Teológico Pastoral

Teológico Pastoral

sábado, 29 de setembro de 2012

Liturgia dominical - 29 de setembro de 2012


Celebramos hoje o DIA DA BÍBLIA. 
A Palavra de Deus sempre nos oferece uma luz
para as mais diversas situações de nossa vida.
Ela pode ser proclamada por quem Deus quer,
não é propriedade exclusiva de ninguém...

Na 1ª Leitura, vemos que a Palavra não é Monopólio de ninguém. (Nm 11,25-29)

- Moisés já idoso sente-se incapaz de continuar dirigindo o povo:
  "Sozinho não posso mais carregar esse povo".
- O Senhor lhe propõe a escolher 70 anciãos que,
  depois de ungidos pelo Espírito, o ajudariam nessa tarefa.
- Deus derramou o seu espírito sobre 70 anciãos,
  que se puseram logo a profetizar, mas não continuaram.
  E dois, que não estavam no grupo, começaram a profetizar…
- Josué vê nisso um abuso intolerável e propõe a Moisés:
  "Manda que eles se calem".
- Moisés, pelo contrário, alegra-se com o fato e afirma:
  "Oxalá todos recebessem o Espírito e profetizassem!"
  Moisés, longe de ter ciúmes, sente-se feliz
  em compartilhar com outros sua responsabilidade…
  O perigo é querer fazer tudo sozinho, ou pior não dar vez a ninguém…

* Em nossas comunidades, podemos também nos deixar levar
- pela tentação de Moisés de querer fazer tudo sozinho,
- ou pelo ciúme de Josué, de impedir o trabalho de quem não for do "grupo".

Pelo Batismo, todos recebemos a missão de ser profetas, sacerdotes e reis.
Todos somos chamados a falar em nome de Deus, anunciar o seu Reino.
Todos os batizados receberam a missão de santificar os ambientes
onde vivem e trabalham. Todos somos reis e devemos usar o poder
para cuidar com retidão de tudo e de todos como criaturas de Deus.

Na 2ª Leitura, Tiago denuncia o acúmulo de riquezas de alguns,
a custa da miséria de muitos. (Tg 5,1-6)

O Evangelho mostra que ninguém tem o Monopólio de Cristo. (Mc 9,38-43.47-48)

- Os apóstolos não conseguem expulsar o espírito mudo de uma pessoa...
- Pelo contrário, uma pessoa "fora" ao grupo consegue, em nome de Jesus...
- Os Discípulos, aborrecidos, manifestam sua insatisfação.
- JESUS rejeita o exclusivismo:
  "Não lhe proíbam... Quem não está contra, está a nosso favor".

As Leituras lembram DUAS VERDADES:

1) A PALAVRA de Deus não é monopólio de ninguém:
    deve ser anunciada por todos: "Oxalá todo o povo profetizasse"
2) O NOME de Jesus não é monopólio de ninguém:
     Mais do que pertencer ao grupo de Cristo,
     o importante é estar "em sintonia" com Jesus…
     No dizer do Papa: "Devemos ser amigos de Jesus, não donos".
     - As Igrejas separadas, que também falam em nome de Jesus,
        devemos combatê-las como inimigas,
        ou enxergá-las como possíveis parceiras no trabalho do Reino?

O REINO não pode ser um grupo fechado e fanático,
que se arroga a posse exclusiva de Deus e de suas propostas.
Deve ser uma comunidade que reconhece não ter o exclusivo
do bem e da verdade e se alegra com tantas pessoas,
que buscam a Deus com sinceridade,
praticam com lealdade o Bem, a Verdade e a Justiça,
mesmo sem pertencer ao "nosso" grupo.
- Por que ter inveja daqueles que cumprem gestos generosos
que talvez nós não tivemos a coragem para fazer?

Jesus não quer que sua IGREJA seja um gueto fechado,
mas um rebanho aberto a outras ovelhas,
que ainda não são do seu rebanho.
Deve estar sempre atenta aos sinais dos tempos,
para uma perene renovação, guiada pelo Espírito do Senhor...

- O apelo de Jesus no sentido de não "escandalizar" os pequenos
lembra a atitude que as pessoas e as comunidades devem ter
para com os "pequenos", os pobres, os que falharam, os que se afastaram,
os que têm fé sem profundidade, os marginalizados pela sociedade...
- O nosso testemunho leva-os a aderir a Cristo ou a afastar-se dele?

Os Donos da Igreja, o que fazer deles?
Em nossas comunidades cristãs, há pessoas
capazes de gestos incríveis de doação, de entrega, de serviço;
mas há, também, pessoas, preocupadas em proteger
o espaço de poder e de prestígio, que conquistaram.

São verdadeiros donos do santo e das coisas da comunidade.
Essas pessoas são responsáveis de muita gente se afastar da comunidade.
Só elas sabem, só elas são capazes, só elas dão o palpite certo.
Essa gente não está servindo à comunidade,
mas sim a si mesmo, a seu orgulho, a sua vaidade.
- Em nosso serviço na Comunidade, estamos protegendo
  os interesses de Deus, ou os nossos projetos e interesses?

Deus sempre se serviu de pessoas para anunciar a sua Palavra
e assim realizar os seus Planos de Salvação... 
- Sentimo-nos "donos" ou instrumentos da Palavra de Deus?

