AS PROVOCATIVAS
PERGUNTAS DE JESUS
“E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15)

De fato,
a força criativa de suas perguntas, põe em movimento grandes dinamismos de vida do ser humano;
debaixo do modo paralisado e petrificado
de viver, existe uma possibilidade de vida
nova nunca posta em movimento.
Jesus, ao destravar a interioridade de cada um, reconstrói “pessoas quebradas” e
presas ao passado. As perguntas que
Ele faz consistem em libertar o ser humano de sua inatividade e dar-lhe
capacidade de ação. Isso implica em
abandonar a estreiteza da vida e deixar o coração bater no ritmo do seu coração
compassivo.
São as perguntas que, com frequência, nos
despertam. Se deixarmos de nos perguntar, o fogo vai se apagando. As perguntas
são como a lenha que adicionamos ao fogo.
As
grandes perguntas permanecem dentro de nós, como uma brasa ardendo. Quando nos
perguntamos a nós mesmos, algo se inquieta dentro de nós, o fogo se aviva,
brota um impulso que nos desinstala e nos move a buscar o novo. Quem tem medo
das perguntas, acovarda-se e fecha-se numa vida sem criatividade e sem busca.
Quem não se pergunta é porque quer viver tranquilo, sem necessidade de mudança
alguma.
Há perguntas inofensivas, fáceis
de responder e que não nos comprometem. O problema está quando nos fazem
perguntas nas quais nos sentimos implicados.
Há perguntas que parecem ser de
pesquisas; e há perguntas que nos des-velam por dentro. Há perguntas
secundárias sobre as quais podemos dizer qualquer coisa. E há perguntas
essenciais que nos movem a falar de nós mesmos. E essas perguntas doem
porque são perguntas que desnudam o fundo de nosso coração. São perguntas que
nos implicam naquilo que somos realmente.
O perguntar é ousado, instigante; perguntar contém desafio, provocação; leva dose de irreverência.
“Perguntar é mergulhar no abismo” (Exupèry). As perguntas tem uma força que não
encontramos nas
respostas. Somente enquanto perguntamos por Alguém, palpita em nós um impulso,
um interesse que não se apaga enquanto não sacia nossa curiosidade.
A pergunta é movimento; e só quando pergunta é que emerge a novidade, pois a pergunta ativa a busca por
uma resposta criativa. Mais ainda, perguntar põe em crise certas
convicções, idéias fechadas, modos arcaicos de viver...e nos mantém em busca permanente.
É neste
nível que surge a pergunta de Jesus aos discípulos, na região de
Cesaréia de Filipe.
Ele não pergunta aos seus discípulos sobre o
que pensam a respeito do Sermão da Montanha ou sobre sua atuação curativa
juntos aos doentes da Galiléia. Para seguir Jesus, o decisivo é a adesão à sua
Pessoa. Por isso quer saber o que eles pensam e sentem, depois de um tempo de
convivência com Ele.
Jesus propõe a pergunta
fundamental, “e vós, quem dizeis que eu sou?”; uma pergunta exigindo que eles
se examinem a sério, que tomem consciência do que pretendem, que explicitem as
reais motivações que os levam a segui-lo. Responder à pergunta “Quem sou eu
para vocês?” é fazê-los comprometer com um novo estilo de vida, é assumir o
novo caminho com Ele, é arriscar-se numa aventura.
A pergunta é desafiadora,
e não simples curiosidade e inquietação, e se dirige a todos. Cada um tem de
dar sua resposta. Ela exige uma tomada de posição, um ato de fé.
É importante para Jesus saber o que as
pessoas pensam d’Ele. Mas é possível que
isso fosse apenas uma introdução para a segunda pergunta. De modo particular, a
Jesus lhe interessava não tanto saber o que sabiam ou pensavam, mas “quê
significava Ele para eles?”
É a pergunta que todos deveríamos nos fazer:
não o quanto sabemos d’Ele, nem quê doutrinas ou teorias sobre Ele seguimos,
nem qual é a nossa teologia sobre Ele. Para Jesus lhe interessa mais “o significado, o sentido de Sua Vida em nossas vidas”.
Muitas vezes a própria comunidade
cristã está muito preocupada com a “ortodoxia doutrinal” e não se preocupa em
fazer sua a Vida de Jesus. Há mais condenações doutrinais que condenações de
falta de vivências. É preciso “mais
evangelho e menos doutrina” (papa Francisco).
A fé implica ideias e doutrinas.
Mas a fé não é crer em doutrinas; é crer em “Alguém”; e crer em Alguém que seja
o centro de nossas vidas, em Alguém que inspira as nossas vidas, em Alguém que
dê sentido ao que fazemos e como fazemos.
Começamos a ser cristãos quando
nos deixamos impactar pela pessoa de Jesus e decidimos seguir seus passos e
viver como Ele viveu. Podemos saber muita teologia sobre Jesus e ter uma
vivência d’Ele muito pobre. O que importa é o “Jesus vida e na vida”.
Todos estamos seguros de que
Jesus é o centro de nossas vidas, mas não nos atrevemos a nos questionar por
dentro. Com isso, nosso seguimento vai se esvaziando e se tornando pura
normatividade.
Para aprofundar nossa fé em
Jesus, é preciso nos perguntar constantemente por ela: quê significado Ele tem
em nossas vidas? Quê implicações tem no nosso cotidiano o modo de ser e de
viver de Jesus?
Porque não basta dizer que cremos
nele; é preciso perguntar-nos: em quê Jesus cremos e quem é Ele para nós? Tal
pergunta nos conduz a uma identificação com o estilo de vida d’Ele.
Mas hoje, talvez num gesto de ousadia e
atrevimento, poderíamos inverter as perguntas. No Evangelho, é Jesus quem
pergunta e nós respondemos; agora somos nós que fazemos as perguntas a Jesus.
Se Ele está interessado em saber o que os outros pensam dele, também nós
estamos interessados em saber o que Ele pensa de nós: “Senhor, quê
dizes, quê pensas de mim?”
Talvez, de início, possamos
sentir um pouco de medo da verdade que Ele dirá sobre nós. Mas, pensando bem,
podemos concluir que Jesus pensa melhor sobre nós que nós sobre Ele. E se nos
dá vergonha responder às suas perguntas, certamente que Jesus não sentirá
vergonha alguma em responder às nossas.
Aliás, nós estamos mais
acostumados a perguntar a Deus que deixar-nos perguntar por Ele. Porque, em
tudo o que nos acontece, nossa reação imediata costuma ser sempre: “Por quê,
Senhor?”; “por quê aconteceu comigo?”; “por quê não me escutas?”... A agenda de
Deus está cheia de nossas perguntas.
Texto bíblico: Mt 16,13-19
Na oração: - “Senhor, Tu quê pensas de mim
como pessoa? Porque tu me deste a vida não para que a conserve
atrofiada mas para que me
realize humanamente e chegue a ser uma pessoa livre, madura e
comprometida. Tenho
amadurecido no amor, chegando a ser essa pessoa que Tu esperas de mim?”
- “Senhor, que pensas e dizes de
mim como batizado(a) e teu(tua) seguidor(a)? Sou realmente essa imagem do(a)
homem/mulher novo(a) nascido(a) de tua Páscoa?”
- Senhor, que pensas e dizes de
mim como: jovem? esposo/a? trabalhador(a)...?”
Como Tu falas ao coração, melhor
permanecer em silêncio, que é a melhor maneira de escutar-te.
Fala-me claro e fala-me forte!