Teológico Pastoral

Teológico Pastoral

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Homilia dominical - 26 de setembro de 2014

JESUS TRANSGRIDE NOSSOS ESQUEMAS

“... os publicanos e as prostitutas vos precederão no Reino de Deus”(Mt 21,31)

No Evangelho de hoje, Jesus, com sua original sabedoria, nos oferece uma outraperspectiva de vida.
Sem dúvida alguma, Jesus era um provocador, no sentido etimológico da palavra, (pro-vocar: chamar para frente, desinstalar), que obrigava a ver as coisas a partir de uma perspectiva diferente da que era habitual.
Ele é Aquele que vê mais além da realidade: descobre vida onde os outros só vêem morte; desvela possibilidades onde os outros se deparam com o impossível; descobre sementes de futuro escondidasonde ninguém vê mais saída; vê santos onde todos só vêem pecadores... Jesus é Aquele que vê bondade presente no fundo do coração, inclusive daqueles que eram condenados como “publicanos e prostitutas”; sabe ler nos gestos mais simples a grandeza de um coração capaz de amar, de mudar, de ser melhor.

Mas, custa-nos muito modificar nossa perspectiva; estamos acostumados a um modo fechado de viver, com umas viseiras (a dos “sacerdotes e anciãos do povo”) que não nos permitem captar a vida em sua ple-nitude e riqueza; com isso nos instalamos no já adquirido e conhecido e atrofiamos em nós o dinamismo que busca abrir a mente e alargar o coração à realidade que nos cerca.
Ver as coisas“por uma outra perspectiva” é muito mais divertido.
O “avesso” revela que o mundo poderia ser diferente.
Dizem que, ao pintar uma paisagem, ospaisagistas a olham dobrando-se e pondo a cabeça entre as pernas abertas, por mais incômodo que seja a postura, porque assim se libertam da visão “oficial” do conjunto que to-dosvêemde pé, e descobrem novos ângulos, perspectivas não usuais e a surpresa do novono molde antigo.
Também aqui os hindus conhecem e praticam a sabedoria ancestral da postura do “pinheiro”, com a cabeça para baixo e as pernas para cima, mudando de direção as correntes metabólicas do corpo e olhando ao mesmo tempo o “mundo ao avesso”.
Isto acaba sendo a maneira de ver as coisas pelo direito. É o segredo da arte, da vida e das decisõesbem tomadas. Um enfoque novo sempre proporciona um ponto de referência melhor para uma avaliação independente, seja de linhas e cores, seja de opções e valores de vida.
Um ponto de vista novo, limpo e original é uma grande ajuda para uma vida sadia.

O que Jesus pretende na pequena parábola de hoje é dar-nos um novo ponto de vista,um novo ângulo, uma nova perspectiva, fazendo-nos ver a realidade do outro como se fosse pela primeira vez, com um olhar límpido e um juízo desinteressado.
Os “sacedotes e anciãos do povo” são os “profissionais” da religião: aqueles que disseram um grande “sim” ao Deus do templo, os especialistas do culto, os guardiães da lei. Não sentem a necessidade da conversão e não se abrem à novidade trazida por Jesus.
Os “publicanos e prostitutas” são aqueles que disseram um grande “não” ao Deus da religião, aqueles que se colocaram fora da lei e do culto. No entanto, seu coração se manteve aberto à conversão e acolheram a novidade de Jesus.

“Sacerdotes e anciãos do povo” x “publicanos e prostitutas”: revelam o lugar e o modo de viver de cada grupo na estrutura religiosa do tempo de Jesus. Mas podemos ir além: tais grupos estão presentes, e em constante conflito, em nossa própria interioridade.
Como integrá-los e como conviver com eles para que nossa vida sejacriativa e expansiva?
Nesse sentido, esta pequena parábola nos capacita a considerar nossa vida sob outra perspectiva.
Provavelmente, a parábola – em linha com a sabedoria de Jesus – está nos convidando a que sejamos capazes de reconhecer e abraçar o “publicano” e a “prostituta” que cada um de nós carrega em nosso interior. O sentido seria o mesmo que aquela outra parábola que fala do “fariseu” e do “publicano”: até que não reconheçamos o nosso publicano interno não poderemos estar reconciliados.
Simbolicamente, “publicano” e “prostituta” é aquela dimensão nossa que temos reprimida e oculta, nossa própria sombra. É claro que, enquanto não a reconhecermos, projetaremos nos outros o que em nós mesmos  rejeitamos. Só quando abraçamos nossa “negatividade”, nos humanizamos, porque nos abrimos à humildade. E só então pode emergir a bondade e a compaixão para com os outros.
Os “sacerdotes” e os “anciãos” – escravos de sua própria imagem de “observantes religiosos” – eram incapazes de reconhecer e aceitar seu “publicano” e sua “prostituta” – presentes em todos nós. Isso os incapacitava para amar os outros – publicanos e prostitutas – e para entrar no Reino.
Quanto mais nos reconciliamos com nossa debilidade e fragilidade, mais próximos estaremos da verdade.
Uma coisa parece clara: abraçar nossos próprios “publicano” e “prostituta” nos permitirá abraçar qualquer pessoa que cruze nosso caminho, sem necessidade de impor-lhe nenhuma etiqueta prévia.
Dito de outro modo: ao reconhecer e aceitar nossa própria sombra (tudo aquilo que em algum momento tivemos que negar, ocultar, reprimir...) crescemos em unificação e harmonia interior, desaparecem os juízos e preconceitos e entramos em um caminho de humildade e graça.
A aceitação da sombra (“publicano-prostituta”) nos faz descer do falso pedestal ao qual nos havia feito subir o “sacerdote que nos habita” e nos permite crescer em humildade e em humanidade.