                                          Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 30.09.2012

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Formação humana

A sublime arte de pensar 

Uma das questões mais importantes para que se tenha uma autoestima adequada, equilibrada, é saber usar a mente para discernir, pensar, analisar, resolver os problemas. Pensar é uma arte, e quem não pensa, certamente não saberá para onde vai o barco da sua existência. Quem não pensa é facilmente direcionado pelos outros, para lugares que jamais ele iria, caso tivesse o uso normal da razão.
Dizia um grande escritor, e com propriedade: ‘pensar é um dos maiores prazeres da raça humana’. Concordo plenamente com essa afirmação, pois quando sabemos utilizar bem o nosso pensamento, acabamos tomando decisões certas, na hora certa. Já ouvi muita gente dizer, ‘se eu tivesse pensado não teria feito isso...’, porque na verdade a pessoa foi levada simplesmente pela emoção do momento. Quem age movido simplesmente pela emoção, dissociado da razão, acaba fazendo loucuras. Para mim, o uso exclusivo da emoção, sem o auxilio e complemento da razão, é como um carro desgovernado, que acaba indo para o precipício.
Muitas pessoas tem preguiça de pensar, e veem nesse ato como algo muito pesado e exigente. Para eles pensar é perder tempo, e o negócio é viver o momento, é curtir no aqui e agora, sem perspectivas de futuro. Observamos isso em tantas pessoas, que não se preocupam com o amanhã da sua existência. Não tem projetos, não tem sonhos, e acabam vivendo por viver. É realmente muito triste essa constatação, mas é a pura verdade em tantas pessoas, sobretudo naqueles mais jovens.
A razão nos faz parar, pensar, analisar, discernir, para tomar a melhor decisão. A mente é uma ferramenta indispensável para a construção de uma autoestima saudável. Não basta apenas um estar bem, um gostar de si mesmo, se este não estiver ancorado em algo mais sólido, como resultado de um bom discernimento. No fundo, o que dirige a vida de um ser humano, é a sua consciência. Para o drogado, para alguém que se deixa levar pela pura emoção, a consciência é a sua grande inimiga. Ele não quer parar para refletir, analisar a sua ação, e acaba se envolvendo em tumultos e discussões.
Hoje em dia está muito em voga a questão emocional. ‘Sinto, logo existo’, deu lugar àquilo que um grande filósofo francês definiu como o cerne do ser humano, ‘penso, logo existo’. Com certeza, nenhuma e nem outra, quando caminhando de modo unilateral, são a resposta para uma vida equilibrada. A emoção e a razão devem caminhar de mãos dadas, e não como grandes inimigas entre si.
O pensar dissociado do emocional pode criar pessoas frias, autoritárias, defensivas e calculistas. Costumamos chamar essas pessoas, como seres sem emoção e sem vibração. A emoção dissociada da mente pode criar verdadeiras desgraças no ser humano. Quem age apenas movido pela emoção do momento, sem pensar naquilo que faz, sofrerá consequências trágicas num futuro muito próximo. A emoção sem a presença da razão ela é doida, é extrema, e leva as pessoas a fazer verdadeiras loucuras. Na infância, torna-se essencial que os pais eduquem as crianças a pensar, e não a fazer todos os seus gostos e desejos. Isso terá consequências drásticas no futuro, pois uma criança que não é levada a pensar viverá uma adolescência inconsequente e terá uma vida adulta totalmente desequilibrada.
Tenho observado que essa é uma das áreas mais complicadas da sociedade atual, tão propensa a deixar que as pessoas sejam apenas movidas pelos seus impulsos, por seus instintos, sem o auxilio necessário e fundamental da razão. Autoestima apenas como um sentir-se bem, dissociada de um ato de consciência, é uma verdadeira mentira. Poderá ser algo prazeroso no momento, com consequências desastrosas no futuro. Portanto, não existe uma autoestima saudável sem o uso apropriado da razão. Na próxima edição continuaremos a nossa conversa sobre a autoestima. Grande abraço.
Dr. Pe. André Marmilicz

sábado, 22 de setembro de 2012

Homilia Dominical - 23 de setembro de 2012

QUEM É O MAIOR?
(Liturgia do Vigésimo Quinto Domingo do Tempo Comum)

