A Palavra de Deus, oito passos
O
mês de setembro é dedicado à Palavra de Deus. Já fizemos grandes progressos em
relação à Palavra, mas, o analfabetismo bíblico ainda é grande entre nós. Tudo
foi escrito para que tenhamos esperança e consolação. É preciso, pois, pegar o
livro, comê-lo, ruminá-lo. Lembremos o que dizia Paulo Apóstolo: eu sofro e
faço tudo pelo Evangelho, por isso estou na cadeia como um malfeitor. Lembrava,
porém, que a Palavra de Deus não se deixa acorrentar.
Nossa
experiência com a Palavra tem oito passos. Antes de sermos anunciadores
precisamos ouvir, compreender, internalizar e praticar a Palavra. Para que se
respeite esta “lógica da experiência” com as Sagradas Escrituras vejamos os
oito passos a serem percorridos e vividos.
Primeiro passo:
“ouvintes da Palavra”. Ouvir com o coração. Para ouvir é preciso silenciar, dar
tempo, acolher a Deus que fala e se comunica na Palavra. Ouvir não é apenas dar
ouvidos, mas, deixar a Palavra ressoar, ecoar, transpassar o coração.
Segundo passo:
“amigos da Palavra”. Deus fala conosco como os amigos. A Bíblia é uma carta de
amor, de amizade, de aliança. Para os amigos nós dedicamos tempo e fazemos de
tudo para manter amizade. Quem é amigo da Palavra irá frequentá-la sempre e
vibrar de alegria, por este encontro de amizade.
Terceiro passo:
“familiares da Palavra”. Ter familiaridade com as Escrituras consiste em tê-las
nas mãos, no coração e na missão. A Palavra nos regenera, recria e refaz. Quanto
mais lemos, meditamos, estudamos tanto mais nos familiarizamos com a Bíblia. Somos
consortes da Palavra.
Quarto passo:
“praticantes da Palavra”. Nossos gestos e ações falam mais que nossas
pregações. Jesus chama de feliz quem ouve a Palavra e a pratica. Ainda mais,
por em prática o que ouvimos e pregamos equivale a construir nossa casa sobre a
rocha. Não podemos ter um discurso espiritual e uma vida carnal.
Quinto passo:
“discípulos da Palavra”. Neste estágio a Palavra se faz carne em nós. Ele está
sempre no princípio de tudo. No princípio do dia, no principio das reuniões, da
catequese, da celebração dos sacramentos. Assim, acontece a animação bíblica de
toda a vida e pastoral da Igreja.
Sexto passo:
“servidores da Palavra”. Não devemos ser donos, patrões, senhores, dominadores
da Palavra. Muito menos falsificadores, demagogos, tagarelas. É um verdadeiro
“mundanismo espiritual” servir-se da Palavra para nossos interesses próprios.
Nada devemos tirar ou acrescentar às Sagradas Escrituras. Não se pode manipular
o povo com a Bíblia.
Sétimo passo:
“mártires da Palavra”. Sofrer e morrer pela Palavra é um ato de fé e de amor.
Estevão, João Batista, Paulo, Tiago, Pedro, enfim, todos os apóstolos foram
mártires da Palavra. Assim também aconteceu com os missionários, os santos,
religiosos, religiosas, leigos e leigas. Ser mártir, morrer pela Palavra
significa internalizar e testemunhar e sofrer pela Palavra. Na boca ela é doce,
mas se torna amarga no coração, isto é, a Palavra é exigente, purificadora.
Oitavo passo:
“consagrados à pregação da Palavra”. Jesus rezou: “Que eles sejam consagrados
pela verdade” (Jo 17, 19). A Palavra é a verdade. Paulo Apóstolo recomenda a
Timóteo: “cumpre a missão de pregador do Evangelho, consagra-te ao teu
ministério” (II Tm 4,5). Consagrados pela Palavra, consagramos-nos em
anunciá-la.
Por
fim, precisamos permanecer na Palavra, pois ela é inesgotável, não envelhece,
não passa. Permanecer na Palavra significa muitas coisas, como por exemplo,
realizar lectio divina diariamente, os conhecimentos bíblicos, não trocar a Palavra
pelo devocionalismo, memorizar um texto bíblico no cotidiano, etc. A Igreja
sempre venerou as Divinas Escrituras da mesma forma como o corpo do Senhor. Que
a Palavra não caia no chão, possa tinir em nossos ouvidos, descer ao coração e
subir para nossos lábios.
D.
Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina
Arcebispo de Londrina