Teológico Pastoral

Teológico Pastoral

domingo, 28 de julho de 2013

QUEM PEDE, RECEBE, QUEM PROCURA, ENCONTRA, E, PARA QUEM BATE SE ABRIRÁ
(Liturgia do Décimo Sétimo Domingo do Tempo Comum)


Neste Décimo Sétimo Domingo do Tempo Comum é impossível deixar de pensar na grandeza e no sentido da JMJ (Jornada Mundial da Juventude) que está acontecendo no Rio de Janeiro. Como disse nesses dias o Santo Padre, o Papa Francisco, o Rio de Janeiro se tornou o centro da Igreja.
São milhares de milhares de jovens que, depois de uma semana missionária riquíssima de encontros, de sinais de partilha e comunhão, de abertura ao diferente nas mais diversas expressões culturais dos mais diferentes países do Planeta, unindo-se na oração e na fraternidade, enche o mundo de esperança.
A JMJ é um daqueles eventos que põe o olhar do mundo inteiro, tanto dos que crêem como dos que não crêem em Deus, na esperança.
Todos nós temos necessidade dessa esperança, principalmente num tempo em que experimentamos duras crises e tanta falta de esperança.
É nesse contexto eclesial que a liturgia de hoje nos convida a olhar mais uma vez para Jesus, enquanto Ele reza, depois de ter-nos colocado no caminho do Bom Samaritano, exigindo de nós uma atitude de amor diante do sofrimento alheio e depois de fazer-nos “entrar” com Ele, por um momento, na casa de Marta e Maria para lembrar-nos que não existe ação, ainda que seja a mais nobre e ainda que fundamentada na caridade, que não parta da escuta da Sua Palavra, hoje o Senhor nos dá, mais uma vez, o fundamento do sentido de escutá-Lo. Trata-se da oração na esplêndida dimensão da amizade.
Todos nós experimentamos o que significa rezar. Desde os que vivem em um contínuo relacionamento com Deus, até àqueles que elevam aos Céus uma simples invocação. Todos rezam! Seja quem se lembra de rezar só nos momentos de dificuldade, ou seja quem se lembra de agradecer a Deus por tudo, todos os dias. A oração, indiferente da forma que se exprima é uma expressão essencial da nossa vida. Não podemos viver sem rezar.
Inclusive para quem não consegue e/ou não quer encontrar momentos de encontro com Deus é esquecida a dimensão profunda da oração, porque rezar é a nossa pobreza de criaturas com a sua necessidade nunca satisfeita de verdade, de amor, de beleza e de paz. Não há quem não busque, mesmo inconscientemente verdade, amor, beleza e paz! Santo Agostinho, comentando o Salmo 37, encontra esta belíssima expressão: “O teu desejo é a tua oração”.  
Cada ser humano é uma oração viva e forte. Às vezes, em forma de um grito e às vezes, em forma de um pedido de socorro.
Senhor, ensina-nos a rezar”, os discípulos pedem a Jesus. Na verdade, este pedido não diz respeito tanto ao valor da oração, que não está em discussão, mas ao modo como se deve rezar.
Mas como deveriam rezar os discípulos de Jesus, de modo a se distinguirem dos discípulos dos outros mestres, sobretudo dos discípulos de João que, talvez, rezavam de uma forma muito mais elaborada e articulada?
Na verdade, o pedido dos discípulos a Jesus “esconde” outro desejo. Como poderiam rezar de modo que a sua experiência fosse parecida com a experiência de Jesus que, todas as vezes que entrava em oração, mesmo de noite, revelava um semblante luminoso e iluminado, como se deixasse transparecer uma alegria indescritível?
Jesus responde à pergunta dos discípulos, talvez, desapontando-os um pouco, porque a oração que lhes sugere é simples, aparentemente elementar.
Na realidade, a oração ensinada por Jesus, que se tornou um dos tesouros mais preciosos da nossa fé, encerra toda a beleza do Seu Evangelho.
O que este breve texto tem de extraordinário que nos faz a repeti-lo tantas vezes, infelizmente, nem sempre com a mesma compenetração e comoção que deveria tomar-nos cada vez que, como criaturas, “ousamos dizer” ao Criador, Pai, “papai”?
Esta é a primeira extraordinária revolução da oração do “Pai nosso”. Isto é, a confiança filial, a possibilidade de se dirigir a Deus como filhos se dirigem ao pai mais amoroso, é a verdadeira revolução no exemplo do relacionamento que Jesus tem com o Pai.
Alegrar-se com o verdadeiro rosto de Deus, o rosto do Pai é a maior graça porque, se Deus fosse um Deus terrível para nós, mais “patrão” do que Pai viveríamos debaixo de um medo incessante e de uma tristeza sem igual!
Na primeira leitura (Gn 18,20-32) vimos que Abraão já se liberta desse medo de Deus quando ousa dirigir-se a Deus “negocia” com Ele, com a confiança e a coragem de um amigo íntimo, em favor de duas cidades ameaçadas de extinção por causa de seus crimes.
