ABRAÇO
HUMANIZADOR
“Então, abraçando as crianças,
abençoou-as, impondo as mãos sobre elas”. (Mc 10,16)

E a tia lhe pergunta: “Diga-me Pawel, como você se sente agora?”. O menino responde: “Bem, eu me sinto bem”. E aquela que o abraça,
diz: “É isso Pawel, Deus é assim”.
Deus como um abraço: uma das mais sugestivas definições de Deus, elaboradas não
a partir de uma linguagem teológica, talvez sofisticada e complexa, definição
encontrada nos catecismos, mas uma definição que brota da experiência do
abraço, no estilo das parábolas de Jesus.
“Deus como um abraço”, experimentado na ternura e no
carinho de um abraço. Um Deus que conforta a vida, porque “nominar” Deus deve
equivaler a confortar a vida. Se o Deus que transmitimos não conforta e não
aquece a vida, a nossa palavra é inútil. Isso vem de encontro o que dizia
Pascal: “Eu
estou cansado de dizer
Deus, eu quero senti-Lo”.
O filme, de fato, trata da relação com Deus, a
fé e a ciência. Pawel vai crescendo junto a um pai racionalis-ta, cujo único
“deus” é o seu computador e a ciência, vista como o futuro e o progresso. A
ciência não pode errar, tem respostas para todas as perguntas, diminuindo
progressivamente o espaço para Deus.
Mas, no fim das contas, ela é incapaz de
satisfazer o íntimo desejo do coração, o calor do afeto, que a Pawel é
demonstrado por um simples e caloroso gesto da tia, demonstração exemplificada
da verdade surpreendente da terna vizinhança de Deus. Se sobre isso se faz
experiência, “sente-se Deus” e, a partir disso, supera-se a resistência de
falar de Deus e a vida se regenera.
Na Igreja, podemos falar de diversos métodos
pastorais. Em primeiro lugar está a importância da palavra, oral ou escrita, para anunciar o Evangelho de Jesus. Mas,
junto à palavra, é preciso acrescentar as imagens
e os sinais sacramentais que
falam a nossos sentidos. “Somos corpo”, “somos sensibilidade”, e Deus quebra as
distâncias, “faz-se corpo”, “faz-se sensibilidade” para expressar a ternura do
seu coração.
Jesus acrescenta a estes métodos um
caminho pastoral novo: a pastoral dos gestos significativos e em concreto a pastoral
do abraço. Abraça crianças e enfermos, anciãos e mendigos, os
paralíticos...
São abraços ternos e fortes ao
mesmo tempo, sem palavras, como os abraços às crianças da Palestina, ou como o abraço do
pai a seu filho que chegava à casa fracassado e ferido.
O Mestre de Nazaré se identifica
com as “crianças” ou “os últimos” (abraçar significa identificar-se) e deixa
claro que só pode compreender e viver seu projeto – que Ele chamava “Reino de Deus”
– quem está disposto a “ser criança”, ou seja, a colocar-se voluntariamente no
último lugar, como Ele mesmo havia feito: “o filho do Homem não veio para ser
servido, mas para servir”
(Mc 10,45).
Para abraçar uma criança é
preciso “descer” em direção à ela; com isso o abraço significa colocar-se no
mesmo nível dela. Não se abraça de cima para baixo. O abraço nos faz iguais e
nos humaniza.
Não é preciso ser especialista culto ou
profissional para descobrir que o abraço
expressa proximidade, afe-to, carinho, solidariedade, empatía, amor. O
abraço é sem dúvida algo comum na família e na sociedade, mas quando se realiza
no espaço religioso expressa, com gestos concretos, o amor e a benevolência de
Deus Pai a seus filhos e filhas, seja qual for sua situação física, cultural,
social ou moral. É um abraço que antecipa o abraço eterno do Pai às suas
criaturas no final dos tempos.