Para Jesus, a conversão significa mover-nos em direção à nossa fragilidade, aos limites, às sombras...
Ao reconhecer-nos fracos e limitados, nós nos abrimospara Deus e para os outros; sentimo-nosnecessita-dos de salvação.Só a aceitação de nossa verdade completa conduzir-nos-á no caminho da libertação.
E a verdade é que em cada um jazem unidas a luz e a sombra, o sacerdotee o publicano.Em cada san-to dorme um pecador, e não reconhecer isso conduz ao farisaísmo e ao moralismo; mas em todo pecador dorme também um santo, e não percebê-lo supõe um empobrecimento humano, desesperança e vazio.
Somente quando integrarmos e nos reconciliarmos com os aspectos nossos que tínhamos negado ou até rejeitado – a sombra - , poderemos alcançar a paz e a harmonia estáveis.  Portanto, nossa grande tarefa não consiste em sermos “perfeitos”, mas “completos”. Na medida em que somos mais “completos”, por-que aceitamos de maneira integral nossa verdade, tornamo-nos mais compassivos e humanos.

Quem se identifica com “ideais”muito elevados, quem se exalta a si mesmo na busca da “perfeição”, mais cedo ou mais tarde terá de confrontar-se com suas “sombras”, será forçado a tomar consciência de sua condição humana e terrena, de seu “húmus”.
Quem “desce” até sua própria realidade, até os abismos do inconsciente, até a escuridão de suas sombras, até a impotência de seus próprios sonhos, quem mergulha em sua condição humana e terrena e se reconci-
lia com ela, este sim, está “subindo” para Deus, faz a experiência do encontro com o Deus verdadeiro.

Texto bíblico:Mt 21,28-32

Na oração: “Em você há uma luz capaz de espantar as trevas dos acontecimentos mais dramáticos; você é
portador de uma força que pode sustentá-lo em experiências exigentes. Em sua fraqueza há algo divino. O que a terra seca tem a oferecer? Nada, quando abandonada às suas próprias limitações. Mas ela não desespera. Mesmo sob a pobre forma de deserto, continua guardiã de tesouros insuspeitos”(Frei Cláudio V. Balen).


segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Homilia dominical - 21 de setembro de 20145

A JUSTIÇA SUBVERSIVA DE DEUS
“Chama os trabalhadores e paga-lhes uma diária a todos, começando pelos últimos até os primeiros” (Mt 20,8)
Outra parábola surpreendente de Jesus onde o protagonista é o dono da vinha, um homem bom e justo, que quer trabalho e pão para todos. Ao contá-la, certamente Jesus despertou nos ouvintes um desconcerto geral. Os trabalhadores são contratados em horários diferentes, ao longo do dia e, surpreendentemente, o dono da vinha paga a todos um denário, que era o que uma família precisava para viver cada dia na Gali-léia. Os que chegaram primeiro protestaram, considerando uma injustiça o fato de terem trabalhado mais e recebido o mesmo valor pela diária.

Jesus revela uma concepção revolucionária de justiça do Pai. Deus desafia a justiça calculadora, auto-suficiente. Nós achamos justiça pagar algo com seu preço equivalente. Mas Deus tem outros critérios: para Ele, justo é o que é bom. A justiça de Deus é idêntica à sua bondade. O dono da vinha pagou o salário que não era proporcional ao trabalho feito, mas sim proporcional às necessidades dos trabalhadores e de suas famílias. Ele não se fixa nos méritos de cada um, se trabalhou muitas horas ou se trabalhou poucas horas; o que lhe preocupa é que, esta noite, todos tenham o que comer.
A parábola também revela que o importante é a intensidade do trabalho e a intenção com que ele é realizado e não apenas sua duração; revela também que o trabalho a serviço do Senhor já é uma graça e um privilégio. No Reino não se trabalha por méritos ou para receber recompensa. A retribuição já está dada no fato de “trabalhar na vinha do Senhor”.