Com a voz da sua oração, na verdade, Abraão está dando voz ao desejo de Deus que não é o desejo de destruir, mas de salvar; que não é de punir, mas de perdoar.
É justamente porque, não apenas em Sodoma e no AT, mas em todas as cidades em que vivemos e hoje, como também em todas as épocas da história, nunca se encontrará um homem plenamente justo.
Foi necessária a Encarnação para que houvesse entre nós um homem plenamente justo e, por isso, Deus mesmo fez-se homem.
Haverá para nós para sempre o justo, porque Ele, o Inocente, trouxe salvação ao mundo inteiro morrendo na Cruz, dando a vida a todos nós, como lembra Paulo aos Colossenses na segunda leitura (2, 12-14) Existia contra nós uma conta a ser paga, mas ele a cancelou, apesar das obrigações legais, e a eliminou, pregando-a na cruz”.
É por isso que a oração de cada homem encontra a sua resposta. Cada uma das nossas intercessões serão sempre ouvidas, porque Jesus nos revelou o rosto do Pai. Esta é a prova do cumprimento seguro de cada oração.
Na história de amizade, narrada na parábola no Evangelho deste domingo (Lc 11, 1-13), Deus dá a quem pede, ajuda a quem procura encontrar, abre a quem bate, porque é verdade, Ele é um bom Pai.
Mas é preciso ter muito!  O Evangelho não nos diz que devemos pedir uma coisa e nos será dada. Diz apenas, “pedi e recebereis”.
Com certeza, muitas vezes, nós pedimos e não recebemos. Talvez,
Deus não tenha nos dado o que pedimos, mas, com certeza, nos surpreendeu! Basta olharmos para as nossas lutas do passado, para tudo o que já superamos para percebemos que foi Ele quem nos deu a força necessária para enfrentar as experiências difíceis. Basta prestarmos um pouco mais de atenção nas mais diversas situações da nossa vida, para perceber que Ele também nos deu forças para crescermos na fé! Deu-nos aquela esperança que vai além das maiores dores, inclusive a dor da morte de uma pessoa querida.
Jesus não nos promete a cura quando estamos doentes ou a nota máxima em um exame que fazemos na escola. Tampouco nos promete uma promoção, uma bela carreira profissional com um salário alto.
Aqui fica um alerta para evitarmos o perigo da superstição que verificamos quando percebemos que muitos pensam que basta acender uma vela ou apegar-se a qualquer devoção, para conseguiremos despertar um Deus que, caso contrário, estaria ausente ou indiferente da nossa vida e às nossas necessidades. Jesus não nos promete as coisas que queremos, mas nos promete muito mais! “(...) Quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!”.
Mas por que o Espírito Santo? Porque é o Espírito Santo que pode revelar-nos o verdadeiro rosto de Deus, rosto de um Pai que permanece ao nosso lado com a ternura que nenhum pai e nenhuma mãe seriam capazes de demonstrar ao seu próprio filho.
Nessa relação afetuosa e confiante com o Pai somos capazes também de descobrir a alegria da fraternidade. Reconhecer-nos filhos significa saber que temos irmãos. Aliás, pensando na parábola contada por Jesus, a propósito da oração, como seria bom que como irmãos, ao anoitecer de cada dia pedíssemos ao Senhor o pão da Sua presença e da Sua ternura para todas as pessoas que encontramos durante o dia, seja para as pessoas que sofrem, que se desesperam, que buscam e procuram, que rezam sem nem mesmo saber o que pedir.
Rezando com esta intenção, com certeza, receberemos também a graça de perseverar, de insistir e de tornar-nos “incômodos” mesmo, como um amigo que bate à nossa porta no meio da noite.
Deus estará sempre acordado e alerta: “Batei e vos será aberto”! É ele quem se disponibiliza a abrir a porta quando batermos, mas, na verdade, é Ele quem bate na porta do nosso coração, nos avisa a maravilhosa passagem do Apocalipse: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém escuta a minha voz e me abre a porta, entrarei e juntos faremos refeição” (3, 20).
Na verdade, só o fato de batermos à Sua porta já é um grande sinal de que nos abrimos a Ele, e este já é também um sinal de que a nossa oração já foi ouvida. O simples fato de rezar já é um fruto do dom da Sua presença.
Olhando para a multidão dos jovens no Rio de Janeiro e sustentados pela força de esperança que nesses dias está concentrada no nosso Brasil, na JMJ, reencontramos a coragem, a beleza, a dignidade, a alegria e a simplicidade da amizade com Deus que, como Pai, acolhe a nossa oração. (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – formador@inacianos.org.brwww.inacianos.org.br).

