Teológico Pastoral

Teológico Pastoral

domingo, 28 de julho de 2013

QUEM PEDE, RECEBE, QUEM PROCURA, ENCONTRA, E, PARA QUEM BATE SE ABRIRÁ
(Liturgia do Décimo Sétimo Domingo do Tempo Comum)


Neste Décimo Sétimo Domingo do Tempo Comum é impossível deixar de pensar na grandeza e no sentido da JMJ (Jornada Mundial da Juventude) que está acontecendo no Rio de Janeiro. Como disse nesses dias o Santo Padre, o Papa Francisco, o Rio de Janeiro se tornou o centro da Igreja.
São milhares de milhares de jovens que, depois de uma semana missionária riquíssima de encontros, de sinais de partilha e comunhão, de abertura ao diferente nas mais diversas expressões culturais dos mais diferentes países do Planeta, unindo-se na oração e na fraternidade, enche o mundo de esperança.
A JMJ é um daqueles eventos que põe o olhar do mundo inteiro, tanto dos que crêem como dos que não crêem em Deus, na esperança.
Todos nós temos necessidade dessa esperança, principalmente num tempo em que experimentamos duras crises e tanta falta de esperança.
É nesse contexto eclesial que a liturgia de hoje nos convida a olhar mais uma vez para Jesus, enquanto Ele reza, depois de ter-nos colocado no caminho do Bom Samaritano, exigindo de nós uma atitude de amor diante do sofrimento alheio e depois de fazer-nos “entrar” com Ele, por um momento, na casa de Marta e Maria para lembrar-nos que não existe ação, ainda que seja a mais nobre e ainda que fundamentada na caridade, que não parta da escuta da Sua Palavra, hoje o Senhor nos dá, mais uma vez, o fundamento do sentido de escutá-Lo. Trata-se da oração na esplêndida dimensão da amizade.
Todos nós experimentamos o que significa rezar. Desde os que vivem em um contínuo relacionamento com Deus, até àqueles que elevam aos Céus uma simples invocação. Todos rezam! Seja quem se lembra de rezar só nos momentos de dificuldade, ou seja quem se lembra de agradecer a Deus por tudo, todos os dias. A oração, indiferente da forma que se exprima é uma expressão essencial da nossa vida. Não podemos viver sem rezar.
Inclusive para quem não consegue e/ou não quer encontrar momentos de encontro com Deus é esquecida a dimensão profunda da oração, porque rezar é a nossa pobreza de criaturas com a sua necessidade nunca satisfeita de verdade, de amor, de beleza e de paz. Não há quem não busque, mesmo inconscientemente verdade, amor, beleza e paz! Santo Agostinho, comentando o Salmo 37, encontra esta belíssima expressão: “O teu desejo é a tua oração”.  
Cada ser humano é uma oração viva e forte. Às vezes, em forma de um grito e às vezes, em forma de um pedido de socorro.
Senhor, ensina-nos a rezar”, os discípulos pedem a Jesus. Na verdade, este pedido não diz respeito tanto ao valor da oração, que não está em discussão, mas ao modo como se deve rezar.
Mas como deveriam rezar os discípulos de Jesus, de modo a se distinguirem dos discípulos dos outros mestres, sobretudo dos discípulos de João que, talvez, rezavam de uma forma muito mais elaborada e articulada?
Na verdade, o pedido dos discípulos a Jesus “esconde” outro desejo. Como poderiam rezar de modo que a sua experiência fosse parecida com a experiência de Jesus que, todas as vezes que entrava em oração, mesmo de noite, revelava um semblante luminoso e iluminado, como se deixasse transparecer uma alegria indescritível?
Jesus responde à pergunta dos discípulos, talvez, desapontando-os um pouco, porque a oração que lhes sugere é simples, aparentemente elementar.
Na realidade, a oração ensinada por Jesus, que se tornou um dos tesouros mais preciosos da nossa fé, encerra toda a beleza do Seu Evangelho.
O que este breve texto tem de extraordinário que nos faz a repeti-lo tantas vezes, infelizmente, nem sempre com a mesma compenetração e comoção que deveria tomar-nos cada vez que, como criaturas, “ousamos dizer” ao Criador, Pai, “papai”?
Esta é a primeira extraordinária revolução da oração do “Pai nosso”. Isto é, a confiança filial, a possibilidade de se dirigir a Deus como filhos se dirigem ao pai mais amoroso, é a verdadeira revolução no exemplo do relacionamento que Jesus tem com o Pai.
Alegrar-se com o verdadeiro rosto de Deus, o rosto do Pai é a maior graça porque, se Deus fosse um Deus terrível para nós, mais “patrão” do que Pai viveríamos debaixo de um medo incessante e de uma tristeza sem igual!
Na primeira leitura (Gn 18,20-32) vimos que Abraão já se liberta desse medo de Deus quando ousa dirigir-se a Deus “negocia” com Ele, com a confiança e a coragem de um amigo íntimo, em favor de duas cidades ameaçadas de extinção por causa de seus crimes.
