais do processo do discipulado: o encontro com Jesus Cristo, a conversão, o seguimento, a comunhão fraterna e a missão propriamente dita.



                                Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 01.09.2013

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Oração da Liturgia dominical de 1 de setembro

MESA: tão simples e tão provocativa

“Quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos”.  (Lc 14,14)

Uma das chaves de compreensão da pessoa de Jesus é a relação d’Ele com a “mesa da refeição”.
Em todos os encontros de Jesus com os excluídos do Reino, Ele sempre os incluiu em suas refeições.
Essa foi a sua atitude que mais causou espanto e escândalo: a partilha nas mesas com pobres e pecado-res. Para Jesus, a mesa é para ser compartilhada com todos; a partilha do pão com publicanos e pecadores fazia parte das práticas transgressoras de Jesus.
Comendo e bebendo com todos os excluídos, Jesus estava transgredindo e desafiando as formalidades do comportamento social e das regras que estabeleciam a desigualdade, a divisão, a separação...
Jesus revelava uma grande liberdade ao transitar por diferentes mesas; mesas escandalosas que o fazi-
am próximo dos pecadores, pobres e excluídos. Ele não só transitou por tantas mesas, mas instituiu a grande mesa para a festa, a intimidade, a memória: a “mesa da Ceia Pascal”.

A partir do compromisso de Jesus com a “mesa da vida”, nossa refeição à mesa nunca mais foi a mesma, pois Ele elevou  e plenificou de sentido da mesa-refeição.
A humanidade descobriu junto à mesa o melhor jeito de se encontrar para celebrar a vida, reconstruir relações mais saudáveis, romper as distâncias e superar as desigualdades.
Em muitas culturas, a mesa da refeição é, ainda, o lugar mais importante da casa.
Para a “mesa da refeição” convergem todos os encontros; ela é o centro para onde se voltam mentes e corações e não apenas estômagos vazios; ela se torna o grande palco da vida e  nesse palco todas as histórias pessoais e coletivas são recontadas, revividas e revitalizadas, dando sentido à vida cotidiana.
Em cada encontro uma surpresa, uma riqueza revelada para os que se aventuram dela tomar parte.
O “pôr-se-à-mesa” é mais do que aproximar-se da fonte da alimentação. É procurar a comunhão, a união, o convívio. Por isso, os que se assentam junto à mesa são “comensais” (companheiros de mesa).
A mesa tem o poder de romper fronteiras e hierarquias, pois quem dela se aproxima é bem-vindo por ser pessoa, gente, e não por ostentar títulos, status... A mesa é sempre oblativa, acolhedora, congrega as diferenças, quebra as hierarquias sociais...
A mesa funciona, então, como oportunidade ou lugar privilegiado, onde se elabora e se vive um encontro de profundidade. A mesa faz a família, reforça a fraternidade, intensifica a amizade.

Podemos afirmar que, partindo da “espiritualidade da mesa”, em torno do gesto de comer em comum, desvelamos um “modus vivendi” de um determinado povo, sua vida, seus hábitos e seu jeito de ser.
A nossa conduta numa refeição revela também o nosso agir social. Nesse encontro, nós comensais, vamos tecendo relações sociais de diálogo, de projetos, de compromissos...
Em última instância, o que nos reúne junto à mesa não é o simples fato de poder comer; existe, antes, algo que nos mantém unidos: um ideal, uma amizade, um laço de família, uma função comum, um acontecimento... Supõe-se que reine entre nós um conhecimento mútuo, ou ao menos um desejo profundo de estreitar laços de amizade.
Nós nos aproximamos da mesa como quem está diante de um território sagrado, porque sagrados são os alimentos e quem deles se alimenta.
À “mesa da refeição” encontramos pessoas abertas, lúcidas de seu momento, que não se deixam abater pelos fracassos e nem mesmo pelo sofrimento. São pessoas capazes de partilhar, de falar de si, de suas alegrias, conquistas, sonhos, mas também de suas dores, desânimos e cansaços.  Essas pessoas buscam, junto à mesa, alimento para a vida; elas tem fome de algo para além do pão da mesa.

