Teológico Pastoral

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sábado, 28 de julho de 2012

Homilia da Liturgia do domingo - 30de julho de 2012

DO APARENTE IRRISÓRIO À ABUNDÂNCIA DOS BENS: O VERDADEIRO MILAGRE
(Liturgia do Décimo Sétimo Domingo do Tempo Comum)

Há alguns milagres que Jesus realiza com o objetivo de saciar. Saciar as fomes, as angústias e a sede de vida.  Mas há alguns dos quais Jesus “foge” como quem evita o perigo. O motivo é porque, ao invés da saciar, provocam ainda mais fome.  Uma fome que nunca pode ser saciada.
A cena evangélica deste décimo sétimo domingo do Tempo Comum (Jo 6,1-15) nos apresenta um dos primeiros milagres realizados diante dos olhos de uma grande multidão. Contudo, no final, aponta para um outro tipo de milagre do qual Jesus quer ficar longe a todo custo.
O primeiro é um milagre que sacia. Trata-se da multiplicação dos pães e dos peixes. Um milagre que acontece a partir daquilo que se tem. Isto é, da realidade concreta daquelas pessoas. Esse milagre só pode acontecer quando se aceita partilhar.
O que Jesus faz em primeiro lugar, na verdade, é ajudar a crer naquilo que se tem, naquilo que se é. Com certeza, Filipe, que é posto à prova por Jesus, sabe que no grupo há aquela quantidade de alimento irrisória.
Jesus não pergunta, mas é como se dissesse: o pouco que se tem não é nada? Será que, mesmo sendo pouco, não significa nada?  Será que não serve para nada? O que temos nunca será o bastante?
O primeiro movimento do gesto de Jesus começa a operar um verdadeiro milagre sobre toda a forma de baixa autoestima, inferioridade e desvalorização. Então, o grande milagre, mesmo antes da fartura, está em reencontrar a confiança!
O segundo movimento do gesto de Jesus ajuda a ir em direção à partilha. Aquilo que se tem, ainda que pouco ou, aos olhos de muitos, sem importância, deve ser compartilhado. É isso que sacia! Sacia quem assim age, encontrando coragem para partilhar os próprios bens e os dons, e sacia também quem se alimenta do que foi partilhado, isto é, os famintos e desencorajados diante da vida. 
Jesus não distorce a natureza, tampouco as leis da vida, como às vezes temos a tentação de desejar e pedir, com expressões como estas: “por que Deus não acaba com a fome do mundo? Por que Deus não faz um gesto e elimina as doenças, as guerras e a violência? Não! Deus não é um mágico. Na pessoa de Jesus, Deus age de modo contrário a todo o tipo de artificialismo, ajudando-nos a entrar na dinâmica das leis da natureza e da vida.
Saciar a fome a partir do nada, isso sim, teria sido um “milagre” espetacular, mas fora de qualquer lei da natureza. Teria sido um gesto mágico, como o próprio diabo já havia proposto que Ele fizesse, no início do Seu ministério: “Faça com que estas pedras se transformem em pão, e todos acreditarão em ti”.
Mas Jesus está longe disso e vê esse tipo de atitude como uma tentação da qual deve se distanciar. Mais discreto e mais eficaz, mais de acordo com a lógica de Deus é o gesto de fazer uma pessoa tomar consciência daquilo que tem e aquilo que é, como também dos próprios dons, dos próprios recursos.
A dinâmica de Jesus está fundamentada na lógica de Deus e é por isso que os seus movimentos são gestos que podem ajudar a pessoa a agir confiando que aquilo tem é importante. A partir do contexto da sua realidade e usando aquilo que tem, isto é, os seus recursos, os bens, a sua história e a sua realidade toda, encontrar-se no amor, nas relações com os outros, na partilha com os pobres.
Um outro milagre, ao qual se alude, e que Jesus recusa absolutamente, é aquele no qual as pessoas parecem tropeçar, quando querem fazer dele um rei. Ele se distancia dessa situação, porque percebe que é justamente o oposto do que Ele acaba de fazer.
Se tivesse se prestado a essa dinâmica, teria distanciado as pessoas umas das outras e d’Ele mesmo, como também da responsabilidade de encontrar no amor pelos outros, a própria razão de viver. O pão não seria multiplicado, nem os recursos de cada um, muito menos a vontade de partilhar, mas apenas o poder de alguém, isto sim, teria sido multiplicado sem medida.
A multidão O procura para coroá-lo rei. Está em busca de um homem poderoso para seguir, entusiasmando-se por um líder. Na realidade, quer alguém que a desresponsabilize. Prefere tornar-se uma massa indistinta em busca de um herói, atrás de um profeta e de um líder que faz sonhar, mas que, na realidade, aliena e tira de cada um a responsabilidade que tem de operar com os dons que Deus lhe deu.
Diante dessa perspectiva e desse capricho Jesus foge e se esconde! Não quer que as pessoas o encontrem. Não para corresponder aos seus desejos de poder. Disse um não, em alto e bom tom, a essa dinâmica.
Eis o que Ele considera como um verdadeiro milagre: cada um caminha com suas próprias pernas, pensa com sua própria cabeça, torna, por assim dizer, o líder e o profeta de si mesmo, o seu próprio chefe, e essa responsabilidade floresce em vida sempre nova, justamente porque cada pessoa sabe aceitar aquilo que tem e aquilo que é. Quando sabe fazer de si um dom para os outros.
Assim se constrói o sonho de Deus manifestado na segunda leitura (Ef 4,1-6): “um só Corpo e um só espírito, como também é uma só a esperança à qual fostes chamados. Um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos que age por meio de todos e permanece em todos”. Só Deus é o nosso Rei! Nós somos, todos unidos num só Corpo, irmãos e irmãs. O Reino de Deus é assim! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Website: www.inacianos.org.br).
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