A palavra de Deus na liturgia deste Vigésimo Quinto Domingo do Tempo Comum nos chama a atenção para o perigo das ilusões do poder, capaz de despertar no ser humano, sentimentos como a inveja. O desejo de poder, de reconhecimento e de grandeza acarreta situações e conseqüências danosas até mesmo entre os melhores amigos.
É denunciando esse perigo e suas conseqüências que a primeira leitura do livro da Sabedoria (2,12. 17-20) apresenta o modo de agir do pecador diante do justo.
O primeiro interpreta a lei ao seu gosto e a ridiculariza porque esta propõe um estilo de vida que ele não quer aceitar. Por isso vê na pessoa justa um ser perigoso por causa do seu testemunho e, movido pelos piores sentimentos, não suportando tal atitude, põe-se a perseguí-lo.
É por isso que a oração de hoje dirige a Deus uma súplica no Salmo 53 pedindo, sobretudo, que o Senhor interfira e transforme a situação de perseguição em que se encontra. É o que o leva a afirmar confiante: “É o Senhor quem sustenta a minha vida”!
O justo crê que vencerá o inimigo pela sua fé no Senhor e que Ele fará triunfar a Sua justiça. Então, o que vivia perseguido e injustiçado poderá render glória a Deus.
Continuamos lendo a carta de São Tiago (3,16-4,3) na segunda leitura. Ela nos avisa que, por mais que todos estejamos empenhados em viver a paz e até mesmo alcançar o sucesso, na maioria das vezes, não conseguimos porque fazemos guerra e somos incapazes de conviver e tolerar uns aos outros, principalmente porque cada qual se vê e quer ser o centro do universo. As desordens e o mal são inevitável entre nós, fruto da inveja e das rivalidades!
Está claro, portanto, que somente quando pudermos aceitar plenamente a sabedoria que vem de Deus, será possível viver em paz e colher os bons frutos das obras boas, porque os nossos corações serão por ela transformados.
No Evangelho de Marcos (9,30-37) Jesus está se dirigindo à Jerusalém, numa viagem que O levará à paixão-morte-ressurreição. O evangelista lembra isso através deste segundo anúncio da Paixão. Diante disso a incompreensão dos discípulos é grande e parece crescer cada vez mais, quando deveria esperar-se, justamente, o contrário.
O Evangelho a sublinha com o contraste entre Jesus que caminha para ser “o último dos últimos” na cruz e os discípulos que estão muito ocupados, discutindo sobre quem é o maior.
Conclui-se, assim, que a visão que tinham da “viagem messiânica” de Jesus a Jerusalém era, de fato, uma visão triunfalista e corresponde ao mesmo tipo de visão e de espera do povo hebreu da época.
Jesus veio para servir! O coração do Seu serviço à humanidade é constituído de Paixão e morte. Quem quiser seguí-Lo deve, sobretudo, imitá-lo nessa disponibilidade de serviço desinteressado. Quem quiser fazer parte desse projeto precisa deixar para trás a imagem do Messias triunfante, ligada ao poder e aos fortes, para acolher a imagem de um Cristo “fraco” entre os fracos e “pequeno” entre os pequenos. Contudo, é precisamente por causa dessa atitude e comportamento que Jesus é o verdadeiro filho de Deus, de acordo com a lógica divina. 
Marcos destaca que Jesus queria estar a sós com os discípulos porque estava ensinando. Trata-se de um ensinamento particularmente solene, como sublinha o evangelista, ao descrever Jesus como um Mestre na cátedra, em meio aos seus discípulos. É, de fato, aos doze, que Jesus se dirige. Este é um fato raro em Marcos que, geralmente, mostra Jesus falando à multidão ou apenas junto dos discípulos.
Os ensinamentos dirigidos aos doze constituem o coração da mensagem do Reino e caracterizam a Igreja. Os discípulos, contudo, assim como nós muitas vezes, não estão dispostos e nem abertos para acolher um anúncio que passa também pelo processo de sofrimento e morte, para depois chegar à ressurreição: “Os discípulos, porém, não compreendiam estas palavras e tinham medo de perguntar”.
Aliás, parece que querem evitar o “assunto”. O medo de perguntar não teria sua raiz numa resposta que já supunham e por isso mesmo, não querem aprofundar? Ou porque buscam uma coroa sem cruz, uma glória sem sacrifício e uma vitória, como tanto se anuncia hoje, sem o menor esforço?
Jesus, de fato, escolhe aqueles que serão “colunas” (Mc 3,13):Jesus subiu a montanha e chamou os que Ele quis; e foram a Ele”... e depois, os envia solenemente em missão: “Ele chamou os doze, começou a enviá-los dois a dois e deu-lhes poder sobre os espíritos impuros” (Mc 6,7).
Aqui temos a definição das condições basilares para a construção da Igreja. A primeira é o esforço concreto de cada um para colocar-se no último lugar, isto é, ser servo!
Jesus define, assim, a Sua Igreja não segundo uma lógica de poder e de hierarquia baseada no poder, mas ao contrário, segundo uma lógica de serviço e, conseqüentemente, propõe uma hierarquia baseada na disponibilidade de servir.
Por outro lado, esta é também a lógica normal sobre a qual se edifica a família. Na família quanto mais os pais se colocam na condição de serviço, de disponibilidade e de ajuda principalmente nas dificuldades e nos confrontos dos filhos, mais eles se tornam o verdadeiro centro e referência da vida da família.
