Teológico Pastoral

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sábado, 18 de fevereiro de 2012

Homilia da Liturgia do domingo - 19 de fevereiro de 2012


EU TE ORDENO: LEVANTA-TE!
(Liturgia do Sétimo Domingo do Tempo Comum)

Antes de passarmos pela grande porta da Quaresma, que na próxima quarta feira nos introduzirá no caminho árido do deserto, o Senhor quer nos confortar hoje com palavras cheias de esperança. Palavras quase a nos dizer: “Caminhai com coragem no caminho da penitência, do silêncio e da renúncia, porque é ali mesmo, nesse deserto, que abrirei uma estrada; é ali mesmo que farei correr um rio”.
Como Deus é bom e sábio! Ele não exige nada de nós sem que tenha primeiro nos assegurado que, daquele “sim”, que hoje nos pede, nascerá a vida nova e a alegria. Abramo-nos, então, com confiança ao futuro.
Neste sétimo domingo do Tempo Comum somos convidados a aceitar o Seu convite: “Não relembreis mais coisas passadas, não olheis para fatos antigos.”! Também no passado do povo de Israel Deus já tinha realizado coisas grandiosas. No Mar Vermelho, havia aparecido um caminho e o inimigo tinha sido derrotado. Mas isso não é nada em comparação com o que ainda aconteceria. Ele realizaria o grande milagre do Seu perdão para conosco!
Temos consciência de que o nosso pecado não se rende, nem mesmo diante das coisas grandiosas realizadas por Deus, em nosso favor. Pelo contrário, o pecado nos assalta e rouba do nosso coração a alegria e o “espanto” que seria natural diante das graças de Deus. Aquele pecado, que entristece e desanima a nós, entristece também o Senhor. Contudo, Jesus nos ensina que Ele se cansa do pecado, mas não de nós!
Então, enche-nos de esperança a certeza de que Deus busca, a todo o momento, vencer e eliminar em nós o pecado, mas jamais a nós, os pecadores.  Nós somos perdoados e salvos!
É esta a maravilha e a novidade que brota silenciosa, mas com toda a intensidade, no deserto da nossa vida! O Seu perdão! “Por amor de mim mesmo”.  Isto é, Deus ama em nós aquela imagem e semelhança que Ele mesmo imprimiu desde a origem dos tempos. O Senhor é um Deus que não suporta vê-la deturpada e, para reconstruí-la quando a destruímos pelo pecado, encontra o único e infalível caminho, o seu perdão!
Mas nós cremos no seu perdão? “O que é mais fácil: dizer ao paralítico, os teus pecados estão perdoados, ou levanta-te, toma a tua cama e anda”? Para nós, o que é mais fácil? Até que ponto cremos no perdão concedido por Deus?  Há em nosso meio ainda pessoas que, como os Escribas e Fariseus não só não aceitam que na Terra o Filho do Homem tenha o poder de perdoar os pecados, como também, não aceitam que Ele, no dia mais importante, isto é, no domingo da ressurreição, tivesse transmitido essa faculdade e essa missão aos continuadores da sua Obra, os Apóstolos e aos seus sucessores?
Refiro-me àquele pecado que continua a ocupar o nosso pensamento, a atravancar o nosso caminho. Um pecado ou um mal, que nos torna paralíticos, porque imobiliza os passos. Um pecado ou uma situação ainda capaz de manter um efeito desestabilizador nossas vidas.
O que é mais fácil, crer que um membro possa voltar a articular-se ou crer, sem hesitação no perdão concedido a nós, por Deus? Retomar o caminho depois de uma vida de imobilidade ou ver reacender-se uma centelha de alegria e de esperança no deserto de uma vida sem Deus?
O paralítico é trazido a Jesus pela boa vontade de quatro amigos tão empenhados em ajudá-lo, a ponto de descobrir um telhado. É claro, os telhados das casas de Israel não ofereciam tanta resistência assim.  De qualquer maneira, não é difícil imaginar uma cena tão cheia de amor e de fé, quanto à atitude desses quatro indivíduos, que desaparecem depois da cura e do perdão concedido ao amigo. Aparentemente são dispensáveis, mas tem um papel fundamental.