O nosso hábito de fazer refeição também revela traços de nossa personalidade e de nossos comportamen-tos cotidianos. O nosso modo de estar à mesa revela nossas habituais atitudes no relacionamento com os outros. A mesa é também lugar de denúncia de nossos fechamentos, de nossas pressas, de nossas resis-tências ao diálogo, de nossos medos, de nossa dificuldade em acolher o diferente...
Outras “mesas” desalojaram a mesa da refeição e ocuparam o lugar sagrado da partilha, da comunhão. Por isso, em muitos lugares e lares, a mesa esvaziou-se de sentido e passou a atender apenas a interesses mesquinhos, fazendo as pessoas conviverem tranqüilamente com a perversa dinâmica da exclusão.
A mesa pode ser corrompida e tornar-se o lugar de rupturas e de frieza. A mesa que funciona como estrutura hierárquica, como posição social, se torna pobre, dissimulada, falsa e até artificial.
mesas para tudo; mesas solitárias, mesas da corrupção, do poder, da exploração..., tudo o que envolve interesses, seduções, vaidades...
A frieza tomou conta das relações em torno à mesa; a ausência da ritualidade aumentou a distância entre seus participantes. Há uma verdadeira profanação da mesa ao ser transformada em lugar de conchavos sujos, negociatas interesseiras, tramas maldosas.

No Evangelho de hoje, somos convidados a adentrar-mos no território sagrado, consagrado, chamado “mesa da refeição”. Tão rica é essa mesa que sua espiritua-lidade, vista como manancial da vida, não exclui ne-nhum momento: situações tristes, felizes, momentos de sofrimento, de luta, de vitória...
Nesse espaço, onde o Eterno quer habitar, é que encontramos o bálsamo e o alívio para o nosso corpo e nossa existência psíquica e espiritual. Nessa fonte sagrada, o sofrimento pode ser compartilhado, a tristeza transformada em alegria, as trevas em luz, o desejo em realidade, a esperança pode ser reacendida.
É nessa mesa fecunda de alimentos que o Sagrado irrompe em meio aos nossos esquemas prévios, nos fazendo diferentes, separados da torrente massificante do dia-a-dia.
Ela nos sacia para voltarmos ao cotidiano, convictos de que não vivemos fechados nele, mas somos seres de passagem, em constante êxodo: “passar” da mesa de refeição como lugar onde matamos nossas fomes à mesa de refeição como espaço do sagrado.  A mesa, com seus cantos e encantos, tem uma mística; ela carrega, nas suas entranhas, a força de uma peregrinação, o impulso para fazer caminho.
A mesa é ponto de chegada e ponto de partida; é “lugar” de celebração e de envio, de festa e de missão.
Ao redor da mesa nos movemos, somos, existimos e nos descobrimos para além de nós mesmos.
É ela que nos humaniza, nos expande em direção aos outros, nos faz solidários e sensíveis, sobretudo àqueles que não tem acesso à mesa da vida (os pobres, os excluídos...)

Se o ativismo diário fragmenta nossa existência, a mesa pode tornar-se o lugar do religamento das dimen-sões humanas, dessacralizadas pelas variadas formas de violência, internas e externas.
Essa mesa bendita nos coloca em comunhão não só com o mundo exterior, mas também com o nosso mundo interior. Ela, como lugar do Sagrado, nos protege do estreitamento da vida cotidiana, que tende a nos consumir, a fragmentar nossa identidade pessoal.
Assim sendo, é da espiritualidade da mesa, da refeição e da festa que nós cristãos, devemos alimentar a nossa espiritualidade cotidiana. Mas, para isso, precisamos resgatar a mesa como espaço do sagrado, do encontro com o outro e consigo mesmo.

Textos bíblicos:   Lc. 14,1.7-14

Na oração:  É urgente sermos criativos o suficiente para superarmos os desafios, na esperança de que venha o
                    despertar da “nova mesa”, com gosto de pão, de vida fraterna, de compromisso...
Mesa criativa, solo de onde brota o alimento material, emocional, psíquico e espiritual em suas múltiplas formas, cores, aromas e sabores do Reino do Pão e da Festa da Vida.
- Quê lugar tem a mesa da refeição no cotidiano de sua vida familiar?




sábado, 17 de agosto de 2013

Homilia Dominica - 18 de agosto de 2013

  Um sinal no céu
Celebramos hoje a ASSUNÇÃO de Nossa Senhora.
Foi oficialmente declarada como Verdade de fé,
pelo papa Pio XII em 1950,
mas o fato já era aceito pela Igreja desde o início.
É um dos quatro dogmas marianos.
Lembramos que Maria, quando "adormeceu" no Senhor,
foi elevada ao céu em corpo e alma.
Seu corpo não sofreu a corrupção,
conseqüência do pecado original, que ela não teve.