Em família, na realidade, nos dirigimos espontânea e livremente na direção de quem se põe a serviço, na direção de quem age para o bem de todos. Na verdade é assim que se constroem de forma natural as hierarquias internas. Este é, certamente, um projeto exigente e que requer um profundo compromisso por parte de quem deseja colocar-se a serviço na difícil tarefa de conduzir o rebanho de Deus.
Significa compreender e colocar em prática a exigência de tornarem-se os últimos, os menores, como era o último na sociedade daquele tempo a criança, considerada apenas se fosse útil e quando podia servir.
Depois, era relegado a um canto qualquer, porque não merecia ter suas opiniões ouvidas pelos adultos e também porque as suas reivindicações não eram importantes e não tinham nenhum tipo de força para impor-se.  
Ao escutarmos a Palavra de Deus neste domingo, peçamos ao Senhor que, alimentando-nos na mesa da Eucaristia, tomemos consciência de que para os discípulos de Jesus existe apenas um caminho a seguir, para serem sempre os “primeiros neste mundo”, e para serem verdadeiros discípulos de Jesus: colocarem-se a serviço dos mais fracos e fazerem-se últimos, para partilhar as esperanças e os sofrimentos dos últimos. (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Website: www.inacianos.org.br).

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

formação humana

Cada ser humano é importante

Todo ser humano é importante, só pelo fato de existir. Ninguém veio a esse mundo por acaso, mas como um projeto de Deus para a construção de um mundo melhor. Quem não fizer a sua parte, certamente deixará um grande vazio, pois não terá comprido a sua missão, a qual é única e irrepetível.
Ser importante não quer dizer ser insubstituível, pois se eu não fizer algo, outro fará em meu lugar. Mas isso não quer dizer que eu não seja necessário e não tenha nenhuma importância. Eu sou chamado simplesmente a fazer o que me compete, e da melhor maneira possível. Não sou insubstituível no sentido de ser maior do que o outro, mas se eu não fizer a minha parte, ninguém a fará por mim. Dizia Einstein para aqueles que se consideram insubstituíveis, ‘o cemitério está cheio de pessoas insubstituíveis’, e apesar disso, a vida segue em frente. Somos importantes, e Deus quer contar com cada um de nós, mas não somos maiores do que ninguém.
Nesse sentido, cada pessoa tem a sua importância, e deverá deixar suas marcas únicas por onde passar. Quando quero me comparar com os outros, ou me coloco na atitude diminutiva, deixo de ser quem eu sou. Ou então, quando me coloco acima dos outros, também deixo de viver a minha originalidade. Eu não sou maior e nem menor do que ninguém, mas simplesmente devo viver aquilo que sou.
A pessoa que se coloca abaixo dos outros, demonstra a sua baixa autoestima, e vive se comparando. A comparação, com toda a certeza, é sinal de fraqueza e distanciamento de si mesmo. Quando me comparo, deixo de ser eu mesmo, único, especial, com um jeito próprio de ser e de viver.
Tem pessoas que olham para o outro, e sentem inveja das suas qualidades, dos seus valores, daquilo que transmite, e se sentem injustiçadas pois não tem os mesmos dotes e capacidades. Isso é sinal de que essa pessoa precisa voltar-se mais para dentro de si mesmo. Não é porque alguém é artista, jogador de futebol, famoso, conhecido, que é maior do que eu. Muito pelo contrário, quantas pessoas buscam valer por aquilo que representam e não por aquilo que são. O grande segredo de uma boa vivência, é a busca incessante de si mesmo, essa volta continua para o interior, a fim de viver a felicidade plena, e não ser superficial, movido pela fama e pelo sucesso.
A importância não advém do outro, dos seus elogios, embora seja bom um retorno para saber se estou no caminho certo ou não. É sempre bom ouvir os outros, sentir aquilo que eles tem a nos dizer, mas isso não pode ser fator determinante. Não são os outros o parâmetro do meu sucesso e da minha realização. Quantas pessoas dependem dos outros para viver, para seguir em frente, e quando são criticadas, sentem-se abaladas e por vezes desanimam da luta.
A verdadeira segurança provém de dentro, da experiência pessoal de sentir-me importante e necessário para esse mundo ser melhor. Quando a minha consciência me deixa em paz, é sinal de que estou no caminho certo. Ouço os comentários dos outros sobre a minha pessoa, mas eles não são determinantes. O que determina a minha vida é o encontro com o meu profundo, com a minha consciência e ela é que me deixa em paz.
Tem pessoas que se sentem tão inúteis, sem valor, sem importância, a ponto de quererem tirar a sua própria vida. Ou então, se colocam numa atitude depressiva, sem gosto para lutar e viver. Isso sim é sinal de que alguma coisa não está funcionando interiormente. A mudança vai depender da própria pessoa, pois ninguém dá a autoestima para ninguém, pois ela é uma experiência exclusivamente pessoal.
Cada um é importante, porque é diferente, e na diferença que está o sentido da criação divina. Caso fossemos todos iguais, seria uma verdadeira desgraça. Sou único, tenho a minha identidade, exatamente porque sou diferente. Seja feliz, e até a próxima.
Dr. Pe. André Marmilicz

