Teológico Pastoral

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sábado, 30 de junho de 2012

Homilia da Liturgia do domingo - 01 de julho de 2012

DA MORTE À VIDA, DO PRANTO À FESTA
(Liturgia do Décimo Terceiro Domingo do Tempo Comum)

A liturgia deste décimo terceiro domingo do tempo comum apresenta-nos a figura da dor da doença e da morte. Somos convidados a lançar o nosso olhar sobre essa realidade, cruel à vida do ser humano, na ótica fé, que faz irromper o poder de Deus, de modo a receber e conceber a mensagem da Palavra de hoje como um hino à vida.
Jesus realiza prodígios às pessoas que n’Ele tem fé. “E criou todas as coisas para existirem, e as criaturas do mundo são saudáveis: nelas não há nenhum veneno de morte, nem é a morte que reina sobre a Terra”. “Deus criou o homem para a imortalidade; foi por inveja do diabo que a morte entrou no mundo, e experimentam-na os que a ele pertencem, argumenta ainda a Sabedoria (primeira leitura).
No caos causado pela doença e pela morte, a mão de Deus intervém como salvação aos que se abrem à experiência da fé verdadeira, triunfando com a força da ressurreição, onde o homem é absolutamente incapaz de agir, porque a morte o atingiu.  A fé n’Ele supera, portanto, aquilo que é impossível ao limite humano.
O Evangelho, de fato, nos apresenta dois casos nos quais o poder humano é limitado. Uma mulher que, para obter a cura, gastou tudo, seu tempo e seu dinheiro, sem nenhum resultado. Apresenta também um homem cuja filhinha havia morrido.
No coração dessas duas pessoas está o segredo, isto é, a chave para obter aquilo que somente Jesus pode dar! Refiro-me àquilo que apenas d’Ele temos a certeza de poder receber. E o segredo é aquela fé capaz de comover o coração de Jesus.
Uma fé explícita encontrada no chefe da sinagoga, que vai até Jesus, e se prostra aos seus pés, suplicando-Lhe com insistência. Isso mesmo! Uma fé como aquela “escondida”, mas concreta, no íntimo da mulher doente há tantos anos. A fé de uma mulher assim que se aproxima, certa de que se conseguir tocar apenas na barra da sua túnica, será curada, ainda que a ciência da época e os anos de experiências frustrantes dissessem o contrário!
Essas duas pessoas obtém de Jesus aquilo que queriam, isto é, a cura da doença e a ressurreição da morte! Isso é confirmado pela palavra de Jesus: “Filha, a tua fé te curou. Vai em paz e fica curada dessa doença”!  e também quando diz ao chefe da sinagoga: “Não tenhas medo. Basta ter fé”!
Aqui está a dinâmica do Êxodo, quando o povo Hebreu se encontrava na escravidão do Egito, que é também metáfora da dinâmica pascal da dimensão cristã. Vivendo situações de angústia, gritos de súplica são dirigidos a Deus, como reza o salmo 106, “Na angústia clamaram ao Senhor e Ele os libertou...”. O Senhor intervém!
O Evangelho começa com uma frase que aparece mais de uma vez no Evangelho de Marcos: “Jesus atravessou de novo, para a outra margem”!
O capítulo 5 do Evangelho de Marcos começa com essas mesmas palavras, narrando o episódio de Jesus com o homem endemoninhado, com um espírito impuro que se chamava Legião, e que é lançado numa manada de porcos. Os donos dos porcos pedem a Jesus que vá embora do seu território. Jesus passa, portanto, de uma situação hostil, de recusa, à uma situação de acolhida, isto é, “à outra margem”, onde muita gente se junta ao redor dele.
Nesse lado da “margem” todos procuram o Senhor. Uma série de verbos tais como “se reuniu junto dele, aproximou-se dele, caiu aos seus pés, pediu com insistência, tocou na sua roupa etc, conotam um movimento que põe em prática todas as faculdades do ser humano movido por um profundo desejo de chegar até a Jesus.
