“No princípio
está a comunhão dos TRÊS e não a solidão do UM” (L. Boff)
“Já se disse, de forma bela e profunda, que nosso Deus em
seu mistério mais íntimo não é uma solidão mas uma família, pois que leva em si
mesmo a paternidade, a filiação e a essência da família que é o amor; este
amor, na família divina, é o Espírito Santo” (João Paulo II, Puebla, 1979)
Quando os cristãos professam que Deus é Trindade, PAI, FILHO e
ESPÍRITO SANTO não estão somando números 1+1+1=3.
Se houver número então Deus é um só e não Trindade.
De fato, o Pai, o Filho e o Espírito Santo não são partes de Deus. Os três
unidos não constituem Deus. Mas cada um é Deus. Cada um não somente tem, mas é
a natureza divina, a divindade, toda a divindade.
O Pai é toda a divindade, enquanto nascente, doada. O Filho é
essa mesma divindade, enquanto recebida. E o Espírito Santo também é
toda a divindade, enquanto compartilhada, comunicada, doada.
Com a Trindade, nós
cristãos não queremos multiplicar Deus. O que queremos é expressar a
experiência singular de que Deus é comunhão e não solidão.
Numa correta
compreensão da fé cristã não podemos dizer que primeiramente Deus é UNO e
depois se desdobra ou aparece como TRINO, quer dizer, como Pai, Filho e Espírito Santo. O que se
professa é que Deus desde sempre foi, é, e será Pai, Filho e Espírito
Santo.
Como combinar estas
duas proposições: Deus é TRINO sem deixar de ser UNO?
Devemos partir do fundamental da experiência cristã de Deus: na história de
Jesus, na sua oração, na sua prática de libertação, na sua
ressurreição... mostrou-nos que existe o Pai, o Filho e o Espírito
Santo.
Para se entender como os três podem ser UM e o ÚNICO Deus, devemos
considerar as relações que vigoram entre os três.
Deus-Trindade é, portanto, a relacionalidade por excelência; total
relacionalidade de cada uma das pessoas divinas com respeito às outras, de tal
forma que se implicam e incluem reciprocamente sempre e em cada momento, sem
que uma seja a outra.
Deus só existe como ser
em relação. A grande novidade cristã é que a divindade só existe
comunicada, parti-lhada. Deus é relação. Deus é só relação. Deus é só amor. “No princípio está a relação” (G. Bachelard).
É por ser o próprio
Deus essencialmente relação que essa relação, “num belo dia”, num
transbordamento de vida, num transbordamento de gratuidade, pôde abrir-se a nós
para nos fazer existir, concedendo-nos ser e convidando-nos a essa relação com
Ele.
É por ser Deus diálogo,
conversação desde sempre com o Filho e o Espírito, que Ele pôde empreender o
propósito de dialogar conosco. Seu relacionamento para conosco desvenda, deixa
entrever o dinamismo das eternas relações entre o Pai, o Filho e o
Espírito Santo, dinamismo no qual elas têm origem e do qual nos convida a
participar.
As TRÊS PESSOAS DIVINAS não estão uma ao lado da outra;
elas estão voltadas umas às outras.
Cada PESSOA é PARA a outra, PELA outra, COM a outra e NA outra.
Se o PAI existe em si, é para poder se entregar totalmente ao FILHO, que por sua
vez, comunga plenamente com o PAI. Ambos, como
num só movimento doam-se completamente ao ESPIRITO
SANTO, e este a eles. No princípio está, portanto, a comunhão dos três. Esta
comunhão tão perfeita fundamenta a UNIDADE das Três Pessoas. Só Deus é Deus,
mas Ele não está só. Deus não é solitário. Deus é, por natureza, vida doada,
partilha, relação, comunicação, ânsia de comunhão.
Assim, o PAI está todo no FILHO e todo no ESPÍRITO SANTO; o ESPÍRITO
SANTO está todo no PAI e todo no FILHO; o FILHO está todo no PAI e todo no
ESPÍRITO SANTO.
O PAI é único e não há ninguém como Ele; o FILHO é único e não há
ninguém como Ele; o ESPÍRITO SANTO é único e não há ninguém como Ele. Cada um é
único.