Sem eles o irmão doente não teria sido trazido a Jesus, tampouco teria obtido a cura, mas muito pior ainda, não teria alcançado o perdão!
Como é fundamental ter encontrado pessoas assim, ao longo da nossa existência, capazes de se compadecerem de nossas paralisias e estagnação em situações de pecado e de tristeza!
Coloquemo-nos no lugar do paralítico, no seu corpo e no seu espírito, e olhemos ao nosso redor. Sintamos a gratidão que ele deve ter brotado do seu coração, ao reconhecer as mãos estendidas na direção das suas misérias! Mãos que revelam que nada é impossível para um Deus que é todo perdão; que há sim, uma possibilidade!
Mas coloquemo-nos também no lugar dos quatro homens solidários. Há, ao nosso redor, alguma necessidade? Alguém necessitado? Não apenas necessidades físicas ou materiais, porém, ainda mais exigentes, necessidades morais? Éticas? Há algum irmão ou irmã para transportarmos para diante do olhar de Jesus a fim de que receba o Seu perdão? Não pensemos apenas nos irmãos e irmãs que vivem aberta e/ou deliberadamente longe de Deus. Pensemos também nos nossos ambientes declaradamente cristãos, paroquiais, de fraternidades religiosas, familiares e associações diversas.
Todos nós sabemos que o pecado se aninha em todos os lugares. Sabemos também que, muitas vezes, é tão sutil, mesmo na Casa de Deus, ou seja, na Igreja e no meio dos nossos irmãos, seus filhos e filhas.
Também entre nós pode haver alguém que precise ser “carregado” por nós à graça do perdão, porque o seu próprio pecado o paralisa e o impede de caminhar em direção à verdadeira liberdade. Liberdade de pessoa, filho e filha de Deus.
Talvez você e eu possamos fazer algo por alguém que esteja em situação semelhante; talvez possamos ser o veículo e o meio para levá-lo ao perdão, ou condutores do perdão, para depois permitir-lhe que encontre aquele olhar de misericórdia que lhe dará, finalmente, a vida! Podemos ser, justamente, os que precisam deixar-se transportar até à ação misericórdiosa de Jesus, através da mudança de vida e também do Sacramento da reconciliação.
Por causa do paralítico do Evangelho quatro pessoas se mobilizaram. Como seria bonito se também entre nós fosse assim? Se fosse a comunidade, não apenas um ou outro, que ajudasse no esforço desse movimento de amor para levar o irmão à vida!  Obviamente não agirá assim quem preferir escandalizar-se e ler na lei, o perdão concedido a um irmão como se fosse uma blasfêmia, a ponto de frear o amor de Deus! Mas se todos conseguirmos enxergar a pessoa que se encontra numa situação como a do paralítico, com compaixão e misericórdia, criaríamos em torno dele, aquele clima de perdão e de paz, e estaríamos abrindo um “buraco” no “teto” da intolerância, criando assim, uma ponte entre o céu e a Terra, entre Deus e o ser humano caído, entre a escravidão e a liberdade!
Em Jesus todas as promessas de Deus se realizam. Existe promessa maior do que a da alegria, na qual todos nos unimos com todo o coração, e que ao encontrarmos a vida plena n’Ele, nos pode ser garantida? Existe um “sim” maior do que aquele pronunciado por Jesus, como um novo chamado à vida, depois que venceu na Cruz a própria morte e matou o próprio pecado?
Que as nossas atitudes sejam como as de Jesus, para a glória de Deus Pai, como uma resposta pronta e alegre à vida, à Igreja e aos nossos irmãos e irmãs.
Acreditemos no amor de Deus para que atitudes assim possam correr como um rio, pelo deserto do mundo e através da Sua Igreja, realizar grandes coisas. Coisas maiores e muito melhores que as coisas passadas e os fatos antigos! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Website: www.inacianos.org.br).
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