Quaresma, encontro com Jesus
Quaresma
não é tristeza, é decisão de vida. Não é rosto fechado, melancolia, senso de
culpa, é oportunidade de encontro, de olhar para cima através da oração, olhar
para o lado através da esmola, olhar para dentro de si por meio do jejum.
Quaresma é chance de encontro consigo mesmo, com os outros, com Deus. Toda, a
liturgia e espiritualidade quaresmal é cristocêntrica, é tempo especial para um
encontro vivo decisivo, definitivo com Jesus Cristo.
A
paixão de Jesus oportuniza uma vinculação com Ele e a causa pela qual morre
executado. Aumenta nossa fascinação por Ele, o Inocente condenado, aquele que
passou fazendo o bem e foi rejeitado. No tempo da quaresma nos é dado fazer uma
experiência única de conhecimento e apaixonamento quando contemplamos o sangue,
as chagas, o coração transpassado, as injurias, a tortura, o rebaixamento pelos
quais Ele passou. Podemos fazer uma experiência que se torna um acontecimento
inesquecível em relação à cruz de Jesus, a nossa cruz e a cruz da humanidade.
Quaresma
não é muito pensar, mas, muito amar, muito crer, muito meditar. O Evangelho da
paixão do Senhor cativou a humanidade e transformou perversos em santos,
fracassados em reabilitados, perdidos em renascidos. A Paixão
do Senhor nos torna apaixonado por Ele e pelo próximo, porque o Pai revela o
máximo de seu amor misericordioso.
A
paixão causa assombro, impacto, descobertas e faz crescer nossa amizade com o
Filho de Deus, que experimenta o silêncio do Pai, as tentações do Maligno, a
grandeza dos discípulos, a zombaria do poder religioso, a prepotência do poder
político. Tudo, isso, cria afinidade, sintonia, simpatia, atração por Jesus,
verdadeiro Deus, verdadeiro homem, benfeitor da humanidade.
A
paixão de Jesus convence, porque Ele é o amor de Deus, é o rosto e a
personificação do amor de Deus. Nele temos um potencial de luz e esperança. Sem
Jesus o mundo seria mais desumano do que é. O seu sangue arrebatou um exército
de mártires, confessores, virgens, profetas, missionários e santos. Jesus é
atraente e surpreendente. Não teve medo do conflito e pagou alto preço para nos
libertar de enganos, egoísmos, medos.
A
quaresma facilita maior familiaridade e intimidade com Jesus de Nazaré.
Conquistados e cativados por Ele, cheios de admiração assumimos seu estilo de
vida, seus pensamentos e afetos, seus critérios e valores. Mais ainda, nos
propomos a aceitar o destino de Jesus, a morte de cruz. O bom ladrão, o
centurião romano, Cirineu, Verônica, os filhos de Jerusalém, deixaram-se tocar
e transformar vendo o jeito sereno, filial, obediencial de Jesus. Sempre fiel
ao Pai e sempre compassivo e solidário com os outros. Jesus é a vitima que vai
vencer, é o perdedor que vai ganhar, é a pedra rejeitada que se torna a pedra
angular. Ele é o último que se tornou o primeiro.
Na
quaresma podemos meditar sobre esta pergunta. Que fiz que faço, que farei por
Jesus? Que bom se conseguirmos confiar no Pai que Ele confiava, crer no amor
que Ele acreditava defender a vida como Ele defendia. Jesus marcou a história
da humanidade, trouxe mais humanismo, mais sentido, mais esperança. Deixemo-nos
surpreender sempre de novo por Jesus de Nazaré e teremos mais razões para lutar
pela justiça, para usar de compaixão com os fracos e viver com alegria.
A
quaresma quer nos mobilizar e entusiasmar por Jesus Cristo, despertar o desejo
de segui-lo porque Ele mesmo é a melhor noticia a melhor pessoa, a melhor
estrada. Ele é a verdade, caminho e vida, ontem, hoje e sempre.
Dom
Orlando Brandes