EPIFANIA DO SENHOR
Desde o Evangelho da infância Mateus quer nos introduzir no mistério do Messias, isto é, no mistério do Filho de Deus em toda a sua plenitude, com ênfase no anúncio da morte e ressurreição. Por isso, o dramático episódio dos reis Magos, fundamentado em duas atitudes que contrastam entre si: atitude de abertura e fechamento.
O Evangelista compara a atitude dos Reis Magos em oposição à atitude de Herodes, da cidade e dos seus representantes culturais e religiosos.
A história gira em torno da pergunta: “onde está aquele que nasceu?”. Todos estão determinados a saber onde tinha nascido o Messias, mas com intenções opostas. Os Magos, porque querem adorá-Lo e oferecer-Lhe presentes à Sua realeza divina. Os demais, porque o temem como a um incômodo concorrente, perturbador dos seus hábitos de poder.
Os Magos são, portanto, o modelo de obediência perfeita a Deus. Um Deus que falou aos seus corações, através de uma estrela, que acompanharam na longa e arriscada viagem do longínquo Oriente até Jerusalém. Ali ela desaparece para depois volta a brilhar e a guiá-los até o lugar onde encontram o Menino com a Mãe.
Os três sábios experimentam uma grandiosa alegria: “E os discípulos alegraram-se ao verem o Senhor” (Jo 20,19). É a alegria que premia a fé e a obediência dos Magos e de todos que, como eles, que pertencendo a um povo pagão, confiaram nos sinais enviados por Deus, principalmente na Sua Palavra, e prostraram-se em adoração diante de Jesus, reconhecendo-O Rei, Senhor, Salvador e Luz do mundo.
Mas nem todos estão dispostos a acolher a salvação. A pergunta dos Magos a respeito do lugar do nascimento do Menino Jesus perturba Herodes, suscita inquietude na cidade, põe em vigilância os sumos sacerdotes e os escribas, que conhecem e interpretam as Escrituras. Estes se assustam com a ideia do novo que está para acontecer.
O drama da recusa de Jesus na paixão é aqui antecipado por Mateus. A suspeita em relação à Sua realeza continuará a crescer, acompanhará todos os Seus gestos e todas as Suas palavras, até tornar-se o principal motivo da acusação que O levará à morte de cruz.
Ainda hoje existe gente com medo de Jesus, da Sua Unicidade e singularidade, da declaração de Pedro declarando que “em nenhum outro há salvação, pois nenhum outro nome foi dado, e não há outro nome estabelecido debaixo do céu no qual podemos ser salvos” (At 4,12). Essa confissão é acusada de ser uma manifestação de prepotência, uma pretensão de colonialismo religioso, pois não manifesta Jesus na sua debilidade humana, no entanto, na confissão está revelado caminho para a paz.
A história é concluída com uma indicação prática: os Magos “advertidos em sonho para não retornarem a Herodes, retornaram aos seus países de origem por outro caminho”. Deus protege o Menino e os Magos, sabiamente, evitam os problemas de um novo encontro com Herodes. Na mudança do caminho do retorno pode-se visualizar uma mudança bem mais profunda. Uma vez que se encontra com Cristo, não se pode mais voltar atrás pelo mesmo caminho. Quem O encontrou, jamais sairá desse encontro da mesma forma como veio.
O encontro com Cristo, quando é verdadeiro, isto é, sem alienações, sentimentalismos baratos ou falsas ilusões de bem estar, determina sempre um avanço, uma conversão, uma mudança de costumes e atitudes. Nele há a esperança de transformação ao optar por fugir de todo o “heroidismo”, isto é, tudo o que busca a morte e a destruição e não a vida e a salvação.
A festa da Epifania é, sobretudo, a celebração da manifestação gloriosa da presença de Deus no meio de nós. Para vivê-la bem e em família é importante ter tempo para aprofundar, na oração, a importância desse mistério na vida de cada um de nós e para todo o mundo.
Essa manifestação toca, definitivamente, toda a história humana. Que nós possamos manifestá-Lo mais e mais a um mundo sedento da Sua presença, através de gestos de amor, tolerância, paz e solidariedade, a exemplo do próprio Deus que solidarizou-se com a humanidade inteira, ao tornar-se um Deus Conosco. Sigamos os sinais que o Senhor tem nos dado para encontrá-Lo e, no encontro, ter as nossas vidas profundamente marcadas pela sua presença. (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos).