JESUS,
PRESENÇA QUE DESCANSA E PACIFICA
“Vinde
a mim vós que estais cansados..., e vos darei descanso” (Mt 11,28)
Todo esforço precisa
seu descanso, toda atividade pede uma parada.Não há tensão que não exija um
relaxamento, nem atividade continuada que nãopeça uma recreação. Os cansaços
acabam nos revelando que em nossa vida ativa estamos amputando certas dimensões
do humano.
Precisamos de “paradas”,
mas paradas com argumento interior. Elas devem ser algo assim como um
retorno contemplativo, uma “re-flexão” em direção à raiz de
nossas motivações.
A vida tem necessidade de “con-sideração”,
“avaliação”, “fundamentação”... Do contrário, ela perde densidade e,
sobretudo, desperdiça sua própria beleza.
Assim, o descanso, em seu sentido nobre, impede
que nos convertamos em meros trabalhadores estressados; ela nos arranca de
nossa existência maquinal.
O descanso permite sintonias profundas conosco mesmo e com a
profundidade das circunstâncias habituais que fazem parte do nosso cenário
cotidiano.
Ele desperta uma
predisposição pessoal que pode ser decisiva para redescobrir o valor e o
sentido do cotidiano no qual voltamos a mergulhar. O descanso inspira, nos faz criativos, porque toca as profundezas de
nós mesmos e das atividades rotineiras.
O descanso nos conserva humanos; ele
ajuda a recuperar um ritmo de vida mais humanizante (recupera a pessoa e sua
capacidade de estabelecer relações gratuitas com outras pessoas, com a natureza
e seus ritmos...). Não basta simplesmente poder folgar; ter acesso ao
verdadeiro descanso é recuperar o
sentido da gratuidade das nossas atividades e que melhoram a vida e a
convivência.
O descanso pode ser um bom tempo para
retomar a vida com mais liberdade e para realizar atividades mais humanizantes.
Nesse sentido, o objetivo principal do descanso
é recuperar nosso lugar e nossa condição de homens e mulheres, afastando de nós
o endeusamento e as fantasias de onipotência.
No descanso,
voltamos a pisar a terra (húmus – humildade) para recuperar
uma relação desinteressada e sadia com os outros, com o mundo e com Deus.
Viver uma vida ativa
descansadamente é viver com os pés na terra e contemplando as “coisas
do alto”.
As palavras “repouso”, “descanso” e
suas variantes tem, para Jesus, um sentido e um peso próprios.
Jesus não é presença cansativa, pesada,
impositiva; ao contrário, ao entrar em sintonia e comunhão com aqueles que
suportam o fardo da opressão política e religiosa, Jesus os pacifica e os
harmoniza. O único “jugo” de Jesus é o amor; e o amor não pesa, mas dá asas ao
coração e desata as ricas possibilidades presentes no outro.
O “fardo” de Jesus não trava a vida e se expressa no
serviço aos outros. Não é o fardo da obrigação, mas o da liberdade; não é o
fardo da imposição mas o da oferta. O “jugo” de Jesus humaniza as pessoas
porque está centrado na vida e não no ritualismo religioso.
O descanso
é o melhor em Jesus, o prazer da vida, a graciosidade da misericórdia, a
celebração da sua presença no meio dos excluídos. O descanso de Jesus é sua presença pacificadora, acolhedora.
E eis que o descanso
d’Ele se abre para como oferta: “eu vos darei descanso”.Trata-se de um descanso tão amplo que podemos entrar
nele. Ele nos envolve, nos atrai, enche-nos com a sua bênção.
“Viver descansadamente” é encontrar um descanso,
uma paz interior, uma quietude, uma consolação, uma satisfação na vida e nas
atividades, e que tem sua raiz na comunhão com Deus que trabalha e descansa. A
vida do “contemplativo na ação” é uma vida ativa vivida “descansadamente”,
ou seja, na presença de Deus, com o coração centrado n’Ele, fazendo somente Sua
Vontade...
Nesse sentido, o descansonão é um simples reabastecimento,
mas uma regeneração na qual se recompõe a interioridade, o espírito criativo, a
disposição de coração...O descanso
não é uma “des-conexão” , senão uma “conexão” com aquilo que é o impulso
fundamental de nossa vida cotidiana.
E só no gratuito é
que descansamos.
Queiramos ou não, “descansamos”
na medida em que ampliamos nosso mundo próximo.
O lugar comum, o repetitivamente
particular, a rotina normótica, nos esgota.
O olhar de curto alcance e
os horizontes estreitos embotam o gosto pelas mesmas coisas cotidianas.
Por sua própria dinâmica
repetitiva e por suas limitações humanas inegáveis, a cotidianidade vicia nosso
juízo, diminui nossa visão objetiva, mata a criatividade, apaga o elán vital...
Os ares tornam-se rarefeitos
e quase irrespiráveis ali onde tudo permanece dentro do ciclo infinito do “sempre
foi assim” e o “sempre aqui”.
Com isso, o descanso, como as demais dimensões de
nossa vida, encontra seu lugar adequado a partir de nossa condição de filhos e
filhas de Deus e seguidores de Jesus.
Como cristãos, o descanso é a ocasião propícia para
realçar “quem somos nós”, o que são os outros, e a primazia de Deus.
Portanto, “tempo para ser”.
O descanso verdadeiro tem a ver com uma
certa“transgressão”
do ritmo cotidiano e com um certo exercício de “universalização”, com
uma amplitude do olhar...
“Descansamos”
quando descobrimos mundos novos e visões diferentes.
O espírito humano não
é exclusivamente sedentário: ele é mais humano na medida em que se move.
Precisamos ter acesso a
outras situações, a outros ambientes, a outras maneiras de conceber a vida, e
experimentar então o verdadeiro tamanho de nossos desejos e de nossos sonhos.
Nossa identidade não se constrói somente por meio do domínio de nosso
próprio mundo; desenvolve-se também quando acolhemos o diferente, nos abrimos
ao novo...
Desarmados de nossos
pré-conceitos e de nossas falsas seguranças, o descanso nos faz estremecer diante da realidade que sempre nos
surpreende.
Textos bíblicos:Mt 11,25-30
Na oração:O descanso é uma forma de relacionamento:
ele pode ser compreendido como um mo-mento
privilegiado no qual cultivamos os valores da gratui-dade: a alegria de
fazer-se presente, o sabor da comu-nhão que realiza o maior prazer, o prazer de
conviver, desfrutar com os outros as pequenas coisas, o serviço mútuo, a
natural simplicidade, a sensibilidade despojada, a serenidade benfazeja...
Nessa relação contemplativa e
jubilosa consiste o descanso “cristificado”.
“Diga-me
como você descansa e eu lhe direi como você trabalha e trata os outros”. Muitas
vezes os outros são obrigados a pagar a fatura do nosso cansaço, do nosso
ativismo. Tornamo-nos “cansativos”.
- Sua presença, pacifica o ambiente,
harmoniza as pessoas...?