As Leituras ajudam a aprofundar o sentido da festa de hoje:

A 1ª Leitura nos fala de um grande SINAL.  (Ap 11,19a;12,1-6a.10a)
Uma mulher apareceu no céu vestida de sol e coroada de 12 estrelas.
Apesar de perseguida pelo dragão, vitoriosa dá à luz um Filho...

* Esse sinal representa a Igreja: Maria é imagem da Igreja (novo Israel).
   Como Maria, a Igreja gera na dor um mundo novo.
   E como Maria, participa na vitória de Cristo sobre o Mal.

Na 2ª Leitura, Paulo fala da participação no mistério da Ressurreição:
primeiro Cristo e depois os que são de Cristo... (1 Cor 15,20-27)
A Mãe de Deus tem lugar privilegiado no grande movimento da Ressurreição.

* Maria Nova Eva: Novo Adão, Jesus faz da Virgem Maria uma nova Eva,
   sinal de Esperança para todos os homens.

No Evangelho, Isabel proclama Maria bem-aventurada. (Lc 1,39-56)

Pela Visitação, na Judéia, Maria levava Jesus pelos caminhos da terra.
Pela Dormição e pela Assunção, é Jesus que leva a sua mãe
pelos caminhos celestes, para o templo eterno, para uma Visitação definitiva.

* Maria Mãe dos crentes: Cheia do Espírito Santo, ela ACREDITOU...
Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada.

O texto apresenta uma CATEQUESE:

+ "Entrou na casa de Zacarias e SAUDOU Isabel...

     Ouvida a SAUDAÇÃO, Isabel exultou de alegria"


   - A saudação usada é "Shallon", que significa Paz...
     Para os judeus é o resumo dos bens prometidos por Deus ao seu Povo.
     Nos lábios de Maria, significa: o Messias esperado já chegou...

    * Maria leva com Jesus a Paz, a Alegria...

+ "Bendita és tu entre as mulheres..."

   - Saudação dirigida a Jael e Judite, no Antigo Testamento...
     Maria também pertence à categoria dos instrumentos frágeis e pobres,
     com que Deus se serviu para realizar as suas maravilhas...

+ "Donde me vem a honra de vir a mim a Mãe do meu Senhor?"

   - Palavras de Davi, quando recebeu a Arca da aliança em Jerusalém.
     Maria é a nova Arca da Aliança.
     Desde que Deus escolheu fazer-se homem,
     não habita mais em construções de pedra, em um templo,
     em um lugar sagrado, mas no ventre de uma mulher.
     O Filho de Maria é o próprio "Senhor".

 * Levar o Senhor dentro de si não é um privilégio reservado a Maria.
    Cada um de nós é chamado a ser, como Maria, uma "Arca da Aliança",
    com a tarefa de levar o Senhor aos homens.

* Existe um SINAL evidente que permite verificar
   se os cristãos de hoje são "arca da aliança": é a ALEGRIA.
   Maria onde chega, provoca uma explosão de alegria (Isabel... em Belém...):
    - A nossa presença nos diversos ambientes...
       provoca alegria ou às vezes é motivo de tristeza?
   - As comunidades comunicam alegria e esperança?
   - Os pobres e marginalizados exultam de alegria em nossos encontros?

+ "Bem-aventurados és tu porque acreditaste..."

   É a primeira bem-aventurança no evangelho de Lucas...
   Maria é bem-aventurada não porque viu,
   mas porque ACREDITOU na Palavra do Senhor.

* FÉ autêntica funda-se na escuta da Palavra e
   se manifesta na adesão incondicional a essa Palavra...

Nesta festa, Maria nos ensina um tríplice segredo:
- O segredo da : "Eis aqui a serva do Senhor".
- O segredo da ESPERANÇA: "Nada é impossível para Deus".
- O segredo da CARIDADE: "Maria pôs-se a caminho..."

+ "Minha alma glorifica o Senhor..."

   - O CÂNTICO DE MARIA descreve o programa de Deus,
     que ele começou a realizar desde o início,
     que prosseguiu em Maria e que cumpre agora na Igreja.

   - Palavras que lembram o "Canto de Ana", Mãe de Samuel...
     É um canto composto depois da Ressurreição de Cristo,
     inicialmente atribuído à "Virgem ISRAEL": pobre, humilhada,
     desprezada pelos povos vizinhos, mas agora glorificada...

