Ministérios a serviço do povo Siga as orientações para inovar e renovar sua equipe de liturgia
POR MÁRCIO ANTÔNIO DE ALMEIDA
Quem já não se flagrou fazendo constatações apressadas sobre o povo que participa das celebrações nas comunidades? Selecionamos alguns exemplos de frases que se ouvem em reuniões de equipes de liturgia ou mesmo em encontros formação: “o povo não vai entender”; “o povo não vai participar”; “o povo não canta”; “o povo chega em cima da hora”; “o povo não está nem aí”. Estas afirmações podem revelar uma “terceirização” de responsabilidades pastorais, uma carência formativa dos agentes e um desconhecimento da própria definição de Igreja, povo de Deus, e da natureza da liturgia trazida pelo Concílio do Vaticano II.
A liturgia é fonte e cume da ação da Igreja (cf. SC n. 10). Por meio dela, o povo convocado se reúne em assembleia e animado pelos ministérios litúrgicos, escuta a Palavra e partilha do mesmo pão, do mesmo cálice. Ao fazer memorial da Páscoa de Cristo, renova-se a Aliança de amor com o Deus da vida. É páscoa de Cristo na páscoa do povo e páscoa do povo na páscoa de Cristo (cf. CNBB, Doc. 43, n. 300). Esse povo que celebra, mesmo sem um conhecimento litúrgico mais elaborado, expressa a fé no Deus da vida por meio de gestos e ações simbólicas, rituais.
O que fazer?
Antes de afirmar que o povo não vai entender, cabe às equipes estarem convencidas sobre o sentido da ação simbólica a ser realizada. Vale lembrar que a participação consciente, ativa e plena do povo (cf. SC 14) está relacionada ao nível de iniciação litúrgica das equipes de celebração e à qualidade do exercício ministerial. Os ministérios, à imagem do Cristo servidor, cumprem sua função e a comunidade dos fiéis, o povo, expressa sua adesão ao mistério celebrado e seu compromisso com a Boa Nova do Reino.
Neste sentido, há alguns pequenos detalhes a serem observados pela equipe que prepara as celebrações. Por exemplo, equipes “ruidosas” no celebrar tendem a perturbar a participação do povo, pois a movimentação de pessoas, gestos, sinais ou qualquer imprevisto, podem desviar a atenção da assembleia. Por isso, a consciência dessa limitação, por parte da equipe, é urgente e necessária para um serviço qualificado ao povo de Deus. Lembremo-nos que os ministérios brotam do meio do povo e se espera, no mínimo, que a dignidade do serviço prestado corresponda às expectativas desse povo.
Como fazer?
Queremos silêncio? Silenciemos. Na medida certa e no momento devido, o silêncio é capaz de preencher-nos do sentido do mistério.
Queremos respostas claras do povo? Sejamos claros naquilo que oramos, cantamos, proclamamos etc. A liturgia é um fazer objetivo que atinge em profundidade os sujeitos celebrantes. Por isso, durante as motivações, evitem-se comentários e explicações sobre o óbvio. É necessário “limpar” o supérfluo para que o rito possa se expressar com clareza e simplicidade por meio de seus sinais sensíveis.
Queremos a voz e a vez do povo? Que tal nos empenhar na preparação das celebrações da comunidade levando em conta o mistério celebrado no tempo litúrgico, na vida da comunidade, as pessoas concretas e os ministérios litúrgicos?
Aos poucos se descobre o valor das equipes de acolhida. Convém, no conjunto das pastorais, buscar um modo mais integrado de colocar em ação este serviço ao povo. Há casos de equipes que se desdobram na acolhida, mas o animador, ou mesmo quem preside, não tem a sensibilidade devida para conduzir o processo de acolher. Toda a comunidade se acolhe mutuamente, transparecendo a alegria do Ressuscitado. Nas celebrações da comunidade, acolher é servir, é deixar à vontade, trazer para perto, conduzir, direcionar, amar…
A equipe de celebração e os ministros do povo de Deus devem estar convencidos de suas atribuições (cf. SC 28-28). O povo vai celebrar convicto, “antenado” e comprometido se perceber que nossas ações se revestem de sentido teológico-espiritual, que se alcança por meio de um processo equilibrado de formação litúrgica aliado à experiência celebrativa. Assim sendo, o processo de seduzir o povo, de estimulá-lo à participação, de encantá-lo ao redor do Mistério Pascal é um desafio significativo para que a liturgia seja, de fato, o hoje da salvação.
Márcio Antônio de Almeida é Liturgista e Musicólogo. Agente de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo. Membro da Rede Celebra e da Equipe de Reflexão de Música Litúrgica da CNBB.
Contato: almajm@ig.com.br