Teológico Pastoral

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domingo, 10 de janeiro de 2016

Epifania

EPIFANIA: o Deus das portas abertas

“Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe”. (Mt 2,11)

 Em sua misericórdia, Deus sempre nos surpreende, sempre excede nossas estreitas expectativas, para abrir caminho a partir de nossas fragilidades. Só o amor misericordioso de Deus nos reconstrói por dentro, destrava nosso coração e nos move em direção a horizontes maiores de busca, responsabilidade e compromisso.
A força criativa da sua misericórdia põe em movimento os grandes dinamismos de nossa vida; debaixo do modo paralisado e petrificado de viver, existe uma possibilidade de vida nova nunca ativada.
E foi nas “fendas da humanidade” que o menino Jesus revelou o novo rosto misericordioso do Pai. A fragilidade de uma criança aponta o Deus presente e atuante nos meandros de nossa história, de nossas feridas, de nossos fracassos..., Aquele que não tem vergonha de se aproximar e de se misturar com a pobreza e a fragilidade dos seus filhos; o Deus misericordioso mergulha e santifica toda nossa existência. Ele se revela como um “Deus errante”, que corre ao encontro daqueles que estão em busca.

Nesta festa da Epifania, a imagem de Deus que nos transparece é a d’Aquele das portas sempre abertas.
Esta imagem se fez visível na Gruta de Belém, simples estábulo sem portas ou portões, que só servia para guardar as ovelhas e protegê-las da chuva e dos perigos. Por isso, carecia de portas.
Deus nasceu em um espaço sem portas.
Por isso, quando os Magos chegaram, não precisaram tocar a campainha, nem abrir a maçaneta e esperar que alguém, pela abertura da porta, lhes perguntasse: quem são? de onde vem? quê buscam?...
Simplesmente chegaram e entraram, porque tudo estava aberto.

É impressionante a descrição que Edith Stein faz, quando um dia, ainda antes de se converter ao cristianismo, entrou na catedral de Francfurt.
“Entramos por alguns minutos na catedral e, enquanto permanecíamos ali dentro num silêncio respeitoso, entrou uma mulher com a sacola de compras. Ajoelhou-se em um dos bancos. Permaneceu nessa postura o tempo suficiente para rezar uma breve oração. Aquilo era algo completamente novo para mim. Nas sinagogas e nas igrejas protestantes que eu havia visitado só se entra para os atos litúrgicos da comunidade. Mas aqui alguém pode entrar numa igreja vazia, durante as horas de trabalho de um dia qualquer da semana para manter uma conversação familiar. Jamais pude esquecer isto”.
A presença dos Magos em Belém foi um pouco como a visita de Edith Stein à catedral de Franckfurt. O mais maravilhoso de Deus é que as portas lhe causam repugnância. Ele as quer sempre abertas para que todo aquele que queira “vê-lo”, falar-lhe e adorá-lo, não precisa nem chamar, nem tocar a campainha, nem marcar visita com hora fixa. Deus está aberto sempre e a todos. Não faz distinção de pessoas.
O Menino Jesus não se fixou se um Mago era negro, o outro branco e o outro amarelo. Nem se assustou vendo o quão grande eram os camelos. Simplesmente os recebeu com um sorriso. Por isso, esse encontro é conhecido como festa da Epifania, da manifestação, da revelação do Deus de “portas abertas” ao mundo. Revelou-se como o Deus de todos e para todos.