     * Nos lábios de Maria: Ela é a Virgem Israel, porque dela nasceu o Salvador.
        É um grito de alegria, de gratidão e de esperança...

Alegremo-nos pela glorificação de Maria e pela ESPERANÇA
de nossa própria Glorificação. Um dia poderemos estar lá, onde ela já está...

No dia dedicado aos "RELIGIOSOS", Maria é apresentada
como Modelo de pessoa consagrada e um "Sinal" de Deus no mundo de hoje.

                              Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 18.08.2013

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

DUAS MÃES, DOIS HINOS

“Maria entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel” (Lc 1,40)

A festa da Assunção nos revela que em Maria realiza-se a situação final, situação prometida a toda humanidade: “ser um dia de Deus e para Deus”; Maria o é desde o início (imaculada) até o final (assunção), através de uma fidelidade de toda a sua vida.
Maria foi “assunta ao céu” porque “levantou-se apressadamente” em direção ao serviço; ela foi “assunta” porque assumiu tudo o que é humano, porque “desceu” e se comprometeu com a história dos pequenos e marginalizados. Maria foi glorificada porque se fez radicalmente “humana”. Por isso, Deus a engrandeceu plenamente.
Crer na Assunção de Maria implica crer na exaltação dos pequeninos e humilhados, dos pobres esquecidos, dos injustiçados sem voz, dos sofredores sem vez, dos abandonados sem proteção, dos mise-ricordiosos descartados, dos mansos violentados...

O Evangelho de hoje nos aponta que, quando Deus entra e atua na história das pessoas, Ele as move para irem “apressadamente” ao encontro dos outros, para serví-los nas suas necessidades, para comunicar a alegria pela salvação recebida, e para alegrar-se com os outros pelas graças que eles receberam.
Depois de receber o chamado de Deus, anunciando-lhe que seria mãe do Messias, Maria se põe em marcha, sozinha.  Quem foi “agraciada” por Deus não fica só contemplando as maravilhas que Deus realizou nela, mas sai para proclamá-las. Quem tem consigo o Salvador não pode guardá-lo só para si.
Começa para Maria uma vida nova, a serviço de seu Filho. Ela marcha “apressadamente”, com decisão; sente necessidade de compartilhar sua alegria com sua prima Isabel e de colocar-se o quanto antes a seu serviço. Sua “pressa” está dinamizada pelo fervor interior, pela alegria e, sobretudo, pela fé.

Tudo acontece numa aldeia desconhecida, nas montanhas de Judá. Duas mulheres grávidas conversam sobre o que estão vivendo no íntimo do coração. São elas que, cheias de fé e do Espírito, melhor captam o que está acontecendo. A Visitação realiza o encontro entre a mãe do precursor do Messias e a mãe do Messias, e no entanto, tudo se desenvolve numa casa normal, entre gente simples, na árida região monta-nhosa da Judéia. A atmosfera é de alegria. A Palavra de Deus adentra a intimidade e o calor familiar de uma casa, e anuncia um evento glorioso e universal.
O encontro das duas futuras mães é uma cena comovedora. Não estão presentes os homens. Zacarias ficou mudo. José está surpreendentemente ausente. Somente duas mulheres simples, sem nenhum título, nem relevância na religião judaica ou social, ocupam toda a cena. Maria, que leva consigo Jesus a todas as partes, e Isabel que, cheia do espírito profético, se atreve a bendizer a sua prima sem ser sacerdote.
Maria entra na casa de Zacarias, mas não se dirige a ele. Vai diretamente saudar a Isabel. Há muitas maneiras de “saudar” as pessoas. “Saudar” é despertar a saúde (o que é sadio, vivo) no outro. Com sua saudação, Maria traz paz e a casa se enche de uma alegria transbordante. É a alegria que Maria vive desde que escutou a saudação do Anjo: “Alegra-te, cheia de Graça”.

Todo o Evangelho da infância está envolto em um clima de oração, o qual se espalha como uma brisa que penetra e interpreta todos os acontecimentos. Os cânticos presentes no texto de Lucas exercem a função de interpretar  a história, penetrar os segredos da ação de Deus, consolar e revelar.
Feliz o povo em que há mulheres que acreditam, portadoras de vida, capazes de irradiar paz e alegria; mulheres que transmitem fé a seus filhos e filhas.

