SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA
“PARA DEUS NADA É IMPOSSÍVEL”
Quantas vezes buscamos segurança, consolo e ajuda nesta vida diante de acontecimentos que parecem fazer desaparecer o chão debaixo dos nossos pés. Quantas vezes nos deparamos com a nossa fraqueza e debilidade diante dos grandes ideais traçados para a nossa vida! Quantas vezes ficamos sem saber o que fazer para encontrar a ponta da linha do novelo dos eventos que nos deixam mesmo atordoados!
Ainda mais quando esses acontecimentos caem sobre nós como avalanches contra a nossa vontade, trazendo problemas pelos quais não fomos responsáveis.
Procuramos soluções para problemas que não criamos, explicações plausíveis para situações difíceis que possam nos trazer alívio e, não raro, não as encontrando, caímos no desânimo, apontando como única resposta possível, “é coisa do destino”.
Agindo assim, somos arrastados pela vida por um longo caminho oscilando entre o desespero e a raiva, a auto-recriminação e a melancolia sem, talvez, jamais tentar pensar que a solução está e consiste exata e paradoxalmente, em recusar querer compreender e então, mergulhar a mente e o coração no espaço infinito do mistério.
"O último passo da razão é reconhecer a existência de uma infinidade de coisas que a ultrapassam”, escreveu Blaise Pascal. O que nos leva a reconhecer que é necessário mergulhar no espaço do mistério convencidos de que Deus não cria problemas, tampouco se compraz com nossas fraquezas e infidelidades, mas oferece dons, guiados pela consciência de que um problema se torna realidade quando não o aceitamos como tal ou como uma “dádiva”.
O trecho do Evangelho de Lucas para a solenidade da Imaculada Conceição (Lc 1,26-38), muito conhecido e igualmente comentado, fala por si só e, de repente, nos coloca num nível espiritual no qual as tensões e conseqüências perturbadoras dos nossos problemas e das nossas fragilidades escapam de qualquer tentativa de ajustamento intelectual e de racionalizações de caráter psicológicos.
Maria não pede “explicações” racionais ao Arcanjo Gabriel que lhe apresenta a proposta do Altíssimo, mas pede simplesmente uma “tranquilização” para qualquer tipo de perturbação que possa ter tomado o íntimo da sua alma.
A resposta do anjo ao seu pedido é daquela capaz de deixar qualquer um sem fôlego: “Porque para Deus, nada é impossível”!
Esta expressão poderia empalidecer as nossas expressões estéreis usadas para dar segurança e conforto nos momentos em que pretendemos tranqüilizar alguém que está perturbado e sem rumo. Na verdade, não sabemos muito bem o que dizer e talvez, nem mesmo nós acreditemos nas palavras que estamos pronunciando e então usamos expressões como estas: “não se preocupe, não é nada... tudo se resolve...”. A expressão, “para Deus nada é impossível”, poderia até mesmo dar a ideia de um Deus Onipotente despótico que já havia decidido tudo na cabeça da Virgem Maria.
Mas não, pelo contrário! Indo mais adiante na leitura do Evangelho podemos descobrir um Deus discreto e delicadíssimo, em silenciosa espera da resposta da Virgem. Um Deus que se “submete” a pensar de acordo com o ritmo dos nossos pensamentos.
Ou melhor ainda, um Deus para se admirar no silêncio da alma, de modo a “pensar em Deus sem a ajuda dos pensamentos”, como dizia Santa Tereza D’Ávila.
O que Maria fez dando aquela resposta, ainda que a explicação do anjo a tivesse deixado sem fôlego, foi viabilizar a possibilidade de salvação para toda a humanidade: “Eis aqui a serva do Senhor... faça-se em mim, segundo a Tua Palavra”!
O “elogio” feito pelo Arcanjo à Maria – “ alegra-te cheia de Graça, o Senhor está contigo...” ao apresentar a proposta do Altíssimo que incluía aceitar passar de uma “menina-virgem” à uma “menina-mãe”, pode ter induzido a resposta, mas como é salutar pensar que tudo tenha sido previsto para o nosso bem eterno!
Se conectarmos entre si as duas expressões, isto é, a do anjo que diz: “Para Deus nada é impossível” e a de Maria, “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra”, compreendemos outra verdade e concluímos que Deus não prefere fazer as coisas sozinho, ainda que não dependa de nada e nem de ninguém. Com o humilde amor que caracteriza cada ato Seu, o Senhor busca a colaboração, envolvimento, adesão e participação para a realização naquilo que pretende fazer.
Maria hoje nos ajuda a nos perguntar se não seria suficiente e bastante meditar sobre esta determinação e delicadeza do amor de Deus, ao querer envolver-nos na realização do Seu plano de salvação para encher de paz a alma inquieta e problemática do homem do nosso tempo, tão dilacerado pelos problemas existenciais!?
Para sair do emaranhado de problemas que nos deixam perturbados, não seria o bastante recordar que, efetivamente, estamos nas mãos de Deus e confiar-nos totalmente a Ele? Não bastaria recordar-nos todos os dias da certeza que a solenidade de hoje nos dá de que Deus existe e que para Ele nada é impossível, nem mesmo aquilo que para nós é humanamente inconcebível? (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Web site: www.inacianos.org.br).