Outro aspecto que a parábola deixa transparecer é que, além da relação de trabalho, baseada no rendi-mento e regida pela justiça, existe a relação amorosa, baseada na generosidade e regida pela bondade e pela ternura. Precisamente aos “primeiros” que foram trabalhar na vinha, o dono teve de recordar uma coisa que é absolutamente lógica: “o teu olho é mau porque eu sou bom?”
A última palavra é a chave de todo o texto. Deus Pai se relaciona com seus filhos não a partir do critério do mérito segundo o rendimento, mas a partir da generosidade. Ele não anda calculando o que cada um merece. Isso é uma falsa idéia que serviu somente para ‘deformar” a imagem de Deus que todos nós carregamos dentro. Muita gente fundamenta sua fé num Deus “deformado”, porque é um Deus que se parece muito mais a um patrão que ajusta contas com seus criados do que um Pai que quer sempre que seus filhos vivam. Deus é generoso, e basta.
As pessoas que tem em sua cabeça o Deus-patrão, que paga segundo os méritos e o rendimento, não entendem e nem podem entender o Deus-Pai revelado por Jesus no Evangelho.
Há cristãos que passam pela vida como “diaristas”, calculando o que vão “ganhar” e “merecer”. E há cristãos que caminham pela vida como “filhos” do Pai do céu: eles não pensam em ganhos e em merecimentos; só pensam em ser bons filhos, honrados por trabalharem na vinha do Pai e que vibram quando alguém acolhe o chamado para colaborar. Para eles o que importa não são os “méritos”, mas a “generosidade”.

Em geral, aqueles que vêem a si mesmos como os “primeiros” e, portanto, como os que apresentam maior rendimento, os mais eficazes e os melhores, o que fazem mais pelos outros, não podem tolerar que os “últimos” sejam tratados como eles, que vêem a vida somente a partir da eficácia, dos direitos, dos privilégios e do bom rendimento. Não possuem outros critérios em sua cabeça e nem sequer em suas vidas há lugar para outras categorias ou outros valores.
Ora, as pessoas que assimilaram tais critérios são pessoas que não entendem as “razões do coração” e, portanto, tais pessoas correm o perigo de não entender a generosidade e, o que é pior, normalmente não estão capacitadas para compreender que a vida tem de se reger por uma bondade tão grande que supere todas as obrigações do direito e da justiça humana.
Ao dizer isso, estamos tocando na utopia do Reino anunciado por Jesus.

Por isso, a ética de Jesus nos desconcerta, nos confunde. Pois não temos a coragem de afirmar que na vida inteira, tanto na vida privada quanto na vida social e pública, se não é a bondade e o amor que prevalecem, fazemos desta vida uma selva, um campo de batalha, um inferno, no qual caem os mais fracos e tiram proveito os que dominam os outros.
Sabemos muito bem que todo aquele que pretende situar-se na frente ou acima dos outros provoca divi-são, inveja, ressentimentos e, definitivamente, rompe a proximidade entre as pessoas.
Ao contrário, aquele que não pretende postos de honra e de importância, somente pelo fato de agir assim, produz uma corrente de harmonia, de união, de humanidade, de proximidade entre as pessoas.

Na parábola de hoje há um “pecado de raiz” que afeta a todos: a comparação com outros. E da comparação brotam a inveja e a queixa. E quanto mais se compara com outros, mais insatisfeito fica e mais se sente prejudicado por Deus e pelo destino. Com isso, trava o fluir da própria vida.
Na parábola, o que deveria ser um motivo de alegria para os primeiros que foram chamados, é sentido como ameaça à própria segurança. Quando ouvimos as palavras dos “primeiros” – justificando-se e pedindo reconhecimento -  percebemos uma queixa mais profunda. É a que vem do coração que acha que nunca receberam o que lhe era devido. Na sua queixa, o trabalho é visto como escravidão.
           É a queixa expressa de inúmeras maneiras, sutís ou não, formando uma montanha de ressentimento.
Fechados em si mesmos, só olham para si, para suas obras, para a duração do seu trabalho; encouraçados na própria justiça, não há neles a mais mínima abertura para a gratuidade e a alegria da comunhão, para a vivência da filiação e da fraternidade.

Queixar-se é contraproducente e nocivo. Alguém que só reclama é alguém difícil de conviver.
O trágico é que, uma vez  expressa, a lamúria leva ao que mais se  queria evitar: um afastamento maior. Essa queixa íntima é sombria e pesada: condenação dos outros, condenação própria, justificativas... entran-do numa espiral de auto-rejeição. À medida que se deixa arrastar ao interior do vasto labirinto das suas queixas, fica mais e mais perdido, até que, no fim, acaba achando-se a pessoa mais incompreendida, rejeitada, negligenciada e desprezada do mundo.
É esta derrota – caracterizada por julgamento e condenação, raiva e ressentimento, amargura e ciúme – que é tão perniciosa e prejudicial ao coração huma-no. Tornou-se menos livre, menos espontâneo e um tanto quanto “pesado”.