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Papa Francisco em Aparecida

APARECIDA - 24.07.2013 - 10:30
Basílica - Santa Missa


Venerados irmãos no episcopado e no sacerdócio,
Queridos irmãos e irmãs!

Quanta alegria me dá vir à casa da Mãe de cada brasileiro, o Santuário de Nossa Senhora Aparecida. No dia
seguinte à minha eleição como Bispo de Roma fui visitar a Basílica de Santa Maria Maior, para confiar a Nossa Senhora o meu ministério de Sucessor de Pedro. 
Hoje, eu quis vir aqui para suplicar à Maria, nossa Mãe, o bom êxito da Jornada Mundial da Juventude e colocar aos seus pés a vida do povo latino-americano.
Queria dizer-lhes, primeiramente, uma coisa. Neste Santuário, seis anos atrás, quando aqui se realizou a V
Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, pude dar-me conta pessoalmente de um fato belíssimo:
ver como os Bispos - que trabalharam sobre o tema do encontro com Cristo, discipulado e missão - eram animados,
acompanhados e, em certo sentido, inspirados pelos milhares de peregrinos que vinham diariamente confiar a sua vida a
Nossa Senhora: aquela Conferência foi um grande momento de vida de Igreja. E, de fato, pode-se dizer que o Documento
de Aparecida nasceu justamente deste encontro entre os trabalhos dos Pastores e a fé simples dos romeiros, sob a proteção
maternal de Maria. A Igreja, quando busca Cristo, bate sempre à casa da Mãe e pede: "Mostrai-nos Jesus". É de Maria
que se aprende o verdadeiro discipulado. E, por isso, a Igreja sai em missão sempre na esteira de Maria.
Assim, de cara à Jornada Mundial da Juventude que me trouxe até o Brasil, também eu venho hoje bater à porta
da casa de Maria, que amou e educou Jesus, para que ajude a todos nós, os Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos
educadores, a transmitir aos nossos jovens os valores que farão deles construtores de um País e de um mundo mais justo,
solidário e fraterno. Para tal, gostaria de chamar à atenção para três simples posturas: Conservar a esperança; deixar-se
surpreender por Deus; viver na alegria.

1. Conservar a esperança. A segunda leitura da Missa apresenta uma cena dramática: uma mulher - figura de Maria
e da Igreja - sendo perseguida por um Dragão - o diabo - que quer lhe devorar o filho. A cena, porém, não é de morte, mas
de vida, porque Deus intervém e coloca o filho a salvo (cfr. Ap 12,13a.15-16a). Quantas dificuldades na vida de cada um,
no nosso povo, nas nossas comunidades, mas, por maiores que possam parecer, Deus nunca deixa que sejamos submergidos.
Frente ao desânimo que poderia aparecer na vida, em quem trabalha na evangelização ou em quem se esforça por viver
a fé como pai e mãe de família, quero dizer com força: Tenham sempre no coração esta certeza! Deus caminha a seu lado,
nunca lhes deixa desamparados! Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos corações! O
"dragão", o mal, faz-se presente na nossa história, mas ele não é o mais forte. Deus é o mais forte, e Deus é a nossa
esperança! É verdade que hoje, mais ou menos todas as pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o fascínio de
tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer.
Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes
ídolos passageiros. Queridos irmãos e irmãs, sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma visão positiva sobre a realidade.
Encorajemos a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da
construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a sociedade. Eles não precisam só de
coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo,
a memória de um povo. Neste Santuário, que faz parte da memória do Brasil, podemos quase que apalpá-los:
espiritualidade, generosidade, solidariedade, perseverança, fraternidade, alegria; trata-se de valores que encontram a sua
raiz mais profunda na fé cristã.

SALA DE IMPRENSA DA SANTA SÉ 2/2

2. A segunda postura: Deixar-se surpreender por Deus. Quem é homem e mulher de esperança - a grande esperança
que a fé nos dá - sabe que, mesmo em meio às dificuldades, Deus atua e nos surpreende. A história deste Santuário serve
de exemplo: três pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio Parnaíba, encontram algo
inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera,
tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, como
o vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo
seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos em Deus! Longe d'Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se
esgota. Se nos aproximamos d'Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo
que é pecado, se transforma em vinho novo de amizade com Ele.

3. A terceira postura: Viver na alegria. Queridos amigos, se caminhamos na esperança, deixando-nos surpreender pelo
vinho novo que Jesus nos oferece, há alegria no nosso coração e não podemos deixar de ser testemunhas dessa alegria. O
cristão é alegre, nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos uma Mãe que sempre intercede pela vida dos seus filhos,
por nós, como a rainha Ester na primeira leitura (cf. Est 5, 3). Jesus nos mostrou que a face de Deus é a de um Pai que nos
ama. O pecado e a morte foram derrotados. O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de quem parece num
constante estado de luto. Se estivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nosso
coração se "incendiará" de tal alegria que contagiará quem estiver ao nosso lado. Como dizia Bento XVI: «O discípulo sabe
que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro" (Discurso inaugural da Conferência de Aparecida
[13 de maio de 2007]: Insegnamenti III/1 [2007], 861).
Queridos amigos, viemos bater à porta da casa de Maria. Ela abriu-nos, fez-nos entrar e nos aponta o seu Filho.
Agora Ela nos pede: «Fazei o que Ele vos disser» (Jo 2,5). Sim, Mãe nossa, nos comprometemos a fazer o que Jesus nos
disser! E o faremos com esperança, confiantes nas surpresas de Deus e cheios de alegria. Assim seja.


terça-feira, 23 de julho de 2013

domingo, 21 de julho de 2013

Homilia Dominical - 21 de julho de 2013

Marta e Maria...