É a força da fé de quem, como disse, se encontra em dificuldade extrema e sente dentro de si algo de irresistível, algo que o impele na direção da verdadeira fonte da vida, para recuperar a vida que está se esvaindo ou que já nem existe mais. É o grito do Espírito que sai do profundo do ser e que se torna explícito na súplica, como nos lembram das palavras do Apóstolo Paulo: “... As aspirações do Espírito levam à vida ... e, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós” (Rm 8,6.11). E ainda, “... Gememos em nosso íntimo, esperando a condição filial, a redenção do nosso corpo ... O Espírito vem em socorro da nossa fraqueza, pois não sabemos o que pedir nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis” (Rm 8,23.26).
Todo o nosso ser é chamado hoje abrir-se com fé para acolher o dom da cura e o dom da vida, ou melhor, a acolher o próprio autor da vida, Jesus Cristo, enviado pelo Pai.
Eis aqui algumas perguntas que os personagens do Evangelho nos levam a fazer: quando vamos receber Jesus na Eucaristia, estamos indo, de fato, para tocá-lo com a mesma fé daquela mulher doente do Evangelho? Ao buscá-Lo na Eucaristia, na Palavra e também nas pessoas que encontramos pelos caminhos da vida, sobretudo os mais sofredores, temos a certeza de que, ao encontrá-Lo, seremos curados? Cremos, de fato, que Ele, ressuscitado dentre os mortos, está vivo e vem a nós para dar-nos a vida e a vitória sobre o mal e sobre a morte?
A leitura da segunda carta aos Coríntios (8,7.9.13-15) apresenta-nos o contexto das igrejas provenientes do paganismo, sobretudo as da Macedônia, que socorriam os cristãos da Igreja Mãe de Jerusalém, lugar de origem da evangelização. A situação é a de uma coleta realizada como sinal de unidade e de comunhão para com aquela igreja. Ao mesmo tempo é uma atitude de reconhecimento pelos dons espirituais que dela haviam recebido. É graça de Deus poder doar! Paulo quer fazer com que também os Coríntios participem dessa obra de misericórdia e caridade. Ele, que estava com o relacionamento abalado com a comunidade de Corinto, recebe de Tito a notícia de que a comunidade estava mais serena nos seus confrontos. É com essa consciência que escreve aos Coríntios para manifestar a sua alegria com relação à sua nova postura de vida, mas também pelo desejo de manter a unidade entre as comunidades fundadas por ele e a Igreja de Jerusalém. É por causa da abundância de sua fé, da palavra, do conhecimento de Jesus Cristo, do zelo e do amor que acendeu neles, que os exorta a viverem na abundância dessa graça, isto é, na ajuda aos outros, nesse caso, angariando fundos, "não para colocá-los numa situação aflitiva, mas para aliviar os outros”. Paulo aqui considera a motivação profunda do agir cristão e dá o exemplo que eles conhecem bem: “...Na verdade, conheceis a generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo: de rico que era, tornou-se pobre por causa de vós, para que vos torneis ricos, por sua pobreza” (v. 9). O apóstolo, então, acrescenta que não se trata se privar do necessário para enriquecer os outros, mas para criar igualdade entre comunidades.
Significa partilhar fraternalmente tanto os bens espirituais, como os bens materiais. 
É uma graça poder doar! Aliás, o cristão quando doa torna-se semelhante ao seu Senhor, que se doou a si mesmo por amor à nós. Finalmente, que a Palavra de Deus nos ajude hoje a rezar com o salmo 29, aceitando o convite do salmista a louvar ao Senhor, de cuja bondade não conhece limites, agradecendo ao Senhor que, quando encontra em nós a fé típica do Evangelho de hoje, nos conduz da morte à vida, transformando o nosso pranto numa festa! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Website: www.inacianos.org.br).


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