A oração de Isabel (Lc 1, 42-45): trata-se de uma proclamação; a verdadeira oração não é principal-
                                                       mente expressão de um sentimento, mas celebração e reconheci-mento da ação  de Deus nos pobres e nos humildes. Deus está sempre presente na origem da vida. As mães, portadoras de vida, são mulheres “benditas” pelo Criador: o fruto de seus ventres é bendito. Maria é a “bendita” por excelência: com ela nos chega Jesus, a bênção de Deus ao mundo. O Pai, através do instrumento frágil de uma mulher, ignorada pela sociedade oriental, apresenta ao mundo a sua Salvação.
O grito de alegria de Isabel expressa, com o pulo de alegria de João, a chegada da Salvação que entra na nossa história através de Maria. É um convite a todos para que se unam ao seu louvor e à sua alegria.
As palavras de Isabel são a primeira profissão de fé em Jesus como Messias, isto é, como “Cristo”.

Magnificat: (Lc 1,46-55) Contra uma concepção cada vez mais “consumista” do mundo, contra o triun-
                     fo do possuir, do ter, da escravidão das coisas, o Magnificat exalta a alegria do partilhar, do perder para encontrar, do acolher, do admirar, da felicidade da gratuidade, da contemplação, da doação.
Nenhum outro texto nos revela de maneira tão densa e tão profunda a vida interior de Maria, os pensa-mentos e os sentimentos que invadem sua alma, a consciência de sua missão, sua fé e sua esperança, sua experiência de Deus, enfim.
Maria canta agora a realização das esperas e das esperanças cantadas, nas horas de júbilo e nas horas de pranto, pelo povo de Israel; ela fundamenta-se na esperança-certeza da fidelidade amorosa de Deus.
O Magnificat, na sua estrutura fundamental, é o canto das escolhas caprichosas de Deus, que tem um “fraco” pelos pobres, por todos os infelizes e os oprimidos; poder e riqueza não gozam de nenhum prestígio aos seus olhos.
Ali há a convicção de que Deus reverterá a sorte desta invertida história humana. O poder e a riqueza foram derrubados, são ídolos mortos.
A oração de Maria traz à tona as grandes coisas rea-lizadas por Deus, seus atos salvíficos, sua fidelidade, sua palavra eficaz, seus atributos fundamentais, que Maria reúne na trilogia poder-santidade-misericórdia.

Como fazer esta contemplação?
                                                 Quem ocupa o centro da cena, do começo ao fim, é a figura de Maria. Nela devem concentrar-se, portanto, nosso “olhar, escutar, observar”.
Por isso, talvez, o melhor modo de fazer esta contemplação seja o que propõe S. Inácio no “segundo modo de orar” (EE. 249-257), isto é, “contemplar o significado de cada palavra” ou frase, demorando-se “na consideração dela (da palavra ou frase) tanto tempo quanto nela encontrar significações, comparações, gosto e consolação, em considerações relacionadas com a mesma” (EE. 252).

Pedir a graça:  Ao longo da oração devemos pedir que as palavras de louvor e de libertação cantadas
                          por Maria penetrem no nosso coração e produzam frutos de conversão, de alegria e de gratidão; devemos pedir especialmente a graça de louvar a Deus, de cantar com um coração transbordante de júbilo, pela salvação recebida.
Peçamos também que as palavras do Magnificat transformem nossos valores, nossas atitudes e nossas práticas na linha da justiça e da misericórdia do Evangelho do Reino, proclamado por Jesus e antecipado no cântico de sua mãe.
Rezar as “marcas salvíficas” de Deus na própria história pessoal.

Gesto: no interior, ainda se conserva o hábito de “fazer visitas” (visitar famílias, doentes...); é preciso recuperar
               este gesto tão humano e humanizador. Nos grandes centros vivemos fechados em apartamentos, con-
               domínios, com um arsenal de segurança, impedindo a aproximação até dos parentes.