A Liturgia de hoje nos convida a refletir
sobre a HOSPITALIDADE e o Acolhimento.
Toda vez que nos reunimos para celebrar a Eucaristia,
o Senhor nos acolhe como hóspedes em sua casa e
nos oferece a "melhor parte": a sua Palavra e o Pão da vida.

As leituras apresentam pessoas, que acolheram o Senhor...

Na 1a Leitura, ABRAÃO acolhe os mensageiros de Deus. (Gn 18,1-10a)

Abraão está sentado à porta de sua tenda em Mambré,
atento a quem passa e disposto a repartir com ele,
de forma gratuita, aquilo que tem de melhor...
Ao ver três homens, que se aproximam, o Patriarca corre ao encontro deles
e oferece-lhes com insistência hospedagem.
No final da refeição, como recompensa pela generosa hospitalidade,
recebe a promessa de um filho, apesar da idade avançada de Abraão e Sara.
Era o que mais desejava na vida... Seria o herdeiro das Promessas...
Antiga tradição cristã viu nestes três personagens,
dos quais só um fala, misteriosa figura da Trindade...

* Todos somos peregrinos procurando pousada no coração das pessoas,
que podem ser o próprio Deus que nos pede um pouco do nosso tempo.

Na 2a Leitura, PAULO apresenta o próprio exemplo:
acolheu em sua vida Cristo, que deu sentido à sua vida e sua missão:
"É Cristo crucificado que vive em mim" (Cl 1,24-28)

 * Missão do ministro é acolher o povo em seu coração
para que se sinta acolhido, amado e valorizado.
As pessoas não procuram tanto na Igreja uma boa organização,
mas serem ouvidas e receberem palavras que comuniquem o Amor de Deus.

No Evangelho, MARTA e MARIA acolhem Jesus em sua casa. (Lc 10,38-42)

- MARTA preocupa-se com os trabalhos
  para acolher bem o visitante em sua CASA.
- MARIA, pelo contrário, SENTA-SE aos pés do Mestre
  (posição típica de um discípulo diante do seu Mestre)
  e acolhe a Palavra de Jesus em seu CORAÇÃO...

Duas formas sinceras de acolher... mas diante da reclamação de Marta,
Jesus afirma que a atitude de Maria lhe era mais agradável,
pois a escuta da sua palavra é o ponto de partida na caminhada da fé.

A Hospitalidade é um gesto sagrado desde o Antigo Testamento...
Não é só abrir a porta da casa, mas é também abrir os ouvidos e o coração,
para dar a nossa atenção àquele que veio ao nosso encontro.
Durante o diálogo, Maria permanece em silêncio,
sinal de meditação e interiorização da Palavra de Deus.
- Marta acolhe em sua casa um AMIGO muito querido...
- Maria acolhe o MESTRE que tem palavras de Vida...
- Paulo hospeda o REDENTOR, que redime os homens de seus pecados...
- Abraão acolhe naqueles viajantes o próprio DEUS...

Quem são as Martas e Marias, HOJE?

- Na Vida Prática: Você valoriza mais as pessoas,
  ou as coisas, os trabalhos, a casa, os negócios?

- Na Família...
   > Você, Esposa, costuma acolher com carinho, com atenção e com sorriso
      o seu esposo que chega cansado do trabalho ou
      o seu filho que retorna da escola?
   > Você, Marido, mesmo cansado, escuta com interesse, sua esposa
      que deseja lhe contar como foi o dia?
   > E você, Jovem, sabe dar a devida atenção a seus pais,
      que trabalham o dia todo por você?

- Na Comunidade...Você encontra tempo para "sentar aos pés de Jesus
  e escutar a sua palavra"? Ou apenas se satisfaz em "fazer coisas"?
  Fato decisivo para ser "Discípulo" de Cristo,
  é estar disposto a escutar a sua Palavra...

- Na Sociedade... Você tem tempo para parar e escutar os que chegam até você, 
  reconhecendo neles a voz de Cristo (ou a visita de Deus)?
  Ou apenas se contenta em oferecer "coisas"?

- Na Ação Pastoral... como servimos a Deus?
  O Evangelho nos mostra dois modos: como Marta... e como Maria...
  Damos o devido tempo entre Ação e Contemplação, Trabalho e Oração...

  Ação, sem escuta da Palavra de Deus, torna-se vazia...
  E Oração, sem ação, é estéril e alienante...

Que a nossa atitude não seja apenas a de Marta, nem apenas a de Maria...
mas a de Marta e de Maria, juntas, se completando em nós...
Cristo ainda hoje continua nos advertindo: "Marta, Marta..."