sábado, 15 de setembro de 2012

Liturgia dominical - 16 de setembro de 2012

A LOUCURA DA CRUZ:
FIDELIDADE AO PROJETO DO PAI
(Liturgia do Vigésimo Quarto Domingo do Tempo Comum)

Vivemos num mundo aberto às diversas experiências do conhecimento. O progresso tecnológico abre um leque de possibilidades para se conhecer, alcançar, chegar às pessoas, culturas e lugares mais diversos, com rapidez e facilidade, nunca vistos antes.
A tecnologia nos surpreende a cada nova invenção. Nada parece bastar para que nos projetemos sempre mais para um futuro sem fronteiras e sem limites para um novo conhecimento.
Vivemos experiências das mais diversas, descobrimos sempre um pouco mais de um mundo novo e de uma nova humanidade.
Entre tantas viagens possíveis, há uma que permanece sempre insuperável. Trata-se da viagem rumo ao conhecimento de Deus.
Quando parece termos chegado perto de conhecê-Lo um pouco mais,  descobrimos que naquele ponto de chegada se abre um novo caminho, uma nova descoberta feita de perguntas, de riscos, dúvidas e incertezas.  É o que ocorre com Pedro e os demais discípulos.
O Evangelho de Marcos deste Vigésimo Quarto Domingo do Tempo Comum (8, 27-35) nos ajuda a caminhar nessa viagem. Aliás, nos faz alcançar uma etapa central dessa caminhada com a pergunta sempre antiga e sempre nova: “quem é Jesus”?
Depois da cura do surdo-mudo apresentado no domingo passado, Jesus tinha realizado uma segunda multiplicação dos pães, para cerca de quatro mil pessoas. E enquanto os fariseus discutiam sobre o Messias, os discípulos, juntamente com Jesus, tinham saído de barco, mas esqueceram de levar pães suficientes.
Esse “esquecimento” oferece a Jesus a oportunidade de ajudá-los a dar um salto de qualidade. Os discípulos, de fato, não podem pensar como os fariseus e como Herodes. Devem, ao contrário, tomar cuidado com esse “fermento”, mas devem também abrir os olhos e os ouvidos para compreender que, além do pão comido, existe um outro e único pão verdadeiro, isto é, o próprio Jesus.
Em Betsaida Jesus dá um sinal a mais! Abre os olhos do cego. Hoje, em Cesareia, abre os ouvidos dos discípulos, para depois, abrir-nos os olhos da fé.
Jesus faz isso através de algumas perguntas dirigidas a todos os doze. A primeira é mais generalizada, como uma sondagem de opinião: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem”? E as respostas são as mais variadas.
A segunda pergunta toca o coração de cada um dos discípulos. É quase impossível dar uma resposta genérica, ou fugir dessa pergunta: “E vós? Quem dizeis que eu sou”?  A pergunta soa como uma reviravolta na vida dos discípulos, como também na nossa, principalmente porque aqueles que responderem, se comprometerão! 
O coração duro, necessariamente tem que “amolecer”, diante dessa pergunta. Diante de tal pergunta, não se pode ficar “em cima do muro”. Necessariamente, temos que escolher, fazendo, nesse momento decisivo, uma opção!
O coração de Pedro, cheio do Espírito Santo lhe dá coragem e faz com que opte, respondendo: “Tu és o Messias”!  Esta resposta constitui um momento forte para o grupo dos doze. Um momento de intimidade que não pode ser ainda revelado à multidão. Certamente ao chegar aos ouvidos do Mestre, a resposta de Pedro provoca um momento de grande alegria porque, finalmente, Ele é publicamente reconhecido como o Messias.
Depois de ter presenciado que Jesus havia aberto os ouvidos e a boca de um surdo mudo, e também e os olhos do cego, Pedro, e com ele os outros onze discípulos, compreende que os seus ouvidos são abertos para uma Palavra que vem de Deus. Sua boca pode professar a verdadeira fé! Os olhos podem, finalmente, ver o rosto de Deus!
Diante do entusiasmo geral, parece que Jesus conclui que pode ir mais além, indicando o caminho que o espera: “... começou a ensiná-los dizendo que o Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei; devia ser morto, e ressuscitar depois de três dias”.
Mas é exatamente neste ponto que os discípulos tem um primeiro e novo obstáculo. Isto é, o caminho de Jesus, de agora em diante, será caracterizado pela Paixão e pela Cruz.
O Messias esperado é o Servo Sofredor do Senhor. Por isso a primeira leitura, do livro do Profeta Isaías (50,5-9ª), apresenta o terceiro dos quatro “cânticos do Servo Sofredor”.
A apresentação do Servo sofredor coloca por terra todas as aspirações messiânicas fundamentadas na ilusão do poder e avisa que o Messias não é um libertador qualquer, muito menos um líder político armado para realizar revoluções sociais, ainda que necessárias, mas é Aquele que toma sobre Si os sofrimentos de toda a humanidade, para libertar o homem por inteiro!
Mas como é possível?  Por que o Senhor terá que passar pelo caminho da Cruz? É o raciocínio de Pedro.  Quantas vezes nós queremos viver um Evangelho e um Reino sem cruz! E quantas vezes, assim como Pedro, pedimos, e às vezes até mesmo exigimos que Deus se dobre à nossa vontade, e não nós à Sua?
Por que Jesus tem que sofrer? Por que nós temos que passar pelo sofrimento? Que sentido então, tem a nossa vida?
A resposta de Jesus a Pedro é mais do que uma simples resposta. É um olhar que se estende a todos nós, diante dessa postura. É um olhar que contém um misto de misericórdia e de reprovação. Pedro, então, é convocado diante de todos e escuta a famosa frase da boca de Jesus: “Vai para longe de mim, satanás”!
É como se Jesus dissesse: “vá embora, saia, do meu caminho, não impeça o meu caminho, caso contrário, você se comporta e age como satanás, que quer impedir o projeto de Deus”.  
É também como um convite que se dirige a cada um de nós, para que caminhemos neste novo jeito de seguir o Mestre, não obstante a nossa dificuldade de compreender os projetos do Pai.
O seguimento de Jesus consiste no despojamento expresso no ato de renunciar a si mesmo, no pensar que a nossa vida tem sentido e significado profundo, somente se e quando nos confiamos totalmente a Ele.
Significa estar “atrás” dele no caminho, e não, na Sua “frente”! Seguir atrás dele, ir na direção dos seus passos, na certeza de seguir um rumo seguro, e que Ele não nos decepcionará jamais!
Nesse caminho, como em qualquer caminho ou qualquer viagem, levamos uma bagagem. No caminho do seguimento de Jesus, nossa bagagem é a Cruz. Ela é pesada, se permanecermos parados com ela sobre os ombros; é leve, se caminharmos seguindo a Cristo; onerosa, se nos sentirmos injustamente esmagados pelo sofrimento, sem confiança e sem esperança; é suave, se virmos nela não apenas mais um peso, mas um apoio, um convite a nos erguermos da terra e do chão para olhar, como Jesus, as coisas do Alto. 
A Palavra de Deus nos convida a olhar hoje paras pessoas que, na dificuldade do sofrimento físico ou moral, nos ensinam a carregarmos a cruz, com Jesus. Elas nos ensinam que, para ganhar a vida verdadeira, é necessário aprender a “perder”, de acordo com os valores do Evangelho. Nesse sentido, é importantíssimo crescer na sabedoria de que, às vezes, é preciso “perder” para ter e “morrer” para viver a vida verdadeira.
O tema da fé é retomado ainda na carta de São Tiago, na segunda leitura (2,14-18), num texto fundamental para a vida cristã. Trata-se da consciência de que a fé sem as obras é morta!
Como no domingo passado, hoje também a carta de São Tiago contém a proposta de um exemplo muito concreto. Apresenta-nos os irmãos que não tem o que vestir e nem o que comer e avisa-nos que não podemos nos contentar em dizer a eles apenas uma boa palavra ou fazer-lhes uma oração.
Como comunidade somos chamados a agir, dando-lhes roupa e alimento na emergência, mas não só. Somos chamados a dar uma ajuda concreta e que vai além do emergencial. Porque se a nossa fé não se exprime em obras, torna-se simplesmente conhecimento intelectual, inútil, à qual Tiago fará a comparação com a fé dos demônios, logo no versículo seguinte (2,19).
Neste ponto o texto da segunda leitura retorna a mensagem que nos é transmitida no Evangelho e nos ajuda a compreender que a profissão de fé de Pedro, adquire o seu valor somente quando compreendemos que é necessário carregar a Cruz com Cristo, levando até mesmo o peso dos outros, sobretudo dos mais pobres.
Deixemo-nos permear, corpo e alma, pela força do Sacramento da Eucaristia, para que em nós prevaleça sempre e fortemente a ação do Espírito Santo, para o seguimento fiel de Jesus Cristo. (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Website: www.inacianos.org.br).

