Familiaridade com a Bíblia
Verbum Domini – Palavra de Deus, é o documento do Sínodo da Palavra realizado em Roma de 5 a 26 de outubro de 2010. Recebemos este documento “Verbum Domini” em novembro de 2010. É um inestimável presente de Natal oferecido por Bento XVI.
O Papa nos convida a que nos debrucemos sobre a Palavra, façamos uma redescoberta da Bíblia, tenhamos familiaridade com a Palavra para que ela seja o coração de toda a atividade eclesial. Somos convidados a ser amigos da Palavra e a amar cada vez mais as Sagradas Escrituras. Cada fiel possa dizer: “sou amigo da Palavra”.
A fé da Igreja se renova na Palavra de Deus, daí o deixar-se plasmar pelas Escrituras que são o coração da vida cristã. A Igreja funda-se, nasce e vive da Palavra e as comunidades crescem graças à escuta, celebração e estudo da Palavra. Há que reconhecer que nas últimas décadas aumentou na Igreja a sensibilidade pela Palavra de Deus.
Como São Paulo, devemos dizer: “Faço tudo por causa do evangelho” (ICor 9,23). O Papa deseja que melhore a nossa relação com as Sagradas Escrituras na leitura orante, na liturgia, na catequese, na investigação científica. É assim que adquirimos maior familiaridade com a Palavra de Deus.
Deus fala e responde através da Palavra. Estabelece um profundo diálogo conosco, deixa-se conhecer e fala a nós como um amigo. O chão da Palavra são nossos ouvidos e nosso coração. Assim, a Escritura Sagrada deve ser proclamada, escutada, lida, acolhida, vivida profundamente.
Bento XVI faz uma clara distinção entre Palavra de Deus e Bíblia. A Palavra é mais ampla, ela vem antes do Livro e vai além do Livro. Há uma “sinfonia” da Palavra. Ela fala através da criação porque Deus tudo criou pela Palavra. Ela fala através dos Profetas. A definitiva revelação da Palavra de Deus é Jesus: “O Verbo se fez carne”. Os Apóstolos e as comunidades ensinavam a Palavra antes dela ser escrita. Só mais tarde vem o Livro, ou seja, a Bíblia, principalmente o Novo Testamento.
Veneramos extremamente as Sagradas Escrituras, mas, o cristianismo não é a “religião do Livro”, é a “Religião da Palavra”. A Igreja deve ser a “mestra da escuta” para ser discípula. A Palavra é maior que a Igreja, embora, a Sagrada Escritura seja um “livro da Igreja”, deve ser interpretado na fé da Igreja. Por isso a Igreja é “casa da Palavra”.
Pelo que vemos a Igreja não será mais a mesma depois deste documento. Chegou a “hora da Palavra” e assim seremos mais profetas, mais discípulos, mais apóstolos. Inicia-se a aurora de uma nova primavera na Igreja. Já fizemos tantos progressos em ralação à Bíblia, mas, precisamos de mais ousadia e chegar a uma “mobilização bíblica” na vida da Igreja. A Palavra tem o poder de nos reencantar, fascinar, recuperar. Todo nosso entusiasmo pela Palavra de Deus tem um objetivo: estabelecer um encontro pessoal vivo, definitivo, persuasivo com Jesus Cristo, Palavra do Pai. Podemos ver, ouvir, tocar e contemplar Jesus, o Verbo da vida. Ouvindo sua voz, ouvimos o Pai. Jesus é o alto falante do Pai. Fala o que o Pai mandou falar.
Para que aconteça uma revolução bíblica na Igreja precisamos fazer diariamente a leitura orante, frequentar os grupos bíblicos de reflexão, participar do dia da palavra, estudar mais a Bíblia, procurando viver a Palavra. É assim que vai aumentar nossa familiaridade com as Sagradas escrituras. As boas ações falam mais que as palavras. Cabe-nos permanecer na Palavra, que é pão, rocha, espada, ouro, mel, lâmpada, leite, chuva para que sejam restauradas a profecia, o discipulado e a missão na Igreja.
Dom Orlando BrandesArcebispo de Londrina
Folha de Londrina, 12 de fevereiro de 2011