Teológico Pastoral

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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

3o. Domingo do tempó comum

UMA VOZ QUE MOVE...

“Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens” (Mt 4,19)

Entre as tentações do deserto e as bem-aventuranças, Mateus apresenta  um relato que é como uma síntese  de toda a atividade futura de Jesus, incluindo o chamado dos primeiros discípulos. Como excelente “resumo programático”, marca as linhas diretrizes de todo seu evangelho.
Desde o ponto de vista teológico, é muito importante para Mateus deixar claro que Jesus começa sua atividade longe da Judéia, de Jerusalém, do templo, das autoridades religiosas. Quer desligar a atividade de Jesus de toda possível conexão com a instituição religiosa.
Jesus foi viver e desenvolver sua atividade, pregar sua mensagem numa região distante, habitada por humildes camponeses e pescadores pobres, pessoas que, naquele tempo, eram consideradas uma população sem influência e de má fama. Os “galileus” do tempo de Jesus não gozavam de especial estima (Jo. 7,52); eram considerados ignorantes e impuros com os quais se devia manter distância.

Para evangelizar, ou seja, comunicar uma “boa notícia” à sociedade de seu tempo, Jesus não buscou conquistar para si os notáveis e as classes influentes da sociedade, nem procurou os postos de privilégios, nem o favor dos mais influentes, e nem, muito menos, os que detinham o poder e o dinheiro.
Todos sabemos que as “mudanças profundas e duradouras” na sociedade não vem de cima, mas de baixo, a partir da solidariedade e da identificação de vida com os últimos deste mundo. Há uma esperança alentadora, que vem das periferias e das margens, que se empenham por imprimir um movimento novo à história; nele está a semente na qual Jesus viu a possibilidade de uma vida diferente, nova e mais promissora. E Jesus foi o ponto de partida de uma profunda mudança na história da humanidade.
Por isso, Galiléia foi a primeira decisão importante que Jesus tomou no início de sua vida pública.
“Deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum, que fica às margens do mar da Galiléia”. Uma decisão que foi essencial em sua vida, porque Jesus permaneceu na Galiléia até pouco antes de morrer.
Galiléia é o lugar do compromisso pela vida, o lugar dos excluídos e desprezados, o lugar dos discípulos, o lugar no qual Jesus realizou os gestos libertadores contra tudo aquilo que atenta contra a vida.
Ele percorreu vilas e cidades despertando a vida e fazendo renascer a esperança nas pessoas.

“Galiléia”  é também o lugar do chamado ao seu seguimento.
A primeira intervenção de Jesus, o evangelho de hoje, não tem nada de espetacular. Não realiza um mila-gre prodigioso; simplesmente, caminha junto ao mar, chama alguns pescadores que se deixam impactar por um convite ousado: “Segui-me”. Assim começa o movimento dos seguidores de Jesus e o germe humilde daquilo que um dia será sua comunidade. Aqui, pela primeira vez, se manifesta a relação que há de se manter sempre viva entre Jesus e aqueles que deixam ressoar em seu coração o mesmo convite.
Fica claro, então,  que a fé cristã não é apenas uma adesão doutrinal ou uma prática piedosa, mas conduta de vida marcada por nossa vinculação a Jesus. Crer em Jesus é viver seu estilo de vida, assumir suas opções, deixar-nos conduzir pelo seu Espírito para nos fazer presentes, de maneira criativa, junto às Galiléias excluídas do mundo de hoje.

Mateus destaca o elemento de irradiação e sedução de Jesus. Tudo começou às margens do mar da Gali-léia... um encontro. Ele vai em busca de pessoas,  chama-as pelo nome; sua presença  e  sua voz  arranca-as do seu ambiente,  da sua rotina... e lança-as para  novos desafios. Jesus entra no cotidiano de 4 homens, no meio daqueles movimentos difíceis e repetitivos, próprios de pescadores. Não estamos no templo, nem num dia sagrado, mas junto do mar, depois da fadiga de um dia de trabalho.
Jesus caminha e, ao passar ao longo do mar, entra no espaço vital daqueles homens, que estavam retornando da pesca. Exatamente ali, naquela vida tão normal, acontece algo novo.
Partindo do lugar e das coisas que representam as esperanças, as dificuldades, as decepções, os sucessos, as derrotas daqueles homens pescadores, Jesus lança a sua promessa:
       “Segui-me e farei de vós pescadores de homens”.