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Liturgia

EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ:
DA ÁRVORE DO PECADO E DA MORTE À ARVORE DA SALVAÇÃO E DA VIDA
(Liturgia da Exaltação da Santa Cruz)
 
Hoje temos a graça de celebrar a festa da Exaltação da Santa Cruz.
A palavra “Cruz” é usada, à vezes, para indicar uma pessoa, uma coisa ou uma situação que somos obrigados a suportar. Algo ou alguém que nos traz sofrimento, sejam doenças ou problemas a carregar pelas estradas da nossa vida. Aliás, na linguagem comum é difícil descobrir um significado positivo para a cruz.
Mas o sinal da Cruz é uma das primeiras coisas que aprendemos desde pequenos e, apesar de lembrar o sofrimento, o repetimos muitas vezes, mesmo em condições, circunstâncias e momentos de festa e alegria como no Batismo, no Crisma, nos casamentos e até mesmo quando estamos à mesa para um bom e saboroso almoço festivo com a família ou com os amigos. Evidentemente, a Cruz também nos diz algo de bom e de positivo.
A Santa Cruz que hoje é exaltada e que está no centro de nossas celebrações, é a Cruz de Cristo. Ela não faz sentido por si só, mas sempre em relação. É a mesma que Jesus abraçou livremente por amor.
Trata-se de um mistério de amor e, portanto, a mais alta expressão do amor que nosso Deus teve, tem e sempre terá por cada um de nós.
Afinal, quem pode amar mais do que um pai ou uma mãe? Segundo o profeta Isaías, só o amor de Deus é mais forte que o amor materno. Este é o tipo do amor que Deus tem por nós e do qual Ele mesmo é constituído (Deus é amor).
É este amor que faz com Ele envie o Seu Filho. Este, como sabemos, obediente ao Pai, se fez homem e se “esvaziou” até a morte, a mais humilhante e infame, reservada aos piores delitos, a morte de cruz.
Escutamos na segunda leitura desta celebração (Fl 2,6-11), São Paulo que descreve exatamente esse “esvaziamento” de Cristo que, por ser de natureza divina, se fez homem, entregando-Se nas mãos dos homens para ser morto ou, como se diz em outra parte, “se fez pecado”.
Jesus na Cruz é “esmagado” pelo mistério do mal ao ponto de morrer! Mas é justamente assim que Ele vence o mal: “de dentro” do seu modo mais profundo de existir.
A esse itinerário de “esvaziamento” de Si, corresponde a ação de Deus Pai que, por isso, O exalta e O constitui Senhor de todas as coisas, estabelecendo que somente no nome de Jesus haja salvação.
A espiritualidade oriental tem muito a nos ensinar sobre o poder do nome de Jesus. Nas nossas orações constituídas, às vezes, de muitas palavras, podemos recorrer à simples e segura invocação do nome de Jesus, repetindo-o, meditativamente. É uma oração simples e eficaz, como a famosa expressão usada pela oração do coração: “Senhor Jesus, tem piedade de mim”! Trata-se de um pedido de salvação, aparentemente, superficial, mas ao mesmo tempo, profundo!
No Evangelho (Jo 3,13-17) desta liturgia da Exaltação da Santa Cruz, o próprio Jesus, ainda que não fale explicitamente de salvação, faz alusão, claramente, no seu diálogo com Nicodemos quando diz: “E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que, todos aqueles que nele crerem, tenham a vida eterna”.
Quanto à expressão “Filho do Homem”, é usada para se referir a Jesus, e o “ser levantado” a que se refere, obviamente, diz respeito à Sua crucificação e morte.
Está, portanto, estabelecido um paralelo com o Antigo Testamento: a serpente levantada na haste de madeira por Moisés, para que todos aqueles que por ela fossem mordidos e que a ela se dirigissem fossem curados dos seus pecados.
A simbologia é, de fato, muito rica e nos permite estabelecer ainda outro paralelo com o Antigo Testamento, mais precisamente com o livro do Gênesis, mencionado no prefácio da missa de hoje: “Pusestes no lenho da Cruz a salvação da humanidade, para que a vida ressurgisse de onde a morte viera. E o que vencera na árvore do paraíso, na árvore da Cruz fosse vencido”.
O Evangelho nos avisa que é crendo nesse Jesus “levantado” que se tem a vida eterna. Aquele que crê em Cristo Crucificado não morre, mas tem a vida eterna.
A expressão “Não morre”, aparentemente parece contradizer a experiência humana sensível, porque todos nós um dia morreremos. O “não morrer” a que se refere Jesus, só pode ser compreendido na ótica de uma fé que crê na vida do Céu na presença de Deus.
Refere-se à vida eterna. Isto é, àquela vida plena que começa já aqui na Terra, desde o Batismo, e que tem na morte uma passagem na direção do Pai que está nos Céus; um Deus no qual cremos, ao qual temos devotado toda a nossa vida, com confiança.
Este Deus não nos foi revelado por Jesus como um juiz impiedoso, mas fundamentalmente, como um Pai bondoso e misericordioso, cujo amor é gratuito.
Um Deus que nos amou por primeiro, nos ama incondicionalmente, e que apesar de nossas infidelidades, continua a nos amar, mesmo quando vivemos como se Ele não existisse, e nos espera, mesmo que estejamos ainda muito longe dele.
O Pai, rico em misericórdia, não enviou o Seu Filho “para julgar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por meio dele”. E essa salvação que Jesus nos garantiu com a Sua morte na Cruz e com a Sua ressurreição é destinada a todos, sem exceção.
Em cada celebração da Eucaristia esse mistério de amor de Deus é “reoferecido” pela salvação de toda a humanidade.
A propósito, se nos perguntássemos do que devemos ser salvos, ou do que o Senhor nos salva na Sua Cruz redentora, certamente a resposta seria: do pecado e da morte. E de fato! Uma resposta correta e verdadeira. Contudo, talvez um pouco genérica.
Procuremos, com sinceridade, examinando nossos corações e nossas consciências, ao celebrarmos a Exaltação da Santa Cruz, dar a esta pergunta uma resposta pessoal, com relação à nossa vida cotidiana.
De que precisamos, de fato, ser salvos? Do que a Cruz de Cristo me salva? Por que Cristo morreu na Cruz por mim? (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Website: www.inacianos.org.br).


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Formação humana

A construção da Autoestima

Como podemos definir a autoestima? Seguindo os escritos e análise de Natanael Branden, podemos dizer que a autoestima é: “a disposição para experimentar a si mesmo como alguém competente para lidar com os desafios básicos da vida e ser merecedor de felicidade”.
Vejamos então as partes essenciais dessa definição: disposição é a palavra que dá início àquilo que é fundamental na autoestima. Alguém que se coloca fechado para a mudança, jamais poderá entendê-la. Além disso, o sistema de defesa que toma conta de muitas pessoas não permite o crescimento de uma saudável autoestima.
Disposição é uma atitude interna de quem quer realmente crescer, se conhecer, avançar no seu autoconhecimento. Quem se fecha à sua realidade, e não se dispõe a um olhar interior, jamais fará o processo de construção de uma vida saudável.
Ela não é algo mágico, que se adquire da noite para o dia, como se fosse algo rápido e imediato. Como diz o nome ‘construção’, determina um processo que não termina nunca, mas um caminho que se faz ao longo de toda a história.
Vivemos numa sociedade onde as pessoas buscam respostas rápidas, soluções imediatas e não querem fazer muito esforço para que essas metas sejam atingidas. É a lei do menor esforço e que seja para sempre, sem necessidade de ter que retomar as coisas já decididas, rever ou reavaliar.
A autoestima é uma necessidade básica de todo ser humano. De onde vem essa necessidade? Qual é a sua origem? Podemos afirmar que ela é resultado de dois fatores básicos, ambos intrínsecos à nossa espécie. O primeiro é que dependemos do uso apropriado de nossa consciência e para sobreviver e dominar com sucesso o meio ambiente; nossa vida e nosso bem-estar dependem da nossa capacidade de pensar. O segundo é que o uso correto de nossa consciência não é automático, não é programado pela natureza. Para ajustar sua atividade há um elemento crucial de escolha – portanto, de responsabilidade pessoal. Um desserviço prestado às pessoas quando se lhes oferece a noção de autoestima é ‘sentir-se bem’, divorciados das questões da consciência, da responsabilidade e da escolha moral.
A essência humana é a nossa capacidade de raciocinar, o que significa compreender os relacionamentos. É dessa capacidade – em última instância – que depende a nossa vida. Mente é tudo aquilo por meio do qual percebemos o mundo e o apreendemos. Tudo exige um processo mental – tudo exige um processo de pensamento, de conexão racional. Mas a nossa mente não nos leva automaticamente a agir segundo nosso melhor, mais racional e informado entendimento. A natureza deu-nos uma extraordinária responsabilidade: a opção de aumentar ou diminuir o alcance da lanterna da consciência. Nosso livre arbítrio diz respeito à escolha que fazemos quando ao funcionamento de nossa consciência numa determinada situação.
Portanto, dois elementos são essenciais para que a autoestima possa se desenvolver: 1. Utilizar bem a nossa consciência, que é com certeza determinante para uma vida conduzida de modo saudável; 2. Fazer as escolhas certas e responder por elas. Quem não é capaz de falar por si mesmo e assumir a vida em suas mãos, jamais poderá conduzir a sua vida no caminho da realização pessoal. Nos próximos artigos darei continuidade a essa temática tão pertinente e essencial para nossas vidas. Aguardem
Dr. Pe. André Marmilicz