Texto bíblico:    Mt 20,1-16  

Na oração: - é na “queixa”, declarada ou não, que
                            reconheço em mim a imagem dos “trabalhadores da primeira hora”.   Quais são minhas queixas?
- não é fácil distinguir o meu ressentimento e administrá-lo de maneira sensata;  esta é a realidade: onde quer
  que se encontre meu   lado virtuoso, aí também existirá sempre um lado  queixoso e ressentido;
- abrir espaço em meu interior para que a bondade e a gratuidade do Pai prevaleçam na minha relação com
  os outros.


 Fonte: www.ceijesuitas.org.br

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Homilia Dominical - 15 de setembro - 2014

CRUZ: expressão máxima da ternura de Deus

“Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito...” (Jo 3,16)

Diante do mistério da “exaltação da Santa Cruz”, o mistério do “esvaziamento” e “descida” do Ver-bo de Deus até as últimas conseqüências, muitos questionamentos brotam naturalmente:
- O ser humano pós-moderno, que absolutiza o bem estar, o prazer, o consumo, pode ainda encontrar,
   na contemplação de um Crucificado, a chave para entender sua própria vida?
- Quê sentido tem um Deus que se esvazia de suas prerrogativas e “desce”, deixando-se encontrar entre
   os últimos e excluídos?
- a Cruz é sinal de solidariedade ou sinal de impotência, sinal de libertação ou sinal de opressão, sinal de
  rebeldia ou sinal de submissão, sinal dos vencidos ou sinal dos vencedores...?

A Cruz é um produto terrível da maldade, se a encaramos da perspectiva humana; e é manifestação do amor levado até as últimas conseqüências, se a olhamos da perspectiva de Deus.
A festa da “exaltação da Santa Cruz”  nos des-vela o verdadeiro rosto do Deus de Jesus:  rosto feito de amor e não de ira; de vulnerabilidade e não de distancia; de perdão e não de castigo; de benção e não de maldição.
A primeira coisa que descobrimos ao contemplar a Cruz é a força destruidora do mal, a crueldade do ódio e o fanatismo da mentira. Mas é precisamente aí que nós, seguidores de Jesus, vemos o Deus identificado com todas as vítimas de todos os tempos. Está na Cruz do Calvário e está em todas as cruzes onde so-frem e morrem os mais inocentes. A partir da Cruz, Deus não responde o mal com o mal; Ele não é o Deus justiceiro, ressentido e vingativo, pois prefere ser vítima de suas criaturas antes que verdugo.
A Cruz e o Crucificado nos revelam que não existe, nem existirá nunca um Deus frio, insensível e indiferente, mas um Deus que padece conosco, sofre nossos sofrimentos e morre nossa morte.
Despojado de todo poder dominador, de toda beleza estética, de todo êxito político e de toda auréola religiosa, Deus se revela a nós, no mais puro e insondável de seu mistério, como amor e somente amor.
Nós cristãos contemplamos o Crucificado para não esquecer nunca o “amor louco” de Deus para com a humanidade e para manter viva a recordação de todos os crucificados da história. Tudo está atravessado pelo dinamismo vivificante do Amor de Deus que transpareceu em Jesus com seu amor até o fim. O seu Amor é um Amor que em sua fidelidade sofrida nos sustenta e conforta em nossas noites.

De fato, a Redenção está na Luz e não na cruz. Esta – com minúscula – foi imposta pelos carrascos e, de nenhum modo, foi querida ou imposta pelo Pai, como expiação.
Só podemos escrever Cruz – com maiúscula – quando ela se converte em Luz, deixa de ser ensangüentado patíbulo para se revelar como progressivo Caminho de salvação. O Deus dos cristãos se fez humano para indicar-nos o Caminho da Luz, ou seja, da humanização da pessoa e do mundo.
Abraçar e dar sentido à Cruz supõe uma real e firme adesão aos valores pelos quais o Crucificado preferiu morrer a desertar e trair. Está aí uma multidão de mártires para comprovar isso.
A Cruz é a revelação da “escada de luz” que o Filho desceu até o fundo do poço da degradação na qual o ser humano estava (e está) metido. Só se regenera e se salva quem se empenha em subir por essa escada, vivendo os valores que o Crucificado viveu. Nem sacrifícios, nem méritos, nem pagamentos. Puro amor gratuito de um Deus que é Amor!

