Teológico Pastoral

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quarta-feira, 3 de abril de 2013

O chamado

Eu ouvi e aceitei o chamado de Cristo” é uma frase que foi repetida por vários personagens entrevistados pela equipe do Gaz+ durante a produção desta reportagem. São jovens que abandonaram uma vida cheia de escolhas para seguir uma vocação e uma vida com regras. Uma opção que de início surpreende amigos e familiares, mas que, segundo eles, é o único caminho para a felicidade.

Ao chegar nos seminários e institutos apostólicos é fácil perceber o que encanta os jovens que estão ali. Rodeados por bosques, recantos de paz e tranquilidade, eles apontam a caridade como motivo principal para seguir a vocação. “Nós procurávamos um caminho que nos completasse e ao optarmos por servir à comunidade encontramos o que faltava na nossa vida”, conta a irmã Ilciene Aparecida dos Santos, 25, que fez os votos há um mês. “Olhamos o mundo de uma forma diferente. Para nós, o importante é servir as pessoas e transformar a vida delas em algo melhor. Levar a felicidade é o melhor trabalho que poderíamos escolher”, complementa a postulante Ana Claúdia da Costa Ferreira, de 23 anos.
Para quem quer ser padre ou freira, a missão de vida vai além dos planos tradicionais, como constituir uma família ou ter um emprego. Muitos deixaram para trás romances e perspectivas de futuro. “Eu namorava e estava para noivar quando vim para o seminário. Larguei tudo para poder ajudar a comunidade e me sentir melhor”, conta o seminarista e pós-graduado em Pedagogia, Eugênio Ludke Filho, de 25 anos.
Além do voto sagrado
É claro que a vida em reclusão social não é fácil. O rigor das tarefas e os limites impostos pela vida religiosa, como a convivência entre pessoas desconhecidas e uma agenda com horários rígidos, assustam jovens ainda confusos com a escolha. Para se ter ideia, é necessário dez anos de estudo para se formar padre. Uma trajetória iniciada em encontros vocacionais, passando pelas graduações em Filosofia e Teologia e pelo período de formação religiosa. Caminho similar traçado também pelas noviças que dividem o tempo entre períodos de convivência e autoconhecimento com a graduação universitária e serviços prestados à comunidade.
Para esses meninos e meninas, os votos de pobreza, obediência e castidade são apenas um detalhe – e não uma preocupação. Para o seminarista Anderson Leonardo dos Santos, 14, que está no primeiro ano de formação, o mais difícil é se adaptar à rotina da casa e conviver com pessoas diferentes. Já Luis Guilherme de Souza, 17, percebe a enorme diferença entre o seminário e sua casa. “Lá fora eu fazia o que queria na hora que sentia vontade. Aqui, preciso seguir regras e horários rígidos”, ressalta.
Mas nada que desanime os aspirantes a padre. “Se você tem certeza que quer isso para a sua vida, você abandona tudo em troca de algo maior. O celibato não vai ser o problema”, complementa o seminarista Claudecir de Oliveira, de 33 anos.
Já com relação à vaidade das meninas, impossível não notar a troca de roupas, sapatos e maquiagem pela saia preta, camisa branca e véu. O que para elas é um mero detalhe. “Nós passamos por um processo de desprendimento e com o tempo percebemos que essas coisas não nos fazem falta”, constata a postulante Fabiana de Jesus da Silva, de 20 anos.
Para poucos
Disciplina é essencial  
Não são muitos os jovens que decidem seguir a vocação religiosa como objetivo de vida. Mesmo entre os que optam pelo seminário, a maioria acaba desistindo durante o período de formação. De acordo com o padre Fabiano Dias Pinto, reitor do Seminário Arquidiocesano São José, cerca de 10 a 15% dos meninos que iniciam seus estudos vão até o fim. A pressão familiar, acadêmica e social é apontada como maior fator para a desistência. “O maior problema para esses meninos é a obediência. Em casa a maioria deles não têm limites e quando chegam aqui não conseguem conviver com as regras. Isso faz com que eles desistam da vida religiosa”, esclarece.
Outro motivo é o tamanho das famílias atualmente. “As famílias têm poucos filhos e os pais imaginam um caminho de prosperidade material para seus descendentes. Essa resistência acaba influenciando. Muitas meninas deixam o chamado de lado e optam por outra vida”, explica a irmã Maria Dolores Silva, responsável pela formação no Instituto das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus.

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