sábado, 8 de setembro de 2012

Homilia da Liturgia do domingo - 09 de agosto de 2012

EFATÁ! – DA ESCUTA À PROFECIA
(Liturgia do Vigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum)
 
As situações dramáticas da vida, geralmente, emudecem a palavra. Emudece até mesmo quem tem necessidade de exprimir os próprios sentimentos. Na verdade, chegam a provocar a “surdez” também naqueles em que a dor é tamanha, que não há o que possa consolar.
Diante de um luto grave, um acidente trágico ou da descoberta de uma doença grave, de fato, não é fácil estar ao lado das pessoas afetadas por esses eventos e, ao mesmo tempo, falar uma palavra sensata. Às vezes, o silêncio que anuncia apenas a presença amiga e solidária e nada mais, é o suficiente. Quando é possível, assim prefiro!
Uma dos serviços do ministério é estar presente em momentos difíceis de dor e sofrimento na vida do nosso povo. Já tive a triste missão de consolar uma família cujo pai acabava de ser sepultado. O motivo da morte foi um infarto fulminante deixando, assim, uma jovem viúva com quatro filhos ainda bem pequenos.
A morte nessa circunstância se apresentou ainda mais inacreditável e paradoxal, pelo fato de que, há pouco menos de um ano, o mesmo pai tinha superado, corajosamente, as marcas terríveis de um acidente automobilístico que o havia impossibilitado sem andar ou trabalhar durante quase um ano. De fato, havia pouco tempo que estava recuperado.
Sem considerar que o evento da morte por uma causa inesperada e imprevisível gera, indubitavelmente, os presentes às perguntas: mas como isso é possível? Por quê? Onde estava Deus nesse momento? Por que Deus permite tal coisa? , E agora, como ficam a esposa e os quatro filhos pequenos?
Nesses momentos, dizer alguma coisa é como se, de repente, todas as palavras “cabíveis”, isto é, apropriadas e necessárias, desaparecessem do vocabulário!
Mas também quem escuta as poucas palavras dos muitos que estão ao redor nessa hora, desejaria ficar surdo às inúteis expressões dirigidas ao inconsolável, incompreensível. São palavras ditas com a melhor das boas intenções, contudo, insuficientes e inúteis para atingir a dor de quem está sofrendo.
Onde buscar forças para poder dizer: “coragem”! Ânimo! Como não correr o risco de se tornar banal, inoportuno e até mesmo “inconveniente”? Afinal, somos limitados!
Mas Deus não! Ele vai decididamente de encontro à fragilidade das situações humanas de todos os tipos. É capaz de atingir e “tocar” todas as perdas e a desolação com o grito profético: "coragem”! Não tenha medo"! “Criai ânimo”! Fala pela boca de Isaías na primeira leitura (35, 4-7a).
É a primeira leitura ainda que apresenta a marca de um Deus que se compromete nas situações mais difíceis, inclusive, expondo-se e prometendo aquilo que, humanamente, não se pode esperar. “... se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos ...”!
De fato, Ele diz e faz! O povo de Israel aceitar o desafio da salvação trazido por esse anúncio. Deus intervém com este convite e espera coragem e confiança na sua ação salvífica, ainda que nos momentos mais decisivos, difíceis e críticos, humanamente no limite do impossível.
A proximidade de Deus com o Seu povo é motivo de profunda consolação. “Vede, é vosso Deus”! Trata-se da certeza de uma solução, uma saída e uma luz nos momentos marcados pela provação.
Nas mãos de Deus, mesmo as situações mais difíceis podem contribuir para algo novo, diferente, isto é, para a vida. Tudo desperta, como a primavera, num ressurgimento de tudo aquilo que estava destinado a “morrer”, na escuridão.
A participação na salvação anunciada pelo Senhor, comunica que tudo e todos serão envolvidos beneficamente, e portanto, a criação tocada pela intervenção de Deus é uma criação totalmente restaurada.
A harmonia perdida é recuperada, a criação torna-se um hino de louvor: “Bendirei ao Senhor toda a vida”! (Sl 145), é o solene reconhecimento da intervenção de Deus.
Vede, é vosso Deus, (...) é a recompensa de Deus; é Ele que vem para vos salvar”! Sem exclusão geográfica, envolvendo regiões pagães inteiras. Jesus cumpre a profecia de Isaías e faz notar isso através do jeito decidido de viver a Sua caminhada missionária!
Muitíssimo diferente de nós, humanamente limitados até mesmo nas palavras, Deus não só fala, mas faz! De repente, apresentam o homem surdo-mudo. Suplicam a Jesus para que imponha as mãos sobre ele e Jesus, no gesto das mãos abertas, expressa o senhorio de Deus, a soberania e o poder até mesmo sobre as forças da natureza.
Todo o gestual de Jesus, ou seja, a “liturgia” que realiza, expressa nos verbos “afastou-se – colocou (os dedos) – cuspiu – tocou – olhando (para o céu) – suspirou – corre o risco de ser interpretada como o agir de um “feiticeiro”, ou um curandeiro qualquer.
Parece que Jesus recorre a gestos mágicos e estranhos, pronunciando palavras misteriosas, quase “sem sentido”.  Mas é através do que “escapa” ao humano, que o poder de Deus, expresso no gesto de Jesus, (“olhando para o céu”), está de novo operando.
Dedos e saliva são os elementos utilizados para a nova criação. Jesus é o salvador anunciado, é a presença consoladora de Deus no meio de nós. Os sinais que Ele realiza são sempre em relação aos pobres, respondem às aspirações mais profundas do ser humano que necessita da “cura” e quer ser, novamente, introduzido na sociedade, como uma pessoa capaz de participar, comunicando-se.
O surdo-mudo é conduzido para fora da multidão, encontra-se, portanto, diante de Jesus, como Adão, o primeiro homem plasmado estava diante de Deus, mas não ainda como o “ser vivente” (Gn 2). Passa a ser “vivente” de uma vida nova quando Jesus lhe transmite a Sua força.
Então, a velha criatura é recuperada e a natureza é restaurada. O sopro de vida produz a “nova criação” e o suspiro de Jesus soa como um “eco” da participação no sofrimento do surdo-mudo e também como premissa da cura: “Efatá”! Abre-te! 
A abertura do céu, isto é, da “morada” de Deus, é condição para a abertura dos ouvidos e para o “destravamento” da língua do homem. Em Jesus irrompe “do céu” o poder do próprio Deus ... da vida!
Na catequese de Marcos, na verdade, o surdo-mudo é o protótipo do catecúmeno que ainda está limitado diante da Palavra e da Luz de Cristo e, portanto, incapaz de exprimir corretamente a própria fé. Mas é ele quem proporciona o encontro radical com Jesus e deixa explícito que o itinerário a ser percorrido é de vida e de luz.
O texto do Evangelho de hoje nos interpela e nos provoca à escolha pessoal, a sairmos do senso comum e do anonimato da multidão, para “estar diante” do Mistério da Luz que, gradualmente, introduz o catecúmeno no “Efatá” de uma vida cristã plena.
A liturgia batismal confere à narração de Marcos uma atualidade extraordinária, sobretudo quando recordamos que o batismo termina, justamente, com a celebração do rito realizado por Jesus.
Está claro que a fé dos discípulos está, constantemente, um pouco “aquém” da direção e do brilho da Luz.
Eis aí o itinerário catecumenal que conduz na direção certa para que se adquira uma identidade sempre mais configurada a de Jesus Cristo. Isso começa a acontecer quando nós, discípulos, vamos alcançando a maturidade da Escuta e da Profecia, assim como os discípulos do Evangelho de hoje: “Jesus recomendou com insistência que não contassem a ninguém. Mas, quando mais ele recomendava, mais eles divulgavam”. (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Website: www.inacianos.org.br).

