MORRER PARA VIVER E PERDER PARA TER!
Neste quinto domingo da quaresma a Palavra de Deus apresenta Jesus como o enviado de Deus que, de fato, na sua liberdade, decide e indica o caminho da sua missão em direção à cruz, enquanto mostra aos seus discípulos a direção a seguir na vida.
Ele nos revela o roteiro da sua missão que, no episódio do Evangelho deste domingo, vem logo após a sua entrada triunfante em Jerusalém, no contexto da festa da Páscoa, quando assumirá a Sua Paixão e morte na cruz.
“Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado”, são as palavras que Jesus pronuncia diante do pedido de alguns gregos para encontrá-Lo e vê-Lo. Toda a missão de Jesus no Evangelho de João está direcionada para “a hora”, isto é, o momento em que Ele manifestará a glória de Deus Pai.
Essa “hora” tem lugar justamente na Cruz, que assume um tom de realeza e de vitória de Deus sobre o “príncipe das trevas”. A “hora” da cruz de Jesus é a hora na qual o grão de trigo, cai na terra e morre, produzindo muito fruto.
Muitas vezes, uma aplicação moral precipitada, fez desta parábola do Grão de trigo uma metáfora para a nossa vida mostrando o lado severo, ascético e sacrificial da vida cristã. É importante lembrar que Jesus não está falando de nós, os discípulos, mas da Sua própria missão e da Sua cruz, portanto, de Si mesmo! Assim, o grão de trigo é Ele que, através da Sua morte, oferece a todos os homens os frutos da Sua Paixão!
O Evangelho de hoje, mais uma vez, reafirma o ponto de partida da nossa fé, ou seja, o ponto de partida para a festa da Páscoa que já está chegando. Este ponto é sempre Jesus que dá o primeiro passo em direção à nossa vida.
Sem a cruz e a morte de Cristo a nossa vida não poderá produzir nenhum fruto. A fecundidade ou esterilidade não depende da nossa capacidade de fazer sacrifícios ou de suportar o sofrimento, mas depende, acima de tudo, da capacidade de acolher os frutos da cruz de Cristo!
Jesus morre na cruz para restituir-nos o fruto da libertação de tudo o que nos confunde, é mentiroso e medíocre e de tudo o que nos torna escravos. Nosso Senhor morreu na cruz para que pudéssemos gozar do fruto da misericórdia infinita de Deus, que nos resgata do pecado e nos reergue de qualquer situação, pagando Ele mesmo o preço pelas nossas culpas.
A Sua morte produz para nós o fruto da Igreja, chamada a levar a mensagem da confiança e da esperança a toda a humanidade descrente e sem projeto de futuro.
Nestes poucos dias que precedem à Páscoa do Senhor, paremos um pouco diante do crucificado para pôr sobre os Seus ombros tudo aquilo que, somente com a Sua graça, pode “morrer” em nossa vida, para depois produzir frutos . Refiro-me a todas as escolhas e decisões que temos que fazer em nome do amor, e que exigem de nós sofrimento e sacrifício, de modo que a Sua morte nos dê os frutos da liberdade e nos resgate de uma vida sem sentido e medíocre.
Jesus nos deixa uma direção e uma decisão a tomar, isto é, depois de ter revelado “a hora” da sua missão e de sua glória, fala aos seus discípulos: “Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém quer me servir, siga-me e, onde eu estou estará também o meu servo”.
A Sua palavra no Evangelho interpela a nossa liberdade, mostrando-nos a direção para tornar-nos seus discípulos; direção que passa por um paradoxo terrível e maravilhoso: morrer para viver e perder para ter! Ele quer doar-nos a Sua própria glória, não a glória vã do mundo, mas a glória autêntica que abre a nossa vida para a verdade do que nós somos chamados a ser.
O termo “vida” (perdê-la ou ganhá-la) aqui tem tudo a ver com significado da expressão “amor próprio”. A nossa vida será autêntica quando escolhermos passar da lógica do possuir e do vencer _, isto é, a lógica centrada em nós mesmos, calcada nos nossos próprios projetos fechados em nós mesmos, sobre as nossas satisfações e direitos pessoais, _ à lógica do “ser e do perder”.
Há uma palavra que João usa de modo diferente dos outros evangelhos que serve como um pressuposto para seguir a Jesus: servir! Antes de seguir Jesus devemos decidir transformar a nossa vida com a Sua graça, no serviço e em missão. Isto é, decidir começar a ver a nossa vida em função dos outros, das pessoas que o Senhor nos confiou, seja o esposo, a esposa, o vizinho, os filhos, os doentes, o rebanho, o trabalho pastoral, a obra social, enfim, as pessoas com as quais, de um modo ou de outro, somos chamados a nos relacionar.
A minha vida, os meus amores se tornarão autênticos e frutuosos quando não começarem mais a existir exclusivamente a partir da busca da satisfação dos meus desejos, do meu bem ou do prazer unicamente meu. Os meus amores serão autênticos na medida em que partirem da busca do bem do outro! Nossa vida será, realmente, autêntica, quando o ponto de partida não for mais os nossos projetos egoístas, mas a busca da vontade de Deus, oferecendo os próprios frutos surpreendentes e abundantes que Jesus realiza com a Sua morte na cruz! Que o Senhor Jesus nos dê a graça de acolher os frutos da sua cruz e de decidir tomar, com coragem, a direção que abre o caminho de nossa vida. Uma vida, de fato, autêntica! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Website: www.inacianos.org.br).