Teológico Pastoral

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sábado, 14 de dezembro de 2013

Oração do 3o. domingo do Advento

UM “CASO DE AMOR” COM A VIDA

“Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo” (Mt 11,4)

O Advento é um tempo forte que nos convida a conectar com o melhor que há em nós, em nosso coração. Conectar com o sonho de ser uma pessoa melhor, mais madura, mais comprometida, mais aberta à realidade; conectar com as ricas possibilidades ainda latentes em nosso interior...
Com toda certeza, no “eu mais profundo” há um “espaço divino” onde as beatitudes originais estão presentes, esperando uma ocasião propícia para manifestar-se. Advento é tempo especial para ativar aquilo que há de mais nobre em nós. Estas “beatitudes” (bem-aventuranças) são um caminho privilegiado pelo qual Deus chega até nós, possibilitando-nos viver com mais intensidade.
Normalmente, nosso modo de viver é estressante e o melhor que há em nós vai ficando atrofiado a cada dia. Mergulhados no ativismo alucinante, vivemos desconectados de nossas raízes existenciais, de nossos sonhos mais profundos, daquilo que aspiramos de verdade...

E então... quê é Advento? Conectar com nossas melhores aspirações, essas que nos levam a dizer: “Chega de vazio interior! Basta de secura!!! Temos um coração que necessita água fresca de sentimentos, de verdade, de vontade de ser de outra maneira mais humana e menos maquinal”.
E aqui, nós que acreditamos no Deus de Jesus, conectamos com as esperanças de homens e mulheres que, em todos os tempos, sentiram o mesmo que sentimos e esperaram Alguém (Jesus) que viesse dar um senti-do às suas existências, que lhes dissesse palavras de vida e que viesse trazer “vida em abundância”.

O Evangelho de hoje deixa muito claro que a mediação entre os seres humanos e Deus é a vida, não a religião. A religião é uma expressão fundamental da vida e deve estar sempre a seu serviço.
Como conseqüência, a religião é aceitável só na medida em que serve para potenciar e dignificar a vida, inclusive o prazer e a alegria de viver. Quando a religião é vivida de maneira a agredir à vida e à dignidade das pessoas, ela se desnaturaliza e se desumaniza, e acaba sendo uma ofensa ao Deus revelado por Jesus.
De fato, para Jesus, o primeiro é a vida e não a religião. Ele colocou a religião onde deve estar: a serviço da vida, para dignificá-la. Ele tomou partido da vida, contra aqueles que, a partir da religião, cometiam todo tipo de agressão contra a vida.
Jesus se deixou conduzir pelo Espírito do Senhor para aliviar o sofrimento humano: “os cegos recu-peram a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos res-suscitam e os pobres são evangelizados”. Ou seja, Sua presença consistia em dar vida àqueles que tinham a vida massacrada ou diminuída, devolver a dignidade da vida àqueles que eram encurvados pelo peso da opressão e do legalismo religioso.
Jesus, o biófilo (amigo da vida), tocou as “vidas feridas” com delicadeza e ternura e as transformou. Seus gestos terapêuticos foram o prolongamento da ação criativa de Deus; com palavras e ações Ele inaugurou no meio de nós o Reino de Vida do Pai. Não só optou pela vida e se comprometeu com a vida, mas fez de sua Vida uma entrega radical a favor da vida.

Diante da questão apresentada por João Batista “és tu que aquele que há de vir?”, Jesus não responde diretamente. O caminho para reconhecer sua verdadeira identidade é mais vivo e concreto: “ide contar a João o que estais ouvindo e vendo”.
Primeiro, os enviados de João hão de comunicá-lo o que vêem: Jesus vive voltado para os que sofrem, dedicado a libertá-los daquilo que os impede viver de maneira sadia, digna e feliz.
Em seguida, hão de dizer o que ouvem: uma mensagem de esperança dirigida precisamente àqueles mais excluídos, vítimas de todo tipo de abusos e injustiças.