“Deus amou tanto o mundo...” O mistério da Santa Cruz nos sensibiliza e nos capacita para aproximar-nos do nosso mundo com uma visão mais contemplativa. Em outras palavras, a contemplação da Cruz ativa em nós uma maneira contemplativa de viver no meio do mundo para rastrear a presença de Deus, oculto nos lugares da fragilidade. O “subir” até Deus passa pelo “descer” até às profundezas da humanidade.
O seguidor de Jesus oscila entre o mundo e Deus. É tão familiar com Deus que admira a variedade e a multiplicidade do mundo, e não teme o mundo com toda a sua complexidade. E é tão familiar com o mundo que sente o Espírito de Deus, que trabalha no mundo, em todos os lugares e da maneira mais inesperada.
Em Jesus cristo fica claro, de uma vez para sempre, que Deus é do mundo e o mundo é de Deus . “Meu solo e o solo de Deus são o mesmo solo” (Mestre Eckhart)
A terra já não é um vale de lágrimas mas o lugar onde Deus armou sua tenda.
A pessoa contemplativa, movida por um olhar novo, entra em comunhão com a realidade tal como ela é. É olhar o mundo como “sacramento de Deus”. Um olhar capaz de descobrir os sinais de esperança que existem no mundo; um olhar afetivo, marcado pela ternura, pela compaixão e por isso gerador de misericórdia; um olhar que compromete solidariamente.

Na Cruz de Jesus, portanto, nos é oferecida uma nova forma de sentir o mundo: “tende em vós os mes-mos sentimentos de Cristo Jesus”. O madeiro onde Jesus de Nazaré morreu não é belo aos olhos humanos, não gratifica nossos sentidos; não é a marca de um “país católico”, nem a divisa da cristandade... É e será sempre fonte origem de um novo modo possível de ver e ouvir o mundo, de olhar quem somos e como é Deus.
A Cruz, com seu mistério fascinante e tremendo, com seu mistério sempre maior, não só é fonte de salvação eterna, mas princípio de uma nova sensibilidade para um novo modo de se fazer presente neste mundo.
Não podemos venerar a Cruz e adorar o Crucificado vivendo de costas ao sofrimento de tantos seres humanos destruídos pela fome, miséria e exclusão. Se ao contemplar o rosto do Crucificado nos esquecemos das vítimas, seja qual for sua raça, cultura ou religião, então é que nosso olhar não é o olhar da fé. Segundo Jon Sobrino, a fé no Crucificado implica em fazer descer da Cruz aqueles que estão dependurados nela.

Na Cruz, Jesus Cristo “desceu” ao nível mais baixo da condição humana, de maneira que todo aqueles que caírem, caiam n’Ele.
Associar-nos ao Cristo em sua “descida”  para “subir” com Ele significa, também, arrancar de nosso próprio coração a cumplicidade com todo tipo de morte e deixar-nos possuir pela glória de Deus.
“Descer” com Ele para aquilo que também está morto em nós (no nível corporal, afetivo, espiritual, social). A luz da presença de Cristo ilumina tudo o que é sombrio em nosso interior. Ali estão presentes germes de vida que ainda não tiveram possibilidade de irromper e crescer.

Texto bíblicoJo 3,13-17

Na oração: quando levantamos nossos olhos
                   até o rosto do Crucificado, con-templamos o Amor insondável de Deus; se O contemplamos mais atentamente, logo descobriremos nesse Rosto o rosto de tantos outros crucificados, longe ou perto de nós, reclamando nosso amor solidário e compassivo.
- Diante do Crucificado, trazer à memoria os crucificados de hoje: isto nos afeta? nos deixa inquietos? nos incomoda?
Fonte: www.ceijesuits.org.br











Homilia Dominical - 14 de setembro - 2014

 Pela Cruz vencerás

O Imperador Constantino, antes de uma importante batalha, viu no céu uma Cruz, com os dizeres:
"Por este sinal, vencerás".
Crendo nesse sinal, obteve uma grande vitória.

Na liturgia comemoramos hoje
a EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ...
Como pode a Igreja propor aos cristãos a exaltação
daquilo que foi o instrumento de tortura e morte de Jesus ?

O que se exalta na cruz não é a dor, mas a salvação, que ela trouxe.
Assim a cruz não é símbolo de morte,
mas símbolo de nossa redenção, símbolo de nossa fé cristã.
É a expressão suprema do amor de Deus por nós.

As Leituras são um convite a contemplar esse Deus crucificado
e a deixar-se envolver numa resposta de amor.…

A 1ª Leitura introduz o tema com o episódio da SERPENTE DE BRONZE levantada por Moisés no deserto. (Nm 21,4b-9)

- O Povo, em marcha pelo deserto, cansado da longa marcha e
enfastiado com um alimento sempre igual (o maná),
expressa o seu desagrado contra Deus e contra Moisés.
- Deus castiga os revoltosos com serpentes venenosas.
- Arrependidos, os israelitas pedem perdão. 
- Deus manda Moisés construir uma serpente de bronze e colocá-la num poste.  
  Os que dirigiam o olhar para ela ficavam salvos.