sábado, 10 de agosto de 2013

 
CARTA AOS PAISDom Orlando Brandes

         Estimados pais, o segundo domingo de agosto é dedicado a vocês. Aceitem esta festa porque é um gesto de gratidão, admiração, compreensão e oração por vocês. Se esta festa não existisse precisaríamos criá-la, pois, tal é a necessidade que as pessoas e a sociedade têm da pessoa do pai.
         Vocês são o rosto de Deus Pai do qual vem toda paternidade. Ninguém nasce sabendo ser pai, nem mesmo é fácil assumir esta missão. Trata-se de uma arte, uma sabedoria, uma tarefa marcada por sacrifícios e alegrias. Como é necessário o colo, o abraço, a presença, o tempo, a fé, e a orientação paterna.
É comovente a gente ver o pai ao lado da esposa e perto dos filhos. O pai livra o filho da dependência da mãe, indica rumo e direção na vida, é esteio e ponto de referência na família. Sem você pai, crescemos inseguros, tímidos, indecisos. Não vale a pena um pai ter sucesso financeiro e fracasso familiar. O maior tesouro e o capital mais precioso é a família. Pais, vocês são lideres, condutores, provedores, mestres, protetores da família. Nós queremos dizer-lhes que os amamos e queremos ajudá-los a serem bons pais.
No passado tivemos pais proibitivos, hoje temos pais permissivos, mas precisamos de pais participativos que sejam a fascinação de seus filhos, o pai herói, mesmo sendo limitado. Sabemos que vocês pais não são deuses, nem onipotentes, nem perfeitos. O que importa mesmo é o seu jeito de ser pai ao ponto dos filhos poderem dizer: “Eu quero ser como meu pai. Meu pai e eu somos um. Quero ser digno desse pai”.
Pai, como faz bem sua presença em casa e como prejudica a sua super proteção com dinheiro, presentes, liberdades sem limites aos filhos. O amor é exigente. Não troquem o lar pelo bar, pelo campo de futebol, pela empresa, pela internet ou pela televisão. A atual geração está crescendo com sensação de abandono, de orfandade, de ausência, de distância do pai . Hoje, nós pedimos a vocês, aceitem ajuda, procurem as soluções, desejem ser melhores. Nós sabemos que seus erros são “erros de amor”. Não duvidamos de sua vontade e reta intenção. Estamos conscientes que gerar um filho é fácil, difícil é ser pai desde a concepção, durante a gravidez e em todas as etapas da vida. Hoje se fala muito do “pai grávido” que compartilha e participa de todo o processo da gravidez e pela vida afora é companheiro e educador.
Está mudando o jeito de ser pai. Muitos ainda confundem o pai com o patrão, o reprodutor, o macho, o patriarca. Outros, porém, pensam que o pai é apenas um servo super-protetor que faz todas as vontades dos filhos. Criou-se também o “mito do pai perfeito” e assim muitos pais desanimam, se estressam e se omitem. A verdade é que pai ausente, filho carente. Pai permissivo, filho prepotente. Pai irreligioso, filho incrédulo. Pai profissional, filho consumista e folgado. Pai fraco, filho desnorteado, às vezes efeminado.
Queremos abraçar afetuosamente neste dia o pai migrante, o padrasto, o desempregado, o doente, o preso, o viúvo, o separado. Tanto o pai que alcançou a terceira idade, como o pai ainda adolescente, necessitam de nosso apoio e compreensão. Os filhos que sofrem a ausência do pai procuram segurança na religião, nas leis, nas instituições. Uns se tornam conservadores outros delinqüentes. Lembremos, porém, os conselhos bíblicos ensinam: “Aquele que respeita o pai obtém o perdão dos pecados, aquele que honra o pai, viverá muito tempo. Filho cuida de teu pai na velhice. O amor para com o pai, nunca será esquecido” (cf Eclo. 3).
Cada pessoa leva dentro de si o pai que a gerou ou adotou. A reconciliação com o pai através do perdão tem o poder de curar carências, ressentimentos e rejeições que sofremos. Um grande presente de aniversário a ser dado a nossos pais é o perdão. É um presente de preço inestimável. Quem não resolve seus problemas com o pai, vai repeti-los vida afora de diversas maneiras. Podemos solucionar todas as questões de antipatias e rejeição da autoridade através do perdão aos nossos pais. A você pai, parabéns, benção e gratidão.
Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina

Homilia dominical - 11 de agosto de 2013

Fé Vigilante

Muitas vezes estamos preocupados
com a realidade violenta em que vivemos
e temos a tentação de nos deixar levar pelo desânimo.
A Palavra de Deus nos anima: "Não tenhais MEDO..."
A fidelidade de Deus no PASSADO
é garantia de sua presença no PRESENTE.

