Teológico Pastoral

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domingo, 5 de agosto de 2012

Homilia da Liturgia do domingo - 05 de julho de 2012

EU SOU O PÃO DA VIDA!
(Liturgia do XVIII Domingo do Tempo Comum)

Quanto mais o tempo passa, mais vou me convencendo que, ao longo da vida, as respostas que buscamos nem sempre são tão importantes, quanto às perguntas que, frequentemente, fazemos.
Desde a nossa infância trazemos conosco uma saudável inquietação, uma busca do sentido das coisas, de pontos de referência e de uma procura que não cessa. Tanto é que “por volta dos três e quatro anos de idade a criança desperta para a curiosidade de entender como as coisas acontecem. Isso ocorre devido à construção da própria identidade, que acontece na infância, quando a criança passa a se descobrir, a ter noção do próprio “Eu”, da importância de sua existência, das coisas que consegue fazer, que vê ou que ouve”.
A partir dessa descoberta, passa a perceber os fatos ao seu redor dando maior ênfase a como tudo acontece, ou seja, os por quês referentes a esses. Muitas vezes as crianças nos questionam repetidamente e emendam um por que atrás do outro”.
De fato, os por quês movem a nossa existência e diante dos fatos da vida, nos encontros que temos, nas palavras que dizemos, também perguntamos “o que”? O que significa este “o que”? De que outra verdade essa palavra é prenúncio?
O que é isto? O povo de Israel, na sua experiência de fé e de vida, num dado momento da sua história, na primeira leitura (Ex 16,2-4.12-15), deste décimo oitavo domingo do Tempo
Comum, se faz essa pergunta: “
o que é isto? Aliás, este é o significado da palavra hebraica “Man ‘Hu”, que traduzimos como Maná.
Israel confiando na Palavra de Deus, revelada pela boca de Moisés, realizou o seu êxodo, o seu caminho para a liberdade, não somente da escravidão do Egito, mas das suas seguranças que, nesse caso, era a escravidão ao lado da panela de carne, ainda que sem liberdade.
Mas eis que, diante da aspereza do caminho do deserto, da luta para manter o passo e da dificuldade em encontrar o verdadeiro alimento, que não sacia apenas a fome, mas que dá paz ao coração, Israel se vê disposto a trocar a sua liberdade por aquela panela de carne que tinha para comer na terra do Egito.
Era um alimento que servia apenas para mantê-los na escravidão. Enchia somente o estômago, mas era cozido com no fogo da humilhação e tinha o sabor amargo da renúncia dos sonhos e da esperança.
Mas eis que Deus intervém! “Eis que farei chover para vós o pão do céu”. Com uma palavra, afugenta as trevas que tinham obscurecido os corações dos israelitas.
Um pão do Céu para vós! O que chama a atenção não é tanto a questão do pão em si, mas o fato de ser do céu!
Há momentos na vida em que o mais importante não é nutrir-se de pão, mas nutrir-se do céu! Nutrir-se, como disse no início, daquelas perguntas à procura de um sentido e da busca de algo. Trata-se de alimentar as questões que levaram a vida à procura de um sentido ou de alguém em quem “apostar”.
Porque se é verdade que o pão é necessário para viver, para sustentar a nossa caminhada, é ainda mais verdade que, se não existir uma razão pela qual se alimentar. Se não houver um desejo, um amor que move e orienta os nossos passos, todo o resto perde a razão de ser! Essa fome se alimenta com um alimento novo! Um alimento diferente! Aquele pão que levou Santo Inácio de Antioquia, nosso Pai Espiritual a exclamar na Carta aos Romanos, na iminência do martírio: Nem as delícias do mundo nem os reinos terrestres me interessam. Mais vale para mim morrer em Cristo Jesus, do que imperar até os confins da terra. (...) Não me entregueis ao mundo nem me fascineis com o que é material; (...) Não sinto prazer com o alimento corruptível nem com as volúpias deste mundo. Quero o pão de Deus, a carne de Jesus Cristo, que nasceu da linhagem de Davi. E quero a bebida, o seu sangue, que é a caridade incorruptível”!
Como tantos outros santos e mártires da nossa Igreja, ele nos ensina e nos lembra que na vida, temos necessidade de um alimento. Um alimento bom como o pão recém-saído do forno, mas amassado com uma “farinha” especial. Assim disse Jesus à multidão que o seguia depois de ter assistido ao milagre da multiplicação dos pães. “A obra de Deus é que acrediteis n’Aquele que Ele enviou”! “Eu sou o pão da vida”!
A Eucaristia, isto é, a vida de Jesus dada e partilhada por nós, da qual nos nutrimos a cada domingo, é que permite que a nossa existência seja “misturada”, assim como a farinha, ao eterno.
Crer n’Aquele que o Pai enviou! É isso que nos ajuda a encontrar um sentido, uma direção para o nosso existir. O caminho da fé é a única obra que o Pai nos pede. O resto vem por acréscimo!
"A beleza da fé" marca profundamente a vida de quem crê. Para isso, é imprescindível deixar-se desnudar de tudo. Inclusive daquela “panela de carne”, daquele pão e até mesmo das cebolas dos “Egitos” da nossa vida. Esse tipo de alimento sacia e dá segurança apenas aparentemente. Deixa a impressão que, possuindo-o, seguiremos saciados e em segurança como peregrinos nos caminhos da vida.
Na realidade, o que nos sustenta é certeza proclamada pelo próprio Pão do Céu: “Eu sou o Pão da vida”!
Nesta Eucaristia em que, mais uma vez, o Senhor não deixa de cumprir essa promessa com o dom da sua presença no pão e no vinho que levamos ao altar, e do nosso ser Comunidade a caminho, sempre em busca, peçamos ao Pai que a obra da fé que o Espírito acendeu em nós, nos torne incansáveis buscadores de Deus e da Sua Palavra. Uma Palavra que nos interpela para que a nossa vida seja vivida na caridade, na partilha e na esperança que nunca decepciona. Do contrário, continuaremos a viver como os pagãos “cuja inteligência os leva para o nada”, como nos alerta São Paulo na segunda leitura (Ef 4,17.20-24).  (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Website: www.inacianos.org.br).


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