Cristo continua ainda hoje batendo à nossa porta.
Sua voz tem inúmeros timbres.
Procuremos reconhecê-la e abrir a porta sem fazê-lo esperar.
Para acolher Jesus, devemos encontrar tempo
para nos sentar a seus pés, escutá-lo e escutar os outros;
tempo para rezar; tempo para servir; um coração pronto e disponível.

- A Conferência de Aparecida fala em gastar mais tempo
  para escutar as pessoas...

  O que poderíamos fazer nesse sentido? 
           
                        Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 21.07.2013

sexta-feira, 19 de julho de 2013

DIA DO AMIGO

Oração por Meus Amigos
(Pe. Zezinho)
Abençoa, Senhor, meus amigos e minha amigas e dá-lhes a paz!
Aqueles a quem ajudei, que eu ajude ainda mais!
Aqueles a quem magoei, que eu não magoe mais.
Saibamos deixar um no outro uma saudade que faz bem.
Abençoa, Senhor meus amigos e minha amigas. Amém.
Luzes que brilham juntas. Velas que juntas queimam no altar da esperança.
Trilhos que juntos percorrem os mesmos dormentes e vão terminar no mesmo lugar.
Aves que vão em bando. Verso que segue verso nas rimas da vida.
Barcos que singram os mares até separados, mas sabem o porto onde vão se encontrar.
São assim os amigos que a vida me deu. Meus amigos, minhas amigas e eu.
Gente que sonha junto. Gente que brinca e briga e se zanga e perdoa.
Um sentimento forte mais forte que a morte nos faz ser amigos no riso e na dor.
Vidas que fluem juntas, rios que não confluem mas vão paralelos.
Aves que voam juntas e sabem que um dia por força da vida não mais se verão.
Resta apenas o sonho que a gente viveu. Meus amigos, minhas amigas e eu.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

AMIGOS SÃO COMO ANJOS


Como passageiros no trem da vida, tantas coisas marcam a nossa existência, comovem o nosso ser, elevam nossa alegria e nos fazem pessoas melhores. Mas nada marca tanto a nossa vida como os amigos sinceros, verdadeiros, com os quais possamos contar em todos os momentos, nos bons e nos maus. Eles estão prontos a nos socorrer, a nos auxiliar, a dar uma palavra de consolo, de conforto, de encorajamento, sobretudo na hora da dor. Nas horas alegres e festivas da vida, é muito prazeroso estar com os amigos e desfrutar da sua sempre agradável companhia. Com eles nós vivemos mais e nos sentimos mais felizes e realizados.
            Na Bíblia nós encontramos passagens que enaltecem a presença de um amigo, a ponto de dizer que quem encontrou um amigo encontrou um tesouro. E põe tesouro valioso nisso, o qual vale a pena ser guardado a sete chaves. Amigo é coisa prá se guardar no lado esquerdo do peito, como algo impagável, pois o seu valor nenhum dinheiro pode comprar. Nós compramos tantas coisas, mas o dinheiro não consegue fazer amigos, pois eles só são verdadeiros quando nascem e crescem, se desenvolvem e permanecem na gratuidade.
            Amigos são como anjos que surgem na hora certa, quando você menos espera, levantam o seu astral e fazem acreditar que é preciso continuar. Eles são um verdadeiro sustentáculo, com os quais você pode sempre contar. Eu não canso de dizer que a coisa mais linda e preciosa nesse mundo são os amigos que você vai encontrando ao longo da sua vida. Eles são tão imprevistos, e por isso, fazem toda a diferença.
            Os amigos se protegem, mesmo quando discordam de algum ponto de vista. Mas é apenas a vista de um ponto, porque nada poderá romper o ligame que une os grandes amigos. Eles podem estar longe ou perto, ficar tempo sem se ver, mas eles não morrem, porque a verdadeira amizade não morre jamais.
            Os amigos não são interesseiros no sentido de levar vantagem sobre o outro, mas o seu interesse é o bem do próximo, o seu crescimento e a sua realização. Vibramos, nos emocionamos, nos alegramos com as suas conquistas, como se fossem nossas. Choramos, sentimos a dor da derrota do amigo, como se fosse nossa derrota.
            Na vida tão passageira, o que vale mesmo são os amigos que vamos conquistando, mas sem forçar, sem obrigar, sem exigir nada em troca, pois a amizade vem da alma, da pureza do coração e só quer o bem e a felicidade do outro. Como são tristes as pessoas isoladas, fechadas em seu mundo, em seu pequeno lar, não partilhando nada com os outros. O fechamento, o isolamento, cria pessoas tristes, amargas, depressivas, sem garra e entusiasmo, porque lhes falta um ombro amigo, uma mão protetora, um abraço sincero e verdadeiro.
            Cultive os amigos que você tem, e não deixe de expressar a eles o quanto são valiosos, o quanto é bom estar com eles, o quanto é gratificante dividir a sua vida na presença deles. Tudo passará, mas a amizade profunda é eterna e permanece para sempre. Aproveite os momentos que você tem com os amigos, e ria bastante, expresse os sentimentos, diga a eles o quanto é bom desfrutar da sua presença, seja jogando canastra, saboreando um churrasco, passeando juntos ou simplesmente estando juntos.
            Que Deus abençoe os amigos e as amigas, dando-lhes a paz, a serenidade e que vivam felizes, porque os amigos são um verdadeiro presente do céu.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Homilia Dominical - 14 de julho de 2013

 Quem é seu Próximo?