Os Únicos se relacionam entre si tão absolutamente, se entrelaçam de forma tão
íntima, se amam de maneira tão radical que se uni-ficam, isto é, ficam Um.
Para a fé cristã, portanto, só Deus é Deus, mas Deus não está sozinho. No
próprio Deus há lugar para a alteridade, a fim de que haja
oportunidade para o dom e a partilha, para a comunhão. O próprio Deus é dom e
partilha, de tal sorte que tudo o que vem dele, tudo o que Ele cria
gratuitamente, também é marcado pela chancela da gratuidade, do desejo do outro
e do dom de si. Desde toda a eternidade, Deus só é Deus comunicando-se,
Deus só é Deus doando-se.
TODOS são igualmente eternos, infinitos e amáveis, em comunhão sem princípio e
sem fim. As Pessoas divinas são, desde toda a eternidade, Pessoas-comunhão.
Então, há um só Deus-comunhão-de-Pessoas.
"Deus
é UM, mas não está jamais só."
Ele é sempre Trindade, comunhão de Três Pessoas divinas, pelas quais
circula toda a torrente de Vida Eterna.
Cada PESSOA divina é distinta para poder se entregar e
fazer-se dom para a outra.
Assim, encontramos no mistério da TRINDADE o modelo perfeito
da co-existência da multiplicidade com unidade. A diferença
(o Pai não é o Filho, nem o Filho é o Pai, nem o Espírito Santo é o Pai e o
Filho) não funda uma divisão, mas deixa emergir a riqueza de uma unidade plural.
Ora, tal Mistério
fonte de todo ser, constitui o modelo ideal de todo e qualquer convívio humano.
Somos feitos à “imagem e semelhança da Trindade”. Trazemos em nós impulsos de comunhão.
Sempre que construirmos
relações pessoais e sociais que facilitem a circulação
da vida, a comunhão de diferentes à base da igualdade, estaremos tornando
visível um pouco do mistério íntimo de Deus.
Deus quer inserir-nos
nesta sua COMUNHÃO, como no-lo disse Jesus: "Que
todos sejam um como Tu, Pai, estás em mim e eu em Ti, para. que eles estejam em nós, e o mundo creia que Tu me enviaste"
(Jo. 17,21).
A
glória de Deus é a COMUNHÃO dos homens.
Se
nós não somos COMUNHÃO de pessoas, não somos IMAGEM de Deus que é CO-MUNHÃO de
pessoas.
O
ser humano só é autenticamente humano na relação. Porque Deus é relação.
Aqui
a luz da revelação trinitária vem iluminar e confirmar a intuição de que o ser
humano pode ter de si mesmo: existir realmente não é existir só
para si, é “ex-istir”, sair de si mesmo, assumindo o risco de perder-se para
reencontrar-se no outro e com o outro. Em Deus, o Deus de Jesus Cristo,
descobrimos que o ser é relação, que a pessoa é relação.
Como homem e como mulher trazemos esta força interior que
nos faz “sair de nós mesmos” e criar laços, construir fraternidade,
fortalecer a comunhão.
- o ser
humano não é feito para viver só;
ele é chamado a viver em comunhão
com todas as pessoas;
- ele necessita com-viver,
viver-com-os-outros;
- é essencial descobrir o sentido e a vivência da relação com os outros, da
fraternidade...
- o sentido da vida
em comum é um dom de
Deus, que nos foi dado a todos.
Deus nos fez amor
para o mútuo encontro, para a doação, para a comunhão...
Fomos criados “à
imagem e semelhança” do Deus Trindade, comunhão de
Pessoas (Pai-Filho-Espírito Santo). Quanto mais unidos somos, por causa do amor que circula entre nós, mais nos
parecemos com o Deus Trindade. “Se
nos amarmos uns aos outros, Deus
permanece em nós e o seu Amor em nós
é perfeito” (1Jo. 4,12)
Deus colocou em nossos corações impulsos naturais que nos
levam em direção ao convívio, à coopera-ção, à acolhida, à solidariedade... “Só corações solidários adoram
um Deus Trinitário”.
Texto bíblico: Col. 3,12,17 Jo. 14,22-26