Teológico Pastoral

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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Homilia dominical - 12 de fevereiro de 2012

EU QUERO: FICA CURADO!
(Liturgia do sexto domingo do Tempo Comum)
Durante o tempo em que estiver leproso será impuro; e, sendo impuro, deve ficar isolado e morar fora do acampamento”! Nesta situação do Evangelho de Marcos, podemos colocar-nos tanto no lugar do leproso, enquanto doente, ou no lugar de Jesus, enquanto seus discípulos.
O leproso que, provavelmente, deveria ser mantido sempre à distância da comunidade, obedecendo assim, ao mandamento do livro do Levítico, ousa, em vez disso, aproximar-se de Jesus, ajoelhando-se diante d’Ele e apresentando-Lhe a sua súplica. Agir com tamanha ousadia só é possível quando se sabe que a pessoa a quem se dirige vai corresponder. Como devia ser acolhedor esse Jesus! O Seu olhar, as Suas palavras, a Sua atitude, o Seu estilo deviam inspirar tal confiança, a ponto de ultrapassar as convenções sociais cristalizadas, inclusive até a própria lei.
O leproso ao invés de ficar à distância, como está prescrito na lei, se aproxima na certeza de que não será rechaçado e na esperança de ser curado. Ele recebe, antes mesmo da cura, a compaixão, a comoção de Jesus, bem como a sua acolhida amorosa que se torna concreta e tangível.
Aqui os verbos são fundamentais: comovido”, isto é, cheio de compaixão, ou melhor ainda, com aquele estremecimento interior, nas entranhas; daquele jeito mesmo que um pai fica quando encontra um filho que estava perdido; “o toca”, isto é, anula todas as barreiras e distâncias, supera a Lei que não permitia ao homem sair da sua condição de exclusão; e o cura”! Jesus, portanto, é o salvador que se comove de compaixão, toca aquelas pessoas e situações que ninguém mais gostaria ou iria querer tocar, cura e liberta, devolvendo a vida e reconduzindo o ser humano à sua dignidade perdida, tanto pelo pecado, quanto pelas injustiças ou pela exclusão. É reconfortante saber que, diante das situações humanas mais trágicas e desesperadoras, Jesus se comove e se envolve. Jesus se compadece, e sente no coração a dor e o peso do sofrimento.
Jesus deixa-se envolver de tal forma, que podemos concluir que Ele é “tomado” pelo sofrimento humano, a ponto de mergulhar nesse oceano do mal com a sua Paixão Redentora.  Mas aqui há também uma oração particular cujo Senhor não pode e não quer resistir. A súplica do leproso é irresistível. “Se queres, tens o poder de curar-me”! Se queres. Isto é, se isso faz você feliz, se fosse fonte de alegria para você também. Se você quiser. Ou seja, se você fizesse isso para agradar a si mesmo! Que audácia! O leproso ousa crer que pode ser a alegria de Jesus e parece dar mais importância a esta alegria que à sua própria cura e felicidade!
Essa ousadia positiva, respeitosa, mais ainda assim, ousadia, é porque ele conseguiu intuir o grande amor de Jesus! Uma audácia intrusa e, decididamente, divinamente irresistível!
O leproso acolheu no sinal realizado em seu favor, a compreensão do essencial em relação a Jesus e, com isso, atingiu o Seu amor.
É apenas por puro amor, por excesso de amor, que Jesus veio a este mundo e O encontramos em nossos caminhos para oferecer-se a todos aqueles que estão feridos no corpo e na alma.
Se queres! Toda súplica, toda oração deveria ser assim, colocada sob a vontade do Pai que sabe o que é melhor para o filho, que nele confia inteiramente. Deveria ser assim despojada de qualquer pretensão que fugisse à fé inabalável no amor do Pai revelado em Jesus, através de um poder extraordinário e criativo desse Seu amor. Ele mesmo rezou assim no monte das Oliveiras, num dos momentos mais dramáticos e sofridos de sua presença neste mundo: “se for possível afasta de mim este cálice, mas faça-se a Tua vontade”! Trata-se de um grau de maturidade que determina o amadurecimento de quem cresceu em relação à vida e a própria fé em Deus; de alguém que, quando ainda muito infantil, limitava-se a dizer: eu quero, eu quero, eu quero!
“Também nós, com todo nosso ser, com nosso trabalho e nosso descanso, com nossos projetos e nossos pesares deveríamos nos aconchegar no abraço do amor de Deus, submetidos à sua vontade e à alegria que Ele quer dar a Si mesmo, enchendo-nos com a Sua graça” (Andrè Louf – monge trapista, teólogo e pregador de retiros).
De acordo com alguns códigos, diante do leproso, Jesus em vez de comover-se de compaixão, deveria estar com raiva e indignar-se frente ao poder do mal que impera no mundo, em suas multiformes manifestações. Esta , geralmente é a reação de muitos de nós que diante das catástrofes, injustiças e violências. Jesus não! Ele tem um movimento de impaciência, de revolta mesmo contra o mal que desfigura e desumaniza o rosto humano. Por isso diz, imediatamente: “Eu quero: fica curado”! Portanto, Ele age fazendo o bem!
“Durante o tempo em que estiver leproso será impuro” e, sendo impuro, deve ficar isolado e morar fora do acampamento”! Essa atitude do Antigo Testamento diante do mal ou do pecado, é uma tentação constante para os cristãos. Diante do mal, seja ele físico ou espiritual, no sentido mais profundo da palavra, que se encarna nas pessoas, na maioria das vezes, nossa reação, na melhor das hipóteses é fugir. Temos medo de sermos contaminados e de perder a nossa “serenidade”.
Quanto a isso é preciso compreender que quando Deus nos revela o que é e o que não é pecado, através da Sua Palavra, não está ditando uma nova “etiqueta espiritual” para uso dos virtuosos. Pelo contrário, está deixando claro como Ele é e, portanto, também como nós somos, e que sem Deus não podemos ser nós mesmos, porque nos faltaria a coisa mais importante: a nossa identidade de filhos de Deus.
                          Como é difícil compreender e saber acolher e amar a quem tem, não só o corpo mas também a alma desfigurada, doente, às vezes mesmo feia, como a lepra, hoje conhecida como hanseníase, curável se descoberta e tratada a tempo! Como é difícil resistir à tentação de isolar e de esquecer!
Como é difícil ter atitudes com a de Jesus que é capaz de se envolver com quem está desfigurado e proscrito por causa do mal. A Sua atitude nos ensina a compaixão e, derrubando a lei antiga, nos ensina que a purificação nasce quando nos tornamos próximos, nasce pela partilha, pela acolhida que alivia a dor.
Com os olhos de Jesus olhemos para as nossas comunidades paroquiais, fraternidades religiosas, nossos locais de trabalho, e nossa própria casa, para as pessoas e situações que exigem a nossa compaixão. Aproximemo-nos das pessoas que dizemos que amamos ou que devemos amar mais. Como o homem leproso, pessoas que esperam a nossa atenção. (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Website: www.inacianos.org.br).
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