Com a voz da sua oração, na verdade, Abraão está dando voz ao desejo de Deus que não é o desejo de destruir, mas de salvar; que não é de punir, mas de perdoar.
É justamente porque, não apenas em Sodoma e no AT, mas em todas as cidades em que vivemos e hoje, como também em todas as épocas da história, nunca se encontrará um homem plenamente justo.
Foi necessária a Encarnação para que houvesse entre nós um homem plenamente justo e, por isso, Deus mesmo fez-se homem.
Haverá para nós para sempre o justo, porque Ele, o Inocente, trouxe salvação ao mundo inteiro morrendo na Cruz, dando a vida a todos nós, como lembra Paulo aos Colossenses na segunda leitura (2, 12-14) Existia contra nós uma conta a ser paga, mas ele a cancelou, apesar das obrigações legais, e a eliminou, pregando-a na cruz”.
É por isso que a oração de cada homem encontra a sua resposta. Cada uma das nossas intercessões serão sempre ouvidas, porque Jesus nos revelou o rosto do Pai. Esta é a prova do cumprimento seguro de cada oração.
Na história de amizade, narrada na parábola no Evangelho deste domingo (Lc 11, 1-13), Deus dá a quem pede, ajuda a quem procura encontrar, abre a quem bate, porque é verdade, Ele é um bom Pai.
Mas é preciso ter muito!  O Evangelho não nos diz que devemos pedir uma coisa e nos será dada. Diz apenas, “pedi e recebereis”.
Com certeza, muitas vezes, nós pedimos e não recebemos. Talvez,
Deus não tenha nos dado o que pedimos, mas, com certeza, nos surpreendeu! Basta olharmos para as nossas lutas do passado, para tudo o que já superamos para percebemos que foi Ele quem nos deu a força necessária para enfrentar as experiências difíceis. Basta prestarmos um pouco mais de atenção nas mais diversas situações da nossa vida, para perceber que Ele também nos deu forças para crescermos na fé! Deu-nos aquela esperança que vai além das maiores dores, inclusive a dor da morte de uma pessoa querida.
Jesus não nos promete a cura quando estamos doentes ou a nota máxima em um exame que fazemos na escola. Tampouco nos promete uma promoção, uma bela carreira profissional com um salário alto.
Aqui fica um alerta para evitarmos o perigo da superstição que verificamos quando percebemos que muitos pensam que basta acender uma vela ou apegar-se a qualquer devoção, para conseguiremos despertar um Deus que, caso contrário, estaria ausente ou indiferente da nossa vida e às nossas necessidades. Jesus não nos promete as coisas que queremos, mas nos promete muito mais! “(...) Quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!”.
Mas por que o Espírito Santo? Porque é o Espírito Santo que pode revelar-nos o verdadeiro rosto de Deus, rosto de um Pai que permanece ao nosso lado com a ternura que nenhum pai e nenhuma mãe seriam capazes de demonstrar ao seu próprio filho.
Nessa relação afetuosa e confiante com o Pai somos capazes também de descobrir a alegria da fraternidade. Reconhecer-nos filhos significa saber que temos irmãos. Aliás, pensando na parábola contada por Jesus, a propósito da oração, como seria bom que como irmãos, ao anoitecer de cada dia pedíssemos ao Senhor o pão da Sua presença e da Sua ternura para todas as pessoas que encontramos durante o dia, seja para as pessoas que sofrem, que se desesperam, que buscam e procuram, que rezam sem nem mesmo saber o que pedir.
Rezando com esta intenção, com certeza, receberemos também a graça de perseverar, de insistir e de tornar-nos “incômodos” mesmo, como um amigo que bate à nossa porta no meio da noite.
Deus estará sempre acordado e alerta: “Batei e vos será aberto”! É ele quem se disponibiliza a abrir a porta quando batermos, mas, na verdade, é Ele quem bate na porta do nosso coração, nos avisa a maravilhosa passagem do Apocalipse: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém escuta a minha voz e me abre a porta, entrarei e juntos faremos refeição” (3, 20).
Na verdade, só o fato de batermos à Sua porta já é um grande sinal de que nos abrimos a Ele, e este já é também um sinal de que a nossa oração já foi ouvida. O simples fato de rezar já é um fruto do dom da Sua presença.
Olhando para a multidão dos jovens no Rio de Janeiro e sustentados pela força de esperança que nesses dias está concentrada no nosso Brasil, na JMJ, reencontramos a coragem, a beleza, a dignidade, a alegria e a simplicidade da amizade com Deus que, como Pai, acolhe a nossa oração. (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – formador@inacianos.org.brwww.inacianos.org.br).
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