Todos nós desejamos com segurança a Vida eterna.
Mas qual é o CAMINHO para conquistá-la.
As leituras bíblicas respondem: no amor a Deus e aos outros.

Na 1a leitura, MOISÉS convida o Povo a aderir aos MANDAMENTOS:
"Ouve a voz do Senhor, teu Deus, e observa todos os seus Mandamentos".
E acrescenta: "Esta lei não está acima de tuas forças... pelo contrário,
ela está bem perto de ti, está em tua boca e em teu CORAÇÃO" (Dt 30,10-14)

Os Mandamentos de Deus não são uma coleção de prescrições impostas,
que tolhem a nossa liberdade e prejudicam a nossa realização pessoal.
Pelo contrário, correspondem aos anseios profundos da pessoa humana,
são o caminho seguro, que nos conduz à Felicidade eterna desejada.
E Deus inscreveu esses preceitos em nosso próprio coração.

A 2ª Leitura mostra Cristo como o centro de toda a criação. (Cl 1,15-20)
É um hino cristológico, em que Paulo apresenta Cristo
como "imagem do Deus invisível" e o "primogênito de toda a criatura".

No Evangelho, CRISTO aponta o caminho da vida eterna,
respondendo a duas perguntas de um Mestre da Lei: (Lc 10,25-37)

1. "Que devo fazer para alcançar a vida eterna"?
- Jesus o questiona: "O que diz a Lei?"
- Ele resume os 613 preceitos em dois:
  o Amor a Deus e o Amor ao Próximo... (Dt 6,5; Lev 19,18)
- Jesus concorda: "Respondeste bem... FAZE isto e viverás".
- E ele insiste com a segunda pergunta:

2. "E quem é o meu próximo?"
Na época de Jesus, "próximo" era o membro do Povo de Deus;
excluíam os inimigos, os pecadores e os não praticantes...
Jesus responde não com uma definição, mas com um exemplo prático...
com a maravilhosa Parábola do BOM SAMARITANO...

- Um homem é assaltado por ladrões...
  que o deixam jogado meio morto à margem da estrada.
- Ali passa um SACERDOTE, que sabe tudo sobre a Lei:
  vê o homem jogado, mas vai adiante.
- Passa também um LEVITA, que trabalha diariamente no templo,
  mas não sabe nada de Deus: não tem misericórdia para aquele homem.
  Vê o homem e vai em frente...
- Passa também um "SAMARITANO" que não sabia tão bem a Lei de Moisés.
  Esse "pagão" sente "compaixão" (sentimento próprio de Deus).
  Supera a hostilidade entre judeus e samaritanos,
  esquece seus negócios, seus compromissos, seu cansaço, o medo...
   "Aproxima-se dele, derrama óleo e vinho nas feridas.
    Depois o coloca em seu animal e completa os cuidados na pensão".
- E Jesus concluiu: "Vai e faze tu o mesmo".

A Parábola nos diz que...

- A "Vida eterna" é encontrada no Amor a Deus,
  concretizado no Amor ao Próximo.
  Para ter a vida devemos fazer de quem está perto de nós o nosso próximo.
  PRÓXIMO é todo irmão, que necessita de nossa ajuda e de nosso amor.

- Mais importante do que saber quem é o "próximo",
  é tornar-se próximo de quem precisa...
  PRÓXIMO é quem age com misericórdia e compaixão...
  Cristo foi o verdadeiro Bom Samaritano, que antes de ensinar a Parábola
  a fez realidade em sua vida acolhendo a todos.
  E ele nos convida: "Vai e faze tu o mesmo..."
  Esse gesto é um aspecto fundamental da missão da Igreja.

* A Parábola propõe Três PASSOS para realizar o amor misericordioso:
   Ver, Ter compaixão e Agir...

+ Quem é o nosso Próximo, HOJE?
   Só os amigos, os familiares? Os que nos ajudam? Gente do nosso grupo?

* Ainda hoje, há pessoas à beira das estradas,
   assaltadas pela violência ou opressão... precisando de nossa ajuda...

- Qual é a nossa atitude para com elas?

* A do Sacerdote e do Levita, que olharam o 'coitado' e passaram à frente,
   porque não tinham tempo, deviam cuidar dos seus trabalhos?

* Ou a figura simpática do Bom Samaritano,
   que mesmo estando de viagem, soube parar... e oferecer a esse coitado
   aquilo que estava ao seu alcance, para  suavizar a sua situação?  