Na 1ª leitura, encontramos a experiência de ISRAEL,
que gostava recordar a presença amorosa e libertadora de Deus no passado, 
para mostrar que era possível superar as dificuldades presentes. (Sb 18,6-9)

A leitura recorda a experiência do êxodo, da "noite" da libertação.
- Noite trágica de luto e extermínio para os egípcios que,
  tendo repelido a  palavra de Deus transmitida por Moisés,
  viram perecer seus primogênitos.
- Noite de alegria e liberdade para os hebreus,
  que, tendo crido nas promessas divinas, foram poupados
  e iniciaram a marcha libertadora para o deserto
  onde Deus os aguardava para estabelecer Aliança com eles.

* Rever o passado encoraja a comunidade a não parar,
   a olhar para frente, a ter esperança no futuro.
   Só a fidelidade aos caminhos de Deus gera vida e libertação.

Na 2ª Leitura, Paulo fala a experiência de ABRAÃO. (Hb 11,1-2.8-19)

Um exemplo de fé no PASSADO, para a Comunidade continuar firme,
apesar das dificuldades do PRESENTE...
    - Pela fé, obedece a Deus, deixa a pátria e parte para o desconhecido...
    - Pela fé, acredita ter um filho, apesar da idade avançada...
    - Pela fé, aceita a ordem divina de sacrificar Isaac.
    - pela fé, caminhou pela vida como peregrino, sem desanimar,
      de olhos postos na pátria definitiva...

* As dificuldades continuam ainda hoje,
no mundo, na pátria, nas famílias e nas comunidades.
São momentos em que não devemos desanimar...
Uma luz sempre se acende, diante de quem tem fé e esperança.

No Evangelho, temos a Experiência dos APÓSTOLOS. (Lc 12,32-48)

O texto continua o "caminho de Jerusalém"...
- Os apóstolos estavam com medo... eram poucos e fracos, num mundo hostil.
- Jesus lhes garante: "Não temais, pequeno Rebanho,
   porque é do agrado do Pai dar a vós o Reino".
- E os convida a uma VIGILÂNCIA permanente (na "noite"):
  "Vigiai... o Senhor pode chegar quando menos esperamos."
- Exemplifica essa verdade com 3 PARÁBOLAS:
. Os Servos que esperam o Senhor voltar do casamento
. O Ladrão que chega de surpresa
. O Administrador fiel...
- E conclui, respondendo à pergunta de Pedro: "Quem deve vigiar?".
  TODOS: sobretudo os Animadores da Comunidade cristã,
  que devem permanecer fiéis às suas tarefas de animação e de serviço.

A Comunidade cristã é pequena e frágil...
Por isso, os cristãos devem viver em permanente vigilância
dando primazia aos valores do Reino e aguardar a chegada do Senhor.

O Que nos diz esse evangelho, no dia dos pais?

- Talvez também vocês, PAIS, estão preocupados com o mundo,
  que os seus filhos estão enfrentando...
  Jesus lhes garante: "Não tenhais medo... tende uma fé vigilante..."
    > em DEUS... e nos FILHOS... mesmo nas falhas e limitações...
    > VIGILANTE: Sendo uma presença certa na hora exata...

Ser Pai não significa apenas gerar a vida,
mas acompanhar, vigiar, amparar, proteger a vida gerada.
É dividir com Deus a missão de criar, de gerar,
pois o Pai criador gerou a vida no mundo e
quis compartilhar essa tarefa com vocês...

E, Vocês, FILHOS, também estão preocupados com seus pais?
à "Não tenhais medo".
Todo pai é um lutador, que vence barreiras, que suporta e vence os obstáculos. Se os desafios existem, maiores são as forças para enfrentá-los.

Aos pais que desta vida já partiram, obrigado pelo exemplo de amor
que deixaram, como símbolo de sua existência neste mundo.

Que o Criador, nosso Pai, proteja todos os nossos pais.
Sem a sua presença, a vida seria mais triste, o mundo não seria o mesmo.

Nesse domingo, iniciamos no Brasil a Semana Nacional da Família...
com o lema: "A transmissão e educação da fé cristã na Família".

Tenho a certeza de que nas famílias, que viverem essa "fé vigilante",
haverá a Paz e Alegria, que todos nós desejamos encontrar...
.
+ Que tal nessa semana, em família:
    - REZAR juntos... algo ... todos os dias...
    - DIALOGAR um pouco mais:
       - O que está ajudando? - O que está prejudicando?

- Vamos rezar para que todas as nossas famílias possam ser
   aquela família que Deus quer...

                              Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 11.08.2013
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