Este chamado deve ser lido não no sentido proselitista, ou seja, convencer pessoas a fazer parte de um determinado grupo religioso. Trata-se de “pescar” o que há de mais humano e nobre em cada pessoa, ajudar as pessoas a viverem com sentido, tirando-as do mar da desumanização; “pescar homens” é extrair o melhor e mais original versão humana de cada pessoa, garimpar a autêntica qualidade humana misturada nesse cascalho de inumanidade que todos carregamos dentro.
E Jesus tem a capacidade de extrair o maior bem possível de cada um, de ativar as melhores possibilidades de vida latentes no seu interior, sem necessidade de dar-lhe lições ou arrastá-lo com argumentos racionais.
Logo que ouviram a Sua voz, aqueles pescadores se dão conta d’Aquele que estava passando: eles já tinham sido vistos, conhecidos, amados, escolhidos por Ele.
 “Eles deixaram as redes e o seguiram”: seguir Jesus não é só assumir o estilo de vida d’Ele; é também uma libertação. Na realidade, o que eles deixam não não só redes, mas tudo aquilo que aprisiona, enreda e que impede a vida ter uma dimensão maior.

Aquela voz abre os olhos, a mente e o coração daqueles pescadores do lago. Sentem-se chamados pelo nome e conseguem compreender melhor a si mesmos, confrontam-se com Aquele que os chama e re-descobrem um sentido novo, um significado inimaginável para a própria existência.
Finalmente, não se sentem mais sozinhos.
O olhar e a voz de Jesus atrai aqueles pescadores à verdade da própria vida: eles descobrem a luz e compreendem para onde devem ir. Jesus os chama do mar, os faz descer da barca e os convida a segui-Lo, para mergulhá-los no Seu mar, para fazê-los subir noutra barca, para atraí-los a uma vida diferente.
O seguimento só se realiza quando alguém se deixa conduzir para águas profundas num novo mar.
A vida de Jesus se torna norma, uma maneira de proceder, um estilo próprio de ser e de viver...
O fundamental é o “estar com Ele”, conviver com Ele, participar de sua Vida, compartilhar do mesmo sonho: a realização do Reino.
Jesus está inteiramente polarizado por esse sonho, por essa utopia esperançada capaz de despertar e mover outras pessoas a participarem do mesmo movimento; toda Sua pessoa foi capaz de despertar nos outros o melhor de si mesmos e de mobilizá-los frente a um novo projeto de humanização.

Os quatro homens são atraídos pela voz, mais do que pelas palavras ou pela promessa do Desconhecido que passa, vê, chama, conhece também o nome de seus pais, e sabe bem quantas e quais são as barcas e as redes que lhes davam segurança. O objetivo da promessa não se refere somente a algo que haverá de acontecer, mas a Alguém que já está presente. A promessa que os atrai é, justamente, Aquele desconhe-cido, que, das margens, os chama pelo nome.
Depois de tê-los despojado de suas seguranças e levado a intuir que a vida não é questão de certezas, mas de busca e de desejos, Jesus chama aqueles pescadores para ficarem com Ele e entre eles, fazendo comunidade.
Aquele Desconhecido se aproxima, ainda hoje, do nosso mar da Galiléia, que representa os lugares, os afetos, os segredos, os costumes da nossa vida cotidiana... nos faz a proposta para entrar em outro mar.
Seguir o Desconhecido do lago significa alargar a vida num novo horizonte de sentido; esta proposta é para corajosos e ousados.
Quê impacto isso tem em minha vida?

Texto bíblico:  Mt 4,12-23

Na oração: No fundo do seu coração cheio de velhas barcas, redes inúteis, mar
                     estreito... é aí que o Senhor passa... e com sua voz provocante o acorda para uma ousadia maior. Compete a você dar-lhe acolhida e entrar na dinâmica do Reino. “Convertei-vos, porque o Reino dos céus está próximo”.






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