- E nós, que aqui estamos reunidos nessa celebração
  para fortalecer a nossa fé e o nosso amor,
  sabemos quem é o nosso próximo? Qual é o seu nome?

- Reconhecemos de fato a presença de Cristo nas pessoas
  que encontramos ao longo dos caminhos do mundo?
  Ou preferimos não perder tempo e seguir o nosso caminho,
  deixando o nosso próximo na sarjeta do abandono?

Enquanto Cristo aguarda uma resposta,
professemos publicamente a nossa fé no Cristo
que ainda hoje muitas vezes encontramos
abandonado e espoliado, ao longo de nosso caminho...

cantando :  à Seu nome é Jesus

                          Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 14.07.2013

SEU NOME É JESUS CRISTO


Seu nome é Jesus Cristo passa fome

E grita pela boca dos famintos

E a gente quando o vê passa adiante,
Às vezes pra chegar depressa à igreja.
Seu nome é Jesus Cristo e está sem casa

E dorme pelas beiras das calçadas

E a gente quando o vê aperta o passo
E diz que ele dormiu embriagado.

Entre nós está e não o conhecemos.
Entre nós está e nós o desprezamos (2 x)

Seu nome é Jesus Cristo e é analfabeto
E vive mendigando um subemprego.
E a gente quando o vê diz: "É um à toa,
Melhor que trabalhasse e não pedisse".
Seu nome é Jesus Cristo e está banido
Das rodas sociais e das igrejas
porque dele fizeram um rei potente,
Enquanto que ele vive com o pobre.

Seu nome é Jesus Cristo e está doente
E vive atrás das grades da cadeia.
E nós tão raramente vamos vê-lo,
Sabemos que ele é um marginal.
Seu nome é Jesus Cristo e anda sedento
Por um mundo de amor e de justiça,
Mas logo que contesta pela paz
A ordem o obriga a ser de guerra.

Seu nome é Jesus Cristo e é difamado
E vive nos imundos meretrícios,
Mas muitos o expulsam da cidade
Com medo de estender a mão a ele.
Seu nome é Jesus Cristo e é todo homem
Que vive neste mundo ou quer viver,
Pois pra ele não existem mais fronteiras,
Só quer fazer de nós todos irmãos.

Oração do Evangelho dominical - 14 de julho de 2013

O BOM SAMARITANO: ícone da ternura evangélica

                                  “E quem é meu próximo” (Lc. 10,29)


Teria sido fácil para Jesus fornecer definições de “próximo”; se não o faz é por-que quer evitar que se considere o “próximo” como um objeto de estudo ou de investigação. Perante a pergunta inicial, Jesus não assume o papel que o escriba lhe propõe e, em vez de dar-lhe a resposta pedida, indica onde deve buscá-la: Jesus quer tirá-lo do mundo do saber para levá-lo ao do fazer.
O ícone do “bom samaritano” apresenta o próximo “em situação”, o pró-ximo concreto, histórico, que interpela e compromete cada um em escolhas de-cisivas, em relação às quais se demonstra se é ou não “próximo” do neces-sitado. Por isso, a interrogação inicial se inverte: já não se trata de perguntar-se “quem é meu próximo?”, mas “de quem eu sou próximo e como eu chego a ser próximo?”  O “próximo” não é somente o outro para mim, mas eu para o outro.
O “próximo”, no sentido expresso pela parábola, não pode nos deixar indiferentes; provoca uma respos-ta, compromete em uma ternura concreta, oblativa, capaz de risco, para socorrer o ferido.
A conclusão da parábola é um programa de vida. Jesus não diz: “agora, sabes, podes ficar tranquilo”. Afirma antes: “Agora vai, e  também tu faze o mesmo”.
Neste ícone, temos a magna carta da ternura como resposta do discipulado e forma de atualização concreta do amor evangélico.

Os personagens da parábola: um homem, assaltantes, um levita, um sacerdote, um samaritano; todos, exceto “um homem”, aparecem designados por sua função social: uns com prestígio e outros no mundo marginalizado (assaltantes, samaritano).
“Um homem”, sem mais especificações, representa cada ser humano, para além de suas conotações de nacionalidade, de nível social, de religião; é cada ser humano necessitado, carente, vítima... A novidade do evangelho consiste precisamente na superação de tais barreiras.
Na parábola, o desconhecido ocupa o centro do relato, visto que todos os demais personagens aparecem em relação com ele: os bandidos o assaltam, despojam, golpeiam e o abandonam; o sacerdote e o levita vêem-no e passam ao largo; o samaritano o vê, comove-se, aproxima-se, cuida dele. Até quando é levado à hospedaria continua sendo o pólo das atenções. Essa organização do movimento no espaço em torno de um homem reduzido à impotência indica seu papel central, mesmo que dentro de sua passividade. Todos os personagens se definem a favor ou contra ele: é assaltado, despojado, espancado, deixado semimorto, comiserado, enfaixado, conduzido, cuidado... De viajante passa a corpo inerte e, abandonado por uns, reencontra vida graças a outro.