*  Deus usa o mesmo instrumento que causa morte para salvar a vida do Povo.
    Essa serpente é figura da CRUZ,
    em que CRISTO foi levantado para dar vida a todos.

A 2ª leitura é um Hino cristológico, que narra a história de Jesus.
Jesus, Filho de Deus, despojou-se da grandeza divina e
assumiu a condição humana:
"Esvaziou-se, humilhou-se, se fez obediente até a morte de CRUZ.
 Mas Deus o exaltou... tornando-o 'Senhor' do universo." (Fl 2,6-11)

* Exaltado na Cruz, Jesus é proclamado como o Senhor glorioso.

No Evangelho, João apresenta o mistério da Cruz, como exaltação,
como fonte de vida e salvação para a humanidade. (Jo 3,13-17)

Cristo interpreta o episódio da serpente de bronze.
Como a serpente erguida por Moisés no deserto, foi sinal de salvação,
assim Cristo levantado na cruz será Sinal de salvação
a todos os que nele crerem.


* A Cruz não é um amuleto que se carrega ao pescoço
para proteção nas doenças ou desventuras;
não é um símbolo colocado no cimo das montanhas
para mostrar a conquista do território,
ou nas casas para indicar a sacralidade do ambiente.
- É um Sinal: o ponto de referência dos que têm fé e
vêem nela a proposta de vida, feita por Cristo ressuscitado.

O olhar a Cristo crucificado nos revela o verdadeiro rosto de Deus
e nos convida a nos deixar envolver por seu amor.
Descobriremos que Deus não é forte e poderoso, mas frágil;
não é vencedor, mas derrotado; não é rico, mas despojado de tudo;
não é servido, mas servidor dos homens;
não faz o que quer, deixa que os homens façam dele o que querem.
É fraco, vencido, pobre, servo, humilhado... por amor...

+ E para nós, o que significa a Cruz ?    
   - Um amuleto para dar sorte ou afastar desgraças?
   - Uma jóia que carregamos ao pescoço?
   - Um enfeite que penduramos na parede fria de nossas casas?
   - Um monumento em lugar turístico?

+ DUAS SUGESTÕES:

1) FIXAR OS OLHOS NO CRUCIFICADO e orientar as nossas escolhas:
    Nessa semana, encontre um momento e um local adequado
     para permanecer sozinho, olhando para o crucificado...

- Os Acontecimentos dramáticos da Paixão e morte de Jesus na cruz,
  procure reviver em silêncio e na contemplação:
  Desprezado pelo povo, odiado pelos sacerdotes, calúnias, mentiras, acusações.
  * Tenho coragem de recordar as ofensas, os rancores
     por uma falta de compreensão, por uma palavra inoportuna?

- As Palavras: "Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem".
                        "Ainda hoje estarás comigo no paraíso..."
  * Se abrirmos o coração, do crucificado brotará um clima de paz e
      uma necessidade de compreensão, de amor e de perdão.

- Vendo esse Cristo de Braços Abertos, posso continuar de braços cruzados,
   me omitindo diante das necessidades dos irmãos?

2) O SINAL DA CRUZ, que talvez aprendemos ainda no colo de nossa mãe:
Um gesto simples, em que traçamos uma cruz sobre nós, invocamos
a Trindade e consagramos nossa mente, nosso coração e nossas ações...

* Que tal nessa semana, fazê-lo consciente, com mais fé e amor?

Cristo venceu pelo caminho da Cruz e é também o caminho de nossa vitória.

   Canto: Vitória, tu reinarás, ó Cruz tu nos salvarás...


                                       Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 14.09.2014

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Bispos emitem mensagem sobre Reforma Política no Brasil
Publicado em: 02/09/2014
Mensagem sobre a Reforma Política
 
A Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, atenta à sua missão evangelizadora e à realidade do Brasil, reafirma sua convicção, como muitos segmentos importantes da sociedade brasileira, de que urge uma séria e profunda Reforma Política no País. Uma verdadeira reforma política melhorará a realidade política e possibilitará a realização de várias outras reformas necessárias ao Brasil, por exemplo a reforma tributária.
Esclarecemos que este Projeto de Lei de Iniciativa Popular pela Reforma Política não está vinculado a nenhum partido político, tão pouco a nenhum candidato a cargos políticos eletivos, embora não haja restrição do apoio de bons políticos do Brasil.
Várias tentativas de reforma política foram feitas no Congresso Nacional e todas foram infrutíferas. Por isto, estamos empenhados numa grande campanha de conscientização e mobilização do povo brasileiro com vistas a subscrever o Projeto de Lei de Iniciativa Popular pela Reforma Política Democrática, nº 6.316 de 2013, organizado por uma Coalizão que reúne uma centena de Entidades organizadas da sociedade civil, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Movimento contra a Corrupção Eleitoral (MCCE) e a Plataforma dos Movimentos Sociais.
O Projeto de Lei de Iniciativa Popular pela Reforma Política Democrática se resume em quatro pontos principais: 1) O financiamento de candidatos; 2) A eleição em dois turnos, um para votar num programa o outro para votar numa pessoa; 3) O aumento de candidatura de mulheres aos cargos eletivos; 4) Regulamentação do Artigo 14 da Constituição com o objetivo de melhorar a participação do povo brasileiro nas decisões mais importantes, através do Projeto de Lei de Iniciativa Popular, do Plebiscito e do Referendo, mesclando a democracia representativa com a democracia participativa.
Durante Semana da Pátria, refletiremos sobre nossa responsabilidade cidadã. Animamos a todas as pessoas de boa vontade a assinarem o Projeto de Lei que, indubitavelmente, mudará e qualificará a política em nosso País. A Coalizão pela Reforma Política e a coordenação do Plebiscito Popular coletarão assinaturas e votos, conjuntamente. Terminada a Semana da Pátria, cada iniciativa continuará o seu caminho.
Trabalharemos até conseguirmos ao menos 1,5 milhões de assinaturas a favor desta Reforma Política.
“No diálogo com o Estado e com a sociedade, a Igreja não tem soluções para todas as questões específicas. Mas, juntamente com as várias forças sociais, acompanha as propostas que melhor correspondam à dignidade da pessoa humana e ao bem comum. Ao fazê-lo, propõe sempre com clareza os valores fundamentais da existência humana, para transmitir convicções que possam depois traduzir-se em ações políticas” (Evangelii Gaudium, 241).
A Nossa Senhora Aparecida, Mãe e Padroeira do Brasil, suplicamos que leve a Jesus as necessidades de todos os brasileiros. E Ele, com toda certeza, nos atenderá. “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2, 5).
Fonte: Comissão Brasileira de Justiça e Paz
 

terça-feira, 2 de setembro de 2014

HOMILIA DOMINICAL - 07 DE SETEMBRO DE 2014

A ARTE DE CONSTRUIR RELAÇÕES MAIS HUMANAS


Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles”  (Mt 18,20)

O evangelho de hoje faz parte do chamado “discurso comunitário”, que revela um modo original de viver e proceder e que tem seu fundamento no modo de viver e agir do próprio Jesus.
É bonito ver como Jesus prepara e acompanha os seus amigos, os apóstolos, para a vida de comunidade e para a missão. Ele dedica à formação dos Doze suas melhores forças e seus ensinamentos mais claros. O fundamental, nesta formação, é o "estar com Ele": convivência, intimidade, partilha de vida, de sonhos...
Jesus tem consciência de que nenhuma comunidade de seus seguidores poderá subsistir se imperar um estilo de vida individualista, competitivo e incapaz de acolher as limitações e fragilidades de cada um.
Daí seu constante convite a provocar encontros que ajudem a integrar, a re-unir, a re-ligar, a articular o tecido comunitário. Há tantas vidas esparramadas, isoladas, rejeitadas... esperando por sinergia.
Na verdade, Ele provocou as pessoas a saírem de seu isolamento e padrões alienados de relacionamento para expandir-se em direção a uma nova forma relacional com tudo o que existe; tal relação é a concretização do sonho do “Reino de Deus”.

O sentido da vida em comum é um dom de Deus, que nos foi dado a todos.
O fundamento é que Deus Criador é Amor Trinitário, é comunhão de Pessoas (Pai-Filho-Espírito Santo). Como criaturas, fomos atingidos pela marca trinitária de Deus.
Como homem e como mulher, trazemos esta força interior que nos faz “sair de nós mesmos”  e criar laços, fortalecer a comunhão...
O ser humano não é feito para viver só; ele necessita con-viver, viver-com-os-outros; ele é um ser constitutivamente aberto, essencialmente em referência a outras pessoas: estabelece com os outros uma interação, entrelaça-se com eles, e forma um nós: a comunidade.
O termo comunidade faz referência a algo “comum”. É aquilo cujo modo de ser é comum. A palavra “comum” vem do latim, “communis”, palavra composta de “com/cum” e “munis”. “Com/cum” significa: com, junto com, um ao lado do outro, unido, junto. “Munis” significa: disposto a, pronto, preparado para o serviço. O “múnus” é, portanto, o melhor de nós mesmos, o que de mais nobre e precioso brota de nossa interioridade e que compartilhamos quando vivemos uma sadia relação com os outros.
Estar juntos, unidos nessa partilha do melhor de nós mesmos, da maturidade e do crescimento, da autoridade e da identidade pessoal é ser “comum”. Nisso se expressa a comunidade.

