No Advento esperamos com alegria o Salvador
A vida é feita de ciclos, e se não fosse assim, que sentido teria a nossa existência? Nascemos, vivemos a fase da infância, caminhamos então em direção à vida adulta, para em seguida viver os anos áureos da melhor idade, e caminhar então para um adeus, voltando para o lugar de onde vivemos.
Cada fase da nossa vida tem suas alegrias, suas tristezas, seus encantos e desencantos, seus bons e maus momentos, suas euforias e suas crises. Tudo vai ficando para trás, deixando vivo na memória uma história feita de altos e baixos, de sucessos e fracassos. É a dinâmica da vida, e ainda bem que é assim, do contrário, que sentido teria a nossa existência se tudo fosse eternamente linear? As subidas e descidas nos dão um toque especial e de continua surpresa para o nosso cotidiano.
Na natureza nos encantamos com as flores da primavera, nos deliciamos com o sol do verão, esperamos a colheita no outono e curtimos o frio do inverno. Tudo tem seu tempo, sua hora, sua história. É o encanto do gorjeio dos pássaros, do riacho que corre ligeiro para o mar, das árvores com seus belos frutos, a chuva com promessas de tempos melhores. É o ciclo da natureza que nos embala com as suas diferenças. Aliás, viva a diferença, porque se tudo fosse sempre igual, que chata seria a nossa existência. O diferente nos espanta por vezes, nos inquieta em outras ocasiões e nos impulsiona para a luta quando aparece de surpresa e nos tira do comodismo, do sempre igual.
Assim é a vida eclesial, com seus ciclos e suas diferenças. Começamos o ano com o advento, tempo de esperança e de alegria, pois o Salvador virá. Nossa atitude é de espera feita de ansiedade, assim como a mãe ansiosamente aguarda a chegada do seu filho. O natal é festa, pois o esperado acabou de chegar, e tudo canta, brilha e exalta o seu nome. Passamos então para o tempo comum, e em seguida nos adentramos na quaresma, tempo especial de preparação para acolhermos vibrantes a ressurreição do Senhor. É um tempo mais introspectivo, que nos quer levar para o deserto, a fim de fazermos a caminhada em direção à páscoa do Senhor. Em seguida, os cinqüenta dias até o pentecostes são cheios de alegria, de entusiasmo, da certeza da vitória da vida sobre a morte. Temos os tempos especiais, onde recordamos os santos, alguns deles mártires, que foram capazes de doar sua vida por causa do evangelho.
Cada ciclo do ano litúrgico é especial por causa da sua diferença e por causa daquilo que representa. Repito novamente, se tudo fosse igual, a vida perderia seu brilho e seu encanto. É no diferente que renasce a vida e a esperança de tempos melhores. O advento é esse tempo especial e diferente, que nos interpela e nos convida a estarmos atentos, esperando com alegria a vinda do Salvador.
Pessoalmente gosto muito desse tempo, pois me faz recordar a infância, e aquela espera ardorosa e vibrante do nascimento de Jesus Cristo. As novenas nas famílias eram especiais, e tudo respirava um ar sagrado, onde a oração exalava o perfume mais atraente que se chamava Menino Jesus.
Oxalá as pessoas voltassem a viver mais profundamente esse tempo de advento, sem se deixar levar por aquele frenesi de coisas materiais, de presentes apenas, imbuídos pelo espírito natalino, onde a paz e amor pudessem reinar. Essa paz que vem do príncipe da paz, daquele que veio apenas para semear o amor e uma vida feita de serviço e entrega aos irmãos.
Advento é um tempo especial, onde somos chamados a mudar de vida, a abrir o coração para o perdão, a reconciliação, o encontro com os irmãos. É tempo de conversão abrindo para espaços para que o salvador da humanidade encontre o seu presépio no coração de cada homem e mulher. E que a vida do salvador provoque verdadeiras mudanças na sociedade. É o que esperamos e sinceramente desejamos.
Dr. Pe. André Marmilicz