O samaritano avista ali, no caminho, um homem, e um homem em perigo de vida; que fosse de outro povo ou outra religião, é irrelevante. O bom samaritano vai além dos dados de ordem social, moral ou religiosa; avista, para além das diferenças, um ser humano igual a ele, e por isso irmão.
Para o sacerdote e para o levita, o homem ferido converte-se em obstáculo a evitar: seguem adiante pelo outro lado. As normas de pureza proibiam-lhes contaminar-se pelo contato com a morte, visto que deviam manter-se puros a fim de participar do culto.
O samaritano não se deixa condicionar pela “prudência” de continuar o caminho, nem pelo medo de se aproximar do ferido; ao contrário, se detém e se envolve na situação do ferido: “Viu-o e teve compaixão” (sentimento que aparece na Bíblia referindo-se somente a Deus e a Jesus); assume o risco do encontro e se deixa interpelar pela necessidade do outro, cuja vida, para ele, conta mais do que prosseguir sua viagem.
Existem, portanto, duas maneiras de ver: permanecer alheio ou comprometer-se.
O sacerdote e o levita não mudam, a não ser passar  pelo outro lado; tal  atitude os faz aliados dos bandidos sob o signo da exclusão: saem do relato sozinhos, limitados a seu projeto, excluindo o outro.
O samaritano “viu-o” e foi afetado pelo que viu; isso evoca já um modo diferente de olhar o outro, não como um estranho ou com indiferença, mas como um “próximo” para servir com amor.
O termo “compaixão” revela um forte compromisso afetivo como “um comprimir-se do coração” e denota uma íntima participação na situação do ferido, um “com-partilhar” que se faz solidariedade.
O samaritano não organiza um socorro à distância, não se afasta em busca de reforços, mas ele mesmo põe mãos à obra, interessando-se pessoalmente pelo ferido e fazendo-se cargo de sua situação: com suas mãos o medica e enfaixa as feridas, o levanta e o carrega sobre sua cavalgadura; caminha ao lado por quilômetros e quilômetros e o entrega ao administrador da pousada.

Há, em todos estes gestos, uma “com-participação”, uma atenção pessoal que exprime a autenticidade da ternura evangélica. O samaritano realiza atos concretos e o faz com ternura transbordante, até ao excesso; ele vai além do simples apelo do dever.
Ninguém poderia ter-lhe pedido tanto. Detendo-se, curando o ferido e conduzindo-o ao lugar de descanso, ele já tinha cumprido seu essencial dever de justiça e podia sentir-se satisfeito. Mas, ele sente a neces-sidade de ir além. Sua ternura é verdadeiramente completa, genuína, sem interesses nem meio-termo: é uma ternura de puro dom, gratuita, uma ternura de benevolência.
Com justiça, os padres da Igreja gostavam de destacar que o primeiro grande Samaritano fora o Filho de Deus feito homem. Ele, em primeiro lugar, se deteve misericordiosamente junto a nós pecadores, descen-do de sua “cavalgadura” e fazendo-se nosso companheiro de viagem.

A “opção de vida” em favor do próximo é o indicador de uma vida aberta aos outros e comprometida na construção de uma convivência social na qual predomine a ternura e não a dureza de coração, o respeito à vida e o amor e não a violência e a exclusão.
Segundo a teóloga Maria José Torres “a parábola do samaritano tem consequências ético-políticas”.
Nossa compaixão deve estar perpassada de indignação ética, porque não há compaixão sem justiça. Daí apostar pelo modelo compassivo do cuidado.
Para voltar às raízes da fé, devemos reivindicar a compaixão como sinal de identidade do humano e do divino, porque parecer-se com Deus implica ser e atuar compassivamente. Deus tem entranhas de mãe e se comove por seus filhos mais sofredores, vítimas da maldade humana.
A parábola é uma exortação à misericórdia e à denúncia. Meu próximo não é só o que merece minha ajuda, mas também aquele que merece ser denunciado porque dá uma volta e deixa as coisas como estão.

Texto bíblico:   Lc 10,25-37

Na oração: Os personagens da parábola podem servir-nos de espelhos: talvez possamos sentir-nos como o
                     escriba cético que pergunta: “Quê devo fazer?”, sem contudo, comprometer nossa vida; ou como o sacerdote e o levita, tão preocupados em chegar ao culto que não nos sobra tempo nem atenção para o homem ferido jogado na sarjeta. Os três aparecem distraídos e dispersos em seus próprios projetos, planos, ocupações ou reflexões, querendo conhecer, no plano teológico, quem é o próximo, cumprir a Lei, chegar ao Templo, não contaminar-se com um cadáver...
No entanto, tudo isso os impede de viver centrados no essencial que, naquele momento, era atender ao homem ferido. O samaritano, ao contrário, aparece descentrado de si mesmo; é todo atenção solícita e eficaz no serviço do desconhecido que encontra em seu caminho, e isso o faz entrar em sintonia com o desejo e o coração de Deus.


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