No Evangelho proposto para esta liturgia, encanta-nos a delicadeza de Jesus, causa-nos impacto sua fina e delicada pedagogia, afeta-nos sua sensibilidade em salvar a dignidade do pecador e não delatá-lo publica-mente. Jesus rejeita sempre o pecado, mas empenha todos os seus esforços por salvar sempre a dignidade, a honra e a estima do pecador.
Por isso, o evangelho nos indica todo um processo de relação reconstrutora com aquele que falha e cai no erro: a atitude básica, fundamento de toda relação na verdade, é acreditar que “o outro” busca claramente o bem, e, se existe o erro, é por engano, suposta sua absoluta boa vontade.
Tal atitude desmascara o preconceito e esvazia a predisposição de julgar e de condenar sem conhecer e sem dar ao outro uma nova possibilidade.
Segundo a afirmação de Jesus, o preconceito, a consciência julgadora, o juízo rápido, são incompatíveis com o bom senso evangélico, a liberdade, e o espírito de discernimento exigido.
O “bom seguidor” é aquele que vive segundo o bom senso de seu Mestre e Senhor, vencendo os impulsos da consciência julgadora e ativando a atitude inaugurada por Ele, de ouvir, compreender e amar o outro na sua fragilidade. Todos somos “santos e pecadores” e é enquanto pecadores que somos chamados a ser presença que corrige com amor.

A “correção fraterna” é gesto humilde que não humilha, porque é discreto e silencioso. Corrigir com amor não significa pôr o outro de joelhos para que reconheça as suas faltas; ele nasce de um coração “educado” pela Misericórdia divina e se manifesta externamente com uma atitude mansa e condes-cendente. Esse Amor é uma força poderosa, não se rende diante do mal, porque é sempre capaz de redes-cobrir o bem ou de salvar a intenção do outro, de ativar novamente a esperança...
A correção fraterna é mais um estilo de vida que um ato ligado a uma transgressão. É um modo de pôr-se diante do outro e de sua fraqueza, mas que não se realiza exclusivamente depois da queda; antes, pode às vezes impedir essa queda porque é um estilo de bondade, compreensão, magnanimidade, estilo de quem não presta atenção ao que o outro merece nem se escandaliza com sua miséria. "Devemos corrigir como pecadores”,  não como “justos”.
A pessoa misericordiosa salva e redime só enquanto ama: quer o bem do outro e se entristece com seu mal, sente o dever de fazer alguma coisa por ele. Trata-se da motivação mais nobre e verdadeira de sentir-se responsável pelo outro.
Sua correção é fundamentalmente uma mensagem de estima e confiança no outro, crer na sua amabilidade. Quem corrige está convencido de que o irmão é melhor que aquilo que aparentava.
Por isso, a correção é aquela energia escondida nas palavras de Jesus:
           Vai e não peques mais”.  Força que cria aquilo que diz.

O cristianismo é tão revolucionário que exige do ser humano não apenas a grandeza de compreender e desculpar o ofensor, mas a capacidade de amá-lo.
Corrigir é ter esperança no ofensor, acreditar em sua humanidade, oculta sob a sua fragilidade.
O ser humano é muito mais que um ato e uma decisão. É reconhecer sua liberdade de ser, de iniciar uma nova possibilidade para sua existência e de reiniciar-se a si mesmo.
No momento da correção fraterna, que é um momento de parto e de libertação, dá-se ao outro o direito de “ser um outro”, não o aprisio-nando numa única possibilidade de ação e de decisão.
Enfim, a correção é uma atitude de vida que exige redefinição do outro (contemplá-lo sob outro prisma). É enxergar no outro não o mal que fez, mas sua verdadeira identidade de filho de Deus.
Correção expansiva, que abre futuro; faz emergir outros recursos latentes na pessoa; é impulso de vida, destrava e coloca a pessoa em movimento, impulsionando-a a ir além de si mesma.

Texto bíblico:  Mt 18,15-20

Na oração: A Graça é o mais profundo em nós, e para revelar sua força,
                         ela nos atravessa por inteiro, demolindo e reconstruindo, ferindo e sarando. A Graça constrói sobre a natureza, e pode elevá-la.
Deus vem ao nosso encontro em nossas carências e fraquezas; Ele nos procura através de nossas falhas, de nossas feridas, de nossas limitações... Deus serve-se de nossos pecados para abraçar-nos carinhosamente.
Nesta perspectiva, ser carente e limitado é o espaço onde Deus atua e revela seu rosto misericordioso.







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