Isto significa que a espiritualidade do Advento, apresentada pelo Evangelho de hoje, funde a causa de Jesus com a causa da vida; doía-lhe a fome dos outros; doía-lhe a exclusão e a violência sofrida pelos mais pobres; doía-lhe a vida massacrada daqueles que não tinham direito a viver com liberdade...
Os cristãos encontram a Jesus somente na medida em que defendem, respeitam e dignificam a vida. Só seremos seguidores d’Ele se os sofrimentos dos outros “doerem” em nós. Este é o sentido da com-paixão:  fazer própria a dor dos outros e comprometer-se com a vida.
A espiritualidade que o  Advento apresenta não é um projeto que centra o sujeito em si mesmo, em sua própria perfeição, ou na aquisição de determinadas virtudes, mas um projeto centrado nos outros, orientado aos demais, com a intenção de aliviar o sofrimento alheio. É um projeto centrado na defesa e no respeito à à vida, na luta por sua dignidade. Deste modo, aparece claro que na espiritualidade cristã, funde-se e confunde-se a causa de Deus com a causa da vida.

Os cegos, surdos, coxos, leprosos, pobres e muitos outros coletivos no mundo de hoje, continuam sendo símbolos da marginalização mais radical que afeta muitíssimos seres humanos. O texto de hoje quer ressaltar que a chegada do Reino terá consequências para todos, mas sobretudo para os mais excluídos, que tinham perdido toda esperança e o sentido do viver.
Como podemos perceber, entre os sinais da presença do Messias não há um só sinal “religioso”: nem culto, nem rezas, nem sacrifícios... Isto nos deveria fazer pensar.
Nós cristãos, com frequência, esquecemos que, para Jesus, primeiramente vem a vida, depois o culto; em primeiro lugar, o compromisso em aliviar a dor humana, depois a religião.
Nem João, nem os rabinos, nem os sacerdotes, nem os apóstolos estavam capacitados para entender Jesus. Sua presença e atuação não se ajustavam ao que eles esperavam do Messias. Jesus rompe com todas as concepções e esquemas mentais, desmonta todas as expectativas, frustra uma visão...
A novidade de Jesus é muito maior do que aquilo que podiam esperar; além disso, o que Ele traz vai na direção contrária do que esperavam do Messias. Não vem com poder e força; não vem impor nada, senão propor uma dinâmica de serviço e desatar a vida travada. Jesus “tem um caso de amor com a vida”.
Não são só os cegos, surdos, coxos, doentes que fazem presente o Reino, mas também aqueles que se preocupam com eles. Só as ações em benefícios dos outros fazem presente a Deus.
Entrar na dinâmica do Advento, significa estar dispostos a aproveitar qualquer ocasião para fazer presente o Reino, não frustrando aqueles que esperam de nós atitudes comprometidas com a vida.

Uma comunidade de Jesus não é só um lugar de iniciação à fé nem só um espaço de celebração. Deve ser, de muitas maneiras, fonte de vida mais sadia, lugar de acolhida e casa para quem necessita de um lar.
Uma comunidade que segue o “Amigo da Vida” deve-se constituir como “comunidade curadora”: mais próxima daqueles que sofrem, mais atenta aos doentes desassistidos, mais acolhedora daqueles que precisam ser escutados e consolados, mais presente nas situações dolorosas das pessoas.
Ou seja, não é uma comunidade que dá as costas aos pobres; pelo contrário, conhece mais de perto seus problemas, atende suas necessidades, defende seus direitos, não os deixa desamparados. São eles os primeiros que devem escutar e sentir a Boa Nova de Deus.

Textos bíblicos:  Mt 11,2-11

Na oração: Se alguém nos pergunta se somos seguidores
                         do Messias Jesus: quê obras em favor da vida podemos lhes mostrar? Quê mensagem libertadora podem escutar de nós?
Quais são as marcas características que não podem faltar em uma comunidade de seguidores de Jesus? Nossa comunidade cristã é “curadora” e “cuidadora”?





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