Teológico Pastoral

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segunda-feira, 3 de julho de 2017

Homilia dominical - 9 de julho de 2017

DIVINO CORAÇÃO HUMANO

“...porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vós” (Mt 11,29)

Em toda visão antropológica, o coração ocupa o centro profundo de nosso ser, o nosso cerne mais íntimo, o coração do coração, que não consiste no mero sentimento, mas trata-se do centro existencial que nos permite orientar-nos como um todo e plenamente em direção ao bem, à verdade, à justiça...
O coração é uma dessas palavras sobre a qual toda a multiplicidade se torna uno.
Ele simboliza, para a grande maioria das culturas, o centro da pessoa, onde se unificam todas suas dimensões. Uma pessoa com coração não é a dominada pelo sentimentalismo, senão aquela que alcançou uma unidade e coerência, um equilíbrio de maturidade que lhe permite ser objetiva e cordial, lúcida e apaixonada, intuitiva e racional; nunca fria, mas sempre acolhedora; nunca cega, mas realista.
Ter coração equivale a ser uma personalidade integrada. O coração é o símbolo da profundidade e da interioridade. Só quem chegou a uma harmonia consciente com o profundo de seu ser consegue alcançar a unidade e a maturidade pessoais.

O coração do ser humano é a própria fonte de sua personalidade consciente, inteligente e livre. É o lugar de suas escolhas decisivas, fonte das bem-aventuranças, santuário da ação misteriosa de Deus e do encon-tro com Ele.
Recordações, pensamentos, projetos e decisões são alguns dos componentes essenciais do órgão vital por excelência. O que acontece nele tem caráter decisivo. “O mistério interior do ser humano, tanto na língua-gem bíblica como na não bíblica, se expressa com a palavra coração” (Xavier León-Dufour).
Por isso é importante permanecer atento aos seus movimentos. É a única forma de nos conhecer e de conhecer verdadeiramente uma pessoa. O coração pode palpitar ao ritmo da soberba ou da humildade, do amor ou do ódio, do egoísmo ou da generosidade. E está cheio de mesclas: de trigo e de joio.
Vivemos imersos em uma multiplicidade de realidades, imagens, ofertas, caminhos, ideias diferentes... No entanto, quando procuramos reunir e estruturar nossa busca e orientá-la para a realidade última de nossa existência, recorreremos a expressões, palavras, imagens que brotam do mais profundo de nós mesmos, do nosso coração.   
Trata-se, pois, de chegar à unificação de nossa pessoa, integrando a afetividade, a sensibilidade, a razão, os desejos..., para além da bela expressão de Pascal: “O coração tem razões que a razão não conhece”. O fato é que há “olhos no coração” que permitem compreender o que nem os olhos do corpo, nem a razão são capazes de perceber: “Rogo a Deus que ilumine os olhos dos vossos corações, para que conheçais qual é a esperança à qual fostes chamados” (Ef. 1,18).

A antropologia bíblica considera o coração como o interior do ser humano, num sentido muito mais am-plo que o das línguas latinas; não o coração entendido como o órgão da afetividade (uma zona muito in-consistente e instável), mas uma dimensão mais interna e transparente, que se converte em “sede” do espírito. Já no AT, o coração designava o complexo mundo interior do ser humano.
Fechamento, insensibilidade, indiferença, impassibilidade, surdez, falsidade, murmurações... eram razões mais que suficientes para exortar a uma mudança de atitude. “Eu lhes darei um só coração e infundirei neles um espírito novo: tirarei de seu peito o coração de pedra e lhes darei um coração de carne” (Ez 11,19). A conversão devia empapar todo o ser, especialmente o coração petrificado.

Segundo a tradição bíblica, o que mais nos desumaniza é viver com um “coração fechado” e endurecido, um “coração de pedra”, incapaz de amar e de crer. Quem vive “fechado em si mesmo”, não pode acolher o Espírito de Deus, não pode deixar-se guiar pelo Espírito de Jesus.
Quando nosso coração está “fechado”, nossos olhos não vêem, nossos ouvidos não ouvem, nossos braços e pés se atrofiam e não se movimentam em direção ao outro; vivemos voltados sobre nós mesmos, insensíveis à admiração e à ação de graças. Quando nosso coração está “fechado”, em nossa vida não há mais compaixão e passamos a viver indiferentes à violência e injustiça que destroem a felicidade de tantas pessoas. Vivemos separados da vida, desconectados. Uma fronteira invisível nos separa do Espírito de Deus que tudo dinamiza e inspira; é impossível sentir a vida como Jesus sentia.
Quando vivemos a partir do coração, escutamos com mais paciência, olhamos com cumplicidade, toca-mos com ternura, sofremos com fortaleza, assumimos o risco com naturalidade, misturamos nossa vida com a dos outros e avançamos em comunidade realizando projetos solidários.

Jesus dava decisiva importância ao coração: “a boca fala daquilo que está cheio o coração” (Lc. 6,45); “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt. 5,8). “Onde está teu tesouro, ali está teu coração” (Mt. 6,21).
Jesus vivia a partir de seu coração e contagiava com a força poderosa de seu amor e de sua entrega.
Nele se realizou definitivamente sua promessa. Ele nasceu com um coração de carne, ou seja, humano, absolutamente divino. Estava chamado a ser o coração de todos, o centro nevrálgico da humanidade.
Jesus é o homem para os outros, que tem coração, um coração não de pedra, mas de carne. Sua vida, um sinal do bem amar, do saber amar. Mas, sobretudo, Jesus, em seu Coração, é a profundidade mesma do ser humano e de Deus. Nele está a fonte do Espírito que brota como água fecunda até a vida eterna.
Graças à Encarnação, o Filho de Deus trabalhou com mãos humanas, pensou com inteligência humana, sentiu com vontade humana, amou com coração humano.
O coração de Jesus nos fala de iniciativa, de liberdade, de entrega absoluta e amor profundo. O coração de Jesus revela que sua vida implica um movimento de saída, que provoca encontros pessoais, que transforma a vida daqueles(as) que o seguem, abrindo-lhes novos horizontes, ampliando a visão e descentrando-os de sua própria lógica.

O evangelho deste domingo mostra um dos mais vivos exemplos de coração agradecido que podemos encontrar. Jesus, que acaba de passar por uma profunda experiência de rejeição por parte das cidades da Galiléia, explode no canto que começa: “Eu te louvo, Pai, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos”.
O coração de Jesus é sustentado, alimentado, irrigado pelo amor cuidadoso e providente do Pai.
É no coração que também nós, seus(suas) seguidores(as), poderemos estar em segurança, profundamente repousados. É no coração, “última solidão do ser”, que decidimos por Deus e a Ele aderimos. Aqui Deus marca “encontro” com cada um de nós. “Deus é mais íntimo a cada um de nós do que nós mesmos” (S.Agostinho).

Texto bíblicoMt 11,25-30

Na oração: Todos estamos no coração de
                    Cristo. Todos estamos no Amor de Deus. Todos fomos introduzidos na Sagrada Humanidade d’Aquele que, sendo Deus, se fez semelhante a nós para que possamos todos nos sentir n’Ele.
O coração se revela como imagem de amor, de humanidade, de entranhas compassivas. Identificamos as pessoas por seu bom coração, por terem entranhas de misericórdia.
- Você deixa transparecer seu coração na relação com as pessoas? As atividades que você realiza tem coração?



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