A Igreja deve manifestar-se,
deste modo, como uma mãe carinhosa e não como uma juíza autoritária que com seu
dedo levantado ameaça a todos os que se desviaram do bom caminho. Assim
expressou João XXIII na inauguração do Concílio Vat. II: “em nosso
tempo a Igreja prefere usar a medicina da misericórdia mais que a da severidade”.
Por isso o papa Francisco não se
limita a falar dos pobres ou a optar por eles, mas se aproxima deles e os
abraça. Não é simplesmente um abraço pastoral mas algo mais profundo, a pastoral
do abraço. É um abraço que tem um profundo sentido profético de
denúncia de um sistema que descarta e exclui.
Por isso, o papa Francisco abraça
sobretudo àqueles que não tem quem os abrace, aos que estão sozinhos, aos
marginalizados, aos descartados, aos feridos do caminho; a estes lhes manifesta a ternura e o carinho
de Deus.
Seguramente a pastoral do abraço
precisa complementar-se com outras mediações pastorais, mas, com certeza, é o
caminho pastoral mais impactante, e, em muitos casos, o mais necessário e o único
possível, quando as palavras e os gestos são incapazes de expressar algo muito
profundo. Os setores populares são aqueles que melhor captam este tipo de
pastoral.
O abraço pastoral faz parte
da dimensão encarnatória da salvação e da graça. Deus não chega até nós através
de uma espécie de fluidos etéreos e invisíveis, mas através de mediações
sensíveis, físicas, corporais, sacramentais. O abraço sacramental é como
um sacramento que expressa a dignidade de cada pessoa e o amor misericordioso
do Pai, que em Jesus se revelou a nós e que o Espírito atualiza na história.
E por isto não basta o abraço
litúrgico da paz na eucaristia, é preciso sair às ruas e abraçar o pobre, o
enfermo, a mulher abandonada, o ancião desamparado, o privado de liberdade...
Como afirma o Papa Francisco, “no abraço
ao pobre estamos abraçando a carne de Cristo”.
Através de seus abraços e através
da pastoral do abraço Jesus nos aproximou a presença e a ternura de Deus. Com
seus abraços nos manifestou e expressou o abraço do Pai a seu povo. E nos abriu
um caminho pastoral para que nós façamos o mesmo: a pastoral do abraço. Seremos
capazes de segui-la?
O abraço
é a palavra da pele que acaricia, das mãos que tocam, dos braços que sustentam,
do corpo que diz sua verdade a outro corpo, o compromisso de acolher e defender
a outra pessoa. Foi neste nível que Jesus se situou, expressando às crianças a
alegria de sua vida e recebendo, em troca, a ternura e a carícia que elas lhe
transmitiam com a sua alegria; Jesus se revela em gesto generoso de entrega e
doação, para que o outro seja, para que a criança possa crescer em humanidade.
Abraçar
é: segurar,
envolver alguém com os braços, especialmente de modo afetuoso, manter próximo.
É uma forma de carinho, de apoio e compreensão.
Não se abraça só o corpo, mas a
pessoa. É um gesto que ‘diz’: “eu estou unido a você”.
“O abraço é como uma
circunferência. De forma simbólica, é um elo. Um momento em que os corações
estão mais próximos e se comunicam. Entrega até anatomicamente.”
Texto bíblico:
Mc 10,2-16
Na oração: O abraço fala
uma linguagem universal. Abraçados nós nos
ajudamos uns aos outros.
A
tecnologia ergue barreiras, um abraço as derruba. A linguagem do abraço é a
tradução da linguagem do coração.
Deixe
que um abraço fale por você, quando as palavras parecerem inoportunas ou saírem
com dificuldades...
Um
abraço nunca diz: “A culpa é sua”.
É comemoração, celebração. Significa apreço, afeição, reconhecimento. Significa
confiança, empatia, segurança.
Desde
sempre fomos abraçados pelo Criador: prolongue este gesto divino no seu
cotidiano. Abrace sempre! Abrace muito!