A mulher que entrou na Catedral de Franckfurt, seguramente que vinha ou ia às compras, porque entrou com sua sacola; não a deixou à porta da catedral, por respeito. Também com a sacola se pode falar com Deus. Não sabemos de que falaram, ela e Deus. Possivelmente de quão caras estão as coisas e que com certeza o dinheiro não ia dar para encher a sacola de compras. E Deus se sentiu lisonjeado com aquela visita. Os outros tinham entrado por simples curiosidade turística. E mesmo assim, alguns deles saíram diferentes, como a Edith, que ficou impressionada e tocada em sua alma por esta disponibilidade de Deus.
O Deus da Epifania não é o Deus das portas fechadas; tampouco o Deus a quem é preciso marcar visita previamente. É o Deus das portas sempre abertas a todos; é o Deus que sempre está disponível a receber-nos; é o Deus que nunca está ocupado para atender-nos; é o Deus sempre acolhedor de todos nós, levemos ouro, incenso e mirra, ou simplesmente levemos uma sacola de compras.
Por isso, todos os dias deveriam ser “Epifania”, Deus com as portas abertas de seu coração misericordi-oso, pronto a nos receber a todos e a nos aceitar como somos. Deus que a cada dia nos diz: “Passai por aqui, a porta está sempre aberta”.

É altamente significativo e simbólico que a abertura do Jubileu da Misericórdia tenha começado com o destravamento das portas das igrejas em todo o mundo.
Mais significativo ainda foi o gesto do papa Francisco de abrir a Porta Santa do Ano da Misericórdia em Bangui, na África, antes mesmo de fazê-lo em Roma, sede central do Cristianismo. 
O Santo Padre declarou Bangui a capital espiritual do mundo no dia 29 de novembro, dando  início ao Jubileu da Misericórdia a partir daquela cidade, marcada pela miséria e pela violência.
Como os Magos, também nós nos dirigimos primeiramente aos palácios de nossa sociedade do bem-estar e aos Herodes contemporâneos, até que nos damos conta de que ali não encontramos o que estamos buscando, que ali se anula e se anestesia a vida, essa vida de Deus que quer crescer em nós. Somente quando nossos olhos se abrirem, descobriremos assombrados que não há nada que não seja sua epifania, que não é que Deus não se manifeste, senão que nos faltam olhos para descobri-lo.
O Espírito que sopra desde a África, com a abertura da Porta Santa, nos abre então a porta para palmilhar a estrada deste Novo Ano rumo a um mundo marcado pela luz da Misericórdia.

Os Magos do Oriente são o símbolo de tantos homens e mulheres que, em qualquer parte do mundo, a partir de outras sendas e tradições espirituais, se perguntam, buscam e caminham. Uma lenda os apresenta como um rei jovem, outro ancião e outro negro, querendo significar que todos os âmbitos do ser humano se fazem patentes ao longo do caminho, até poder encontrar o Menino e adorá-lo.
Segundo esta lenda, os magos perdem a estrela justamente antes de chegar, e foram os pastores, as potên-cias do coração, aqueles que lhes ensinaram o caminho. O ouro do amor, o incenso de nossos desejos e a mirra de nossas dores e daquilo que cura as feridas são entregues Àquele que nos deu tudo primeiro.

Texto bíblicoMt 2,1-12

Na oração:  A obscuridade e as dúvidas
                    pairam sobre nosso presente e nosso futuro. A situação social que vivemos é certamente muito confusa. Por isso buscamos uma luz, uma estrela para orientar-nos.
Precisamos de uma luz que dê sentido e orientação à nossa vida.
Uma vez que a Luz do Menino nos toca, já não podemos seguir pelo mesmo caminho; o caminho da epifania é agora o nosso caminho: descobrir o amor e manifestá-lo. Descobri-lo onde não esperávamos e levá-lo a outros por onde ainda não sabemos. Como cegos tocados por uma luz que nos indica os modos: em vulnerabilidade, em pobreza, em humildade, em alegria.
Ao celebrar a Epifania ou manifestação do Senhor devemos nos perguntar se vamos caminhando para onde essa luz nos leva, ou se permanecemos instalados no caminho. Somos portadores desta nova luz para que ela também chegue aos rincões do mundo e a todos os seres humanos. Quando todos se abrirem a ela, certamente se envolverão na construção de uma sociedade fraterna onde a justiça e a paz se abraçarão e permanecerá vivo o mistério do Natal.



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