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Formação humana

A Essência da Vida

Constantemente encontramos pessoas que reclamam da falta de tempo, dos inúmeros compromissos, da correria sem fim, do estresse acumulado, e consequentemente, sentem-se cansadas, esgotadas e deprimidas. Parece que não tem mais controle sobre as coisas, e vivem correndo atrás do tempo perdido. Sempre estão atrasadas, e as tarefas, como dizem, eram para ontem. Triste situação, e o pior é que a vida segue em frente e as pessoas acabam não vivendo, mas vegetando.
É verdade que devemos lutar para crescer na vida, para se desenvolver e buscar um conforto e melhores condições econômicas. O ser humano por natureza anseia pelo melhor, aspira situações mais confortáveis e não se conforma facilmente com as coisas do jeito que elas estão. Os animais, pelo contrário, se satisfazem com pouca coisa, ou seja, uma boa alimentação, água e um bom descanso. Eles não tem grandes aspirações, e é normal que seja assim.
No entanto, como seres humanos não podemos perder o foco daquilo que é essencial para a nossa vida. Precisamos, sim, de um trabalho digno, de um salário que responda às nossas necessidades físicas, mas a vida não se resume nisso. Segundo Maslow, um grande estudioso da questão da realização da raça humana, ele afirma por detrás de uma motivação está uma necessidade. E as necessidades são hierárquicas, no sentido que com o tempo buscamos coisas mais profundas, e não nos fixamos apenas nas coisas materiais. Segundo ele, as primeiras e urgentes necessidades são físicas, mas elas evoluem, e com o tempo, surgem necessidades mais nobres, tais como, a necessidade de segurança, passando pela estima, caminhando para o mundo intelectual e se realizando plenamente na estética, na busca do belo e do além.
Os animais permanecem na primeira necessidade, e por vezes, os seres humanos não passam de animais só preocupados com as coisas materiais e passageiras. É preciso caminhar para realidades mais profundas, tais como o mundo intelectual, o mundo do além, como disse muito bem São Paulo. Ele afirma que as coisas desse mundo passam, e por isso precisamos buscar as coisas que não passam, ou seja, as coisas de Deus, as coisas do além. Infelizmente, tem gente que não encontra tempo para esse mundo espiritual, e passa pela vida simplesmente como um animal, preocupado com as coisas puramente materiais.
Por vezes encontro pessoas que sentem inveja porque fulano ou sicrano está em condições melhores de vida econômica, como se isso fosse o parâmetro da felicidade. A realização plena não está nos bens terrenos, porque estes são passageiros, mas na dignidade e na vivência dos valores perenes, que nos são propostos pelo evangelho. Uma pessoa vale por aquilo que ela é e não por aquilo que ela possui. É triste e até deprimente ver tantas pessoas somente preocupadas com os seus ganhos materiais. Sentem inveja de quem está bem financeiramente e não tem nenhum escrúpulo em conseguir melhores condições de vida, de maneira nem sempre justa e honesta.
Nada contra a busca de uma vida econômica mais estabelecida, mas isso não pode ser o centro da nossa vivência humana. Como passageiros no trem da vida que passa, somos chamados a buscar a essência da nossa existência, ou seja, a vivência dos valores humanos e cristãos. O valor máximo de um cristão é a sua capacidade de servir, de se doar, de fazer o bem, de passar pela vida semeando a semente do amor, e da construção de um mundo melhor.
Aquilo que conta é aquilo que somos e transmitimos através da nossa vida diária. Um sorriso, um aperto de mão, um olhar respeitoso, um tratamento fino, uma preocupação sincera com quem está necessitado, uma atenção qualificada para a família, um tempo para a oração e a vivência comunitária, isso sim faz toda a diferença.
Dr. Pe. André Marmilicz
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